Por Fabian Chacur

Marvin Gaye, um dos grandes gênios da música pop, faria 75 anos de idade nesta quarta-feira (2). Infelizmente ele não está mais entre nós para comemorar essa data. Aliás, foi na véspera de completar 45 anos, em um trágico 1º de abril de 1984, que o cantor, compositor e músico americano nos deixou, assassinado pelo próprio pai, um pastor evangélico. Triste demais para ser verdade.

A morte violenta de Marvin soa ainda mais lamentável se levarmos em conta que, na época, ele curtia uma bela volta por cima, tendo superado sérios problemas com drogas e um período longe das paradas de sucesso. O álbum Midnight Love (1982), com seu excepcional single Sexual Healing, tinham dado a ele uma segunda chance de brilhar, momento iluminado que o pai abreviou de forma dramática.

Nascido em uma família religiosa e musical, Marvin Gaye não demorou a se dedicar à música. Após integrar vários grupos, foi convidado pelo cantor, compositor e produtor Harvey Fuqua a integrar uma das últimas formações do célebre grupo vocal The Moonglows, na segunda metade dos anos 50. Fuqua apresentou o protegido a Berry Gordy, presidente da então ainda iniciante Motown Records, e não demorou para que mais um nome fosse integrado ao time.

Durante a década de 60, Marvin Gaye foi quase um curinga na Motown, pois tocou bateria e fez vocais de apoio em gravações de outros artistas, compôs músicas para os astros da casa, gravou duetos com as cantoras Mary Wells, Kim Weston e Tammy Terrell e também gravou seus próprio sucessos, entre os quais I Heard It Through The Grapevine, Hitch Hike e How Sweet It Is (To Be Loved By You).

Em 1970, o artista de temperamento forte não aguentava mais ser tutelado pela linha de montagem da Motown, e mostrou a Berry Gordy uma canção que pretendia gravar, com forte conteúdo social, chamada What’s Going On. O chefão não queria saber daquilo, mas Gaye bateu o pé e ameaçou sair fora da gravadora se não passasse a ter total liberdade artística. Ele ganhou a queda de braço e mudou a Motown Records.

Foi bom para todos. What’s Going On, o single e o álbum, saíram em 1971 rumo ao topo das paradas de sucesso, vendendo muito e arrancando elogios da crítica especializada. Logo a seguir, Let’s Get It On (1973), repleto de sensualidade, consolidou de vez esse período positivo de sua carreira, com a canção título tomando conta dos charts de todo o mundo.

Um certeiro álbum gravado em dupla com Diana Ross (Diana & Marvin-1973) e a estupenda trilha para o filme Trouble Man (1972- incluindo o matador single Don’t Mess With Mr.’T’) davam provas de que o céu parecia ser o limite para a criatividade e popularidade do astro. No entanto, os anos seguintes iriam encaminhá-lo rumo a uma crise cujo auge foi a separação de Anna Gordy, que gerou um dos álbuns baseado em separação mais tristes de todos os tempos, o pungente Here My Dear (1978).

Após um exílio na Europa, problemas de saúde gerados pelo consumo excessivo de drogas e outras encrencas do gênero, ele saiu da Motown e parecia jogado para escanteio pela indústria musical. Até que os executivos da Columbia Records resolveram apostar em Marvin, e se deram bem. Pena que sua morte prematura tenha reduzido esse retorno triunfal proporcionado pela estimulante Sexual Healing.

Marvin Gaye foi um artista completo. Cantor de incríveis recursos técnicos, compositor refinado e sempre ladeado por parceiros do primeiro time, músico dos bons, ótimo performer em shows, ele continua sendo influência para as novas gerações, pois sua discografia é certamente uma das mais consistentes da música pop como um todo. Feliz aniversário!

Don’t Mess With Mr.’T’, com Marvin Gaye: