sambalanço livro tarik de souza

Por Fabian Chacur

A riqueza da música popular brasileira é tanta que algumas de suas vertentes acabam ficando em segundo plano, no que se refere ao estudo e à divulgação para o grande público. Uma que permaneceu durante muito tempo na penumbra foi o chamado sambalanço, roupagem swingada e repleta de molho que surgiu na mesma época da bossa nova, nos anos 1950 e 1960. O livro Sambalanço, a Bossa Que Dança- Um Mosaico, de Tarik de Souza e lançado pela Kuarup, chega com a missão de preencher essa lacuna, e cumpre sua missão com brilhantismo e riqueza de detalhes.

Não é de se estranhar a qualidade deste livro. Tarik de Souza é um dos melhores e mais gabaritados jornalistas, críticos e pesquisadores musicais do país, com diversos livros no currículo e também atuação em jornais, revistas, sites e programas de TV. Foram longos anos de pesquisas, durante os quais resgatou um estilo musical que curtia desde a sua infância e adolescência e que correu à margem do prestígio de outras vertentes musicais brazucas.

No livro, Tarik mostra o quanto o sambalanço foi colocado em segundo plano devido ao fato de investir em uma sonoridade mais dançante e descontraída, em contraponto à maior seriedade da “concorrente” bossa nova. Mesmo assim, teve forte aceitação por parte do público na época, gerando ídolos como Miltinho, Orlandivo, Ed Lincoln, Elza Soares, Silvio Cesar, Dóris Monteiro e tantos outros, além de ser a trilha sonora preferencial para bailes pelos quatro cantos do país.

Em comportamento que vem se transformando em padrão em nossa história recente, o sambalanço saiu de cena em meados dos anos 1970 e só foi resgatado graças ao interesse de pesquisadores e fãs de outros países, notadamente da Inglaterra e de outros países europeus e asiáticos. E também a artistas brasileiros das novas gerações, entre os quais Marco Mattoli, Amanda Bravo e Clara Moreno, além de pesquisadores como o próprio Tarik, Charles Gavin e outros.

A obra nos oferece um ensaio geral sobre o movimento, uma discografia básica (que poderia ter sido mais detalhada), 15 deliciosas entrevistas com grandes nomes do estilo, como Elza Soares, Orlandivo, Durval Ferreira, Dóris Monteiro e Silvio Cesar, e 13 perfis de outros artistas fundamentais para o sambalanço, tipo Walter Wanderley, Nilo Sérgio, Luiz Bandeira e Miltinho.

Com riqueza de detalhes e muita, mas muita informação mesmo, Sambalanço, a Bossa Que Dança- Um Mosaico pode ser uma obra difícil de ser assimilada pelo leitor menos afeito ao mundo musical, mas é essencial para quem é iniciado nesse universo e quer completar a sua formação, além de ser uma incrível fonte de consultas sobre o sambalanço e suas estrelas, especialmente sobre o curioso e peculiar Orlandivo, uma figura carimbada da nossa música.

Bolinha de Sabão– Orlandivo: