Por Fabian Chacur

Você é músico e quer ter o seu trabalho badalado na mídia. Como fazer? Difícil, meu caro. Se você está perguntando, é sinal de que não faz parte da República do Colê, onde é bem difícil de se entrar e qualidade artística geralmente não significa rigorosamente nada como elemento de seleção.

A fórmula é antiga. O postulante precisa ser “filho de”, “parente de”, “amigo de” ou “indicado por”. Fazer parte da “tchurma”, sabe? Dessa forma, você conseguirá ver seus trabalhos entrando na pauta da mídia e sendo incensado nos jornais, revistas e sites mais badalados.

Esses contatos, que alguns apelidaram de “colê”, acabam levando seu trabalho a nomes importantes, que por tabela dão aval a essas figuras e abrindo suas portas a você. Resultado: mais um bebê de Rosemary surge no cenário musical.

Essa verdadeira República do Colê tornou-se tema da canção Mamãe no Face, de Zeca Baleiro, incluída em seu mais recente álbum, intitulado de forma sarcástica O Disco do Ano.

Na letra, Baleiro reproduz um hipotético papo com sua mãe, no qual cita o nome de publicações e padrinhos importantes para que um artista entre nessa máfia.

Talento é dispensável, o que certamente explica o fato de muitos deles nunca saírem dos círculos fechados dos “bacanas”. O povo definitivamente ainda não está preparado para apreciar o biscoito fino feito com chia orgânica, farinha de soja virgem e extrato natural de lichia e grapefruit por esses gênios supimpas, luminares dos sons e do vernáculo…

Essa é uma das razões pelas quais muita gente não respeita a crítica especializada em música. Afinal de contas, às vezes é difícil entender o porque certos artistas merecem tantos espaços. Ouvir Mamãe no Face pode ajudar o leigo a captar o espírito da coisa…

Veja o clipe de Mamãe no Face, de Zeca Baleiro: