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Cristóvão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola

Choro Negro 5-400x foto de Nana Moraes

Por Fabian Chacur

Como forma de celebrar os 80 anos do grande Paulinho da Viola, os icônicos músicos Cristóvão Bastos e Mauro Senise gravaram o álbum Choro Negro- Cristóvão Bastos e Mauro Senise Tocam Paulinho da Viola, disponível em CD e também nas plataformas digitais. Eles mostram ao vivo o repertório desse trabalho no Rio de Janeiro neste sábado (11) às 19h30 no Teatro Rival Refit (rua Álvaro Alvim, nº 33- Cinelândia- fone 21-2240-4469), com ingressos a R$ 50,00 (meia) e R$ 100,00 (inteira).

Bastos (piano) e Senise (sax e flauta) serão acompanhados no show por Jeff Lescowich (contrabaixo) e Jurim Moreira (bateria). A base será o repertório do trabalho lançado pela Biscoito Fino, que inclui 10 faixas. São sete composições do homenageado, duas de Paulinho em parceria com Cristóvão e uma do pianista dedicada ao grande cantor e compositor carioca.

Entre outras, farão parte do set list Coração Leviano, Choro Negro e Um Choro Pra Waldir. Para quem curte música instrumental de primeira linha, um daqueles programas imperdíveis, capitaneado por músicos que possuem currículos invejáveis e um talento muito acima da média.

Coração Leviano (clipe)- Cristóvão Basto e Mauro Senise:

Ana de Hollanda mostra as músicas de Vivemos em SP

Foto: Leo Aversa

Foto: Leo Aversa

Por Fabian Chacur

Em novembro de 2021, Ana de Hollanda lançou em CD e também nas plataformas digitais pela gravadora Biscoito Fino o seu 5º álbum, Vivemos. Agora, chegou a hora de fazer a turnê de divulgação desse trabalho, e os primeiros shows ocorrerão em São Paulo, mais precisamente nesta quinta (12) e sexta (13), sempre às 20h30, no Sesc Avenida Paulista (avenida Paulista, nº 119- Bela Vista), com ingressos de R$ 9,00 a R$ 30,00.

Vivemos é totalmente autoral, com as letras de Ana sendo musicadas por craques da nossa música do porte de Cristóvão Bastos, Leandro Braga, Lula Barboza, Lucina, Marcelo Menezes, Nilson Chaves, Nivaldo Ornelas e Simone Guimarães. O experiente Bastos, por sinal, foi o diretor musical do álbum, e marcará presença no show tocando piano, ao lado de João Lyra (violão, viola caipira e violão de aço) e Zé Leal (percussão).

O repertório do show traz músicas do novo álbum como Outono, Botucuxi, Verão Que Ficou, Fantasias e O Que Deixei Cair, além de composições de Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Caetano Veloso e do seu irmão famoso, ninguém menos do que Chico Buarque.

Fantasias (clipe)- Ana de Hollanda:

Aldir Blanc, poeta do cotidiano e grande parceiro de João Bosco

aldir blanc-400x

Por Fabian Chacur

Conheci a dupla João Bosco e Aldir Blanc logo no berço, digamos assim. Em 1972, quando eu tinha apenas 11 anos, meu irmão Victor comprou o Disco de Bolso do Pasquim, que trazia uma revista e de brinde um compacto simples com a então inédita Águas de Março, de e com Tom Jobim, e do lado B Agnus Sei, fantástica composição meio barroca na qual Bosco mostrou seu imenso talento como cantor e violonista pela primeira vez. Era o início de uma paixão eterna por eles. E como é duro me despedir tão cedo de um deles…

Aldir nos deixou na madrugada desta segunda-feira (4) aos 73 anos, depois de 24 dias internado no hospital Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, sua cidade natal. É mais uma vítima do novo coronavírus, que alguns analfabetos funcionais insistem em classificar como “gripezinha”. Sua esperança foi uma equilibrista guerreira, mas infelizmente não deu conta dessa doença agressiva. E nós, ficamos bêbados de tristeza.

Nascido em 2 de setembro de 1946 no bairro carioca do Estácio, Aldir iniciou sua relação com a música tocando bateria em grupos amadores, além de escrever os primeiros poemas e letras. Seu nome começou a se tornar conhecido em 1970, quando sua parceria com Silvio da Silva Jr., “Amigo É Pra Essas Coisas” teve ótimo desempenho no Festival Universitário e entrou nas paradas de sucesso com o MPB-4.

Formado em medicina com especialização em psiquiatria, ele no entanto queria mesmo era se embrenhar na cena cultural. Ele integrou o MAU- Movimento Artístico Universitário, reunião de amigos batalhando por espaços que tinha no elenco, além dele, feras hoje eternizadas na história da nossa música como Ivan Lins, Gonzaguinha e Cesar Costa Filho. Eles tiveram até um programa na TV Globo, o Som Livre Exportação.

Em 1971, ele foi apresentado a um jovem estudante de engenharia, um certo mineiro chamado João Bosco, e a amizade não demorou a surgir. A parceria, inicialmente alimentada pelo correio, deu liga. A primeira gravação do que viria a se tornar uma griffe rolou precisamente no Disco de Bolso do Pasquim. Logo a seguir, Elis Regina os conheceu e gravou Bala Com Bala, a primeira de umas 20 deles que gravou com maestria.

Em 1975, João Bosco se tornou um sucesso em termos nacionais graças a canções marcantes que iam do samba às latinidades mil e outras experiências. Se o violão e a voz do mineiro de Ponte Nova eram fatores marcantes para esse sucesso, as letras de Aldir também se mostraram decisivas.

Afinal, quantos poetas seriam capazes de descrever com tanta precisão, bom humor e ironia a cena de uma tragédia cotidiana como em De Frente Pro Crime? Ou o tédio de uma relação amorosa que começou com tudo e se tornou apenas uma triste rotina na dolorida (e lindíssima!) Latin Lover? Ou de louvar um obscuro herói de nossa história e ainda dar umas agulhadas na ditadura militar em O Mestre Sala dos Mares?

Com mais de 100 canções, o songbook de João Bosco e Aldir Blanc é comparável ao das maiores duplas de todos os tempos, tipo Tom & Vinícius, Lennon & McCartney, Bacharach & David e por aí vai. Exagero? Lógico que não, e você, meu caro leitor, obviamente já concordou comigo de cara.

Bijuterias, Caça à Raposa, Dois Pra Lá Dois Pra Cá, Kid Cavaquinho, Linha de Passe, Nação, Rancho da Goiabada, os caras empilharam canções perfeitas, pra gente ouvir junto, cantar junto e se emocionar junto. Retratos de um Brasil cotidiano sofrido, irônico, mas sem nunca perder a ternura.

Em 1979, O Bêbado e a Equilibrista trouxe em sua melodia inspirada em Smile, de Charles Chaplin uma letra absurdamente inspirada e que virou o hino da Anistia que nos trouxe de volta o irmão do Henfil (o adorável e saudoso Betinho) e muito mais gente. Desses momentos históricos que nunca saem de nossas memórias.

Uma das minhas favoritas é A Nível de.., na qual Aldir nos presenteia com a hilariante história de dois casais heterossexuais, amigos de muito anos que se propõem a fazer um “troca-troca”, o que, no fim das contas, gera uma mudança inesperada nos relacionamentos deles. João soube aproveitar de tal forma a letra que a tornou um clássico em seus shows, sempre arrancando risos e muitos aplausos. Pérola de alto quilate em uma verdadeira joalheria musical.

Nos anos 1980, a parceria se desfez aos poucos, mas Aldir não se fez de rogado, escrevendo canções com gente do porte de Guinga, Moacyr Luz, Edu Lobo e Djavan. E foi com o tecladista Cristóvão Bastos que escreveu um dos maiores sucessos da carreira de Nana Caymmi, a sublime Resposta ao Tempo.

Autor de vários livros e cronista dos bons, Aldir também gravou três álbuns, um em parceria com Maurício Tapajós em 1984, outro em celebração a seus 50 anos de vida (50 Anos, em 1996) e Vida Noturna (2005). Em 2002, participou como cantor do songbook de João Bosco, e ali a parceria voltou à tona, com os dois compondo de forma ocasional, mas sempre com categoria.

Meio recluso por razões de saúde e também pessoais, ele no entanto participou do delicioso filme Praça Saens Peña (2008), no qual viveu ele mesmo, entrevistado pelo personagem vivido pelo ator Chico Diaz.

Aldir Blanc é o retrato de um Brasil rico, poético, sarcástico e inteligente que a cada dia parece mais distante de nós. Sua obra permanecerá como um marco dessa era de ouro da nossa cultura popular, quando era possível criar biscoitos finos que as massas consumiam com prazer. Bons tempos, heim?

obs.: meu abraço virtual de solidariedade ao grande João Bosco, um de meus ídolos e um dos caras mais inteligentes e simpáticos que já tive a honra de entrevistar em várias ocasiões.

Agnus Sei (gravação de 1972)- João Bosco:

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