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The Yardbirds versão atual virá ao Brasil para shows em 2020

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Por Fabian Chacur

Em matéria publicada pelo jornal Destak no dia 22 (sexta), o jornalista José Norberto Flesch anunciou que em março de 2020 o grupo britânico The Yardbirds fará alguns shows no Brasil, cujas datas e locais serão divulgados em breve. Como o cara é o mais bem informado nessa praia de divulgação de shows internacionais por aqui, é notícia quente. E que merece ser saudada com aquela velha brincadeira do “um lado ruim e um lado bom”.

O aspecto ruim é evidente: não estamos em 1965 ou 1966, quando os Yarbdirds viviam o seu auge em termos criativos. Da formação daqueles tempos, só sobrou o baterista, Jim McCarthy. Ou seja, estaremos diante de uma espécie de banda cover de luxo. Mas o bacana é que se trata de uma bela de uma banda cover de luxo, pois traz com o batera quatro músicos com um pedigree dos mais decentes.

Estão hoje ao lado de McCarthy os músicos Kenny Aaronson (baixo), John Idan (guitarra-base e vocal), Myke Scavone (vocal e vários instrumentos) e Godfrey Townsend (guitarra-solo).

Sendo assim, Mondo Pop fará uma pequena viagem pela trajetória dessa seminal banda britânica, que se fez bem menos sucesso comercial do que contemporâneas como Beatles, Rolling Stones, The Who, The Hollies e The Animals, deixou sua marca registrada nos compêndios da história do rock.

Sensação em Londres com Eric Clapton na guitarra

Tudo começou em 1963, quando Keith Relf (vocal), Chris Dreja (guitarra-base), Paul Samwell-Smith (baixo) e Jim McCarthy (bateria) iniciaram uma banda para embarcar na onda do blues-rock que incendiava a cena britânica naqueles tempos. Seu guitarrista inicial, Anthony Top Topham, com apenas 16 anos, logo se mostrou imaturo para tocar o barco, e saiu para se dedicar aos estudos.

O substituto, apenas dois anos mais velho mas muito disposto a encarar a carreira na música, foi um certo Eric Clapton. Com este novo guitarrista-solo, a banda logo se tornou quente na cena londrina, a ponto de ter sido escolhida para acompanhar o bluesman americano Sonny Boy Willianson em show feito por ele no final de 1963 na Inglaterra. Esta apresentação foi gravada e lançada posteriormente, quando o quinteto já estava bem badalado.

Em 1965, após ter lançado alguns singles e um álbum ao vivo, os Yardbirds resolveram experimentar algo fora do universo do blues rock. O single For Your Love, de autoria de Graham Goldman (também autor de Bus Stop, hit na época com os Hollies, e nos anos 1970 integrante do grupo 10CC, do sucesso I’m Not In Love) rapidamente invadiu as paradas de sucessos, mas levou Clapton a sair do time, insatisfeito com essas experiências com o lado mais pop do rock.

Jeff Beck, hits, psicodelia

Para a vaga aberta de guitarrista-solo, veio outro nome que se tornaria lendário no rock, ninguém menos do que Jeff Beck. Foi com ele que os Yardbirds viveram a sua fase mais criativa e de maior sucesso comercial, com direito a hits como Heart Full Of Soul e Evil Hearted You (ambas também de Graham Goldman) e também The Train Kept a Rollin’ e Shapes Of Things.

Com sua mistura de rock, blues, pop e psicodelia, a banda trazia como marca registrada o chamado “rave up”, estilo no qual os integrantes da banda enfatizavam (todos ao mesmo tempo) a parte rítmica em determinadas partes das canções, gerando um efeito poderoso, especialmente nos shows.

A criatividade de Jeff Beck elevou os Yardbirds a um outro e ainda mais alto patamar do que nos bons tempos de Clapton. A banda foi uma das pioneiras do rock psicodélico, e muito disso se deve às experiências de Beck com pedais e efeitos em sua guitarra, além de uma técnica impressionante e diversificada.

Outra mudança na formação, outro astro em cena

Cansado das turnês, Paul Samwell-Smith saiu do grupo em meados de 1966 para se dedicar a uma carreira como produtor de discos de artistas como Cat Stevens, Jethro Tull e All About Eve, entre outros. Em seu lugar, entrou um músico de estúdio que estava se destacando em Londres, um certo Jimmy Page.

Logo, ficou claro que seria um desperdício ter um guitarrista daqueles quebrando o galho no baixo, e então, Chris Dreja foi deslocado para tal posição, ficando os Yardbirds com dois guitarristas-solo, Page e Beck. Essa formação infelizmente não durou muito tempo, e ficou eternizada na gravação ao vivo de Stroll On (na verdade, The Train Kept a Rollin’ com outra letra) que virou cena do cultuado filme Blow Up-Depois Daquele Beijo (1967), do cineasta italiano Michelangelo Antonioni.

Jeff Beck decidiu sair fora para criar sua própria banda, The Jeff Beck Group, ao lado de dois novatos que depois também se tornariam astros do rock, o cantor Rod Stewart e o baixista e guitarrista Ron Wood. Os Yardbirds, a partir daquele momento, se tornaram um quarteto.

Jimmy Page, o início do Led Zeppelin e o fim dos Yardbirds

Os Yardbirds tiveram uma fase muito curta com Jimmy Page no comando, entre 1967 e 1968, com poucos lançamentos e sucesso comercial declinando bastante. Sentindo o clima de fim de feira, Jim McCarthy e Keith Relf saíram da banda, para criar o embrião do que viria a ser o grupo progressivo Renaissance.

Por sua vez, Chris Dreja decidiu abandonar a música para se dedicar a uma carreira como fotógrafo profissional. Praticamente da noite para o dia, Jimmy Page, que largou a carreira de músico de estúdio para se dedicar à banda, ficava na mão. Sorte que ele, rapidamente, soube arregimentar um novo time.

Para o baixo, chamou o colega de gravações de estúdio, John Paul Jones. O jovem vocalista Robert Plant foi indicado por um amigo, e o baterista John Bonham já havia tocado antes com Plant. Surgia o que, por razões contratuais, seria denominado The New Yardbirds, e pouco depois, seguindo sugestão de Keith Moon, do The Who, virou Led Zeppelin. Que, ironicamente, conseguiu o sucesso comercial que os Yardbirds jamais sequer sonharam em obter.

Curiosamente, a foto do Led Zeppelin incluída na contracapa de seu autointitulado álbum de estreia, lançado em janeiro de 1969 e rapidamente um grande sucesso comercial, foi tirada pelo agora fotógrafo Chris Dreja.

A vida pós-Yardbirds e uma reunião com novo nome

Após o seu fim, os Yardbirds se tornaram aquele tipo de grupo mais lembrado pelos músicos que revelou do que propriamente pela qualidade de sua música, algo injusto. A probabilidade de um retorno, levando-se em conta esse fator, parecia difícil, pois seus ex-integrantes aparentemente sequer cogitariam isso.

Outro fator que poderia encerrar quaisquer perspectivas de um retorno do grupo ocorreu em 1976, com a trágica morte de Keith Relf, aos 33 anos de idade, vítima de um choque elétrico quando tocava guitarra em sua casa.

Em 1984, no entanto, Jim McCarthy, Chris Dreja e Paul Samwell-Smith resolveram matar as saudades e se reunir com um novo nome, Box Of Frogs. Essa banda lançou dois álbuns, Box Of Frogs (1984) e Strange Land (1986), com alguns shows, mas a falta de tempo de Samwell-Smith se mostrou fatal para a sua continuidade. Eric Clapton e Jeff Beck chegaram a dar canjas com eles.

Hall da Fama e o retorno nos anos 1990

Quando os Yardbirds foram incluídos no Rock And Roll Hall Of Fame, em 1992, ficou claro para Jim McCarthy e Chris Dreja que, quem sabe, ressuscitar sua antiga banda pudesse se tornar uma boa forma de faturar uma grana e pagar os boletos bancários. Sem Page, Clapton, Beck e o saudoso Relf, obviamente, mas com um nome atraente e comercialmente muito viável.

O primeiro nome a se firmar nessa nova formação foi o cantor e guitarrista americano John Idan. Ele conheceu Jim McCarthy em 1988, e tocou com ele e também com Anthony Top Topham. Inicialmente, atuou como cantor e baixista, função que manteve entre 1994 e 2008. Após um período durante o qual se dedicou a projetos próprios, Idan retornou ao grupo em 2015, desta vez como vocalista e guitarrista-base.

No mesmo 2015, mas em sua parte final, entrou no time nos vocais e vários instrumentos o americano Myke Scavone. Ele se tornou famoso como integrante da banda Ram Jam, que em 1977 estourou com a releitura de Black Betty, clássico do compositor folk Lead Belly.

No final de 2018, os Yardbirds ganharam em sua nova fase uma outra adição. Trata-se do guitarrista americano Godfrey Townsend, que tem no currículo trabalhos com John Entwistle (do The Who), Jack Bruce, Alan Parsons, Todd Rundgren, Mark Farner (do Grand Funk Railroad) e Christopher Cross.

Vale a lembrança: Chris Dreja permaneceu nessa nova fase dos Yardbirds de 1994 a 2012, quando saiu de uma vez por todas, deixando Jim McCarthy como único membro original a permanecer no time.

Kenny Aaronson merece um capítulo à parte

Se Jim McCarthy é o único integrante original dos Yardbirds a marcar presença na atual encarnação do grupo (e também o único inglês, vale lembrar), o baixista americano Kenny Aaronson, na banda desde 2015, é o cidadão com o currículo mais invejável, em seus mais de 40 anos de atuação como músico profissional.

Aaronson iniciou a sua carreira como baixista da banda de hard rock Dust, cujos álbuns Dust (1971) e Hard Attack (1972), embora não tenham feito enorme sucesso em termos comerciais, são bastante apreciados pelos fãs do gênero, em especial o trabalho de estreia.

Seu primeiro momento de glória no mundo do rock se deu em 1973, como integrante da banda americana Stories. Eles estouraram em seu país natal com uma releitura matadora de Brother Louie, dos britânicos Hot Chocolate, balada soul-rock na qual a linha de baixo proeminente de Aaronson é um dos pontos seminais deste hit que atingiu o topo da parada ianque de singles naquele ano.

No final de 1974, Aaronson saiu dos Stories e entrou na banda de apoio de Daryl Hall & John Oates, com quem ficou por volta de um ano, durante a turnê de divulgação do mais controvertido álbum da dupla, War Babies (1974), sendo que em algumas ocasiões eles abriram shows para Lou Reed, acredite se quiser.

Em 1986, ele participou do álbum The Knife Feels Like Justice, primeiro álbum-solo do cantor e guitarrista dos Stray Cats, Brian Setzer, e também participou da turnê de divulgação deste trabalho.

De 1991 a 1995, acompanhou a roqueira Joan Jett em diversas turnês e participou do CD Pure And Simple (1994). De quebra, também esteve na banda de Bob Dylan entre 1988 e 1989, e fez um teste para substituir Bill Wyman nos Rolling Stones em 1994. Ufa!

O que ouvir em termos de Yardbirds

A discografia dos Yardbirds de sua fase 1963-1968 é bastante confusa, com direito a discos lançados exclusivamente nos mercados americano e britânico, com faixas variando de uns para outros. O melhor para quem deseja mergulhar no rico universo musical na banda é optar por coletâneas.

Em sua fase pós 1994, o grupo lançou em 2003 o álbum de estúdio Birdland, com sete composições inéditas e oito releituras de hits da banda, contando com as participações especiais de Jeff Beck, Steve Lukather, Brian May, Joe Satriani, Slash, Steve Vai e Jeff Skunk Baxter. A faixa An Original Man (A Song For Keith) é uma bela homenagem ao ex-vocalista do grupo, Keith Relf.

The Train Kept a Rollin’– The Yardbirds:

Eric Clapton nos traz mistério e belas canções em I Still Do

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Por Fabian Chacur

Logo de cara, I Still Do, novo álbum de Eric Clapton, propõe um desafio aos fãs. Nos créditos de músicos que participaram do trabalho, está listado como violonista e vocalista na faixa I Will Be There um certo Angelo Mysterioso. Os fanáticos por Beatles sabem que um pseudônimo quase idêntico (L’Angelo Mysterioso) foi usado em 1968 por George Harrison em sua participação especial na faixa Badge, do grupo Cream, do qual Eric Clapton era um dos integrantes.

Nem é preciso dizer que isso criou um frisson em torno da mídia especializada. Seria I Will Be There uma faixa gravada antes da morte do ex-Beatle (em 2001) e somente resgatada agora por Clapton, um grande amigo do autor de Something? A verdade é que o astro britânico se recusa a revelar quem é o artista que se valeu desse pseudônimo. E surgiram novos candidatos. Um é Dhani Harrison, filho de George.

Outro candidato é o astro pop Ed Sheeran, que por sinal participou do show de Clapton no dia 13 de abril no Budokan Hall, no Japão, interpretando exatamente essa música. E aí? Bem, a voz não parece a de Dhani, estando mais próxima do timbre de Sheeran. Seja como for, a assessoria de Clapton garante que ele não irá revelar quem é o tal “anjo misterioso”. E quer saber? O importante é que I Will Be There, uma espécie de folk-ska-reggae-balada, é linda!

Essa canção serve como bom chamariz para I Still Do, que atingiu o sexto lugar nas paradas dos EUA e do Reino Unido em sua semana de lançamento, algo habitual na carreira deste genial cantor, compositor e guitarrista britânico. Trata-se de um trabalho “Clapton per se”, ou seja, sem novidades ou influências diferenciadas do que estamos habituados. Temos várias variações de blues, tempero rock e folk, um pouco de pop, e por aí vai. E vai bem. O tal do bife com fritas bem feito.

O mais legal é a sutileza da coisa. A voz de Clapton está cada vez mais apurada e deliciosa, sem toda essa potência mas repleta de paixão. Cercado por músicos que o acompanham há muitos anos, como Andy Fairweather Low, Simon Climie, Chris Stainton e Henry Spinetti, o cara desliza sua guitarra com a categoria de quem sabe todos os atalhos para chegar ao ponto G dos seus ouvintes. São 12 faixas deliciosas.

O repertório traz apenas duas canções assinadas por Clapton, a quase pop Catch The Blues e a ótima Spiral. Entre os autores, alguns dos favoritos do ex-integrante do Blind Faith e Derek And The Dominoes, como Bob Dylan, JJ Cale e Robert Johnson. O clima vai do blues ardido em Alabama Woman Blues, que abre o álbum, à quase jazzística e delicada I’ll Be Seeing You, que pôe fim à festa. Tipo do álbum muito bom de se ouvir, descomplicado e simples.

Em entrevista recente, o músico afirmou que está sofrendo de neuropatia periférica, que lhe provoca dormência e dores nas mãos e nos pés, dificultando, portanto, o seu trabalho. Como ele já está com 71 anos, nos resta torcer para que Eric Clapton possa domar essas dificuldades físicas e continue em cena, fazendo shows pelo mundo e gravando discos deliciosos como este I Still Do. Se isso é “apenas mais do mesmo”, eu amo esse “mais do mesmo”!

I Will Be There– Eric Clapton e “Angelo Mysterioso”:

Catch The Blues– Eric Clapton:

Can’t Let You Do It– Eric Clapton:

Stones In My Passway– Eric Clapton:

Morre aos 81 anos o manager australiano Robert Stigwood

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Por Fabian Chacur

Morreu no dia 4 de janeiro de 2016 aos 81 anos o produtor australiano Robert Stigwood. Ele tinha 81 anos. Nome lendário no meio do show business, ele sempre será associado aos Bee Gees, grupo que ajudou a encaminhar rumo ao estrelato, mas seu currículo é repleto de momentos importantes e associações bacanas, além de um pioneirismo marcante em termos profissionais em termos empresarias no Reino Unido. Um cara que deixou sua marca na música.

Nascido na Austrália em 16 de abril de 1934, Stigwood se mudou para a Inglaterra em 1955. Na época, era tradição uma espécie de limitação da área de cada profissional no meio da música na Inglaterra. Ele foi um dos primeiros que ampliou os horizontes para seu tipo de atividade, englobando empresariamento, edição de músicas, gravação de discos, promoção de shows e espetáculos, agenciamento de shows, assessoria artística e de marketing etc. Ou seja, ele cobria todos os setores importantes para um artista fazer sucesso.

Ele passou a primeira metade dos anos 1960 se firmando em termos profissionais, e deu o pulo do gato em janeiro de 1967 ao se associar ao empresário dos Beatles, Brian Epstein, na empresa Nems. Quando Epstein morreu, em agosto daquele ano, Stigwood já tinha conhecimento suficiente para criar sua própria empresa multiuso, a The Robert Stigwood Organization, que entre outros desdobramentos geraria uma gravadora/selo, a RSO Records.

Os primeiros grandes nomes a serem empresariados em termos amplos por ele foram o grupo Cream, e depois de sua separação o guitarrista e cantor Eric Clapton, e os Bee Gees. Pouco depois, envolveu-se com a encenação de musicais, e em seguida a versões cinematográficas de tais musicais, entre os quais Jesus Cristo Superstar (1973) e Tommy (1975).

Se a coisa já estava muito boa para ele e seus contratados, ficou ainda melhor quando ele produziu os filmes e as trilhas sonoras Saturday Night Fever (Os Embalos de Sábado a Noite-1977) e Grease (Nos Tempos da Brilhantina- 1978), que levaram milhões de pessoas aos cinemas e venderam milhões de discos. A primeira ficou 24 semanas no primeiro lugar nos EUA, enquanto a segunda permaneceu durante 12.

Nesse período entre 1978 e 1979, era a coisa mais comum do mundo um disco com o selo RSO suceder outro na liderança das paradas dos mais vendidos em todo o mundo. Se não repetiu todo esse sucesso nos anos subsequentes, Stigwood se manteve muito ativo, e emplacou até mesmo uma versão cinematográfica de Evita (1997) com Madonna, que lhe valeu um Oscar como produtor.

Os Embalos de Sábado a Noite- Trilha Sonora completa em streaming:

Eric Clapton faz homenagem a J.J. Cale no CD The Breeze

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Por Fabian Chacur

JJ Cale (1938-2013) foi uma espécie de “músico dos músicos”, pois embora nunca tenha feito grande sucesso em termos comerciais, sempre foi cultuado por um público fiel e por inúmeros colegas de profissão. Seu fã mais famoso, Eric Clapton, ajudou a divulgar a sua obra, e agora lança um novo CD em homenagem ao amigo, o maravilhoso The Breeze- An Appreciation Of J.J. Cale, que a Universal Music acaba de lançar no Brasil.

A influência do cantor, compositor e guitarrista americano na obra de Eric Clapton é muito grande, o que pode ser notado especialmente a partir dos anos 70. Em 1970, o mago britânico da guitarra gravou uma composição de Cale, After Midnight, e a partir dali se tornou um intenso consumidor das canções dele, tendo gravado sete delas no decorrer de sua carreira, entre as quais a icônica Cocaine.

Não satisfeito, Clapton gravou em 2006 um álbum em parceria com o amigo, o excelente The Road To Escondido, que rendeu à dupla um Grammy, o Oscar da música. De quebra, o autor de Cocaine ainda participou do CD Old Sock (2013), de Clapton, que nunca deixou de lado o seu prazer em divulgar a obra do amigo.

O trabalho de JJ traz como marcas a sutileza de suas canções e de seus solos, com uma mistura simplesmente brilhante de rock, country, folk e jazz no qual as canções sempre nos trazem a rara capacidade de conciliar uma aparente simplicidade formal com uma sofisticação que vinha à tona a cada nova audição de seu repertório.

The Breeze-An Appreciation Of JJ Cale é assinado por Eric Clapton & Friends, pois o Slowhand trouxe para o time os amigos Mark Knopfler, John Mayer, Tom Petty, Willie Nelson e Don White, com direito à coprodução do inseparável Simon Climie e a participação de músicos de apoio como os geniais Nathan East, Jim Keltner, Jamie Oldaker, Derek Trucks e Albert Lee, entre outros do mesmo (alto) gabarito.

O repertório inclui músicas de várias fases da carreira de JJ Cale, em interpretações que respeitam o espírito das gravações originais. As 16 faixas são boas, mas vale destacar Call Me The Breeze (Clapton solo), Rock And Roll Records (Clapton e Tom Petty), Someday (Mark Knopfler), The Old Man And Me (Tom Petty) e Songbird (Clapton e Willie Nelson).

Trata-se daquele tipo de CD que já nasce clássico, e que foge completamente do teor oportunista de algumas homenagens feitas por aí a outros artistas. Neste, Clapton demonstra reverência e amor pela obra do saudoso amigo, e reúne um elenco mais do que adequado para fazer jus à qualidade dessas músicas. Boa dica de presente para amigos e amigas roqueiras de bom gosto.

Vídeo sobre o CD The Breeze:

Call Me The Breeze– Eric Clapton:

MTV Unplugged de Clapton em edição Deluxe

Por Fabian Chacur

Lançado originalmente em 1992, MTV Unplugged deu novo impulso em termos comerciais à carreira de Eric Clapton, atingindo o topo da parada americana e de inúmeros outros países, sendo provavelmente o álbum mais vendido de sua brilhante carreira. Este álbum está sendo relançado pela Warner Music em edição Deluxe com direito a vários conteúdos inéditos e exclusivos. Coisa fina e imperdível mesmo.

A festa começa com a embalagem luxuosa e no formato digipack, com direito a capa que abre em várias partes e repleta de fotos coloridas bem bacanas. O encarte traz ficha técnica e detalhes das gravações, e só peca pelo fato de não incluir textos contando as histórias e fatos importantes referentes às gravações, que foram realizadas no Bray Film Studios em Londres perante uma plateia seleta e muito, mas muito sortuda mesmo.

O primeiro CD contém a versão original do álbum devidamente remasterizada, com 14 faixas e clássicos como Before You Accuse Me, Tears In Heaven, Running On Faith, Rollin’ & Tumblin’ e a polêmica releitura de Layla. Essa repaginação de seu célebre hit com Derek & The Dominoes em 1970 lhe rendeu até um Grammy, mas há quem não goste (eu me incluo entre eles). Uma coisa, porém, é fato: uma versão não invalida a outra.

Com seis faixas, o segundo CD incluído no pacote traz versões alternativas de Running On Faith e Walkin’ Blues e três músicas que não entraram no álbum e no vídeo, Circus, Worried Life Blues e My Father Eyes. Esta última, por sinal, só seria lançada em versão oficial seis longos anos depois, no álbum de estúdio Pilgrim, e fala sobre o pai do roqueiro/blueseiro, com quem ele não teve contatos.

A cereja do bolo é o DVD que completa o pacote. Além da versão do programa que foi exibido pela MTV na época, temos nos extras o até então inédito ensaio para o show (com 62 minutos de duração), feito horas antes no mesmo local sem a presença de plateia, com apenas alguns técnicos e pessoas da equipe técnica por perto. O repertório tem pequenas diferenças do show oficial, incluindo as canções My Father’s Eyes e Circus.

A integração entre Clapton e a estelar banda de apoio que o acompanha no show se sobressai nesse ensaio. Integram o time Ray Cooper (percussão), Nathan East (baixo), Steve Ferrone (bateria), Chuck Leavel (teclados), Andy Fairweather Low (guitarra), Katie Kissoon (vocais de apoio) e Tessa Niles (vocais de apoio), gente que tem em seus currículos atuações ao lado de Elton John, Rolling Stones, Michael Jackson, Duran Duran e outros desse altíssimo gabarito.

A cumplicidade entre o Deus da Guitarra e seus parceiros se sobressai em alguns momentos, como em uma música na qual Ray Cooper solta a franga na percussão e Clapton manda a ele um recado bem-humorado, ou em San Francisco Bay Blues, quando Andy Fairweather Low sopra a gaita e o som não sai, provavelmente por problemas com o microfone. Eles tocam até o fim, e o intérprete de Cocaine fala algo tipo “espero que isso não ocorra no show”. Felizmente, na hora agá deu tudo certo.

MTV Unplugged Deluxe + DVD é indispensável não só para os mais fanáticos por Eric Clapton, mas também para quem curte rock e blues, ou é aficionado por gravações acústicas de alto gabarito. Eis um trabalho que você ouve e não se cansa, e que soa realmente feito pelo prazer artístico, e não só para garantir uns milhõezinhos a mais na conta bancária.

Veja MTV Unplugged, com Eric Clapton:

Morre o grande J.J. Cale, autor de Cocaine

Por Fabian Chacur

Pode parecer banal dizer isso, mas em um mesmo dia, nascem, comemoram aniversário e morrem milhões de pessoas. Neste mesmo dia 26 (sexta) em que certamente muitos bebês se juntaram a nós e Mick Jagger comemorou 70 anos, deu-nos adeus aos 74 anos J.J. Cale, um dos grandes nomes da história do rock. Ele foi vítima de um ataque cardíaco e estava internado no hospital Scripps, em La Jolla, Califórnia.

Sempre que o nome desde cantor, compositor e guitarrista nascido em Oklahoma City no dia 5 de dezembro de 1938 é citado, o nome das canções After Midnight e Cocaine são lembradas, hits escritos por ele e gravados com sucesso por Eric Clapton respectivamente em 1970 (no álbum Eric Clapton) e em 1977 (no álbum Slowhand, leia a crítica de seu relançamento aqui). Mas sua obra é muito mais caudalosa.

Após ter sido criado na cidade de Tulsa, ele se mudou em 1964 para Los Angeles junto com os amigos Leon Russell e Carl Radle. E foi graças ao último que conheceu Eric Clapton. O mago da guitarra gravou After Midnight logo em seu primeiro álbum solo autointitulado, de 1970, e abriu as portas do mercado musical para J.J. Cale, que em 1972 lançou seu álbum de estreia, Naturally. Era o início fonográfico de uma belíssima trajetória.

O single com a música Crazy Mamma acabou se tornando seu maior hit como artista solo, atingindo em 1972 a posição de número 22 na parada americana. Ele lançou álbuns bastante badalados, como Troubadour (1976) e Grasshopper (1982), no qual seu estilo, mescla de rock, blues, folk e jazz, o tornou um sucesso de público e entre seus colegas músicos.

Também gravaram músicas de J.J. Cale grupos e astros do alto gabarito de Carlos Santana, Lynyrd Skynyrd, Tom Petty, Randy Crawford, Poco e Kansas, entre outros. Em 2006, gravou um disco em dupla com Eric Clapton, o ótimo The Road To Escondido, que não só vendeu bem como lhe rendeu um Grammy na categoria melhor álbum de blues contemporâneo.

Conheci J.J. na década de 80 graças ao grande amigo Giovanni Dell’Isola Neto, que me emprestou um disco dele, o ótimo Grasshopper. Essa é mais uma que devo a essa figura impoluta e conhecedor refinado do nosso velho e amado rock and roll. Uma grande perda, que só não é maior graças ao grande legado deixado por Cale para todos nós.

Ouça Troubador, de J.J. Cale, na íntegra, em streaming:

Ouça The Road To Escondido, de J.J. Cale e Eric Clapton, em streaming:

Old Sock é Eric Clapton solto e despretensioso

Por Fabian Chacur

Depois de passar por fases não muito favoráveis em sua vida, Eric Clapton aparentemente sossegou neste novo século em termos pessoais. Casado desde 2002 e pai de três filhas, o mestre da guitarra investiu nos últimos 15 anos em bons projetos solo e em parcerias com craques do naipe de Steve Winwood, B.B.King e J.J.Cale.

Seu novo álbum individual, Old Sock, acaba de sair no Brasil via Universal Music, e é mais uma prova de como essa vida familiar mais tranquila aparentemente está influenciando de forma positiva em seu trabalho. Trata-se de um disco ensolarado, despretensioso e no qual seu talento surge com força.

O repertório do novo álbum não inclui nenhuma música assinada pelo cantor, compositor e guitarrista britânico. São 12 faixas, sendo 10 releituras de canções de artistas como J.J. Cale, Peter Tosh, Gary Moore, George & Ira Gershwin e Taj Mahal, e duas inéditas assinadas por seu guitarrista e braço direito nos últimos tempos, o guitarrista Doyle Bramhall II.

As canções de Doyle tem como coautores o coprodutor e técnico de som do álbum, Justin Stanley, e uma figura que andava meio sumida das manchetes: a cantora Nikka Costa. Sim, a filha do saudoso maestro Dom Costa (célebre por ter trabalhado com Frank Sinatra) que estourou nos anos 80, ainda criança, com a releitura de (Out Here) On My Own, gravada originalmente por Irene Cara para a trilha do filme Fama.

Após o estouro inicial, Nikka deu uma sumida mas voltou em 1989, e passou a gravar alguns discos de repercussão moderada. Ela hoje tem 41 anos e é casada com Justin Stanley, com o qual compõe músicas para diversos artistas, incluindo Eric Clapton. Nada mal para aquela menininha de voz ardida, mas bela. Aliás, ela também marca presença no álbum fazendo backing vocals (vocais de apoio).

As duas composições do trio Bramhall/Stanley/Nikka são os momentos mais pops do trabalho, o rockão Gotta Get Over (com participação discreta da grande Chaka Khan) e o delicioso reggae Every Little Thing. Nesta última, já que falei há pouco de crianças precoces, temos os vocais (na parte final da canção) de Julie, Ella e Sophie Clapton, filhas do roqueiro britânico.

O disco flui de forma gostosa e se divide entre reggaes, baladas folk e standards da música americana. Temos outras participações bacanas, além das já citadas. Taj Mahal, por exemplo, toca harmônica e banjo no seu reggae Further On Down The Road. J.J. Cale canta e toca guitarra na balada country de sua autoria Angel.

Paul McCartney retribuiu a participação de Clapton em seu Kisses On The Bottom e canta e toca baixo no maravilhoso standard All Of Me, que ganhou nova vida na versão da dupla. E tem também Steve Winwoond arrasando no órgão Hammond B3 na elegante e sutil releitura de Still Got The Blues, maior hit de Gary Moore.

Mas a grande estrela do álbum é mesmo o seu criador. Clapton está cantando como nunca, indo do rockão de Gotta Get Over à sutileza jazzística em Our Love Is Here To Stay e The Folks Who Live On The Hill, além do folk blues em Goodnight Irene e balada country em Born To Lose. E os solos de guitarra fluem delicados e repletos de emoção e amor.

Old Sock soa um pouco como aqueles discos lançados pelo astro britânico nos anos 70, como 461 Ocean Boulevard (1974) e Slowhand (1977). Trata-se do novo trabalho de um artista genial que se sente livre para cantar e tocar aquilo que quiser, sem desejar provar nada a ninguém e em plena maturidade de seus 68 anos bem vividos.

Ouça All Of Me, com Eric Clapton e Paul McCartney:

Filme traz inacreditável vida de Ginger Baker

Por Fabian Chacur

Que tal um documentário que abre com o personagem principal acertando uma certeira bengalada no nariz de seu respectivo diretor? É assim que tem início Beware Of Mr. Baker, que registra de forma brilhante e abrangente a trajetória de Ginger Baker,ex-integrante do Cream e considerado um dos melhores bateristas de todos os tempos. E também um ser humano inacreditável.

Jay Bulger, o diretor que tomou a porrada no nariz e sangrou de dar gosto, levou três anos para realizar o seu sonho. Ele passou três meses na casa de Baker, na África do Sul, período durante o qual teve a chance de conhecer a fundo seu personagem. Inicialmente, escreveu uma matéria para a Rolling Stone americana (leia aqui) publicada em agosto de 2009, quando o músico completava 70 anos. Depois, registrou as entrevistas com o músico em vídeo.

O documentário mergulha de cabeça na trajetória do baterista britânico nascido em 19 de agosto de 1939. Desde a infância, quando perdeu o pai aos 4 anos de idade durante a Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje. Seu envolvimento com a música, as drogas, os relacionamentos afetivos, nada fica de fora.

Ginger Baker surge na tela como um indivíduo contraditório. Ora agressivo, ora afetivo, mas sempre controverso e capaz das maiores brigas, o que explica a duração sempre reduzida de seus projetos musicais. O Cream, por exemplo, considerado um dos grandes trios da história do rock (com Baker, Jack Bruce e Eric Clapton), durou apenas dois anos (1966 a 1968). O Blind Faith, menos ainda (nem um mísero ano).

A qualidade musical dessas diversas incursões, no entanto, sempre foi no mínimo interessante, e frequentemente seminal para a história da música. Os depoimentos de músicos do naipe de Bill Ward (Black Sabbath), Neil Peart (Rush), Johnny Rotten (Sex Pistols, PIL), Steve Winwood, Denny Laine (Wings), Stewart Copeland (The Police), Eric Clapton e Jack Bruce (Cream), entre outros, sustentam essa visão durante o documentário.

As entrevistas com seus familiares, incluindo quatro ex-mulheres, duas filhas e o filho Kofi (que também é baterista) servem como ilustração de seu temperamento difícil. Kofi acha que o pai não deveria ter tido filhos, enquanto uma das ex-esposas questiona se Ginger merece elogios por sempre ir em frente ou críticas por não ter capacidade de consolidar seus relacionamentos pessoais e profissionais, fugindo no fim das contas.

Além das excelentes entrevistas feitas especialmente para o filme, temos também belíssimas animações ilustrando vários momentos da vida do músico, incluindo alguns pornográficos e outros com mapas contextualizando suas várias viagens pelo mundo durante sua longa trajetória de vida. Ele morou na Inglaterra, Itália, Nigéria, EUA e África do Sul.

O título do filme teve como inspiração a placa que o ex-integrante do Cream colocou na entrada de sua casa na África do Sul (Beware Of Mr. Baker- cuidado com Mr. Baker). Durante a atração, temos acesso também a seu amor aos cavalos e cães, sua faceta como jogador de cricket e a relação sempre complicada com as drogas.

Jazzista, roqueiro, precursor do heavy metal e da world music, capaz de jogar no lixo milhões de dólares em diferentes épocas de sua vida, Ginger Baker é um personagem que nem o autor mais criativo conseguiria conceber, tal a sua complexidade como músico e ser humano.

Beware Of Mr. Baker foi exibido durante a edição 2013 do festival In-Edit de documentários musicais em São Paulo e é um dos melhores trabalhos nesse setor que já vi nos meus 51 anos de vida. E olha que sou um verdadeiro devorador de documentários musicais…

Duas notas finais: o produtor de Beware Of Mr. Baker é Fisher Stevens, que fez inúmeros trabalhos bacanas como ator, um deles na maravilhosa e extinta série televisiva Early Edition, além de ter namorado com Michelle Pfeifer nos anos 80, quando ela estava no auge. E em uma cena de arquivo, temos a chance de ver Mr.Baker cair sentado no palco, obviamente encharcado de drogas e quetais…

Veja o trailer de Beware Of Mr. Baker:

Eric Clapton e Paul McCartney juntos de novo

Por Fabian Chacur

Em 2012, Eric Clapton participou do álbum Kisses On The Bottom, de Paul McCartney, tocando guitarra nas faixas My Valentine e Get Yourself Another Fool. Pois agora chegou a vez de o ex-beatle retribuir a gentileza no novo álbum do astro britânico.

Macca toca baixo e faz vocais em All Of Me, faixa do novo álbum do Deus da Guitarra, Old Sock, que acaba de chegar às lojas. O álbum traz apenas duas músicas inéditas, Every Little Thing e Gotta Get Over. As outras faixas são covers escolhidos a dedo pelo ex-integrante do Cream.

Compositores tão diversos entre si como Leadbelly, J.J.Cale, Peter Tosh, George Gershwin, Hank Snow e Gary More estão no repertório. Além do autor de Live And Let Die, o álbum também traz craques do rock como o ex-colega de Blind Faith Steve Winwood (teclados em Still Got The Blues), a cantora Chaka Khan (vocais em Gotta Get Over), J.J.Cale (vocais e guitarra em Angel) e Jim Keltner (bateria em Our Love Is Here To Stay).

A banda básica que acompanha Clapton no álbum é composta pelos badalados Steve Gadd (bateria), Willie Weeks (baixo) e Chris Stainton (teclados). A produção foi dividida por Clapton com Doyle Bramhall II, Justin Stanley e Simon Climie. Um dos destaques de Old Sock é a sutil e bela releitura de Still Got The Blues, maior hit do saudoso Gary Moore (1952-2011).

As faixas de Old Sock, de Eric Clapton:

01. Further On Down The Road (5:44)
02. Angel (3:54)
03. The Folks Who Live On The Hill (3:46)
04. Gotta Get Over (4:38)
05. Till Your Well Runs Dry (4:42)
06. All Of Me (3:23)
07. Born To Lose (4:03)
08. Still Got The Blues (5:55)
09. Goodnight Irene (4:23)
10. Your One And Only Man (4:31)
11. Every Little Thing (4:35)
12. Our Love Is Here To Stay (4:13)

Still Got The Blues, com Eric Clapton:

Slowhand, de Eric Clapton, volta no capricho

Por Fabian Chacur

Como vender discos inéditos está se tornando uma tarefa cada vez mais difícil (embora não impossível, felizmente), a indústria fonográfica está há algum tempo apostando em reedições matadoras no formato físico de álbuns clássicos, aqueles que os fãs de bom gosto precisam ter em suas coleções.

Acaba de chegar às lojas brasileiras uma reedição que eu recomendo com entusiasmo. Trata-se da versão comemorativa de 35 anos de lançamento de Slowhand, um dos melhores e mais vendidos álbuns da carreira do genial cantor, compositor e guitarrista britânico Eric Clapton.

O álbum é oferecido em formato digipack que reproduz a embalagem capa dupla do original em vinil, acrescentando novas fotos, um fantástico encarte repleto de informações e fotos, quatro faixas-bônus e um CD adicional com gravações ao vivo.

Gravado em Londres em maio de 1977, Slowhand traz três dos maiores sucessos da carreira do ex-integrante do Cream: o rockão Cocaine (escrita por J.J.Cale), a doce balada Wonderful Tonight e o country swingado Lay Down Sally. Mas o álbum traz outros atrativos bem fortes.

O rockão The Core, por exemplo, que Clapton canta em dueto com a coautora da faixa, a excelente Marcy Levy (letrista de Lay Down Sally, por sinal). A deliciosa e delicada canção country Next Time You See Her, a releitura turbinada do blues Mean Old Frisco (de Arthur Big Boy Crudup, que também escreveu That’s Alright Mama, hit com Elvis Presley) e a ótima May You Never (de John Martyn) também cativam o ouvinte.

Influenciado pelo grupos The Band e Delaney, Bonnie & Friends (com quem gravou, por sinal) e pelo amigo George Harrison, Clapton mergulhou de cabeça no mundo das canções, usando sua incrível habilidade como guitarrista a favor delas, deixando preciosismos e egotrips bem longe. Isso, além de cantar de forma impecável e versátil. E pensar que ele se achava um mau cantor… Vai se autoavaliar de forma errada ali adiante!

A seu lado, uma excelente banda de apoio usada nos shows, que ele sabiamente resolveu levar para o estúdio também. Com a produção a cargo do experiente Glynn Johns (que trabalhou com The Who, Eagles e inúmeros outros), ele conseguiu gravar Slowhand em apenas seis semanas, contando o período de mixagem.

As quatro faixas bônus adicionadas às nove do trabalho original são excelentes, com destaque para Looking At The Rain (escrita por Gordon Lightfoot), e poderiam perfeitamente ter entrado no disco, na época. Um ótimo resgate.

O CD bônus inclui nove clássicos do repertório de Eric Clapton solo, do Cream e do Blind Faith, gravados ao vivo em show no Hammersmith Odeon de Londres no dia 27 de abril de 1977, ou seja, em torno de uma semana antes das gravações do álbum. O entrosamento dos músicos é impressionante, assim como a energia das performances.

Bem bacana ouvir Steady Rolling Man, do mestre do blues Robert Johnson, e descobrir ali o riff utilizado pouco depois nas gravações de Lay Down Sally, em um contexto completamente diferente. Ou Can’t Find My Way Home (de Steve Winwood e gravada pelo Blind Faith, supergrupo do qual Clapton fez parte), com belíssima interpretação vocal a cargo de Yvonne Elliman (que fez sucesso ao gravar If I Can’t Have You para a trilha do filme Os Embalos de Sábado à Noite, curiosamente lançada naquele mesmo 1977).

As longas versões de Tell The Truth, Stormy Monday e I Shot The Sheriff dão bons espaços para as improvisações dos músicos, que os aproveitam com sabedoria. Mais compactas, Further On Up The Road, Badge e Knocking On Heaven’s Door também são ótimas.

Se Slowhand já era um álbum indispensável para os fãs do melhor rock melódico, imaginem agora, nessa reedição primorosa. Vale cada centavo que você investir nela.

Ouça The Core:

Ouça Lay Down Sally:

Ouça Next Time You See Her:

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