por Fabian Chacur

O Dire Straits viveu duas fases distintas, em sua carreira. A primeira, que rolou de 1977 a 1980, foi provavelmente a melhor, e tem agora um belo registro em DVD disponível. Trata-se de Sultans Of Swing-Live In Germany.

A primeira boa notícia é que o DVD, lançado no Brasil pelo selo Top Tape, está sendo vendido por um preço bastante convidativo, que varia de R$10 a R$20. A outra é que a qualidade da performance da banda no mesmo é excepcional.

Nessa época, o ex-jornalista e professor Mark Knopfler completava 30 anos de idade, e assumia de uma vez por todas a profissão de cantor, compositor e guitarrista de rock. O que começou como hobby virou ganha-pão forever.

Ao seu lado, o irmão David Knopfler na guitarra-base, John Illsley no baixo e Pick Whiters na bateria. Uma formação compacta e de entrosamento absurdo, que lançou dois excelentes discos de estúdio.

Dire Straits (1978) e Communiqué (1979) eram uma espécie de contra-senso, na época: em plena era do punk, new wave, heavy metal e disco music, uma banda tocando puro rock básico/clássico.

A inspiração de Mark Knopfler desde o início sempre foi a fusão rock-country-folk, com tempero de reggae e blues. Influências fundamentais: Bob Dylan e Eric Clapton no vocal e composições (Clapton também no estilo de tocar guitarra) e o grupo britânico The Shadows nos timbres de guitarra.

A canção que abriu as portas do quarteto para a fama foi Sultans Of Swing, seu primeiro single, e faixa de destaque do álbum de estreia. Um rock ágil, dylaniano, uma das raras canções do estilo a tocar em rádios brasileiras nos idos de 1978/79.

Sultans Of Swing Live In Germany flagra o grupo britânico gravando um especial ao vivo nos estúdios do programa Rockpalast, exibido pela tevê alemã. Na plateia, em torno de cem sortudos.

O repertório mostra, praticamente na íntegra, o repertório dos dois primeiros álbuns, com Sultans… sendo interpretada por duas vezes. São 15 canções, no total, em 84 minutos de show.

O Dire Straits, nesse período, era um grupo compacto, que brilhava graças a um minimalismo inteligente, arranjos instrumentais de muito bom gosto e uma simplicidade criativa que só os grandes grupos atingem.

A voz a la Dylan e a guitarra ágil e sempre limpa de Knopfler são os pontos principais de atração da banda, mas não os únicos. O irmão mais novo David lhe dá um impecável apoio, na guitarra-base.

O baixista John Illsley, único integrante que o acompanhou até o final do Dire Straits, nos anos 90, mostra total segurança e estabilidade, enquanto fica para o baterista Pick Whiters a função de arma secreta.

O cara é um daqueles bateristas âncora, que não perde uma única batida rítmica e que prima sua atuação pela sutileza e pelo swing sempre irrepreensível. Sua saída da banda, no início dos anos 80, ao lado da de David Knoplers, são marcos da mudança do som do Straits.

Em termos visuais, este DVD peca por uma qualidade não muito boa, relembrando aquelas gravações feitas em VHS de programas de tevê, com eventuais problemas de tomadas fora de foco.

No entanto, o áudio é excelente, e compensa essa deficiente captação de imagem. Afinal de contas, mais vale música boa com qualidade de imagem regular do que as bandas Calypso da vida em sensurround.

O show é excepcional, e flui de forma deliciosa, ainda mais pelo espírito intimista criado pelo estúdio onde foi gravado. A interação do quarteto com a plateia é ótimo.

Destaques do repertório, além de Sultans Of Swing: Single Handed Sailor (com solos excepcionais de Mark), o reggae Once Upon a Time In The West, o rock ágil Lady Writer, a rockabilly Eastbound Train e a vibrante Down To The Waterline.

Nos anos 80, o Dire Straits passou a se apresentar ao vivo com no mínimo seis músicos, e ganhou uma sonoridade mais próxima do arena rock, fazendo um som mais pop e feito sob medida para fãs não radicais de rock.

Ou, como gosto de dizer, “rock para quem não gosta de rock”. Lotaram estádios e se tornaram uma megabanda, com direito a performance até no show beneficente Live Aid, com grande destaque.

Não ficou ruim, e Brothers In Arms (1985) é sem sombra de dúvidas um dos grandes clássicos do rock dos anos 80. Mas não posso negar que a fase inicial do Dire Straits, flagrada neste DVD, me arrepia muito mais.