Por Fabian Chacur

Há 35 anos, chegava às lojas o mais emblemático álbum da história do punk rock: Never Mind The Bollocks Here’s The Sex Pistols. Como forma de comemorar essa importante efeméride no mundo do rock, a Universal Music acaba de lançar uma reedição luxuosa do único ábum só de inéditas da carreira da banda de Johnny Rotten.

Trata-se de um daqueles relançamentos feitos no capricho e indispensáveis para quem deseja entender o porquê os Sex Pistols continuam sendo uma das bandas mais importantes e influentes do rock, mesmo com suas canções de três acordes, habilidades restritas como músicos e pouco sucesso comercial na época.

O primeiro CD inclui uma versão remasterizada das 12 músicas contidas no álbum original, mais quatro faixas lançadas originalmente como lados B de compactos de vinil. O outro CD traz 11 faixas gravadas em um show realizado em Estocolmo, Suécia, em 28 de julho de 1977, e três músicas extraídas de show realizado no Reino Unido em 1º de setembro de 1977.

Com fortes influências de bandas como New York Dolls, The Stooges, MC 5 e os grupos americanos de garagem dos anos 60, os Pistols esbanjam pique, energia e atitude em suas canções. Músicas como God Save The Queen, Anarchy In The UK, Pretty Vacant e Holidays In The Sun refletem a fúria dos jovens britânicos em relação à gravíssima situação vivida pela classe operária de lá naqueles anos de chumbo.

De quebra, o grupo também punha para fora a insatisfação em relação ao momento vivido pelo rock de então, com músicos milionários, ingressos de shows caríssimos e sonoridades intrincadas como as propostas pelo rock progressivo afastando o rock and roll de suas origens operárias e básicas. Era uma volta às raízes, feita de forma virulenta e impactante.

O álbum, a rigor, foi gravado com a participação apenas do vocalista Johhny Rotten (que depois voltaria ao nome de batismo, John Lydon, quando saiu da banda), Steve Jones (guitarra e baixo) e Paul Cook (bateria). Glenn Matlock, o baixista original e coautor de boa parte das músicas, foi demitido do time no primeiro semestre de 1977 (ele está em três faixas do CD 1), e seu substituto, Sid Vicious, fazia tudo, menos tocar baixo, funcionando mais como personagem midiático do que como músico.

O CD ao vivo ressalta essa total inexistência de Vicious como músico, pois, apesar de ele participar dos dois shows, é praticamente impossível ouvir um único acorde sequer de baixo nas gravações. Registrado de forma precária, temos no CD a voz vigorosa e ardida de Rotten, a guitarra básica e tosca de Jones e a garra de Cook na bateria. A reação da plateia é entusiástica e favorável a eles, ao contrário de outros shows tumultuados do quarteto.

Dá arrepios ouvir a vibração dos Pistols ao vivo, que chutam para longe a firula e praticamente vomitam as letras desesperadas e os acordes enérgicas de suas canções. Uma delas (também incluída em versão de estúdio no CD 1) é a avassaladora releitura de No Fun, dos Stooges, com mais de cinco minutos de pura explosão rocker.

Os CDs vem acomodados em belíssima embalagem digipack que se abre em quatro divisões, com direito a um caprichado encarte colorido repleto de fotos e informações. Só faltaram as letras, omissão praticamente imperdoável, se levarmos em conta as fortes mensagens contidas nelas. Mas dá para passar, levando-se em conta a excelência do material apresentado.

A ironia fica por conta de um trecho de God Save The Queen, que diz “no future for you” (não há futuro para você). Bem, com exceção de Sid Vicious, que morreu em 1979 vítima de sua própria inconsequência, os outros integrantes da banda estão aí até hoje, e se deram muito bem para quem veio tão de baixo. Ou seja, tiveram um belo futuro, no fim das contas…

Ouçam Never Mind The Bollocks Here’s The Sex Pistols na íntegra: