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Noturnall lança novo CD e se prepara para o Rock in Rio

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Por Fabian Chacur

Com menos de dois anos na ativa, a banda brasileira Noturnall já possui em seu currículo três turnês internacionais, dois discos de estúdio, um DVD e diversos clipes. Isso, graças ao talento e à experiência de seus integrantes, todos veteranos do cenário do rock brasileiro e com muita história a contar.
Thiago Bianchi (vocal), Fernando Quesada (baixo, violão e guitarra de sete cordas), Junior Carelli (teclados), Leo Mancini (guitarra) e Aquiles Priester (bateria e percussão) irão participar da edição 2015 do Rock in Rio no dia 19 de setembro. Eles prometem surpresas para os fãs.
Em entrevista exclusiva via e-mail para Mondo Pop, o vocalista Thiago Bianchi fala sobre o novo álbum, o ótimo Back To F*** You All, e tudo sobre essa belo quinteto de heavy metal.

Mondo Pop- Qual a expectativa de vocês para a participação no Rock in Rio, um dos festivais de música mais importantes do mundo? Revelem o que puder ser revelado sobre o que irá rolar no show.
Thiago Bianchi
– Cara, o senso de “responsabilidade” de um show dessa magnitude, principalmente para uma banda de menos de dois anos de debut na praça, é descomunal. Uma vez identificado esse sentimento, a Noturnall preparou um show totalmente inédito, acima de qualquer outra apresentação da história de todos os nossos integrantes. Não posso revelar muito, apenas que a Noturnall vai honrar mais uma vez os “camisas pretas” com toda sua força. Será um dia inesquecível, podem ter certeza.

Mondo Pop- Quais as diferenças básicas entre o novo CD e o álbum de estreia da banda, na visão de vocês?
Thiago Bianchi
– Hum… A palavra “evolução” aparece em minha mente toda vez que ouço essa pergunta. Com certeza hoje somos uma banda em outro “patamar” sob todos os pontos de vista. Claro que não digo isso de forma arrogante, comparando a outras bandas ou algo do tipo, mas sim comparando a nós mesmos meses atrás. Se antes não tínhamos medo de errar na “dose” em nosso debut, aparentemente essa máxima se transformou em nosso “guia espiritual”, por assim dizer. Quanto mais estranho, pesado, alienígena, melhor.

Mondo Pop- Em pouco tempo de carreira como Noturnall, vocês já possuem um belo currículo, com três turnês internacionais, dois discos de estúdio e um DVD. A experiência em projetos anteriores ajudou nessa grande produtividade do grupo?
Thiago Bianchi
– Com certeza! Claro que não podemos nunca deixar o fator “experiência” de fora ao falar da Noturnall. Não seria nem justo. Todos aqui têm uma história tão bonita… tão relevante… Na verdade, me sinto tão sortudo por ter amigos tão profundamente marcados pelo “metal” que de fato fica até difícil às vezes dizer que essa é uma banda nova, já que a sensação é de ter Noturnall em minha vida há séculos… (risos)

Mondo Pop- O Aquiles Priester também participa de outros projetos importantes no meio do rock. Como vocês fazem para conciliar essa agenda agitada dele com a do Noturnall? Ocorre de precisarem ter um eventual substituto em algumas ocasiões ou não?
Thiago Bianchi
– Essa é uma dúvida frequente também de nossos fãs, então já adianto o seguinte: a Noturnall é movida, antes de mais nada, por respeito a todos seus integrantes. Todos aqui vivem da música e em nenhum momento nos sentimos no direito de dizer o que “fulano” ou “beltrano” pode ou não fazer. Não só Aquiles, mas Quesada é coordenador de áudio na maior escola de música da America Latina, o EMT. Mancini tem uma sólida carreira Acústica. Carelli é dono de uma prolífera produtora e eu sou produtor, dono de estúdio, com mais de 170 álbuns lançados…Ou seja, o importante, a base de tudo na vida, principalmente num “casamento” de 5 pessoas, fora a equipe, é respeito.Se essa palavra for o carro chefe, tudo estará sempre em ordem.

Mondo Pop- A capa e o encarte do CD Back to F*** You Up! mostra literalmente os principais símbolos de Brasília pegando fogo. Como surgiu a ideia de criar essa forte imagem e como está sendo a repercussão perante o público e a mídia?
Thiago Bianchi
– Acreditamos fortemente que esse é um sentimento recorrente no brasileiro, o de “renovação”. E o que é mais purificador que o fogo? Claro que não no sentido literário, afinal nossa intenção em momento algum é fazer apologia ao crime… deixe isso com os “black blocks”. (risos). A nossa função enquanto artistas é “conectar” as pessoas que se sentem sozinhas com seus pensamentos e intenções. Queremos semear o que já existe dentro dos corações dos brasileiros, o sentimento de mudança. O Brasil precisa “zerar” sua política, começando por Brasília. Aquilo se transformou num antro de corruptos e vagabundos que não merecem ver a luz do dia nunca mais. Quanto à resposta sobre a capa… Claro que fomos censurados em muitos lugares, e até países.. mas isso é matéria pra outra entrevista. (risos)

Mondo Pop- Como vocês encaram o atual cenário brasileiro para o heavy metal e o rock pesado em geral? A melhor saída para as bandas daqui sobreviverem continua sendo mesmo uma dedicação maior ao mercado internacional? E como está o cenário internacional para esse estilo musical?
Thiago Bianchi
– Não, muito pelo contrario. Claro que não está fácil pra ninguém e em se tratando de Brasil, nunca estará…Mas uma coisa é fato, se você colocar no papel a história do Metal em nosso pais, na ponta do lápis, vai perceber, que ok, não vivemos naquele ápice dos anos 90, mas com certeza a cena é muito maior do que foi nos anos 80 e até em alguns momentos dos anos 2000. Quanto mais tocamos aqui e recebemos o carinho dos brasileiros, mais fica claro que nosso lugar de fato, é no Brasil.

Mondo Pop- A presença de um palavrão em inglês no título do álbum está eventualmente prejudicando a divulgação dele? Vocês temem algum tipo de represália por causa disso em termos de mídia ou de alas mais conservadoras da sociedade brasileira e do exterior?
Thiago Bianchi
– Não. Até agora está tudo bem… Infelizmente.. (risos)

Mondo Pop- Onde vocês possuem melhor público no Brasil, e em que países o Noturnall possui uma base mais fiel de fãs?
Thiago Bianchi
– Brasil, sem sombra de dúvidas.

Mondo Pop- Quais os próximos passos da banda, especialmente após a participação no Rock in Rio?
Thiago Bianchi
– Temos duas “bombas” incríveis, mas realmente não posso contar nada agora… fiquem ligados!

Fight The System- Lyric Video- Noturnall:

Back to F*** You Up- Lyric Video- Noturnall:

Zombies (The Holy Trinity)- Noturnall:

João Capdeville estreia com EP de som elaborado e doce

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Por Fabian Chacur

O cantor, compositor e multi-instrumentista carioca João Capdeville estreia em disco com um formato que voltou a ser utilizado por muitos artistas, o EP. Trata-se de um CD com no máximo cinco músicas, no qual o artista pode apresentar uma amostra de seu trabalho de um jeito mais conciso. Uma espécie de cartão de apresentação chique.

Com 21 anos de idade, o artista carioca nos apresenta canções elaboradas, melódicas e doces, mas com um tempero ardido que lhe dão um diferencial em relação ao que anda sendo feito por seus contemporâneos. É MPB, sim, mas também tem raízes no rock, na música pop e até mesmo no jazz e música erudita. Som sem amarras, com vocalizações concisas.

Em entrevista exclusiva a Mondo Pop, Capdeville nos fala do primeiro EP, intitulado Pausa e lançado pela via independente, e também sobre as influências musicais que permeiam sua obra, seus planos, projetos e muito mais. É um artista promissor que mostra bastante poder de fogo logo na estreia. Vale a pena ficar de olho nele.

Mondo Pop- O que te levou a estrear em termos fonográficos com um EP? O que acha da atual tendência de vários artistas lançarem músicas novas nesse formato? E como você faz as vendas dele? Em shows, na internet etc?
João Capdeville– Então. Gravar primeiro um EP foi na verdade uma espécie de teste, uma experiência. Escolhemos as músicas que achamos que se destacavam e, se desse certo e as pessoas gostassem, gravaríamos o resto das músicas para lançar, posteriormente, um CD cheio. Felizmente o Pausa tem dado um bom retorno e rendido boas críticas, o que facilita a continuidade do projeto. Acho o EP uma forma muito legal de se trabalhar. É claro que depende de cada artista. Mas acho bem bacana porque não é necessário esperar você ter um monte de músicas pra gravar. Tudo pode ser feito aos poucos. De 3 em 3, de 4 em 4 músicas etc. Isso diminui o tempo total de criação e faz com que o público tenha alguma novidade por parte do artista em um período menor. A espera por novidades fica menos demorada. Acho muito bacana.
Eu tenho o EP inteiro disponível para compra online através de algumas plataformas como o iTunes, por exemplo, mas pra quem quiser ter o álbum físico, eles sempre estão à venda em meus shows. Interessados em comprar o disco físico podem entrar em contato pelo meu email também para mais informações ([email protected]).

Mondo Pop- Como foi selecionar o repertório para Pausa? Que tipo de critérios você seguiu? Todas as músicas foram compostas em uma mesma época ou vem de períodos diferentes?
João Capdeville– Pra mim foi um pouco difícil escolher apenas cinco músicas. Tenho um carinho muito grande por todas as canções que escrevo e não queria deixar nenhuma de fora. Essa escolha veio junto ao Diogo, que foi quem produziu o disco. Ele ia escutando e me dizendo as que mais o agradavam e, estando enfim de acordo, depois de um tempo tínhamos as cinco faixas determinadas. Quanto ao processo de criação, há músicas de períodos distintos da minha vida. A Lembra?, por exemplo, é uma das que compus há mais tempo e tinha guardado na gaveta. Por outro lado, escrevi O Mundo Vai Girar pouco antes de entrar no estúdio pra gravar o disco.

Mondo Pop- Você tem 21 anos, mas suas referências musicais (que constam do release do seu disco) são de nomes bem anteriores à sua geração. Isso ocorreu de forma não intencional ou denota uma insatisfação com a música feita dos anos 80 para cá?
João Capdeville– Engraçado. Sabe que eu não tinha percebido isso? (Risos) De forma alguma. Não tenho insatisfação nenhuma com a música feita dos anos 80 pra cá. Pelo contrário, tenho admiração por um monte de artistas dessa época. Acho que foi só coincidência mesmo.

Mondo Pop- Ainda na mesma pegada da pergunta anterior: quais são os artistas da nova geração que você mais gosta, e por quê?
João Capdeville– Ah! Eu gosto de muitos. Adoro o trabalho do Silva, do Lucas Santtana, do Cícero. Acho que são capazes de fazer algo magnífico, cada um com suas características, e sem fugir das raízes.

Mondo Pop- As suas canções mesclam elementos de MPB, rock e mesmo música erudita de forma bem aberta, sem amarras. Essa era a sua intenção desde o início?
João Capdeville– Acho que essa mistura é algo inevitável, não é só questão de ter ou não a intenção. Isso vem das coisas que gosto de ouvir e tocar, de todas as minhas influências, e estas estão presentes em todas as minhas composições. De forma intencional ou não, penso que todas as minhas músicas tem e terão essa característica de misturar minhas influências.

Mondo Pop- Qual o seu objetivo básico enquanto artista? Gostaria de fazer sucesso em termos comerciais ou prefere concentrar seu poder de fogo na parte artística, sem levar isso em conta?
João Capdeville– Meu objetivo é conseguir chegar no maior número possível de pessoas e vê-las se identificando com minhas letras e melodias. Pra mim isso é tudo! Dinheiro e sucesso seriam consequências. O mais importante é poder me expressar de forma sincera, através das minhas canções, e fazer com que as pessoas se sintam, ao ouvir, do mesmo jeito que eu me sinto ao cantá-las.

Mondo Pop- Nos seus shows você mescla músicas próprias e releituras de músicas de outros artistas. Como foram escolhidas essas canções alheias, e como você as relê, mais próximas dos arranjos originais ou tentando partir para um rumo diferente em termos estilísticos?
João Capdeville– A prioridade nos meus shows é, obviamente, das minhas músicas mas, sobrando espaço, é um prazer poder cantar alguma composição de artistas de quem eu gosto. No último show, toquei algumas versões de músicas de outros compositores, mas a tendência é que, conforme eu vá lançando mais material, diminua um pouco esse número. Quando toco uma música de outra pessoa, tento colocar o máximo de João Capdeville nela. Tento tratar a canção como se eu mesmo a tivesse escrito. Por isso, escolho somente músicas com as quais me identifico muito. Caso contrário, não veria razão em cantá-las.

Mondo Pop- Como funciona o trabalho com os músicos de sua banda de apoio? É como se fosse um grupo, com abertura para que eles opinem, ou você dá as coordenadas e eles as seguem?
João Capdeville– É 100% aberto para que opinem. Somos um grupo. É claro que eu tenho que dar a palavra final pra que tudo tenha o meu jeito e minha cara, mas eu fico muito contente em receber sugestões dos meus parceiros.

Mondo Pop- Como você encara o atual cenário da indústria fonográfica no Brasil, e como é o seu relacionamento com os fãs via redes sociais?
João Capdeville– Ao meu ver, nossa cena é extremamente rica! Não canso de dizer que há artistas sensacionais espalhados pelo Brasil, independente do gênero. Escuto muito da nova cena e fico muito orgulhoso da nossa música.Quanto aos fãs, procuro responder todas as mensagens que recebo e busco sempre retribuir o carinho dessas pessoas. Minha maior alegria é abrir minha conta em alguma rede social e encontrar uma mensagem nova de alguém dizendo que gostou e se identificou com minhas canções.

Mondo Pop- Quais são seus próximos projetos (CD “cheio”, DVD etc)?
João Capdeville– Meu próximo projeto é gravar um CD cheio. Essa seria, ao meu ver, a minha verdadeira estreia na indústria fonográfica. Ainda não tenho uma previsão muito precisa sobre a data do lançamento mas, daqui a uns meses, terei mais informações. Fora isso, meu objetivo é estar sempre fazendo show e levando meu trabalho pra mais lugares.

Mondo Pop- Se você tivesse de escolher um CD de outro artista para tocar na íntegra ao vivo, qual seria, e por quê?
João Capdeville– Hoje eu estava escutando o CD do Tom junto ao Sinatra. Acho que essa seria uma boa pedida. (n.da r.: Antonio Carlos Jobim & Francis Albert Sinatra, lançado em 1967 pela Reprise Records).

Ouça Lembra?, com João Capdeville:

Banda Hai Kai mostra seu som roqueiro em No Seu Jardim

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Por Fabian Chacur

A banda Hai Kai é integrada pelas irmãs Tetê Braga (vocal), Renata Braga (baixo) e Cacau Braga (bateria) e por Lucas Iessi (guitarra). Há alguns anos na estrada, vai se consolidando como uma das boas novidades do rock brasileiro da atualidade.

Tendo como base a cidade paulista de Sorocaba, o quarteto aposta em um rock ágil, bom de se ouvir e que não abre mão de letras bacanas, melodias interessantes e ritmos sacudidos.

Com o seu novo CD, No Seu Jardim, lançado pela via independente, a Hai Kai tem tudo para ampliar ainda mais seus horizontes em termos de reconhecimento perante fãs e imprensa. Em entrevista exclusiva concedida ao Mondo Pop via e-mail, seus integrantes nos dão detalhes sobre carreira, CD etc.

Mondo Pop- A banda Hai Kai foi criada em Sorocaba (SP). Como foi que o Lucas entrou no time? Ele é de lá? Ou conheceu a Renata na Unicamp e depois entrou no time?
Tetê Braga– A banda se formou em 2000 aqui em Sorocaba, e o Lucas estudava na minha classe de ensino médio. Nós começamos a tocar primeiramente somente as irmãs, e depois ele entrou e fechou o time. A Unicamp foi mesmo uma consequência da banda para o Lucas e para a Renata, foi um aprimoramento para ambos.

O CD do Hai Kai é bastante centrado nas canções, uma espécie de “rock and roll de canções”, pois todos os integrantes colocam suas energias em torno delas, sem estrelismos. Essa foi a minha impressão ao ouvir o disco. Bate com o conceito de vocês?
Tetê Braga– Sim, todos participam ativamente da composição e arranjo das músicas, cada um contribuindo com o que faz de melhor. Eu adoro criar melodias, a Rê também, a Cacau faz muitas das letras, sozinha e comigo também. Os textos dela renderam até uma comenda! O Lucas é o cara dos arranjos e produção musical.

Como foi selecionado o repertório do CD? As músicas são todas recentes ou tem origem mais antiga? E como funciona o processo de composição de vocês, já que todas as músicas são assinadas de forma coletiva?
Cacau Braga– O CD tem algumas músicas mais antigas que ganharam arranjos novos e a produção do Lucas, mas a maioria é nova. Realmente assinamos todas as músicas, pois nenhuma delas foi feita exclusivamente por um integrante só. Entendemos que, sem a contribuição dos outros, as músicas não seriam as mesmas.

O som da banda é uma mistura do rock dos anos 70 com elementos do rock atual. Quais são as principais influências que vocês sentem existir em seu som?
Cacau Braga– Não sabemos se isso acabou existindo no nosso som, mas nossas influências pessoais são muitos artistas dos anos 70 mesmo. Nós gostamos dos solos de guitarra do Led Zeppelin, Pink Floyd e também gostamos dos arranjos dos Beatles e das melodias de todos eles. Também escutamos muitos artistas que estão na ativa hoje, mas não muito guiados pelas rádios. Estamos sempre em busca de novos sons.

Vocês realizaram há pouco uma turnê pelo Canadá. Como foi essa experiência? Quantos shows, onde tocaram e que tipo de intercâmbio rolou por lá? E como surgiu o convite?
Renata Braga– Fomos convidados por tocarmos aqui no Brasil em um evento de uma agência de intercâmbios, em que os responsáveis canadenses nos assistiram e se interessaram por nosso trabalho. A partir daí, começamos a combinar uma ida para aquele país, para apresentarmos show e workshops nas high schools da província da Nova Scotia. Em outubro de 2012, ficamos um mês excursionando por toda a província, totalizando aproximadamente 30 workshops e mais de 20 shows, todos lotados e com uma receptividade maravilhosa! A experiência foi ainda mais interessante, por ficarmos hospedados em “host families”, tendo a oportunidade de conhecer a cultura canadense de forma bastante intensa, fazendo grandes amigos e muito som. Um grande amigo nosso, o cineasta, Giuliano Rossi, nos acompanhou nessa viagem, registrando nossos shows, workshops, passeios turísticos, as reações e depoimentos do público e amigos que fizemos por lá. Toda essa experiência resultou no videoclipe da música No Seu Jardim, que pode ser encontrada no disco homônimo.

As letras das canções do grupo são em sua maioria da Cacau, algo não muito comum e que aproxima a Hai Kai, nesse quesito, do Rush. Isso rolou desde o começo? Vocês encaram isso como outro diferencial interessante da banda?
Cacau Braga– No começo nós escrevíamos as letras juntos. Com o tempo, eu comecei a me aproximar mais desse meio literário e fazer mais materiais sozinha. Nunca tínhamos pensado nessa comparação com o Rush, mas é algo bem interessante sim, e acho que pode ser considerado um diferencial. A proposta da Hai Kai foi sempre ser muito ligada à literatura e cada vez mais nós estamos conseguindo isso. Tenho vários textos em mais de 20 coletâneas pelo país, além de ser membro fundador da Academia de Letras, Música e Artes de Salvador. Também em 2014 tive a honra de ganhar a Comenda Luis Vaz de Camões, reconhecida pelo Real Gabinete de Lisboa.

Como surgiu a ideia de nomear a banda como Hai Kai? Tem a ver com o estilo compacto e conciso do som e das letras feitas por vocês?
Cacau Braga– Conhecemos o estilo poético Haicai por meio da nossa mãe, que é professora de língua portuguesa. Para nós, abriu-se um universo novo, que trazia grande musicalidade poética em poucos versos e muitos significados. Achamos que isso tinha tudo a ver com o rock, com a música em si e com a nossa proposta de som. Queríamos uma música com letras mais poéticas, sem nada mastigado, que levasse o público à reflexão sobre o mundo.

Vocês já dividiram o palco com artistas como Pitty, Capital Inicial, Ira!, Kiko Zambianchi e outros. Falem um pouco sobre a importância desse tipo de intercâmbio para vocês.
Tetê Braga– É muito legal poder dividir palco com esses nomes que são referências musicais para nós. Aprendemos muito com a experiência deles e formamos boas amizades como com o Kiko Zambianchi e com o Yves Passarel.

Temos poucos grupos de rock com três ou mais garotas no Brasil. Isso tem funcionado como um bom diferencial para o Hai Kai? E porque, na opinião de vocês, a maioria das mulheres no Brasil acaba enveredando pela MPB ao invés do rock?
Tetê Braga– Não acho que ter mulheres na banda seja um diferencial, esperamos que o diferencial esteja no som, mas acredito que possamos incentivar que mais garotas toquem rock. Tem muita mulher na MPB, mas também tem muita mulher no rock and roll! Sem contar com a Pitty, posso citar várias bandas de rock de mulheres brasileiras incríveis! Acho que todas as pessoas tem que começar a ouvir mais as vozes femininas escondidas pelo Brasil!

Nos shows vocês só tocam músicas próprias ou também rolam alguns covers? Se rolam covers, de quais artistas?
Tetê Braga– Tocamos prioritariamente nossas músicas, mas fazemos sons de artistas que nos influenciam, como por exemplo Beatles, Janis Joplin, Led Zeppelin etc

A apresentação visual do CD de vocês é muito legal, tanto a capa como o encarte. Gostaria que vocês falassem um pouco da importância do visual no trabalho de vocês, em termos de identidade artística nos shows e em seus produtos/shows.
Tetê Braga– Pensamos muito em como fazer a capa do disco. Conhecemos muitos artistas plásticos daqui da nossa região, e queríamos chamar alguém que representasse a poesia delicada e também o a energia do nosso rock. Convidamos a Lia Fenix, grafiteira e artista plástica da cidade de Salto. Mostramos as músicas e destacamos uma parede da nossa casa em que ela fez o desenho da capa. Ficou lindo, e é exatamente o que pensamos. Depois, um outro grafiteiro, o Marco Aurélio, fez um outro grafite em outra parede de casa. Nesse, inclusive, fizemos pintura corporal numa performance super legal! Usamos o grafitti dele como textura da parte interna e eu mesma junto com o design Titto Rosseto fizemos a diagramação de tudo. É tudo artesanal, mas de qualidade ímpar e totalmente dentro do conceito do CD. É uma poesia de cores!

Ouça Casa da Lua, com a Banda Hai Kai:

Arnaldo Antunes lança CD com show em SP

Por Fabian Chacur

Arnaldo Antunes lança em São Paulo seu novo trabalho, intitulado Disco, em show que será realizado nesta quarta-feira (11) às 21h30 no Teatro Bradesco (rua Turiassu, 2.100 – 3º piso- Água Branca). Os ingressos custam de R$ 30 a R$ 120 (informações: fone 4003-1212 e www.teatrobradesco.com.br ). Sua banda inclui Curumim (bateria) Edgard Scandurra (guitarra), Betão Aguiar (baixo), Chico Salém (guitarra e violão) e André Lima (teclados e sanfona).

Em entrevista coletiva realizada na Casa de Francisca (SP), o ex-integrante dos Titãs que completou 20 anos de carreira solo definiu seu novo lançamento fonográfico como um álbum bem diversificado, que equivale a um contraponto ao badalado Iê Iê Iê (2009), que era mais conciso. “Curto coisas muito diferentes, de um samba do Noel Rosa ao funk do James Brown, nunca quis me prender a um único estilo”.

Ele aponta essa razão como a fundamental para sua saída dos Titãs. “Saí do grupo porque queria expressar mais coisas do que poderia fazer com o grupo, não foi por discordâncias pessoais. Também queria poder usar o meu tom real de voz, para cantar em tons mais graves, não tão gritados como precisava fazer no grupo”.

Além da diversidade sonora, Disco traz como outra marca as várias parcerias feitas por Arnaldo na autoria do repertório, incluindo nomes como Caetano Veloso, Hyldon, Marisa Monte, Céu, Dadi Carvalho, Betão Aguiar, Felipe Cordeiro e outros, oriundos de várias gerações. Ele explica essa amplitude de colaborações.

“Estou sempre aprendendo nas parcerias que faço, quebrando essa história de que uma geração substitui a outra. Componho com gente da minha geração, das novas, das anteriores, sem limites. Gosto de aprender com meus parceiros, de descobrir novos caminhos”.

Disco conta com o apoio do programa Natura Musical, que Arnaldo considera um parceiro extremamente positivo. “Não é o nosso primeiro projeto juntos, e gosto da postura dessa empresa. Estava bancando o disco sozinho até que a Natura entrou no projeto, é uma parceria muito benvinda e produtiva”.

Quatro músicas de Disco foram disponibilizadas antes de seu lançamento oficial no site do artista, no formato streaming (que permite a audição sem que haja o download). Arnaldo gostou da experiência e se diz aberto às várias possibilidades existentes para divulgar e lançar sua música atualmente, especialmente em termos de formatos.

“Gostei de mostrar as músicas em streaming, uma a uma, mas também gosto do formato álbum, que tem um lado ritualístico, representando uma época do artista que o lança. Acho que esses formatos devem conviver, espero que isso ocorra. Disco teve um lançamento diferente na minha carreira. Espero que as pessoas continuem ouvindo os álbuns. E tem a volta do vinil, que voltei a ouvir após dez anos. Inclusive, comprei uma vitrola recentemente para isso”.

Entre as músicas do novo álbum de Arnaldo Antunes, temos a irreverente e sacudida Ela é Tarja Preta, uma versão em português para Mamma, da fase britânica de Gilberto Gil nos anos 70, uma parceria inédita do ex-Titã com Caetano Veloso (Morro, Amor) e uma bem antiga, Vá Trabalhar, dos anos 80, que ele cantou nos tempos dos Titãs (ela aparece em versão ao vivo no DVD A Vida Até Parece Uma Festa, do grupo), em um total de 15 faixas.

Ouça Ela é Tarja Preta, com Arnaldo Antunes, do álbum Disco:

Boca Livre lança CD Amizade no Sesc Pompeia

Por Fabian Chacur

O Boca Livre é um dos melhores e mais importantes grupos vocais da história da nossa música popular. Com seu autointitulado álbum de estreia, lançado em 1979 pela via independente, atingiu os primeiros postos das paradas de sucesso e provou que música boa e elaborada também pode fazer sucesso comercial. Desde então, viveu diversas fases em sua bela carreira, com direito a alguns hiatos aqui e ali.

Nunca abriu mão, no entanto, da qualidade das canções, arranjos, álbuns e shows que realiza. O quarteto, que hoje conta com Zé Renato (vocal e violão), Maurício Maestro (baixo, violão e voz), David Tygel (viola e vocal) e Lourenço Baeta (flauta, violão e vocal), sua formação mais estável e produtiva, lança no Sesc Pompeia nesta sexta e sábado (18 e 19) o CD Amizade. Nos shows, participação de João Carlos Coutinho (piano) e Rafael Barata (bateria).

Trata-se do primeiro trabalho composto apenas por gravações feitas em estúdio e nunca antes gravadas por eles em 17 anos. Nesse período, além de alguns intervalos dedicados a projetos paralelos, o grupo investiu em CDs e DVDs gravados ao vivo e retrospectivos de sua trajetória, além de um histórico álbum ao vivo gravado com o 14 Bis. Amizade retoma a faceta independente do quarteto.

O repertório de Amizade inclui oito faixas, entre elas Baião de Acordar (Novelli), Tempestade (Chico Pinheiro-Chico Cesar), Terra do Nunca (Edu Lobo e Paulo Cesar Pinheiro), Paixão e Fé (Tavinho Moura-Fernando Brant) e Amizade (Maurício Maestro-Marcos Valle), pinçadas de várias épocas. Em entrevista exclusiva a Mondo Pop, Zé Renato nos conta as novidades do Boca Livre.

Mondo Pop – O Boca Livre está completando 35 anos de carreira, e já viveu diversas fases, incluindo alguns períodos longe de cena. Como você define a fase atual do grupo?
Zé Renato– Estamos com essa formação desde 2006, quando fizemos alguns shows e, no ano seguinte (2007), lançamos o CD e DVD Boca Livre e ao Vivo, fazendo trabalhos esporádicos. Eu tenho minha carreira solo, o Maurício Maestro está morando em Nova York, o David Tygel com trilhas para cinema, o Lourenço com suas coisas também… Amizade é nosso primeiro trabalho de inéditas em 17 anos, e nossa ideia agora é que o grupo vá adiante, faça mais coisas.

Mondo Pop- Como são realizados os trabalhos do Boca Livre? Como funciona a interação entre vocês, que fazem tantas outras coisas?
Zé Renato– O trabalho do Boca Livre é específico e bem diferente dos outros que fazemos paralelamente. É algo que nos faz muito bem. Juntar os quatro e escolher um novo repertório nos exige muito tempo, dedicação, todos decidem tudo, é um método de trabalho intenso. Tudo é muito cheio de detalhes, desde a escolha das canções aos arranjos vocais do Maurício, demanda uma entrega muito grande. Quando fica pronto, a gente comemora. As pessoas não fazem ideia do trabalho que temos.

Mondo Pop- O grupo teve algumas variações de formação durante sua existência, embora tenha tido apenas seis integrantes durante esses 35 anos. Como você avalia a escalação atual?
Zé Renato– Essa formação atual é a que gravou mais, permaneceu mais, e acho que a música Amizade simboliza muito essa nossa trajetória.

Mondo Pop- Que tipo de critério vocês usam para escolher repertório? Nesse disco novo, por exemplo, temos desde canções compostas nos anos 70 até algumas mais recentes. O que as une?
Zé Renato– A gente sempre privilegia as músicas que traduzam o que a gente está querendo expressar, independente de onde ou quando vieram. O mais importante é que a gente sinta uma vibração conjunta, que o entusiasmo seja dos quatro. A gente não se prende a um único caminho, abre o leque. Procuramos reunir canções que tenham uma harmonia entre elas.

Mondo Pop – Como será esse novo show que vocês estrearão aqui em São Paulo, no Sesc Pompeia?
Zé Renato– Vamos tocar umas seis ou sete canções do novo disco, outras que a gente não toca ao vivo há muito tempo, como Folia, e os clássicos do grupo, como Toada, Quem Tem a Viola e Mistérios, entre outros.

Mondo Pop – O CD Amizade inclui oito músicas, um número não muito comum em álbuns, que costumam ter dez, doze, até quatorze canções. O que levou vocês a incluir esse número de oito, especificamente?
Zé Renato– Na verdade, gravamos nove músicas, mas uma delas ficou para fora por problemas com os herdeiros. Aí, ficamos no impasse de ou adiar ou lançar o disco assim mesmo, e optamos pela segunda possibilidade. As oito músicas contam a história do grupo nesse momento, são representativas, e nada impede um disco de ter oito músicas.

Mondo Pop – Amizade está sendo lançado pela via independente, assim como ocorreu com o clássico disco de estreia de vocês, em 1979. Como você compara os dois momentos, e qual a sensação de voltar ao esquema independente?
Zé Renato– Para nós, Amizade é um retorno ao formato independente em parceria com o João Mário Linhares, que foi nosso primeiro empresário. Hoje, temos mais experiência do que antes, quando lançamos o disco por conta própria devido ao fato de as gravadoras não aceitarem um repertório como o que tínhamos. Era nossa única opção. Hoje, a gente nem sequer cogitou procurar as gravadoras.

Mondo Pop – Como vocês encaram lançar um novo disco nos dias de hoje, com as dificuldades impostas pela internet, pela pirataria e pela redução do mercado fonográfico no Brasil?
Zé Renato– O disco é hoje um cartão de visitas de luxo. Queremos mostrar que não estamos parados no tempo, que não nos prendemos ao passado, que temos coisas novas para mostrar. Hoje, a música valoriza demais a palavra em relação às melodias, os arranjos. A canção, a harmonia, estão caindo em desuso, não estão sendo explorados, e a gente só sabe fazer dessa forma. Estamos reentrando no mercado com um estilo que não está sendo tão praticado. Não é uma crítica ao que está sendo feito hoje, que fique bem claro, mas nossa forma de fazer é outra.

Mondo Pop- Quais são os planos do Boca Livre para o futuro mais próximo, digamos assim?
Zé Renato– Queremos viajar com esse show, levar esse novo trabalho para o Brasil. Vamos vender o disco novo no show, será parecido com o que ocorreu com nosso primeiro disco, que foi na base do mão a mão, de boca em boca. A primeira tiragem será vendida nesses shows no Sesc Pompeia. A época mudou, mas o tesão é o mesmo. Acho um bom presságio isso ocorrer, porque na verdade o CD já devia estar pronto há algum tempo, mas acabou ficando pronto só na semana do show.

Boca Livre no Sesc Pompeia (SP)- Projeto Vozerio:

Show Amizade – dias 18 e 19/10 (sexta e sábado) às 21h

Ingressos de R$ 4 a R$ 40.

Local: Sesc Pompeia- rua Clélia, 93 – Pompeia – fone: (0xx11) 3871-7700- www.sescsp.org.br/pompeia

Ouça Boca Livre (1979), primeiro álbum do Boca Livre:

Gal Costa mostra várias facetas em novo DVD

Por Fabian Chacur

No final de 2011, Gal Costa lançou o ousado álbum Recanto, seu primeiro trabalho de inéditas em quase uma década e com repertório composto especialmente para ela por Caetano Veloso. O trabalho gerou uma turnê que, por sua vez, acaba de render o DVD e CD duplo Recanto Gal Ao Vivo, lançado pela Universal Music.

Como forma de divulgar esse novo ítem em seu currículo, a cantora baiana concedeu uma entrevista coletiva à imprensa em São Paulo (onde mora atualmente), realizada em um hotel de luxo na região dos Jardins. Mondo Pop esteve lá e teve a chance de fazer algumas perguntas e também de saber mais sobre o DVD/CD.

Simpática, tranquila e não aparentando nem de perto os 67 anos de idade que possui, Gal deu uma geral em seus projetos mais recentes, detalhou alguns aspectos dessa nova obra e fez comentários sobre o seu modo de encarar a vida e a profissão. Uma entrevista muito bacana, que durou quase uma hora e que você poderá ler a seguir, em seus melhores momentos.

Como foi a concepção de Recanto Gal Ao Vivo, e como foram sendo encaixadas as canções de outras fases de sua carreira ao lado do repertório do disco de estúdio?
Gal Costa– O álbum de estúdio teve como ideia inicial ser feito com minha voz em tom mais cool. O show acabou virando outra coisa, pois os arranjos cresceram, os músicos adicionaram outros elementos. A estreia foi no Rio em um lugar intimista, mas a segunda apresentação ocorreu em São Paulo ao ar livre, com um público heterogêneo mas com muitos jovens,que estão ouvindo meus discos dos anos 60 e 70. E ali ficaram explicitadas todas as Gals que estão dentro de mim. As canções antigas foram adaptadas à nova sonoridade, mas algumas soam mais próximas dos arranjos anteriores. Baby, por exemplo, ficou mais suave. Há mudanças maiores e menores, dependendo de cada canção.

Como ocorreu a seleção do repertório e a escolha dos músicos que tocaram com você neste show?
Gal Costa– O Caetano (produtor do CD e diretor do show) selecionou o repertório, sendo que não concordei com uma ou duas músicas, e teve uma que entrou depois. Os músicos foram escolhidos pelo Moreno Veloso e pelo Caetano, e nasceu uma harmonia espontânea entre eu e eles. Fizemos 16 ensaios para o show, o que não é muito. A interação entre nós foi rápida.

Um desses músicos é o Pedro Baby, que é filho do Pepeu Gomes e da Baby do Brasil. Você, no lendário show Fa-Tal, tocou com Pepeu. Como foi ter agora o filho dele em sua banda?
Gal Costa– Conheci o Pedro Baby quando ele era pequenininho, era muito amiga da Baby, tenho um carinho muito grande por ele, que toca muito bem. Aliás, foi emocionante tocar novamente Vapor Barato no mesmo teatro (o hoje Theatro Net Rio) em que essa música foi lançada por mim no show Fa-tal.

No repertório do show, temos várias músicas clássicas em seu repertório, e também aquela que provavelmente é a que fez mais sucesso entre todas, Um Dia de Domingo, que você gravou originalmente com o Tim Maia. Como surgiu a ideia de neste show você imitar o Tim Maia na parte que ele cantava, e como você avalia essa canção em sua carreira?
Gal Costa– A sugestão de eu imitar o Tim Maia veio do Caetano, e fiz uma caricatura dele, aproveitei os graves que tenho hoje na voz. Gravei originalmente essa música por causa do Tim, que eu só conheci em 1985 quando participamos da música Chega de Mágoa, gravada em benefício do Nordeste. Ele me elogiou e propõs que gravássemos juntos. Essa canção era dos autores que ele gravava, deixei a música no meu disco Bem Bom por causa dele, essa música existe na minha vida graças a ele. Um Dia de Domingo fez sucesso no Brasil todo e na América Latina, em Portugal. Fui também crucificada pela crítica por gravá-la, mas nunca tive medo de encarar desafios, faz parte do meu temperamento.

Quem ouvir e ver o DVD terá a oportunidade de observar que você continua cantando músicas que gravou há décadas nos mesmos tons originais, sem ter perdido rigorosamente nada de sua afinação. A que você atribui isso? Faz algum tipo de preparação ou coisa do gênero para manter de forma tão intacta sua voz?
Gal Costa– Nunca aprendi canto, sempre tive muita intuição ao usar minha voz. Descubro coisas enquanto canto, mas eu me deixo levar, a emoção vem nova, sempre. Eu me aproprio das canções. Canto as antigas nas mesmas tonalidades em que as gravei. Não perdi os agudos e ainda ganhei os graves que o tempo nos dá. Procuro cuidar da minha saúde, pois quero envelhecer de forma saudável, tendo saúde.

Quais são os seus planos para este ano? Tem outros projetos já engatilhados?
Gal Costa– Já estou pensando em um próximo trabalhom sem nada fechado que eu possa revelar agora. Recanto ainda tem muita história pela frente, pelo menos durante este ano. Farei shows em vários locais, sendo que em São Paulo cantarei no Teatro Bradesco e no Sesc Pinheiros. Também me apresentarei no Circo Voador (RJ), Portugal, Itália, França etc.

Muitas cantoras e artistas da nova geração citam você como uma forte influência. Como encara isso?
Gal Costa– A nova geração tem cantoras super bacanas. Conheci pessoalmente a Céu, a Tulipa Ruiz. A juventude sempre traz boas energias, mas a minha alma sempre foi jovem, não é nada forçado. Cantar para os jovens é bom, a energia é muito forte, muito boa.

Recanto Escuro (ao vivo)- Gal Costa:

Vapor Barato (ao vivo) – Gal Costa:

Para Ivete Sangalo, o que importa é o momento

Por Fabian Chacur

Ivete Sangalo concedeu uma entrevista coletiva à imprensa em um hotel de luxo em São Paulo na tarde desta terça-feira (9) para falar de seu novo álbum, Real Fantasia, lançado pela Universal Music. A bordo de um estiloso vestido rosa assinado pelo badalado Alexandre Herchcovitch e muito bem-humorada, ela encarou a sala cheia de jornalistas e fãs no melhor astral possível.

De cara, brincou com o uso da palavra híbrido por um dos jornalistas em uma pergunta, e a repetiu por diversas vezes durante o papo descontraído, que durou por volta de uma hora. Ao falar sobre como concebeu o novo disco, revelou que nunca sabe como cada álbum irá ficar, e que não os concebe previamente, ao contrário de outros artistas.

“Eu encontro os compositores que frequentam minha casa, ouço discos que me mandam, vou compondo e só aí eu seleciono as músicas. Nunca planejo nada antes, só mesmo depois de o disco ficar pronto é que eu sei como ele ficará. Nada é planejado anteriormente, tipo vou fazer um dsco mais latino, ou mais romântico, nunca é assim”.

Ela encara essa forma de trabalhar como a habitual em sua carreira, e se diz livre das pressões das gravadoras em termos de concepção artística, mesmo sendo uma das artistas que mais vende discos e lota shows no país há 13 anos como artista solo.

“O meu negócio é felicidade, é como eu me sinto confortável. Todo dia a gente tem uma história diferente, assim é a vida, e é assim que eu faço os meus projetos. Não sou uma pessoa movida a pressão, sou uma pessoa do momento. Gosto do improviso, de viver tudo na hora”.

Real Fantasia foi gravado no estúdio que Ivete montou em sua casa, em Salvador, entre março e setembro, sendo que as fotos sensuais usadas na capa, encarte e divulgação do trabalho ficaram para o final, sendo, como ela definiu, o laço final do produto.

O fato de simultaneamente ter gravado como atriz sua participação no remake global de Gabriela não atrapalhou nada, segundo ela, e com total controle do processo.

“Sou cantora, entro no estúdio na hora que for e mando bala. Presume-se que eu tenha um bom envolvimento na produção e gravação de meus discos, pois são os meus discos. Todos os arranjos passam pelo meu crivo. O CD foi gravado em casa de forma tranquila, no meu ritmo e do meu jeito”.

O CD chegou às lojas com uma tiragem inicial de 80 mil cópias, número que atualmente equivale a disco de platina no mercado, mas que significa quase um terço do valor que essa premiação exigia há pouco mais de dez anos (250 mil discos). Ivete avalia essa queda na indústria fonográfica brasileira de forma serena.

“Não dá para negar que essa redução nas vendas pode afetar um pouco as vaidades dos artistas, mas acho que o importante é o fato de o acesso das pessoas à música ter se democratizado. Já cheguei a vender 2.8 milhões de cópias de um único disco. Acho que é preciso educar as pessoas não em termos de gosto musical, que cada um tem o seu, mas no sentido de que baixar as músicas de forma ilegal é crime, mostrar o caminho certo para elas”.

Ivete vai além, nessa análise do momento pelo qual passa o mercado musical no Brasil.

“Muita gente boa perdeu seus empregos nesses últimos anos graças a essa queda da indústria fonográfica por aqui. Mas é preciso respirar e seguir em frente, superar as crises. Procuro ver o melhor de cada situação e comemorar a democratização do acesso à música por parte das pessoas. E agradeço por ter fãs fiéis que me acompanham sempre”.

Embora tenha tido experiências anteriores como atriz, Ivete Sangalo considera sua participação em Gabriela vivendo o papel de Maria Machadão como o ponto alto dessa trajetória paralela à música no mundo da arte dramática.

“Tive a oportunidade agora de aprender muito mais, vivendo um personagem baiano e forte e que ficou mais tempo no ar. Procurei criar momentos diferentes, fui instruída para atuar melhor, a me concentrar, e generosidade foi a palavra de ordem de todos em relação a mim. Quero ter uma nova experiência como atriz, mas não agora.”

O álbum só teve um problema: o dueto gravado por ela com a estrela Shakira na faixa Dançando teve de ficar de fora por problemas burocráticos, e será comercializado apenas como bônus da versão deluxe virtual vendida no site iTunes. O CD inclui uma versão da mesma música só com Ivete nos vocais.

“Shakira é uma queridaça, quem é fã dela tem de continuar sendo, e quem não é precisa conhecê-la rapidinho. A gente se conheceu em festivais, ela ama o Brasil. Gravamos o dueto antes de acertamos a liberação das gravadoras, e isso acabou demorando um pouco. Mas ficou lindo, adorei!”

O canal a cabo Multishow mostrará entre 22 a 26 de outubro um especial com cinco partes sobre as gravações de Real Fantasia, cujo título Ivete acredita dar margem a muita poesia por conta da interpretação de cada um à frase. Eis a dela:

“Minha vida é uma real fantasia. Misturo a fantasia de ser artista com as minhas obrigações, sou uma mulher muito real, muito prática, do tipo que vai buscar o filho na escola sem maquiagem. Essa mulher, entre quatro paredes, realiza tudo quanto é fantasia”, diz, arrancando risos de todos.

Djavan volta às canções próprias em novo CD

Por Fabian Chacur

Após lançar seu primeiro álbum dedicado apenas a canções de outros autores, Ária (2010),e a fazer uma bem-sucedida turnê que gerou o DVD/CD Ária Ao Vivo (2011), Djavan está de volta aos trabalhos como autor de seu próprio repertório musical.

Rua dos Amores, lançamento do seu selo Luanda Records com distribuição a cargo da Universal Music, traz 13 músicas com a sua assinatura marcante. O álbum marca o retorno da banda com a qual tocava nos anos 80/90, e com quem não trabalhava há 15 anos.

Em entrevista exclusiva a Mondo Pop, o cantor, compositor e músico alagoano fala sobre o novo trabalho, seus projetos e outros temas ligados à música e à vida. Sobre o amor, tema básico das novas canções, ele não tem dúvidas ao defini-lo: “O amor é o sentimento mais nobre”.

Mondo Pop – Antes de falar do novo CD, gostaria que você fizesse um balanço de Ária, no qual foram gravadas apenas músicas de outros autores, algo inédito em sua vitoriosa trajetória artística.
DJAVAN – O Ária foi a realização de um projeto antigo, reeditando o início da minha carreira, quando eu era crooner. Para isso, eu tive de ficar sem compor nada nesse período. Não tinha um repertório pré-escolhido, ouvi muita coisa da riqueza incomensurável que é a MPB. Ficar sem compor é algo muito difícil para mim. Queria fazer um projeto como esse há pelo menos 10 anos.

Mondo Pop – E como rolou o retorno do Djavan compositor?
DJAVAN – A composição é a minha onda, minha forma de exteriorizar sensações. Inicialmente, achei que teria dificuldades para compor de novo, após quase cinco anos sem escrever nada, mas veio fácil. A canção Vive foi a primeira que escrevi nessa nova fase, fiz para a Bethânia e é única que não fiz especialmente para meu novo CD.

Mondo Pop – Como funciona o seu método de compor?
DJAVAN – Gosto de compor especialmente para cada novo disco. Comecei a compor esse repertório entre setembro e novembro de 2011. Comecei a gravar com cinco músicas prontas, e compus as outras durante as gravações. Gosto de gravar as músicas enquanto ainda estão quentes, quando não faz muito tempo que as escrevi.

Mondo Pop – Neste CD, você voltou a trabalhar com músicos como o Paulo Calasans, o Carlos Bala e o Torcuato Mariano, com quem você não tocava há anos. Como foi essa volta?
DJAVAN– Trazer esses músicos de volta foi um acerto incrível. Toquei durante dez anos com eles, só o Jessé Sadoc (trompete) nunca havia tocado comigo. Foi uma diversão, oito meses rindo pra caramba. Todos cresceram muito como músicos durante esses anos, viraram produtores. Pude criar pra caramba com eles, que captaram bem as minhas ideias.

Mondo Pop- Você é um artista solo, mas sempre foi conhecido por trabalhar com ótimas bandas de apoio. Como é a sua interação com os seus músicos?
DJAVAN– Quero sempre que os músicos se sintam incluídos no trabalho, prezo muito a inclusão dos músicos, que eles se identifiquem com o projeto, sintam como se fosse um projeto deles. Não engesso os músicos nas gravações e costumo levar quem grava comigo para a estrada, para as turnês.

Mondo Pop- Você aceita opiniões deles?
DJAVAN – Sim, claro. Cada um precisa entender o que está gravando, haver uma integração entre nós, que eles gostem do que estão tocando. Com esse grupo mudei raríssimas vezes as ideias que tive, e absorvi as ideias deles. Procuro incentivá-los a trazer coisas novas para o trabalho. A diversão é o que mantém o interesse nas gravações, deixa os músicos à vontade.

Mondo Pop- Rua dos Amores inclui basicamente canções que falam de amor, tema bastante usado na música popular. Como você fez para não cair no banal?
DJAVAN – Parece até um disco temático sobre o amor, mas não surgiu assim. Procurei não me censurar, fiz o que vinha. As sensações geradas pelo amor, o amor adolescente, a incompatibilidade, o amor platônico etc. É um tema que move o mundo, não há um ser humano que não lide com o amor, o amor é o sentimento mais nobre, está sempre ali. Há quem tenha medo de abordá-lo por medo de cair no lado piegas. Adoro um desafio. Qualquer autor fala de amor desde o começo do mundo, é o centro da vida. Até bandas grunge falaram de amor em seus discos.

Mondo Pop – O CD Rua dos Amores é do seu próprio selo, a Luanda Records, mas desta vez é distribuído por uma gravadora multinacional, a Universal Music. Como rolou essa parceria?
DJAVAN– Desde o começo, venho gerindo a minha vida para ser independente. Criei a Luanda em 2001 em um momento difícil da indústria fonográfica. Muita gente na época achou que eu estava ficando doido. Procuro fazer tudo, arranjos, produção etc para que tudo saia do meu jeito. Gravadora, estúdio, tudo surgiu com esse objetivo. Adoro mergulhar o escuro, buscar o novo. Se eu morasse em um país menor, a distribuição seria fácil.

Mondo Pop – Você tentou distribuir seus discos na Luanda Music por conta própria. Como avalia essa experiência?
DJAVAN – Fiz dois ou três projetos com distribuição própria, e não foi tão bom. Em 2011, fiz uma parceria com a Biscoito Fino, mas não abrangeu o que eu precisava, pois sou um artista popular há muitos anos. Fiz contrato de distribuição com a Universal por um disco. Eles tem distribuição em todo o país. Não quero ninguém mandando em mim, sou eu quem banco os meus discos e gasto muito para fazer o que eu quero. E acho que está dando certo, sou amigo do Éboli (executivo da Universal Music) desde os tempos em que trabalhamos na Sony.

Mondo Pop – Luz, o álbum mais vendido de sua carreira e que marcou sua ascensão rumo ao estrelato, completou 30 anos em 2012. Como você avalia hoje aquele álbum, e também aquela fase em que você foi idolatrado no Brasil todo?
DJAVAN– Foi uma fase determinante para mim, fiquei popular em todo o país, e isso ajudou a impulsionar a minha carreira internacional, abriu esse mercado para mim. Desde então, faço turnês internacionais todo ano. O Lilás, que foi meu disco seguinte, levou-me a investir nos teclados, que ainda estavam chegando no Brasil. Levei muitas porradas da crítica, mas várias músicas ficaram, como Lilás, Esquinas. Vendeu bem. Quando escuto esses discos, vejo que eram ousados para aquela época.

Mondo Pop – Como será o repertório dos shows de divulgação de Rua dos Amores, e quando terá início essa nova turnê?
DJAVAN– Criar o roteiro para um novo show é muito difícil, ainda mais para quem tem uma carreira longa como a minha, com várias canções de sucesso. É preciso conciliar os clássicos, os lados B, Alegre Menina, dos anos 70 e que voltou com o remake de Gabriela… Vou colocar algumas músicas do novo CD, mas não todas. O pessoal gosta de cantar junto as músicas que conhecem, não tem jeito. A turnê começa em novembro pelo interior de São Paulo. Depois, Rio, Nordeste. Os meses de jaaneiro e fevereiro serão dedicados à América Latina, e em março de 2013, chegarei a São Paulo e Rio, às capitais.

“Chão é meu CD mais romântico”, diz Lenine

Por Fabian Chacur

fotos: Daniel Chiacos (divulgação)

Lenine é um artista que teve de penar muito para chegar onde chegou. Nascido em 1959, lançou seu primeiro LP em 1983, Baque Solto, em parceria com Lula Queiroga.

Só conseguiria lançar o segundo, Olho de Peixe, em 1992, em parceria com o percussionista Marcos Suzano e já na era do CD. E o terceiro demoraria mais cinco longos anos, O Dia Em Que Faremos Contato (1997).

A partir daí, no entanto, o cantor, compositor e músico pernambucano radicado no Rio há 30 anos se firmou de uma vez por todas como um dos grandes nomes da música brasileira, graças a um trabalho criativo, consistente e instigante, admirado aqui e no exterior.

Ele define a forma como superou as dificuldades de forma bem direta:

“A vida sorriu amarelo para mim, no começo, mas eu não sorri amarelo para ela, não, fiz muitas coisas entre o Baque Solto e o Olho de Peixe, e acabei conseguindo me consolidar. Não fiz sucesso da noite para o dia”.

Na capa do novo álbum, Lenine aparece deixado e com o neto Tom apoiado no seu peito, uma espécie de imagem tradutora do significado do título.

O autor de Hoje Eu Quero Sair Só e tantas outras músicas legais está lançando Chão, seu décimo trabalho, e fala na entrevista abaixo sobre o processo criativo deste álbum, projetos, planos carreira etc

Mondo Pop – Como você costuma conceber seus projetos musicais, e como foi desta vez, com Chão?

Lenine – Sou sempre movido por um desejo inicial, que se modifica a cada novo trabalho. O que vem primeiro é sempre o título, no caso deste aqui, Chão. Sou fascinado por esses monossílabos anasalados, é algo que não existe em nenhuma outra língua do mundo com essa ênfase. Entre os vários significados de chão, o que mais me fascina é “o que te dá sustentação”. Minha primeira resolução foi não incluir bateria nas gravações, é um disco muito íntimo, no qual me valho de um outro jeito de formatar as canções.

                    Bruno, Lenine e JR Tostoi

Mondo Pop- Você se vale nas 10 faixas de Chão de elementos curiosos, como ruídos de passos, batida de coração, máquinas e até mesmo o canto de um pássaro. Como surgiu a ideia de incluir essas sonoridades, e como você as utilizou?

Lenine – Vale registrar: todos esses elementos foram usados nas musicas sem edições, loopings ou recursos desse tipo. São espaços percorridos, usados de fato, como se fossem instrumentos, no andamento real de cada canção. Amor é Pra Quem Ama, por exemplo, tem a participação do Frederico VI, que é o canário belga da minha sogra. A gente fez uma primeira gravação da música e o meu filho Bruno percebeu o canto dele interagindo com a música. Aí, gravamos mais uma vez, e como saiu, ficou. Acabamos usando o cotidiano como elemento sonoro, nas músicas.


Mondo Pop – Uma presença essencial neste disco é a do seu filho Bruno. Fale um pouco de como surgiu essa parceria entre vocês.

Lenine – O Bruno, que tem 22 anos, não está em Chão por nepotismo. Ele estuda música, tem uma excelência no fazer. Esse disco também é dele e do meu parceiro JR Tostoi, a mixagem foi feita por ele. Sou muito criterioso em tudo o que faço, e ainda mais em relação a quem amo. O Bruno toca vários instrumentos, gosta do hardware, a física e a eletrônica deixaram de ser um monstro para ele muito cedo. Além disso, ainda canta e toca.

Mondo Pop – Como você avalia Chão em termos gerais, comparado com os outros discos que você já lançou? A ideia inicial era fazer um trabalho mais compacto, com menos música e duração menor?

Lenine– Talvez esse seja o disco mais romântico que eu já fiz. Esse trabalho pode ser comparado a um romance, para ser ouvido de uma tacada só, como se fosse uma suíte. Compus mais de 20 músicas para este CD, não faltava material, poderia ter colocado mais canções, se quisesse.


Mondo Pop – Você já está preparando o show que divulgará o álbum Chão?

Lenine – Sim. O show terá o mesmo espírito sonoro que usamos no disco, e as músicas de trabalhos anteriores que irão entrar no repertório serão transpostas para esse universo sonoro. Aliás, em alguns lugares, tocaremos usando som surround 4.2, como forma de dar ao público uma experiência nova, descolada do bidimensional, de se sentir mergulhando no meio das sonoridades de cada música.

                Bruno, JR Tostoi e Lenine

Mondo Pop – Você teve de batalhar durante muitos anos para ter o seu trabalho reconhecido. Como você avalia essa fase?

Lenine – Na minha época, o artista precisava sair do nordeste para poder ampliar seus horizontes. No começo, quando eu e o Lula Queiroga lançamos Baque Solto, foi muito difícil ser aceito, pois o pessoal do rock nos achava muito MPB, enquanto o pessoal da MPB nos achava muito roqueiros (risos). Fui aceito inicialmente no Rio pelo pessoal do samba, gente como Martinho da Vila, Beth Carvalho, Arlindo Cruz etc. Eles se surpreenderam quando participei de rodas de samba e comecei a versar. Hoje eu relembro disso e não acredito que tive tanta coragem (risos).


Mondo Pop – Aliás, duas curiosidades sobre a sua trajetória são marcantes: a de não fazer parte de nenhuma turma musical específica, e de ao mesmo tempo disputar um campeonato com Zélia Duncan para ver quem participa de mais trabalhos alheios (risos).

Lenine – Participo de muitos projetos alheios sempre com muita generosidade, sem preconceitos, com muita abertura. Eu me defino como da Turma do Eu Sozinho, uma turma que celebra a música acima de tudo.

Mondo Pop – Como você encara o cenário musical atual?

Lenine – Se na minha época eu tive de sair de Recife e vir para o Rio como forma de viabilizar minha carreira, hoje não acho que isso seja mais necessário, pois as coisas estão acontecendo de forma mais ampla e democrática, sem precisar estar no eixo Rio/São Paulo. Aposto que em cada região do país tem uma geração nova fazendo coisas novas e interessantes. A tecnologia digital facilitou muito as coisas.

Mondo Pop – Há muitos anos eu percebo que a sua trajetória musical, guardadas as devidas proporções e características próprias, tem muito a ver com a do João Bosco. Você concorda com isso?

Lenine – Fico orgulhoso de você perceber que eu tenho a ver com o João Bosco, e sinto que também tenho a ver com a tradição do violão brasileiro, da linha evolutiva do violão brasileiro, de gente como Dilermando Reis, Djavan, Jorge Ben Jor, João Gilberto. Eu me defino como um percussionista de violão.


Mondo Pop – Você normalmente lança seus trabalhos de uma forma mais espaçada. Isso tem a ver com os shows?

Lenine – Sim. Se lançasse discos todo ano, não teria tempo para viajar. Já fiz várias turnês pelo Brasil e pelo exterior. Lá fora, já participei até mais de uma vez de festivais importantes, a agenda está cada vez maior. E é bom poder rever os amigos que fiz nesses anos todos. Para você ter uma ideia, teve um ano em que passei um mês só na França, fazendo uma turnê extensa por lá.


Mondo Pop – Você, que já gravou e fez shows com tanta gente diferente, tem alguém com quem sonharia em trabalhar?

Lenine – Já realizei muitos sonhos, mas tenho vários ainda para realizar. Por exemplo: quem não gostaria de ter uma música de sua autoria gravada pelo Rei Roberto Carlos?

Ouça trechos de músicas de Chão e vídeos sobre o CD em www.lenine.com.br

Eric Clapton paga mico na Toda Poderosa

Por Fabian Chacur

Se há algo que me incomoda é ver um grande nome da música pagando mico em entrevistas feitas no tapa nas Globos da vida. A mais nova vítima foi o genial Eric Clapton.

Antes do show que fez em Porto Alegre, o mestre da guitarra teve a gentileza de ceder um pouco do seu tempo e conceder uma entrevista à jornalista Cristiane Pelajo, exibida originalmente no Jornal da Globo.

Logo de cara, uma grosseria imperdoável: na introdução, o texto lido pela apresentadora dizia que, embora britânico, Clapton havia se atrasado uma hora e meia.

A troco de que eles colocaram essa informação? Para dar uma agulhada no artista, gravadora ou empresário? Eita coisa desnecessária!

Mas o pior viria com as perguntas, todas recheadas de clichês antigos, do tipo “se o blues é coisa do Diabo, como vai você no momento?”, ou então “o que você conhece de música brasileira?”

Nada foi perguntado sobre seu mais recente álbum, ou sobre suas passagens anteriores no Brasil, ou referente ao repertório dos shows, ou mesmo sobre sua atual fase, na qual tem gravado vários trabalhos ao lado de outros músicos famosos, entre os quais Steve Winwood e Wynton Marsalis.

Além disso, a jornalista/tiete alegrinha ainda insistiu naquela conversa de “Clapton is God”, que já passou dos 40 anos de existência, e nem deve ter percebido quando o músico a ironizou, dizendo que aquela era uma questão antiga.

De quebra, a moçoila poderia ter perguntado mais sobre a autobiografia contundente lançada por ele, mas ficou na fofoquinha barata do namoro com Carla Bruni, décadas antes de virar a senhora Sarkozi.

Depois ainda tem gente que não entende o porque astros desse porte tem cada vez menos paciência para conceder entrevistas a jornais, revistas e emissoras de rádio e TV, quando vem ao Brasil. Para encarar esse tipo de pergunta? Haja saco!

Veja a entrevista e tire suas próprias conclusões:

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