Por Fabian Chacur

Foram 33 longos anos de espera, graças ao veto de uma Ditadura Militar que tantos males trouxe ao nosso amado Brasil. No entanto, enfim chegou a hora de vermos e ouvirmos um show de Joan Baez. O realizado na noite desta segunda-feira (25) no Teatro Bradesco (SP) valeu cada um dos aproximadamente 85 minutos de duração, com direito até ao sumidíssimo Geraldo Vandré em cena.

Acompanhada por dois músicos excelentes, com alguns momentos reservados ao clássico estilo solo do voz e violão, Miss Baez rejeita seus 73 anos de idade com uma postura jovial, inspirada e energética. Desde o início, mostra uma voz belíssima, que explora com sensibilidade, bom-senso e um controle impressionante. Além disso, toca violão muito bem, dedilhando com suavidade e técnica, além de se valer de vários instrumentos conforme a canção assim o exigia.

A eterna rainha da música folk deu uma bela geral em seu repertório clássico, com direito a interpretações expressivas de Farewell Angelina, It’s All Over Now Baby Blue (a minha favorita da noite), The Boxer, Joe Hill, Gracias a La Vida, Swing Low Sweet Chariot e Diamonds And Rust. Esguia e ainda muito bela, esbanjou simpatia e carisma em cada papo com o público, calculado em pouco mais de 1.400 pessoas.

Como faz habitualmente, ela agracia a plateia presente com releituras de clássicos locais, o que no caso brasileiro significou Mulher Rendeira, Maria Bonita e Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores. Esta última teve, como na noite anterior, a presença no palco de Geraldo Vandré, seu célebre autor e figura totalmente sumida da mídia desde os já longínquos anos 70. O público vibrou de emoção ao presenciar esse tocante encontro.

Desta vez usando terno e bem alinhado, Vandré não cantou, mas recitou alguns versos em homenagem à cidade de Sâo Paulo. Depois, ficou fora do palco durante a belíssima interpretação de Joan, voltando para cumprimentar os músicos e a cantora em um abraço coletivo daqueles de fim de show. Um momento histórico que recebeu uma salva de palmas daquelas bem calorosas e intensas.

Uma bela vantagem para quem viu o segundo, e não o primeiro show em São Paulo. Nesta segunda (24), Miss Baez cantou ela mesma Blowin’ In The Wind, e nos poupou de uma nova e bizarra interpretação do caricato senador Eduardo Suplicy, um político respeitável que, no entanto, às vezes insiste em não ter senso de ridículo, estragando espetáculos alheios. Bob Gruen que o diga (leia sobre esse mico aqui).

No fim do espetáculo, após ter interpretado outro clássico pacifista, Imagine (de John Lennon), Joan Baez interpretou a capella (só voz) a maravilhosa Amazing Grace, conseguindo fazer com que o público a acompanhasse. Nada como viver em um regime democrático no qual temos o direito de ouvir uma artista que consegue ser politicamente engajada sem deixar a musicalidade de lado. De lavar a alma!

Veja o show de Joan Baez em SP realizado em 23 de março de 2014: