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The Immediate Family, uma bela banda só com cobras do soft rock

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Por Fabian Chacur

Juntos, Danny Kortchmar (guitarra e vocais), Leland Sklar (baixo) e Russel Kunkel (bateria) integraram a mais famosa banda de apoio de James Taylor nos anos 1970, participando de álbuns e shows desse grande compositor. Waddy Wachtel (guitarra e vocal) tocou com Linda Ronstadt, o próprio James Taylor, Keith Richards, Jackson Browne e muitos outros. Acrescidos do ótimo Steve Postell (vocal e guitarra), eles resolveram em 2020 encarar os holofotes com um trabalho autoral, com o nome The Immediate Family. E seu primeiro álbum saiu há pouco.

Tudo começou quando Kortchmar recebeu o convite de uma gravadora japonesa para fazer um disco solo. Ele convidou seus amigos para participar do trabalho, e aos poucos sentiu que aquilo deveria gerar algo mais coletivo. E, dessa forma, nascia uma banda de músicos não só experientes, mas com grande entrosamento entre si, que além dos nomes já citados, também trabalharam com Don Henley (dos Eagles), Phil Collins, Stevie Nicks, Warren Zevon e outros do mesmo calibre, tanto em álbuns e shows como em parcerias em canções de alguns deles.

O resultado, até agora, são dois EPs e um álbum que leva o nome do grupo como título. O som deles segue a linha do blues rock, com direito a muito swing, peso e categoria. Das músicas feitas por eles especialmente para o grupo, vale destacar o quase hard rock Divorced (veja o clipe aqui), o blues rock Cool Twist (veja o clipe aqui) e o delicioso boogie rock a la ZZ Top Slippin’ and Slidin’.

Eles também fizeram uma releitura bem bacana de New York Minute (veja o clipe aqui), parceria de Kortchmar com Don Henley que este último lançou em seu ótimo álbum solo The End Of The Innocence (1989) e que os Eagles também gravaram em seu álbum ao vivo Hell Freezes Over (1984).

O legal é que, apesar de serem músicos tecnicamente excepcionais, eles usam todo o seu talento em função das canções, o que gerou um álbum delicioso de se ouvir e sem exibicionismos tolos, como às vezes ocorre quando caras desse gabarito se reúnem para um trabalho próprio. Além disso, fica bem claro o prazer com que esses caras tocam juntos. Vale e muito a pena ouvir o álbum The Immediate Family e os dois EPs.

Slippin And Slidin’ (clipe)- The Immediate Family:

Mud Slide Slim And The Blue Horizon (Warner-1970), álbum que consagrou James Taylor

james taylor mud slide slim capa

Por Fabian Chacur

Em 1º de março de 1971, a revista americana Time, uma das mais importantes e influentes do mundo, estampou em sua capa um músico, algo não muito comum. O personagem em questão era James Taylor, que com seu álbum Sweet Baby James (1970, leia sobre o mesmo aqui) tornou-se o nome de ponta de um novo estilo musical rotulado por alguns como bittersweet rock (rock agridoce). O título dava bem o tom de como o cantor, compositor e musico era encarado naquele momento: “The Face Of New Rock”.

Logo a seguir, no dia 16 do mesmo mês, Taylor concorreu pela primeira vez ao Grammy, o Oscar da música, e logo em duas categorias, Record Of The Year e Album Of The Year, respectivamente com Fire And Rain e Sweet Baby James, perdendo em ambas para Simon & Garfunkel e seu Bridge Over Trouble Water (single e álbum). Como a dupla havia se separado há pouco, era como se fosse um prêmio de despedida para eles, pois no ano seguinte, seria a vez do perdedor dessa ocasião levar os louros.

Era em torno de uma grande expectativa, portanto, que o mundo musical aguardava pelo 3º álbum de James Taylor. Conseguiria ele confirmar toda essa badalação em torno de suas belas canções de tom melancólico, confessional e ao mesmo tempo encantadoras? Ou estaríamos mais uma vez diante de um artista com pouco fôlego para dar sequência a um sucesso tão contundente nos EUA e no resto do mundo?

A resposta começou a ser dada em abril, quando chegou às lojas Mud Slide Slim And The Blue Horizon. Trata-se de um trabalho que percorre basicamente os mesmos caminhos musicais do anterior, mas investindo em sutilezas, consolidação das sonoridades e uma inspiração no mesmo alto padrão de Sweet Baby James. Há fatores que auxiliaram nesse amadurecimento musical, nessa verdadeira lapidação do diamante que Taylor aparentava ser desde suas primeiras gravações, em 1966-67.

Tudo começa com o elenco de músicos escalados para este disco. Além do velho amigo Danny Kortchmar na guitarra e do extremamente consistente Russel Kunkel na bateria, e também da amiga Carole King no piano e vocais, foi acrescido ao time o baixista Lelank Sklar, que com suas linhas de baixo flutuantes e elegantes deu ao time a peça que lhe faltava. O entrosamento deles deu à voz deliciosa, às composições impecáveis e ao violão dedilhado de forma marcante de Taylor um acompanhamento simplesmente perfeito, sem excessos ou buracos.

Com essa roupagem, as 13 canções incluídas no álbum foram apresentadas ao público da maneira mais atrativa possível. E os fãs que compraram o trabalho anterior passaram imediatamente a consumir com avidez este novo, especialmente impulsionados por um single que é curiosamente uma das únicas duas faixas a não levar a assinatura de Taylor, You’ve Got a Friend, uma das obras-primas dessa incrível e icônica Carole King.

Atraído por essa música logo na primeira vez que a ouviu, ele pediu autorização à amiga para gravá-la também, já que Carole também a havia separado para seu próximo trabalho. Generosa, a moça não criou obstáculos, e obviamente se deu bem, pois deve ganhar uma boa grana até hoje com os direitos autorais provenientes da versão de Taylor. Uma curiosidade: ele toca na gravação dela, mas ela não participa da dele, que não inclui teclados.

Essa bela ode à amizade é um oásis de positividade em um universo de canções que evocam amores não concretizados, paixões sendo encerradas com dor e a constatação de que o mundo do sucesso não é esse doce todo que muitos pensam ser. As melodias encantadores mascaram versos que, por vezes, invocam ironia, amargura e uma nostalgia curiosa para alguém que completou apenas 23 anos no dia 12 de março daquele 1971.

O álbum abre com a incisiva Love Has Brought Me Around, na qual o autor dá a entender que não aguenta mais a pessoa com quem está tendo um relacionamento afetivo e resolve que chegou a hora de o amor o levar para algum outro lugar. Há uma curiosidade em torno dessa canção, pois ela parece uma mensagem quase direta à cantora canadense Joni Mitchell, com quem ele tinha tido um tórrido caso de amor que à época do lançamento deste LP já havia se desfeito, e de forma desagradável, gerando uma inimizade que durou uma década, até que os dois voltassem a ser amigos.

Ele, inclusive, refere-se à personagem da canção como “Miss November”, e Mitchell nasceu nesse mês, no dia 7. No entanto, ela participa desta faixa, fazendo vocais de apoio. Será que Taylor seria indelicado a ponto de convidar a musa dessa verdadeira canção de “passa, moleca!” para marcar presença na mesma? Fica o ponto de interrogação. Outro destaque fica por conta da participação do Memphis Horns, uma das mais quentes sessões de metais de todos os tempos, capitaneada por Wayne Jackson e Andrew Love.

You’ve Got a Friend, também com Mitchell nos vocais de apoio, vem a seguir para amainar um pouco o clima, com seu arranjo acústico calcado em violões (Taylor e Kortchmar), percussão e baixo. Uma delícia sonora!

Com Taylor curiosamente no piano, Places In My Past relembra de forma evocativa antigas paixões que, se não geraram uma esposa (como ele mesmo diz na letra), deixaram marcas que às vezes até geram lágrimas pelas saudades geradas pelos dias preguiçosos com aquelas belas garotas, naqueles “lugares do meu passado”.

Riding On A Railroad é a primeira profissão de fé deste álbum na missão estradeira de um cantor e compositor, levando as canções de cidade a cidade, dia após dia. O clima é de puro country, com destaque para o acompanhamento de fiddle (rabeca) de Richard Greene.

Soldiers registra momentos que Taylor presenciou quando era criança-adolescente, vendo o retorno de soldados (da Guerra da Coreia ou do Vietnã), vários deles feridos, comentando que de um destacamento de 20, por volta de 11 não retornaram, “com 11 tristes histórias a serem contadas”.

Mud Slide Slim (a música tem nome reduzido em relação ao título do álbum) soa como uma curiosa visão do mundo, que ele encara como se fosse uma espécie de cowboy, um “Magrelo Enlameado e Escorregadio”, tendo como pano de fundo uma sonoridade com dna latino e dando mais espaços para os músicos mostrarem suas habilidades, sem no entanto cair em improvisações excessivas ou coisa que o valha. A curiosidade fica por conta dos vocais de apoio de sua irmã Kate, que lançaria depois um álbum produzido por ele.

Hey Mister That’s Me Up On The Jukebox, uma vigorosa balada rock, reveste-se de fina ironia e equivale ao uso de metalinguagem, pois fala do próprio ato de cantar para ganhar a vida. “Ei, senhor, sou eu quem você ouve cantando lá naquela jukebox, sou eu quem está cantando essa canção triste, vou chorar toda vez que você colocar outra moeda na máquina”. Fire And Rain?

Valendo-se só de sua voz e violão, Taylor nos oferece uma bela canção de despedida, You Can Close Your Eyes, na qual ele afirma que “não conheço mais canções de amor, e não posso mais cantar blues, mas posso cantar esta canção, e você pode cantar essa canção quando eu for”. Um belo ode a um momento que ficará na memória, um tempo que não será tirado do casal, e durará para sempre na memória. Poesia pura!

Machine Gun Kelly, a outra canção do disco não escrita por Taylor (é de Danny Kortchmar), é um country rock vigoroso (dentro do contexto dele, obviamente) que novamente flerta com o espírito do velho oeste, seus bandoleiros e seus tristes destinos. Aqui, temos vocais de apoio do grande Peter Asher, produtor do álbum e figura decisiva na carreira de James Taylor, sem o qual provavelmente não teríamos o sucesso de nosso trovador pop.

Long Ago And Far Away é outra daquelas canções que casais brasileiros seriam tentados a dançar juntos, coladinhos, tal a beleza de sua melodia. Se soubessem o conteúdo de sua letra, no entanto, talvez pensassem melhor. Outra música de despedida, com versos cortantes como “porque seus arco-íris dourados acabam, porque essa canção que eu canto é tão triste?” E, ironia suprema, adivinhe quem faz vocais de apoio (belíssimos, por sinal) nesta maravilha? Ela, Joni Mitchell.

O momento soul-blues do álbum fica por conta de Let Me Ride, que traz ecos de canções do disco de estreia de Taylor, com direito a vocais de apoio de Kate Taylor e os matadores Memphis Horns. Mais uma profissão de fé na estrada como a grande necessidade dele. E logo a seguir vem outra canção com esta temática, Highway Song, com Kate e Peter Asher nos vocais. Mas as contradições ditam seus versos.

Se por um lado James se diz fascinado e de certa forma hipnotizado pela estrada, ao mesmo tempo deixa no ar uma vontade de que “um dia essa canção da estrada perca o encanto para mim”. E o álbum fecha com a curta, quase vinheta, Isn’t It Nice To Be Home Again, na qual não fica claro se o lar a que ele se refere é de fato um lar ou apenas mais um quarto de hotel da vida. Um fim aberto, como só poderia ser para alguém com tantas dúvidas e carências naquela época como esse genial James Taylor.

Com o apoio dos shows e também das execuções das músicas em rádios e TVs, o single You’ve Got a Friend atingiu o 1º lugar na parada americana, enquanto Mud Slide Slim And The Blue Horizonchegou ao 2º lugar. E aí entrar uma grande ironia: o LP não conseguiu atingir o topo por causa do estouro do álbum lançado na mesma época pela “sua” pianista. Tapestry, de Carole King, esteve durante 15 longas semanas no 1º lugar nos EUA, enquanto seu single It’s Too LateI Feel The Earth Move liderou entre os singles por 5 semanas.

Na edição do Grammy referente a 1971 cujos prêmios foram entregues em março de 1972, Taylor venceu na categoria melhor performance pop vocal com You’ve Got a Friend, enquanto Carole King faturou outros quatro. Curiosidade: a eleita como artista revelação foi Carly Simon, que há alguns meses havia iniciado uma relação afetiva com James Taylor. Eles se casaram naquele mesmo ano, tiveram dois filhos e se separaram em 1983.

Duas curiosidades finais: o elo entre James Taylor e Carole King foi Danny Kortchmar, que após ter integrado o primeiro grupo de James Taylor, o Flying Machine, criou com a cantora e compositora a banda The City, que também contava com o baixista Charles Larkey, então marido dela. Eles lançaram um álbum em 1968, o ótimo Now That Everything’s Been Said, com pouca repercussão, e em seguida Carole resolveu seguir carreira-solo, mas com os dois a acompanhando.

E, não, James e Carole nunca foram namorados. Eles desde sempre foram grande amigos, sendo que, nessa época decisiva de sua vida, King foi uma espécie de confidente dele, ajudando-o a superar suas dificuldades emocionais. E, não também, You’ve Got a Friend não foi composta para ele.

Na entrevista coletiva concedida por Carole King em 1990 em São Paulo quando esteve por aqui para fazer shows, um reporter desinformado perguntou a ela sobre seu “casamento” com James Taylor, e ela, bem-humorada, disse que “Carly Simon chegou primeiro”.

Ouça Mud Slide Slim And The Blue Horizon em streaming:

Sweet Baby James (1970) tirou James Taylor do anonimato

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Por Fabian Chacur

Entre os 20 álbuns de estúdio gravados por James Taylor, Sweet Baby James, lançado em fevereiro de 1970, possui uma importância imensa. Trata-se do trabalho que o tirou do anonimato e o impulsionou rumo ao estrelato em termos mundiais, graças especialmente à faixa Fire And Rain, seu primeiro grande hit. De quebra, ainda abriu as portas para o sucesso comercial de uma vertente importante da musica, o bittersweet rock, pontuado por melodias doces e envolventes abrigando letras sobre duras e amargas experiências da vida real de seus autores.

Este álbum atingiu o 3º lugar na parada de sucessos americana, onde se manteve por dois longos anos, e vendeu até hoje naquelas plagas em torno de três milhões de cópias. Também foi bem no Reino Unido, onde ocupou o 6º posto, e no resto do mundo, Brasil incluso. O single Fire And Rain obteve o mesmo nº 3 nos EUA. São números expressivos, que o artista repetiria nos anos seguintes.

O legal é saber que, se levarmos em conta toda a estrada percorrida por Taylor até lançar esse disco, chega a ser um milagre não só esse resultado incrível ter sido obtido em termos comerciais e artísticos, mas o simples fato de o seu autor ter conseguido se manter vivo para gravá-lo.

Aí vai um relato no melhor estilo textão de como foi essa incrível trajetória, repleta de idas e vindas e, felizmente, com um final mais do que feliz.

Um cowboy suave e solitário

James Vernon Taylor nasceu em 12 de março de 1948 em Boston, mas passou boa parte da infância e adolescência no estado da Carolina do Norte, curtindo as férias de verão na Martha’s Vineyard, uma ilha na costa nordeste dos EUA. E foi ali que conheceu um garoto dois anos mais velho do que ele, Danny Kortchmar, morador de Nova York e que se mostraria decisivo em sua vida profissional.

Desde cedo, o interesse pela música levou o segundo de uma família de cinco irmãos a aprender a tocar instrumentos musicais, sendo que o violão se tornou o seu favorito. Ouvindo Woody Guthrie, rock and roll, country, rhythm and blues e folk, aos poucos moldou uma sonoridade própria no violão, marcada por seu dedilhado característico e fluente.

Em 1965, no entanto, obstáculos surgem à sua frente. Logo de cara, uma forte depressão o leva a optar por um tratamento psiquiátrico que durou longos nove meses. Quando esse difícil processo teve fim, ele foi encorajado por Danny Kortchmar a não só se mudar para a efervescente Nova York, como a criarem uma banda. Isso se concretizou em 1966, com o nome The Flying Machine.

O novo grupo, que também incluía Joel O’Brien (bateria) e Zachary Wiesner (baixo), gravou um single para o selo Jubillee com as músicas Night Owl e Brighten Your Night With My Day. Eles registraram outras faixas, mas o insucesso comercial do single levou a gravadora a abdicar de lançá-las, o que precipitou o fim do grupo, algo acelerado por novos problemas de Taylor, agora ligados ao vício em heroína, contraído naquela megalópole.

Como sempre costuma ocorrer nesses casos, as faixas arquivadas pela Jubilee acabaram sendo lançadas em 1971, quando Taylor havia se tornando uma estrela pop, no álbum James Taylor And The Original Flying Machine, que o artista não só repudia como fez questão de escrever “bootleg” (pirata) no autógrafo que me deu em 1994 em sua versão em vinil. Ele não autorizou esse lançamento.

Curiosamente, uma banda britânica também chamada The Flying Machine fez bastante sucesso em 1969, inclusive no Brasil, com a deliciosa balada Smile a Little Smile For Me, o que ainda hoje leva algumas pessoas a pensarem se tratar do mesmo grupo, o que não é verdade.

Nova internação, operação na garganta e Londres

A passagem de James Taylor por Nova York rendeu ao artista não só o vício em heroína como também danos em suas cordas vocais devido à forma inadequada como as usava em shows e gravações. Além do tratamento para tentar se livrar das drogas, ele de quebra teve de operar a garganta para resolver esse problema.

No final de 1967, sentindo-se pronto para continuar a investir na carreira musical, resolveu tentar a sorte em Londres, naquele momento a verdadeira meca do novo rock, graças especialmente aos Beatles. Com um contato feito através do amigo Danny Kortchmar, ele teve a oportunidade de conhecer Peter Asher, que surgiu no meio artístico como integrante da dupla Peter & Gordon, conhecida pelo sucesso com canções compostas por Lennon & McCartney como A World Without Love e Nobody I Know.

Com o fim da dupla, Asher iniciava na época a carreira como produtor, e foi um dos escolhidos para trabalhar na gravadora que os Beatles criaram em 1968, a Apple. Ao ouvir as canções de Taylor, ele se apaixonou de imediato e conseguiu convencer seus patrões a contratá-lo.

Gravado de julho a outubro de 1968, James Taylor (o álbum) recebeu elogios por parte da crítica e possui boas canções e alguns momentos bem interessantes, mas padece dos pomposos arranjos de cordas a cargo de Richard Hewson, com direito a pequenos interlúdios entre uma canção e outra. Os arranjos também não ajudaram, assim como os vocais do artista ainda pareciam buscar seu melhor caminho. Nem a participação de Paul McCartney tocando baixo em Carolina In My Mind deu força significativa ao álbum.

Para piorar ainda mais as coisas, dois fatores adicionais foram decisivos para que o disco de estreia do artista americano fosse um fracasso comercial: a falta de organização da Apple, que só conseguia divulgar bem os trabalhos dos próprios Beatles, pecando em relação a seus contratados, e a novos problemas de saúde de Taylor.

Sim, acredite se quiser. Outra vez as drogas entraram no caminho do cantor e compositor, desta vez aparentemente para tirá-lo de cena de uma vez por todas. Como teve de voltar para os EUA, ele estava internado quando o álbum foi lançado, e isso obviamente também prejudicou e muito seu lançamento, sem shows ou divulgação em rádios e TVs. Pelo visto, era mais um caso perdido na cena musical.

Volta aos EUA, Warner e enfim o sucesso

Se muita gente jogou a toalha para aquele jovem então com 21 anos de idade, dois caras se mostraram decisivos para que a vaca não atolasse de vez no brejo. Um foi Peter Gordon. Mesmo diante de tanta encrenca, ele continuou acreditando no potencial artístico de Taylor, a ponto de pedir as contas na Apple e se mudar para os EUA junto com o artista, tornando-se seu produtor e empresário.

O outro, como você provavelmente já deve ter deduzido, foi Danny Kortchmar, que não só o auxiliou nesse momento tão difícil como de quebra se tornou o guitarrista de sua banda de apoio. Após alguns meses de internação, Taylor volta com o objetivo de dar de vez a volta por cima. E ele consegue uma temporada de seis shows em julho de 1969 no Troubadour, badalada casa de shows em Los Angeles e verdadeiro celeiro da nova geração do rock americano.

Lá, ele conheceu Carole King, uma consagrada compositora que naquele momento iniciava sua trajetória como artista solo, cantando e se acompanhando ao piano. A amizade entre os dois a levou a também ingressar em sua banda de apoio como pianista. A ótima repercussão dos shows no Troubador e também no festival folk de Newport naquele mesmo julho criaram a expectativa de que, enfim, as coisas iriam adiante.

Só que mais um último obstáculo surgiria à frente desse destemido cowboy musical. Um acidente de moto lhe rendeu fraturas nos braços e nas pernas, mais uma vez o tirando de cena. Felizmente, ele não demorou tanto assim para se recuperar, e Asher conseguiu para ele um contrato com a gravadora Warner, que o colocou em estúdio em dezembro de 1969 com o intuito de gravar um novo álbum. Nascia, então, Sweet Baby James.

O disco certo na hora certa

1970 foi um ano de muitas mudanças no cenário musical. De um lado, os Beatles e Simon & Garfunkel chocavam o mundo ao anunciaram suas separações. Jimi Hendrix e James Joplin nos deixaram de forma trágica, ambos com apenas 27 anos de idade. Do outro, novos nomes apareciam com propostas diferenciadas e muitas vezes opostas, como o som pesadíssimo do Black Sabbath, o progressivo de Yes, Genesis, King Crimson e Pink Floyd e um certo David Bowie, intrigando a todos com sua versatilidade.

Em meio a tudo isso, também tínhamos alguns cantores e cantoras que, influenciados por folk, country e rock, propunham uma sonoridade mais introspectiva, centrada nos violões e nas vocalizações, quase um contraponto à psicodelia e ao que viria a se transformar no hard-heavy rock. E coube justamente a James Taylor ser aquele artista a abrir as portas para que os outros seguidores dessa vertente tivessem espaços na mídia e nas gravadoras.

Desta vez, Peter Asher soube dirigir de forma mais eficaz a produção, centrando esforços para que os pontos de maior destaque fossem as canções, devidamente conduzidas pela agora impecável voz de Taylor e por seu violão robusto e até simples, mas de uma assinatura forte e cativante.

Para acompanhá-lo, além de Kortchmar e Carole, um time de músicos talentosos, tarimbados e capazes de seguir as diretrizes daquela sonoridade, entre os quais o baterista Russell Kunkel, que tocaria com Taylor durante muitos anos. Randy Meisner, que em 1971 integraria a formação original dos Eagles, marca presença tocando baixo nas faixas Country Road e Blossom. Outros nomes bacanas são John London (baixo) e Red Rhodes (steel guitar).

Com o repertório bem ensaiado, as gravações não demoraram muito, tendo sido realizadas entre os dias 8 e 17 de dezembro de 1969 no estúdio Sunset Sound, em Los Angeles.

Fire and Rain, um desabafo repleto de dor e emoção

Fire And Rain, a canção mais conhecida deste álbum, equivale a um retrato doído do momento difícil pelo qual James passava naquele 1968. Começa com a notícia tardia do suicídio de uma amiga de infância, Suzanne Schnerr. A morte ocorreu durante as gravações de James Taylor (o álbum), mas a notícia só foi revelada a ele após os trabalhos terem sido encerrados, o que o desagradou bastante.

“Just yesterday morning they let me know you were gone, Susan the plans they made put an end to you” (apenas na manhã de ontem eles me deixaram saber que você se foi, Susan, os planos que eles fizeram puseram um fim em você).

A seguir, ele deixa clara sua intenção, e também suas próprias aflições: “I walked out this morning and I wrote down this song, I just can’t remember who to send it to” (eu levantei essa manhã e escrevi esta canção, eu só não consigo me lembrar de para quem eu a irei enviar).

O relato fica ainda mais forte quando ele relembra simbolicamente que viu fogo e viu chuva, dias de sol que nunca passavam. Ou seja, muita dor. E completa: “I’ve Seen Lonely Times When I Could Not Find a Friend” (vi tempos solitários, quando não pude encontrar um amigo).

Outro trecho marcante é “Sweet dreams and flying machines in pieces on the ground” (sonhos suaves e flying machines em pedaços no chão), sendo que aí a citação ao fim precoce de seu grupo The Flying Machine é direta.

Acompanhados por uma melodia impecável e um acompanhamento instrumental na medida certa, Fire And Rain é até hoje uma das canções mais pedidas nos shows de James Taylor. Ele até brincou com isso na letra de uma canção que lançou em 1985, That’s Why I’m Here: “fortune and fame’s such a curious game, perfect strangers can call you by name, pay good money to hear Fire And Rain, again and again and again” (fortuna e fama é um jogo curioso, pessoas que você certamente não conhece podem te chamar pelo nome, pagar um bom dinheiro para ouvir Fire And Rain mais uma vez, e outra, e outra)

As outras canções de Sweet Baby James

As onze canções incluídas Sweet Baby James trazem como temas gerais a solidão, o sofrimento, a esperança, o amor, a estrada percorrida e os diversos caminhos da vida, como ilustra bem a já analisada Fire And Rain. Apenas uma não é de autoria de James Taylor. Trata-se de Oh! Susanna, composição de Stephen Foster lançada no longínquo 1847 e provavelmente a mais conhecida e popular canção folclórica americana de todos os tempos, aqui em uma releitura descontraída e personalizada.

A faixa que dá nome ao disco, constante nos set lists de Taylor desde então, é uma valsa country na qual ele se descreve como uma espécie de cowboy solitário, que sonha com garotas e copos e mais copos de cerveja e vive na estrada, nas montanhas e sem rumo. Bem um retrato dele naquela época, pois se revesava em casas de amigos, sem ter um lar fixo.

Lo And Behold é um blues a la James Taylor que questiona de forma bem-humorada os dogmas da religião. Singela, Sunny Skies divaga em torno de montanhas ensolaradas e alguma garota com esse nome-apelido.

Steamroller (também conhecida como Steamroller Blues) também frequenta os shows de Mr. Taylor até hoje, e é um blues mais ardido e também mais próximo dos parâmetros tradicionais deste gênero musical.

Outro momento mais conhecido do álbum, Country Road é um soft rock estradeiro, outra com Jesus no meio (ele é citado em várias das canções, por sinal, prova do aparente conflito do artista naquela fase de sua vida com as religiões). Blossom investe em delicadeza e louva uma garota, enquanto Anywhere Like Heaven também nos coloca de frente a divagações existenciais de um estradeiro.

Oh, Baby, Don’t You Loose Your Lip On Me é outro blues, bem curto e de teor bem sacana, por sinal.

A faixa que encerra o álbum, Suite For 20 G, tem uma origem bem divertida. Taylor estava na fase final do álbum, e ficou acordado com a gravadora que ele receberia 20 mil dólares (hoje equivalente a algo em torno de 140 mil dólares) logo que completasse o disco.

Como forma de acelerar o processo e por rapidamente a mão nessa grana toda, ele reuniu três canções inacabadas que tinha em mãos e fez essa suite, que no fim das contas ficou bem legal, com direito a citação de títulos de clássicos do rock and roll como Bonnie Moronie, Peggy Sue e Rockin’ Pneumonia And The Boogie Woogie Flu.

Um modelo para os próximos álbuns

Pode-se dizer sem susto que Sweet Baby James criou os parâmetros a partir dos quais os próximos álbuns de James Taylor seriam concebidos. Não só os dele, por sinal, mas os de muitos outros seguidores do bittersweet rock. Ele achou seu timbre de voz e o som ideal do seu violão neste álbum.

Em 16 de março de 1971, James Taylor concorreu na 13ª edição do Grammy nas categorias Record Of The Year (com Fire And Rain) e Album Of The Year (com Sweet Baby James), mas perdeu em ambas para Simon & Garfunkel com seu icônico Bridge Over Troubled Water (single e álbum).

No futuro, ele ganharia cinco desses troféus, venderia milhões de cópias de seus discos, tocaria para plateias lotadas nos quatro cantos de mundo, emocionaria as plateias de um certo festival realizado em janeiro de 1985 e muito mais, mas isso a gente conta em outra ocasião. Nada mal para alguém que ficou tão perto da morte ainda muito cedo, e que viu tanto fogo e tanta chuva. Um sobrevivente dos bons!

Ouça Sweet Baby James em streaming:

James Taylor lança “Teach Me Tonight”, de American Standard

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Por Fabian Chacur

No próximo dia 12 de março, James Taylor completará 72 anos, mas quem vai ganhar o presente serão os seus inúmeros fãs, e com antecedência. Alguns dias antes, em 28 de fevereiro, o selo Fantasy, ligado ao conglomerado da Universal Music, colocará no mercado musical American Standard, álbum de estúdio que sucede Before This World (2015), o primeiro do grande cantor, compositor e músico americano a atingir o topo da parada americana.

Coincidência ou não, em fevereiro completará 50 anos de lançamento Sweet Baby James(1970), segundo álbum da carreira do astro americano e aquele que o elevou ao estrelato mundial, com hits do porte de Fire And Rain, Country Road e a faixa-título. Este trabalho atingiu o 3º posto na parada americana e o de número 6 no Reino Unido, na época.

Como forma de atiçar a curiosidade do público, já está disponível o primeiro single do álbum, a deliciosa Teach Me Tonight. Trata-se da releitura de hit de 1954 da cantora de jazz e r&b Dinah Washington, e que ganhou uma roupagem minimalista, delicada e com a cara do trabalho de Taylor. A versão da saudosa diva da música faz parte do Grammy Hall Of Fame de canções, com toda a justiça.

Como o título do álbum já dá a dica, American Standard traz o grande nome do bittersweet rock e um dos criadores dessa vertente do rock revisitando clássicos da música americana, canções extraídas de musicais da Broadway, filmes e fontes similares, entre as quais podemos citar Moon River.

A produção foi dividida por James com Dave O’Donnell (produtor e engenheiro de som que já trabalhou com ele e artistas como Eric Clapton, John Mayer, Keith Richards e Ray Charles) e John Pizzarelli. Este último, conhecido por sua brilhante carreira como jazzista, também divide os violões com Taylor, em duetos que são o alicerce dos arranjos do álbum, elegantes e investindo em uma sonoridade delicada e intimista.

Ouça Teach Me Tonight, de James Taylor:

Before This World mostra um James Taylor bem inspirado

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Por Fabian Chacur

James Taylor é o que se pode chamar de um estilista da canção. Ótimo violonista e cantor de voz deliciosa, o astro americano prima pelo capricho e pela inspiração em seus trabalhos. Tanto que não é de lançar disco toda hora. Before This World, seu novo CD, é o primeiro de inéditas desde October Road (2002), e sua estreia no número 1 da parada de álbuns nos EUA (leia mais aqui). Discaço!

Nesses 13 anos sem canções novas, Taylor nos proporcionou um disco natalino (A Christmas Album-2004), um ao vivo (One Man Band-2007), um de covers (Covers-2008) e o histórico ao vivo Live At Troubadour (2010-leia crítica aqui ), este último em dupla com a amiga Carole King. Ou seja, continuou fazendo coisas boas e trabalhando bastante.

Esse retorno às inéditas não poderia ter sido mais legal. No encarte que acompanha o CD, lançado no Brasil pela Universal Music, ele afirma que até tirou um tempo especialmente para compor, algo que já não fazia há algum tempo. De quebra, montou uma banda com ótimos músicos, entre os quais o guitarrista Michael Landau, o percussionista Luis Conte e o baterista Steve Gadd, feras do primeiro escalão da música pop.

Não há arestas aqui a serem aparadas. Temos dez músicas, todas muito boas. Sting marca presença na belíssima faixa título, da qual também participa o músico Yo-Yo Ma (que também toca na balada You And I Again). O repertório é um mergulho no universo habitual de Taylor, com direito a folk, country, rock e pitadas de pop e jazz aqui e ali.

Today Today Today tem aquela levada folk pra cima que marca hits como Your Smiling Face, enquanto Stretch Of The Highway equivale a um rock manso. Watchin’ Over Me é um rock de acento country com refrão expressivo, e Angels Of Fenway possui um tempero gospel delicioso. As evocativas Montana e Showtime são cativantes, assim como Far Afghanistan, momento mais politicamente engajado do trabalho.

Before This World é um trabalho de um artista fiel a seus caminhos musicais, que no entanto não cai em repetições. Suas sutilezas vão aparecendo a cada nova audição, e certamente deliciarão seus milhões de fãs mundo afora. Aos 67 anos, James Taylor se mostra inspirado, lúcido e capaz de nos oferece novas e belas canções.

Before This World– James Taylor (ouça em streaming):

James Taylor tem o álbum nº1 pela primeira vez nos EUA

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Por Fabian Chacur

Diz aquele velhíssimo ditado que “quem espera sempre alcança”. Nem sempre, como todos sabemos. Mas no caso de James Taylor, a frase se concretizou. Pela primeira vez em seus quase 50 anos de carreira, o brilhante cantor, compositor e músico norte-americano emplaca um álbum no primeiro lugar da parada americana, com Before This World (Concord Records).

Segundo informações do site americano da revista Billboard, a bíblia da indústria fonográfica mundial, o novo álbum de Taylor vendeu em sua semana de lançamento em torno de 97 mil cópias, o que lhe proporcionou a façanha. Até então, o mais próximo que ele havia se aproximado do topo da parada de álbuns nos EUA foi em 1971, quando Mud Slide Slim And The Blue Horizon chegou ao número 2.

Segundo a mesma matéria, foram 45 anos de espera desde que o astro do bittersweet rock entrou pela primeira vez nos charts ianques. Maior espera só ocorreu no caso de Tony Bennett. O jazzista esperou de 1957 até 2011 para pontear a parada americana pela primeira vez, o que ocorreu graças ao álbum Duets II (2011). 54 longos anos!

Vale a lembrança de que James Taylor já havia conseguido emplacar onze de seus álbuns entre os 10 mais nos EUA, além de um single nº1, You’ve Got a Friend (de autoria de Carole King), em 1971. Outro dado interessante: faz 30 anos que o autor de Fire And Rain se apresentou pela primeira vez no Brasil, na primeira edição do Rock in Rio.

Ouça Before This World- James Taylor- em streaming:

Damon Albarn produz CD de Bobby Womack

Por Fabian Chacur

Damon Albarn, vocalista, guitarrista, compositor e líder dos grupos Blur e Gorillaz, acrescentou outro belo ítem a seu currículo. Ele é o produtor do álbum que Bobby Womack, um dos grandes mestres da soul music, lançará no dia 11 de junho pelo selo XL Recordings, o mesmo de Adele.

The Bravest Man In The Universe será o primeiro álbum de inéditas de Womack desde Ressurrection (1994), e foi gravado em 2011 no Studio 13, de Albarn, em Londres, e também em estúdios em Nova York. A coprodução ficou a cargo de Richard Russell, dono da XL Recordings.

Bobby participou de dois álbuns dos Gorillaz, Plastic Beach (2010, na faixa Stylo) e The Fall (2011, em Bobby In Phoenix), o que estreitou a amizade entre ele e Albarn.

O primeiro single de The Bravest Man In The Universe, a ótima Please Forgive My Heart, já está disponível para download gratuito no site do músico americano, o bobbywomack.com .

Nascido em Cleveland, Ohio, no dia 4 de março de 1944, Bobby Womack começou a se tornar conhecido no meio musical na primeira metade dos anos 60, trabalhando com um dos pioneiros da soul music, Sam Cooke.

Um dos primeiros hits dele, It’s All Over Now, fez ainda mais sucesso em releitura dos Rolling Stones. Womack, por sinal, participou como músicos de alguns álbuns da banda, geralmente tocando guitarra. Os roqueiros da J. Geils Band também fizeram sucesso relendo Looking For a Love, de sua autoria.

Bobby Womack se firmou como um dos grandes nomes da black music americana durante as décadas de 60 e 70, graças a uma voz ora melódica, ora agressiva, e especialmente devido às suas canções, repletas de letras poéticas e melodias envolventes. Ele é considerado um dos grandes letristas da soul music, por sinal.

Entre suas músicas mais legais, destaco a deliciosa e inspiradíssima Woman’s Gotta Have It, bela e swingada declaração de amor às mulheres que também mereceu uma regravação perfeita de James Taylor em 1976, no álbum In The Pocket.

Problemas com drogas atrapalharam a carreira de Bobby Womack em alguns momentos, mas felizmente estou aqui escrevendo sobre ele com o cara vivo, com saúde e em vias de lançar um novo álbum.

The Bravest Man In The Universe inclui dez canções, entre as quais a faixa título, o single Please Forgive My Heart, Stupid, Jubilee, Sweet Baby Mine e Deep River.

Ouça Woman’s Gotta Have It (live), com Bobby Womack:

Ouça Please Forgive My Heart, a nova de Bobby Womack:

Estreia de James Taylor volta com faixas bônus

Por Fabian Chacur

Lançado originalmente em novembro de 1968 pela Apple (a gravadora dos Beatles), o álbum James Taylor marcou a estreia de um dos grandes nomes da história da música pop.

Com produção a cargo de Peter Asher, que ficou famoso como integrante da dupla Peter & Gordon, o disco não fez grande sucesso comercial na época, mas foi o prenúncio de que um artista de muito talento estava entrando em cena.

Durante longos 24 anos, esse disco ficou longe das lojas, sendo uma raridade disputada a tapa por fãs como eu, que vibrei em 1984 ao finalmente ter uma cópia importada do mesmo. Em 1994, tive a honra de tê-lo autografado pelo próprio. U-hu!

Em CD, o disco foi editado pela primeira vez no início dos anos 90. Agora, chega a vez de uma caprichada reedição no formato digipack, com direito a quatro faixas bônus e encarte luxuoso. É a edição definitiva, sem a menor dúvida.

A sonoridade do disco peca um pouco por exageros na produção, com instrumentos demais em algumas faixas. No entanto, isso é nada, comparado à qualidade das canções e das interpretações do cantor, compositor e violonista americano, então com 20 anos.

O repertório era tão bom que várias das canções seriam regravadas posteriormente e com sucesso pelo autor, como Carolina in My Mind, Something in the Way She Moves, Night Owl e Rainy Day Man.

Uma das marcas do disco são pequenas vinhetas instrumentais entre uma canção e outra, todas delicadas e muito agradáveis de serem ouvidas.

Além das faixas citadas, temos aqui outros momentos bem interessantes, como Don’t Talk Now, Something’s Wrong, Sunshine Sunshine (a minha favorita) e Brighten Your Night With My Day.

Paul McCartney e George Harrison marcam presença em Carolina in My Mind. Harrison, por sinal, usou o título de uma das músicas deste disco como os versos de abertura de sua composição mais famosa, Something.

As quatro faixas bônus são sensacionais. Temos aqui duas belas demos do tipo voz e violão de Carolina in My Mind e Sunshine Sunshine gravadas na Inglaterra em 1968.

As outras duas são Sunny Skies e Let Me Ride, gravadas em 1969 nos Estados Unidos e bem mais próximas da sonoridade que Taylor mostraria no ano seguinte, no seminal Sweet Baby James.

Vale destacar o hilariante visual usado por James Taylor na capa do álbum, digno de ser copiado pelo cantor cearense Falcão…

O encarte traz ótimos textos de Peter Asher e Andy Davis, além de ficha técnica completa, sendo que as letras aparecem na capa interna.

Ouça Carolina in my Mind ao vivo em 1970:

Filme mostra o berço dos singer-songwriters

Por Fabian Chacur

Há casas de shows que entram para a história pelos espaços importantes que abriram para artistas que posteriormente se tornaram ídolos e ícones da música.

Criada em 1957 em Hollywood, California, na lendária Santa Monica Boulevard (eternizada na letra da música All I Wanna Do, de Sheryl Crow), a Troubadour é uma das mais exemplares e icônicas.

Embora tenha proporcionado espaço para diversos estilos musicais e bandas e artistas iniciantes como Guns N’ Roses, Motley Crue, Radiohead, Franz Ferdinand e inúmeros outros, esse espaço é um dos principais marcos de uma praia específica, a dos singer/songwriters.

Inspirados na folk music, country e rock e tendo em Bob Dylan uma espécie de padrinho improvável, essa geração do rock apareceu no finalzinho dos anos 60, e teve em James Taylor e Carole King suas figuras de ponta.

Afinal, foi graças aos discos Sweet Baby James (1970) e Mud Slide Slim And The Blue Horizon (1971), de Taylor, e Tapestry, de Carole, que o também chamado bittersweet rock alçou voo rumo à estratosfera em termos artísticos e comerciais.

E o Troubaudor, clube criado pelo empresário e músico Doug Weston, serviu como base de lançamento de muitos astros associados a esse estilo, como Taylor, Carole, Linda Ronstadt, The Eagles e Elton John, que no início da carreira era bittersweet total e que fez lá, no dia 25 de agosto de 1970, seu primeiro show em território americano.

Pois acaba de ser lançado lá fora em DVD (em parceria dos selos Concord Music Group, Hear Music, Rhino Music e Warner) o documentário Troubadours – The Rise of The Singer-Songwriter,  que conta a história do movimento tendo o clube como gancho e mote.

Trazendo cenas da época misturadas a entrevistas feitas para o projeto com Taylor, Carole, Jackson Browne, David Crosby, Bonnie Raitt, Elton John e outros, trata-se de uma deliciosa viagem pelo surgimento e desenvolvimento de uma das mais interessantes vertentes da música pop.

Outro mote para o vídeo foi o show realizado em 2007 e registrado em DVD/CD reunindo James Taylor e Carole King para comemorar os 50 anos do clube, o fantástico Live At The Troubadour, que obteve a façanha de atingir o segundo lugar na parada americana, algo raro nos dias de hoje para astros de sua geração.

Os depoimentos são ótimos. Elton John, por exemplo, responde, ao ser questionado sobre uma possível mágoa de Doug Weston (morto em 1999) pelo fato de ele não ter mais tocado lá, após estourar mundialmente.

“Foi ótimo tocar no Troubadour, mas o que ele queria, que eu ficasse tocando lá para sempre?”.

Como brinde, temos um CD com dez músicas representativas da fase áurea do bittersweet rock dos anos 70.

Eis a seleção:

Sweet Baby James – James Taylor

Desperado – Linda Ronstadt

Dixie Chicken – Little Feat

Take Me To The Pilot– Elton John

Ol’ 55 – Tom Waits

Love Has No Pride – Bonnie Raitt

Sail Away – Randy Newman

Why Me – Kirs Kristofferson

It’s Too Late – Carole King

Obs.: o único problema do DVD é não ter legendas em inglês. Até que me dei bem ao ouvir as entrevistas, mas entender o que David Crosby fala, por exemplo, não é exatamente uma tarefa das mais simples…

Carole King e James Taylor brilham em reencontro emocionante no Troubadour

Por Fabian Chacur

O Troubadour é um pequeno clube situado na célebre Santa Monica Boulevard, em Los Angeles. Fundado em 1967, deu espaço para que vários nomes hoje mitológicos da música pop se apresentassem pela primeira vez com visibilidade de público e imprensa. Carole King e James Taylor estão entre eles.

Eles tocaram juntos lá em novembro de 1970. Na época, Carole já era conhecida como compositora, mas ainda dava seus primeiros passos para se tornar uma cantora de sucesso, enquanto Taylor acabava de lançar seu segundo álbum, Sweet Baby James.

No ano seguinte, a cantora, compositora e tecladista alcançaria o estrelato com Tapestry, uma das grandes obras-primas do rock da década de 70, com a dupla tocando por lá novamente.

Para celebrar aqueles anos importantes e intensos, os dois astros tocaram no Troubadour novamente em 2007, durante a celebração dos 40 anos do local, no qual também brilharam The Eagles, Linda Ronstadt, Daryl Hall & John Oates e Elton John.

Para alegria de quem não esteve por lá, a Universal Music acaba de lançar por aqui Live At The Troubadour, dobradinha DVD/CD que traz as 15 músicas tocadas por Carole King e James Taylor, todas extraídas de seus seminais Sweet Baby James e Tapestry.

Além da dupla, o show também conta com a participação dos músicos que os acompanhavam naquela época, os ótimos Danny Kortchmar (guitarra), Leland Sklar (baixo) e Russel Kunkel (bateria).

O show é emocionante em todos os sentidos. A execução das músicas respeita quase sempre os arranjos originais, com as vozes dos dois intérpretes ainda afiadas e afinadas, além de extremamente entrosadas. Os músicos dão um banho de swing e refinamento.

O repertório inclui alguns dos momentos mais brilhantes do chamado bittersweet rock (ou rock agridoce), entre os quais So Far Away, Carolina In My Mind, It’s Too Late, Something In The Way She Moves, Fire And Rain, Country Road, I Feel The Earth Move e Will You Love Me Tomorrow.

São canções de beleza perene, que continuam e continuarão a embalar corações e a tocar as emoções de seres humanos nos quatro cantos do mundo. Para quem curte ouvir músicos brilhantes no auge da forma, aprecie com atenção o sublime solo de Danny Kortchmar em It’s Too Late, só para citar um dos momentos marcantes do DVD/CD nesse setor.

O DVD é particularmente lindo, especialmente nos momentos em que Carole e Taylor trocam olhares de cumplicidade. Vale a lembrança de que eles nunca namoraram ou foram um casal romântico, mas sua afinidade musical sempre foi impecável.

Live At The Troubadour entrou na parada americana direto no segundo lugar, prova de que, sim, há lugar para música de qualidade no cenário atual do pop, independente de ser feita em 1970, hoje ou em qualquer outro momento. Música boa é para sempre.

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