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Eagles lançam trabalho ao vivo estreando sua nova formação

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Por Fabian Chacur

Com a morte do grande cantor, compositor e músico Glenn Frey (1948-2016), a impressão geral é que também teria fim o grupo que ele ajudou a fundar em 1971, os Eagles. No entanto, em 2017, seu parceiro Don Henley resolveu tocar adiante a banda. Agora, chega a vez de seu primeiro lançamento nessa nova fase. Trata-se de Live From The Forum MMXVIII (Rhino Records), que chegará em breve ao mercado nas plataformas digitais e, no exterior, nos formatos físicos CD duplo, CD duplo+DVD, CD duplo+Blu-ray, 4 LPs e caixa com 4 LPs, dois CDs e um Blu-ray.

obs.: a Warner Brasil informou nesta terça-feira (7) que Live From The Forum MMXVIII chegará às plataformas digitais no dia 16 de outubro, e chegará ao nosso país também no formato físico CD duplo.

Além do cofundador Don Henley, a seminal banda americana mantém em sua nova escalação Joe Walsh e Timothy B. Schmidt. Para tentar preencher a vaga deixada por Glenn, entraram em cena seu filho Deacon Frey, hoje com 27 anos, e o astro country Vince Gill, que possui mais de 20 álbuns-solo em seu currículo, 21 prêmios Grammy e inúmeros hits, além de duetos marcantes com cantoras como Amy Grant, Reba McEntire, Sheryl Crow e Dolly Parton.

Com mais alguns músicos de apoio, a nova encarnação dos Eagles estreou em julho de 2017, e desde então fez apresentações pelos EUA, Europa e Oceania. Em setembro-outubro de 2019, tocaram na íntegra o álbum Hotel California (1976), um de seus trabalhos mais bem-sucedidos, em três concorridos shows no MGM Grand Garden Arena, em Los Angeles.

O novo trabalho ao vivo desta lendária banda americana teve seu material extraído das gravações de shows realizados nos dias 12, 14 e 15 de setembro de 2018 no Inglewood Forum, na California. São 26 músicas, com direito a hits de todas as fases de sua carreira, adicionando algumas canções gravadas por Don Henley e Joe Walsh fora da banda e também um sucesso solo de Vince Gill, Don’t Let Our Love Start Slippin’ Away, de 1992.

Vale lembrar que a ligação entre os Eagles e Vince Gill é antiga. O cantor interpretou a música I Can’t Tell You Why no álbum Common Thread: The Songs Of The Eagles (1993), tributo feito por astros country como Travis Tritt, Little Texas, Alan Jackson e Brooks & Dunn cujo grande sucesso foi um dos fatores que motivou o retorno da banda em 1994, após 14 anos longe de cena. Timothy B. Schmidt, coautor dessa canção e seu intérprete em sua gravação (no álbum The Long Run, de 1979), fez backing vocals na releitura de Gill.

Eis as faixas de Live From The Forum MMXVIII:

CD 1

– SEVEN BRIDGES ROAD
– Joe Walsh: “How ya doin?”
– TAKE IT EASY
– ONE OF THESE NIGHTS
– Don Henley: “Good evening, ladies and gentlemen”
– TAKE IT TO THE LIMIT
– TEQUILA SUNRISE
– IN THE CITY
– Timothy B. Schmit: “Hey, everybody, that’s Joe Walsh”
– I CAN’T TELL YOU WHY
– NEW KID IN TOWN
– Don Henley: “Just want to thank all of you…”
– HOW LONG
– Deacon Frey: “Hello, everybody…”
– PEACEFUL EASY FEELING
– OL’ 55
– LYIN’ EYES
– LOVE WILL KEEP US ALIVE
– Vince Gill: “How about a nice hand for California, man…”
– DON’T LET OUR LOVE START SLIPPIN’ AWAY
– THOSE SHOES

CD 2

– ALREADY GONE
– WALK AWAY
– Joe Walsh: “Is everybody OK?”
– LIFE’S BEEN GOOD
– THE BOYS OF SUMMER
– HEARTACHE TONIGHT
– FUNK #49
– LIFE IN THE FAST LANE
– HOTEL CALIFORNIA
– ROCKY MOUNTAIN WAY
– DESPERADO
– THE LONG RUN

Obs.: o repertório do DVD-Blu-ray é exatamente igual ao do CD.

Veja, do show, Take It To The Limit (filmagem amadora):

The Long Run (1979), o retorno que virou uma bela despedida

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Por Fabian Chacur

Há 40 anos, chegava às lojas de todo o mundo um disco com uma capa no mínimo estranha. Preta, em formato que mais parecia o de uma lápide, sombria e carrancuda, trazendo apenas os dizeres “Eagles The Long Run”. Era provavelmente o álbum de rock mais esperado pelos fãs do gênero naquele momento, e a prova disso é o resultado comercial proporcionado pelo mesmo. Nove semanas consecutivas no primeiro lugar da parada americana, três hit singles emplacados nos charts, milhões de cópias vendidas. Parecia um recomeço brilhante. Apenas parecia…

Muita coisa aconteceu no universo da banda americana durante a criação do seu 6º álbum de estúdio. O anterior, Hotel California, lançado em dezembro de 1976, rapidamente impulsionou o quinteto rumo ao primeiro time do rock mundial, com sua faixa-título tornando-se um clássico instantâneo.

A massiva turnê de divulgação os levou a estádios e mostrou-se opressiva demais para seu baixista, Randy Meisner, que deu sinais de que não estava mais aguentando o tranco ao se recusar a cantar Take It To The Minute, seu momento de holofotes nos shows, por medo de não dar conta do recado.

Don Henley (vocal e bateria) e Glenn Frey (vocal e guitarra), os líderes da banda, puseram o colega na parede por causa disso, e este pediu as contas, saindo do time em setembro de 1977. Em seu lugar, foi escalado Timothy B. Schmidt, que curiosamente também substituiu Meisner quando este saiu da banda de country rock Poco para integrar os Eagles, em 1972.

Pouco antes da confirmação do nome do novo integrante, o empresário da banda, Irving Azoff, questionou Frey, afirmando ter visto Schmidt bêbado, nos bastidores de um show recente do Poco. “Se você estivesse há muitos anos tocando em uma banda e ganhando exatamente a mesma coisa, também estaria bêbado”, respondeu Frey, confirmando o convite, que foi aceito de imediato.

Temas instrumentais, single natalino e pressão

Com o novo integrante, tão talentoso quanto o antecessor e muito mais afável e seguro, a banda se manteve na estrada e iniciou a seguir, no dia 1º de março de 1978, as gravações de um novo LP, novamente produzido por Bill Szymczyk, que trabalhava com eles desde o álbum On The Border (1974). Seria o início de um verdadeiro parto de dinossauro.

No início, Henley, Frey, Schmidt, Joe Walsh (guitarra e vocal) e Don Felder (guitarra e vocais) gravavam apenas passagens instrumentais, sem letras definidas. O quebra-cabeças foi montado aos poucos, entre uma briga e outra, um show e outro, um bloqueio de ideias e outro.

Nesse meio-tempo, lançaram um single natalino, com Please Come Home For Christmas (Charles Brown & Gene Redd) de um lado e Funky New Year (Henley/Frey) do outro. O disco atingiu o 18º posto na parada de singles no fim de 1978, algo raríssimo para um lançamento sazonal, o que dá a medida da ansiedade do público por novos produtos dos Eagles.

A explicação é simples. Naquela época, era habitual um artista-grupo de sucesso lançar ao menos um álbum de inéditas por ano. As gravadoras contavam com essas vendagens para equilibrar seus balanços fiscais. Logo, a Elektra/Asylum (parte do conglomerado Warner Music) queria para ontem um novo álbum dos Eagles. E a banda tinha de administrar tal pressão e suas crises internas.

O guitarrista Don Felder, por exemplo, queria incluir mais composições suas no repertório da banda. Pior: queria ser vocalista de algumas canções, algo que os colegas não aceitavam por o considerarem inferior aos outros nesse quesito. Joe Walsh estava cada vez mais embrenhado em drogas e bebidas, e mesmo Henley e Frey, os fundadores do grupo, já não se entendiam tão bem como antigamente.

Composições de Don Henley e Glenn Frey prevalecem

É nesse clima pesado do sucesso massivo cobrando o seu preço que The Long Run foi gestado. Nas contas do produtor, o disco foi gravado em 206 dias, durante um período de 18 meses. Para que vocês possam ter uma ideia, o elaborado Hotel California, até então o trabalho mais demorado do quinteto, tinha sido criado durante 87 dias em um período de sete meses!

No peito e na raça, como se dizia antigamente, o álbum foi concluído em 1º de setembro de 1979. Como se tornou norma a partir de um determinado momento de sua história, apenas uma das dez faixas do álbum não trouxe a assinatura de Don Henley e Glenn Frey, In The City (Joe Walsh e Barry De Vorzon). Aliás, esta é a única faixa não inédita do LP, pois Joe Walsh já a havia gravado para a trilha sonora do filme The Warriors (no Brasil, Os Selvagens da Noite), dirigido por Walter Hill, lançado em 1979 e hoje considerado cult.

The Long Run, King Of Hollywood e The Greeks Don’t Want No Freaks são assinadas apenas por Henley e Frey. Don Felder é o parceiro deles em The Disco Strangler e Those Shoes. O estreante Timothy assina com eles I Can’t Tell You Why. Alguns amigos famosos também marcam presença em outras parcerias.

Dois nomes importantes na trajetória de Glenn Frey estão nos créditos de The Long Run. O consagrado roqueiro Bob Seger, com quem Frey participou de sua primeira gravação em 1969 (o single Ramblin’ Gamblin Man), é um dos autores de Heartache Tonight. Também está na parceria deste hit certeiro J.D. Souther, companheiro de Frey na banda Longbranch Pennywhistle, que lançou um álbum em 1969 e logo se dissolveu, embora a amizade entre os dois tenha se mantido.

Souther também participou da composição de Teenage Jail e The Sad Cafe, esta última incluindo Joe Walsh como um dos parceiros. Além de uma cultuada carreira-solo, J.D. Souther teve músicas gravadas por Linda Ronstadt e canta em dueto com James Taylor o maravilhoso hit Her Town Too (de 1981, do álbum Dad Love His Work, de Taylor)

Um mergulho na Los Angeles de 1979

As dez músicas que integram The Long Run equivalem a um mergulho no espírito da Los Angeles de 1979. É um som bastante urbano, por vezes ardido, outras melancólico, e marcado por uma diversidade de levadas rítmicas e arranjos.

O início fica por conta da faixa-título, um country-rock bem no estilo deles com direito a uma slide guitar preciosa de Joe Walsh e uma letra irônica em relação aos críticos da banda, que diz algo do tipo “vamos ver quem vai conseguir realizar os seus objetivos, no final das contas, nessa longa estrada”. E eles venceram essa batalha com louvor, pois continuam relevantes e populares até hoje. No formato single, essa faixa atingiu o 8º lugar nos EUA.

A delicada e introspectiva balada soul I Can’t Tell You Why mostra a beleza e a doçura da voz de Timothy B. Schmidt. O clima da letra é o de um cara de madrugada, deitado ao lado da mulher amada (que dorme), pensando em não discutir a relação para manter um relacionamento que o faz feliz. Chegou ao 8º posto entre os singles, nos EUA.

In The City é um hard rock matador, com Joe Walsh brilhando tanto no vocal como na slide guitar, em uma canção na qual a barra pesada do dia-a-dia nas grandes cidades é o tema, bem no clima de The Warriors.

The Disco Strangler equivale a um fantástico e irônico flerte da banda com a então efervescente disco music, e cuja letra traz como personagem uma garota que sai pras noitadas nas boates e que pode acabar caindo nos braços de um serial killer, no caso o tal do “estrangulador da disco”. Como ninguém pensou em uma versão estendida ou mesmo um remix dessa verdadeira orgia rítmica?

O lado A do vinil é encerrado com a soturna e bluesy King Of Hollywood, relato de um solitário produtor de cinema pensando em pedir um “acompanhante de vida fácil” oriundo de sua agenda, e refletindo sobre os artistas que ele já ajudou a se tornarem astros e estrelas com o seu poder influenciador. O clima decadente do personagem é evidente, e de certa forma comovente.

O início do lado B do vinil vem com aquela música lapidada com capricho e inspiração para se tornar o primeiro single de sucesso do álbum, a contagiante Heartache Tonight, com sua batida marcada e uma letra do tipo “tá todo mundo indo pra noite, pode ter certeza de que vai ter gente se magoando nesta noite”. Com dois refrãos e muito bem construída, atingiu o topo da parada de singles nos EUA, abrindo a porteira para o estouro do álbum.

A hard-funkeada Those Shoes traz como personagem uma garota daquelas de fechar o comércio, e cuja marca registrada é uma daquelas sandálias lindas, com detalhes luxuosos e tudo o mais. Walsh e Felder usam efeito talk box em suas guitarras, aquele que marca o grande hit Show Me The Way, de Peter Frampton.

Dá para imaginar uma faixa dos Eagles com influência de Black Sabbath, a música que deu nome à banda de Ozzy Osbourne? Pois ouça Teenage Jail, com sua levada lenta, na melhor linha “trilha de filme de terror”, com letra que pode ser uma ironia em meio ao mundos dos adolescentes querendo ir para o mundo, mas restritos a seus quartinhos de solteiros.

Como forma de homenagear o frat rock, subgênero do rock de tom festeiro, dançante e desencanado exemplificado por músicas como Louie Louie, Mony Mony, 96 Tears e Wooly Bully, Henley e Frey compuseram The Greks Don’t Want No Freaks, que conta em seus backing vocals com o astro do country-pop Jimmy Buffett, conhecido pelo hit Margaritaville.

Encerra o álbum a belíssima balada jazzística The Sad Cafe, com direito a um delicioso solo de sax do brilhante musico de jazz David Sanborn e cuja letra evoca com ar melancólico e saudosista lembranças dos tempos iniciais da banda, com todos os seus sonhos e dificuldades.

São evocados nas entrelinhas dois locais em especial, o bar Troubadour, onde os Eagles praticamente surgiram, quando Henley e Frey acompanhavam a cantora Linda Ronstadt, e o bar de Dan Tana, ali pertinho, onde eles iam após os shows, nesses anos iniciais. Hoje, percebe-se que era um belo indicativo de que os dias da banda estavam chegando ao fim. Uma canção de despedida.

* O Troubadour é aquele mesmo clube no qual Elton John fez o seu primeiro show nos EUA, e que aparece no recente filme Rocket Man. James Taylor, Carole King e Linda Ronstadt, entre outros, viram suas carreiras serem alavancadas após terem tocado por lá.

Um álbum que merece ser reavaliado

Bill Szymczyk considera The Long Run o melhor dos trabalhos que produziu para os Eagles. Os integrantes da banda não costumam se referir a este álbum de forma muito entusiástica, mas provavelmente isso ocorre pela forma dolorosa e demorada com que este disco foi realizado. As dores do parto…

Analisado dentro da discografia dos Eagles, trata-se de seu LP com mais nuances, mais experimentações e tentativas, e praticamente todas deram certo. O projeto inicial deles era fazer um álbum duplo, e duas amostras das sobras foram incluídas na caixa retrospectiva Selected Works 1972-1999 (2000).

Uma é Born to Boogie, um blues elétrico, agitado e bastante cru. Outra, intitulada Long Run Leftovers, é uma colagem de trechos dessas tentativas de novas faixas. Vale lembrar que várias das músicas dos Eagles surgiam assim, especialmente as parcerias de Henley e Frey com Felder, sendo que este último normalmente enviava aos colegas fitas com diversas passagens instrumentais gravadas por ele que os caras desenvolviam posteriormente.

Hotel California surgiu assim, por exemplo, desenvolvida a partir daquela sequência harmônica inicial criada e dedilhada por Felder em sua guitarra.

O álbum mostra Don Henley assumindo de vez o vocal principal, com Glenn Frey, Timothy B. Schmidt e Joe Walsh aparecendo com solos eventuais e principalmente nas vocalizações, uma das marcas registradas da banda. Isso, além da alta qualidade dos músicos, que em um contexto tão abrangente como o de The Long Run, mostram sua categoria.

Ficam como legado alguns dos belos versos de The Sad Cafe: “we though we could chance the world with words like’love’ and ‘freedom’, some of your dreams came true, some just passed away” (“pensávamos que poderíamos mudar o mundo com palavras como amor e liberdade, alguns de seus sonhos se realizaram, outros se foram”, em tradução livre).

Teria sido uma bela despedida, pois a banda saiu de cena em 1980. E foi por durante 14 longos anos. Mas aí, veio a reunião e o CD Hell Freezes Over (1994), e o resto é história. Outra história, que a gente conta por aqui em outra ocasião.

I Can’t Tell You Why (clipe)- Eagles:

Eagles podem voltar se o filho de Glenn Frey aceitar convite

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Por Fabian Chacur

A carreira dos Eagles, uma das bandas de maior sucesso da história do rock americano, parecia encerrada após a morte do cantor, compositor e guitarrista Glenn Frey, em 18 de janeiro deste ano. Seu parceiro, o cantor, compositor e músico Don Henley, afirmou que não acreditava ser possível um retorno do grupo de country rock. No entanto, notícias publicadas nos últimos dias podem mudar o rumo das coisas na trajetória dos criadores de Hotel Califórnia.

As informações foram publicadas esta semana no site americano da Billboard, a bíblia da indústria fonográfica americana. Em entrevista concedida à Montreal Gazette, Henley teria dito que, em algum momento no futuro, essa reunião poderia, sim, ocorrer. A condição seria se o filho de Glenn Frey, o cantor e músico Deacon, de 22 anos, aceitasse integrar o time na vaga de seu pai. Vale lembrar que os Eagles foram fundados por Frey e Henley, seus líderes incontestes.

Em entrevista a um dos podcasts da Billboard, o baixista da banda, Timothy B. Schmit, afirmou não ter sido consultado sobre o tema, embora não descarte a possibilidade de uma eventual reunião. Ele lançou seu 6º disco solo, Leap Of Faith, com a participação da filha Jeddrah nas harmonias vocais da faixa All Those Faces.

Vale lembrar que no dia 15 de fevereiro deste ano, durante a cerimônia de entrega dos prêmios Grammy, houve uma homenagem a Glenn Frey da qual participaram Timothy B. Schmit, Joe Walsh e Don Henley, da mais recente formação dos Eagles, Bernie Leadon, da formação original da banda, nos anos 1970, e também o cantor, compositor e músico Jackson Browne, amigo deles e de quem os Eagles gravaram algumas composições, entre elas Take It Easy.

Take It Easy (ao vivo)- The Eagles:

Morre Glenn Frey, 67, um dos fundadores da banda Eagles

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Por Fabian Chacur

As mortes de nomes importantes no cenário musical estão aumentando de forma exponencial nos últimos tempos. Dá medo. Uma semana após David Bowie, agora é a vez do americano Glenn Frey nos deixar, nesta segunda-feira (18), aos 67 anos. Cantor, compositor e guitarrista, ele era o líder, ao lado do baterista, cantor e compositor Don Henley, dos Eagles, uma das bandas de rock mais bem sucedidas em termos comerciais da história do rock.

Nascido em Detroit no dia 6 de novembro de 1948, Glenn Frey deu seus primeiros passos rumo à fama tocando com o roqueiro Bob Seger (que ficou bem mais famoso nos anos 1970), no final da década de 60. Pouco depois, mudou-se para Los Angeles, onde montou com o cantor e compositor J.D. Souther a banda Longbranch Pennywhistle, que lançou um único álbum em 1969, sem muito sucesso.

Ambicioso, Frey encontrou o parceiro perfeito em 1970, Don Henley. Ambos queriam montar uma banda que pudesse explorar o então emergente country rock com a mesma qualidade técnica e artística dos Beatles. Ao lado de Bernie Leadon (guitarra) e Randy Meisner (baixo e vocal), criaram um time que chegou a acompanhar em 1971 a também iniciante cantora Linda Ronstadt. Não demorou para eles resolverem seguir seu próprio caminho, o que ocorreu em 1972.

The Eagles, o primeiro álbum, foi surpreendentemente gravado na Inglaterra, tendo como produtor Glyn Johns, conhecido por seus trabalhos com o The Who, The Who e os Rolling Stones, e inclui o primeiro hit dos caras, o delicioso country rock Take It Easy. Desperado, o segundo álbum, saiu em 1973, e com sua concepção conceitual não teve tanto sucesso, levando a banda a buscar novos rumos.

On The Border (1974) teve apenas duas músicas produzidas por Johns, com o resto do repertório ficando nas mãos de Bill Szymczyk e trazendo a entrada do guitarrista Don Felder. Ironicamente, o grande hit do álbum foi uma das duas trabalhadas por Glynn, a belíssima balada The Best Of My Love, que chegou ao primeiro lugar nos EUA como single.

Estava aberto o caminho para um estouro de verdade para o agora quinteto, que veio logo a seguir com o álbum One Of These Nights, primeiro trabalho da banda a atingir o topo da parada ianque. O sucesso do grupo foi tão grande que justificou poucos meses depois o lançamento da coletânea Their Greatest Hits 1971-1975, que vendeu 29 milhões de cópias e que só perdeu recentemente para Thriller, de Michael Jackson, a marca de álbum mais vendido da história nos EUA.

Com a saída de Bernie Leadon, o time cresceu com a entrada do já badalado pela crítica e público Joe Walsh, guitarrista, cantor e compositor que tinha em seu currículos bons trabalhos solo e com a banda James Gang. Sua estreia foi triunfal, em 1976, com o álbum Hotel California (1976), cuja faixa título se tornou um dos grandes standards do rock, apreciada por milhões de pessoas no mundo todo.

A fama manteve a banda na estrada o tempo todo e tornou complicada a gravação de um novo álbum, especialmente por causa dos problemas entre os músicos. The Long Run veio finalmente em 1979, com Timothy B. Schmidt na vaga de Bernie Meisner, e vendeu muito, considerado por alguns como seu melhor trabalho, mas a banda não conseguiu segurar a onda e em 1980, após uma briga feia entre Glenn Frey e Don Felder no fim de um show, encerrou suas atividades.

O clima entre os ex-colegas da banda após seu final era tão pesado que, ao ser perguntado sobre se seria possível um retorno, um de seus integrantes afirmava que isso só ocorreria “quando o inferno congelasse”. Enquanto isso não ocorria, todos investiam em projetos solo, sendo que Don Henley ficou com o respeito da crítica.

Henley também vendia muitos discos, enquanto seu ex-parceiro Frey ficou só com boas vendagens, pois os analistas musicais achavam sua obra solo muito comercial. Seja como for, ele emplacou músicas bem bacanas nos anos 1980, entre as quais The Heat Is On (tema do filme Um Tira da Pesada) e duas da trilha do seriado televisivo Miami Vice, You Belong To The City e Smuggler’s Blues, simples e diretas.

Em 1993, os grandes astros da música country de então resolveram gravar um álbum relendo músicas dos Eagles, a compilação Common Thread-The Songs Of The Eagles, e um dos participantes, Travis Tritt, convidou os ex-colegas de Eagles para participar do clipe de sua releitura (muito legal, por sinal) de Take It Easy. Eles se divertiram, começaram a conversar e….isso mesmo, o inferno congelou legal!

Com o divertido título Hell Freezes Over, os Eagles voltaram à ativa em 1994 com um ótimo disco ao vivo incluindo quatro faixas inéditas gravadas em estúdio, entre elas Get Over It, com a cara despretensiosa e direta do trabalho de Frey. O CD bateu no primeiro posto da parada americana, e a partir daí, a banda volta e meia encarava novas turnês, com direito a um novo e ótimo disco duplo de inéditas em 2007, Long Road Out Of Eden, outro campeão de vendagens.

A história da banda foi contada com maestria, belos depoimentos recentes e muito material bacana de estúdio no documentário History Of The Eagles (2013), lançado em DVD inclusive no Brasil. Nele, dá para viajar na trajetória de uma banda que, se não brilhou artisticamente como Beatles, Rolling Stones e outras desse porte, nos deixou um legado dos mais consistentes. Sim, deixou, pois dificilmente o time irá adiante sem Frey. O depoimento de Don Henley deixa isso bem evidente, embora não com todas as letras.

Take It Easy– The Eagles:

The Best Of My Love– The Eagles:

Get Over It– The Eagles:

Heartache Tonight – The Eagles:

The Heat Is On– Glenn Frey:

Documentário registra carreira dos Eagles

Por Fabian Chacur

History Of The Eagles, documentário sobre a seminal banda americana que acaba de ser lançada no Brasil pela Universal Music nos formatos DVD duplo e Blu-ray, não poderia começar melhor. Em entrevista concedida em 1977, quando a banda vivia o auge de sua primeira fase, o cantor, compositor e baterista Don Henley faz um comentário sobre a trajetória como músico.

“Bem, acho que essa não é uma carreira que você leve para a vida inteira”. Em segundos, é retrucado pelo cantor, compositor e guitarrista Glenn Frey, que criou a banda com ele em 1971. “Não é?”. Os dois caem na risada. Mal sabiam eles que, 35 anos depois, eles continuariam fazendo música juntos, mesmo passando por inúmeros altos e baixos, brigas e reconciliações etc etc etc (e tome etc!). No fim, deu tudo certo.

O grande mérito deste excepcional documentário produzido por Alex Gibney e dirigido por Alison Ellwood é não tentar esconder as partes polêmicas da história da banda americana criada em Los Angeles a partir de dois músicos que tocavam juntos na banda de apoio da então ascendente estrela do country rock Linda Ronstadt, exatamente Frey e Henley.

Com total colaboração de integrantes e ex-integrantes do time, The Story Of The Eagles abrange desde os tempos iniciais dos músicos, com direito a momentos das bandas da qual fizeram parte anteriormente, até a realização de Long Road Out Of Eden (2007), seu primeiro álbum de estúdio desde The Long Run (1979). O material aproveitado é vasto, com entrevistas atuais e também belos registros de todas as fases desse supergrupo americano.

Até mesmo making ofs das fotos de capa de alguns de seus álbuns são apresentados, trazendo cenas de shows, entrevistas com artistas relacionados à banda como Jackson Browne, J.D. Souther e Linda Ronstadt e depoimentos até mesmo de hoje “personas non gratas” perante a banda, como o empresário e dono de gravadoras David Geffen. Todos os ex-integrantes foram entrevistados, sem censura prévia.

O documentário é dividido em duas partes. Na primeira, com cerca de duas horas de duração, é contada a história dos Eagles de seu início até a primeira separação, ocorrida em 1980 após uma briga histórica entre Glenn Frey e o guitarrista Don Felder, cujo diálogo agressivo é reproduzido na íntegra em áudio. Depoimentos bem ácidos de Frey (especialmente) e de Felder também estão aqui.

Os álbuns gravados em Londres com a produção do lendário Glynn Johns (trabalhou com o The Who e os Rolling Stones, entre outros), o início com uma sonoridade country rock mais delicada, a entrada de Don Felder e Joe Walsh para dar um tempero mais rocker ao time (com a saída posterior do guitarrista original do time, Bernie Leadon), a saída do baixista e vocalista Randy Meisner em 1977 dando sua vaga a Timothy B. Schmidt, tudo é esmiuçado.

A segunda parte, com pouco mais de uma hora, mostra o que os músicos fizeram entre 1980 e 1990, quando tiveram início as primeiras tentativas sérias de se trazer a banda de volta, o que ocorreria de fato em 1994 com o álbum Hell Freezes Over, que teve o apoio da MTV. A importância do formato de rádio Classic Rock, a rejeição de Glenn Frey inicialmente, o retorno triunfal, está tudo lá.

Fica bem claro ao espectador que desde o início os Eagles buscavam o estrelato e a realização de um trabalho que aliasse perfeição técnica a forte apelo comercial. Ou seja, nunca rolou ingenuidade no roteiro deles, pois naquela época (início dos anos 70) o rock and roll se consolidava como uma indústria na qual fazer dinheiro era um dos pontos mais importantes.

Mesmo com essa mentalidade, o talento de seus integrantes, especialmente Henley e Frey, gerou uma obra que se perpetuou entre o que há de melhor na história do rock, especialmente o de viés americano, com aquelas influências perenes de rock and roll, country, folk, hard rock e soul music. Veja esse documentário sublime e sinta que esta é uma banda que vai muito além do Hotel Califórnia.

Trailer de The History Of The Eagles:

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