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Por Fabian Chacur

Quem vê hoje em dia Ricardo Bacelar pode até não imaginar, mas esse bem-sucedido advogado cearense, vice-presidente da OAB do Ceará e profundo conhecedor de direitos autorais e incentivo à cultura, tem um rico passado musical. Aliás, só passado, não. Presente também. Sua carreira como músico está sendo retomada em grande estilo, com o lançamento do CD/DVD Concerto Para Moviola- Ao Vivo, no qual faz um belíssimo mergulho no universo da fusion.

Fusion, ou jazz rock, é o rótulo pelo qual ficou conhecida a vertente jazzística que enveredou por uma mistura daquele sofisticado estilo musical com rock, música latina, funk, soul e pop, resultando em uma sonoridade ao mesmo tempo muito bem elaborada e acessível aos ouvidos médios. Fez muito sucesso nos anos 1970 e 1980 graças a grupos e artistas solo como Weather Report, Yellowjackets, David Sanborn, Pat Metheny e diversos outros.

Ex-integrante do grupo Hanói-Hanói, do qual fez parte por 11 anos, Bacelar largou a música para se dedicar ao Direito. Mas o bom músico nunca deixa de ser músico, e ei-lo de volta, com um trabalho gravado ao vivo no qual mescla quatro composições próprias com obras de Pat Metheny, Bob Mintzer (do Yellowjackets), Joe Zawinul (do Weather Report) e Chick Corea e também dos brasileiros Ivan Lins, Egberto Gismonti, Moacir Santos e Tom Jobim.

Em entrevista ao Mondo Pop, Bacelar nos fala sobre sua carreira, os critérios que usou para gravar Concerto Para Moviola- Ao Vivo, lembranças dos tempos do Hanói-Hanói e o que o levou a investir em um trabalho tão requintado e de alta qualidade musical em uma era na qual o descartável infelizmente prevalece no cenário musical brasileiro.

MONDO POP- Como surgiu o conceito que gerou Concerto Para Moviola- Ao Vivo?
Ricardo Bacelar– Meu primeiro CD solo, In Natura (2001), era mais clássico, mais erudito. Quando recebi o convite para participar do Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga (realizado no Ceará), resolvi fazer algo de que eu realmente gostasse, sem me preocupar com o resultado comercial. As coisas mudaram muito, é bem mais fácil gravar um disco hoje. Essa mudança democratizou muito as coisas, mas também abriu caminho para muitas coisas de má qualidade.

MONDO POP- E aí veio a ideia de mergulhar do seu jeito na fusion dos anos 1970 e 1980?
Ricardo Bacelar– Sim. É um estilo musical que eu ouvi muito quando era adolescente, é mais alegre, pra cima, embora muito sofisticado. Procurei fazer um trabalho com um acabamento de muita qualidade em todos os aspectos, do repertório à embalagem. Pesquisei muito os timbres de instrumentos, montei uma banda com grandes músicos. O resultado é um tipo de produto raro hoje em dia no Brasil, e fiz às próprias custas.

MONDO POP- Que tipo de critério você seguiu para selecionar o repertório incluído no CD/DVD?
Ricardo Bacelar– Procurei fugir do óbvio. Fiz um trabalho de pesquisa em cima de músicas que me marcaram. Gosto muito dessa coisa da mistura, e o fusion é bem isso, é como roupa, você pode criar o seu próprio visual, sua própria roupagem. Optei por solos curtos, com espaços para cada músico. A gravação foi muito à vontade, fiz sem a obrigação de lançar. Foram gravados dois shows, e escolhemos a gravação feita no Teatro do Via Sul, em Fortaleza (CE).

MONDO POP- Uma bela sacada sua foi também incluir autores nacionais que tem muito prestígio no exterior e foram gravados por artistas internacionais de fusion. Um deles é o Ivan Lins, que infelizmente não é tão valorizado pelos críticos aqui no Brasil.
Ricardo Bacelar– O Ivan Lins tem melodias sofisticadas, é um grande arranjador, e consegue fazer música radiofônica de forma muito bem elaborada. A música Setembro, que gravei, é uma parceria dele com o Gilson Peranzetta, outro grande tecladista. Também incluí composições do Tom Jobim, Egberto Gismonti e Moacir Santos.

MONDO POP- Conte um pouco sobre como foram os seus onze anos com o Hanói-Hanói.
Ricardo Bacelar– Entrei no grupo em sua segunda formação, que foi a que mais durou. Eu era muito garoto, aprendi a conviver no ambiente de gravadoras, do profissionalismo, aprendi muito com o Arnaldo Brandão. E tínhamos um estúdio de gravação onde fizemos coisas para teatro, cinema e TV. Viajamos muito, fizemos muitas coisas legais. Era um grupo de rock mais sofisticado, com percussão, letras irônicas.

MONDO POP- E o que te levou a sair do grupo?
Ricardo Bacelar– Quando fiz 30 anos de idade, tive vontade de ter uma vida mais estável, com família, e achei que o Direito seria um caminho para isso. Aí, mudei do Rio e voltei para Fortaleza (CE), passando a me dedicar em tempo integral à advocacia.

MONDO POP- Antes disso, você lançou um primeiro CD solo, In Natura, não é isso? Como foi a experiência de gravar esse trabalho, que teve várias participações especiais?
Ricardo Bacelar– Esse disco saiu em 2001, e teve participações especiais do Belchior, Frejat, Waldonys, Kátia Freitas e do pessoal do Hanói-Hanói. Já tinha trabalhado antes com o Belchior, compusemos juntos a música Vício Elegante, que foi a faixa título de um CD dele lançado em 1996 do qual participei tocando e fazendo arranjos.

Veja o DVD Concerto Para Moviola-Ao Vivo em streaming:

Killer Joe- Ricardo Bacelar:

Birdland- Ricardo Bacelar: