Por Fabian Chacur

Em 2008, Seal lançou seu primeiro álbum composto apenas por obras alheias. Soul, cujo título entrega imediatamente seu conteúdo, obteve boa repercussão e vendeu bem. Quatro anos depois, temos aqui Soul 2, com onze novas releituras de clássicos da soul music, dez delas lançadas originalmente nos anos 70.

Muitos podem apontar a falta de originalidade em dedicar um disco a esse tipo de repertório. Afinal, quando se pensa em álbuns de covers no cenário pop, quatro temas são os mais comuns e mais explorados: soul, Motown, Beatles e standards americanos.

No entanto, a pergunta é óbvia: porque temas óbvios não podem proporcionar bons trabalhos, mesmo em cima de material já repassado milhares de vezes? Seal poderia justificar da seguinte forma seu mergulho em um dos repertórios mais ricos da música mundial: “eu nunca gravei essas músicas antes; então, é novidade!”.

Conceitos à parte, o mais importante é ouvir o álbum e avaliá-lo. E não dá para não considerar Soul 2 um belíssimo trabalho, no qual a voz do cantor e compositor londrino de 49 anos desliza com doçura e potência por um set list de qualidade irretocável.

Com produção divida entre Trevor Horn (o descobridor de Seal e produtor premiado) e David Foster (revelou Celine Dion, The Corrs e inúmeros outros grandes nomes), o álbum traz arranjos enxutos e muito bem concatenados, ressaltando as harmonias e dando espaços para que a voz do cantor se sobressaia sem apelar a arroubos ególatras.

A sensual balada Love T.K.O., sucesso originalmente na voz de Teddy Pendergrass, a doce Ooh Baby Baby, única faixa oriunda dos anos 60 e um original de Smokey Robinson And The Miracles, a arrebatadora balada Love Won’t Let Me Wait (hit com Major Lance e depois com o saudoso Luther Vandross) e a vibrante I’ll Be Around (grande clássico dos Spinners) são destaques certeiros, mas o álbum todo é muito legal.

A curiosidade fica por conta de duas baladas gravadas originalmente pelo grupo Rose Royce, Wishing On A Star (mais conhecida no Brasil na versão dos anos 90 das Cover Girls) e Love Don’t Live Here Anymore (regravada por Madonna nos anos 80).

Mesmo as escolhas mais manjadas, como Let’s Stay Together, de Al Green, regravada até por Rosana Fiengo, não podem ser condenadas, pois ao menos tiveram releituras bem gostosas.

Para quem busca a originalidade que Seal exalava em seus trabalhos iniciais, representados por clássicos como Killer, Crazy e Future Love Paradise, Soul 2 poderá soar decepcionante. Mas para quem curte seu lado mais pop, dos megahits Kiss From a Rose e Fly Like a Eagle, ou quer apenas ouvir ótimas canções interpretadas por um cantor irrepreensível, este álbum é uma excelente pedida.

Ouça Love TKO, com Seal, em versão de estúdio:

Ouça Love TKO, com Seal, em versão ao vivo: