banda zil foto-400x

Por Fabian Chacur

Em 1986, sete músicos com um currículo invejável resolveram se unir com o intuito de criar um grupo para desenvolver uma sonoridade própria, baseada em uma mistura de jazz rock (ou fusion, rótulo muito usado naquele tempo para denominar tal sonoridade), bossa nova, Clube da Esquina, folk e muito mais. Surgia a Banda Zil, que lançou o álbum Zil (1987- Continental) e fez alguns shows concorridos, incluindo participação no Free Jazz Festival de 1988. Em 1991, saíram de cena, mas um possível retorno sempre ficou no ar.

E isso enfim ocorreu em 2016. Para felicidade dos fãs da melhor música brasileira, foi devidamente registrado no DVD Zil Ao Vivo (MP,B-Som Livre-Canal Brasil), também disponível em áudio nas plataformas digitais.

Fortes laços unem os integrantes da banda Zil. Zé Renato (vocal e violão) e Claudio Nucci (vocal e violão) integraram a formação do Boca Livre que lançou em 1979 seu icônico e autointitulado trabalho de estreia, além de terem gravado em 1985 pela gravadora CBS um bem-sucedido álbum em dupla.

Marcos Ariel (teclados) integrou nos anos 1970 o grupo Cantares ao lado de Zé Renato, além de ter sólida carreira solo. João Baptista (baixo e vocais) foi baixista da célebre e cultuada banda gaúcha Almôndegas (que revelou os irmãos Kleiton e Kledir Ramil), e depois tocou com João Bosco e Milton Nascimento.

Jurim Moreira (bateria) foi parceiro de Baptista na gravação e na turnê de divulgação de O Rock Errou (1986), excelente LP de vinil (nunca lançado em CD) e subestimado até pelo próprio autor, o polêmico Lobão, e integrou as bandas de apoio de Alceu Valença, Gilberto Gil, Edu Lobo, Gal Costa e Chico Buarque.

Ricardo Silveira (guitarra e vocais) estudou nos EUA, tocou na banda do consagrado jazzista americano Herbie Mann e tem no currículo trabalhos com gente do porte de Elis Regina, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Ivan Lins e Ney Matogrosso, além de manter elogiada carreira solo. Em seu tempo na banda de João Bosco, foi colega de João Baptista, por sinal.

Vale também registrar que em 2007 Marcos Ariel, João Baptista, Ricardo Silveira e Jurim Moreira lançaram o CD 4 Friends. Completa o time o virtuoso Zé Nogueira (sax, flauta, duduk e vocais), que emprestou seu talento a Edu Lobo, Djavan e Chico Buarque, só para ficar em alguns dos mais conhecidos.

Entrosamento, bom repertório, inspiração…

Com currículos como esses, e vale ressaltar que estão mega-resumidos nesta resenha, não é de se estranhar que tenha demorado tanto para que esses músicos conseguissem se reunir novamente. A agenda deles é mais do que cheia, e com toda justiça. Mas isso finalmente ocorreu no dia 19 de maio de 2016, no palco do Cultural Bar, em Juiz de Fora (MG).

Lógico que só a belíssima trajetória de seus integrantes não seria garantia de qualidade superior para a Banda Zil. Não são poucos os exemplos de formações deste gênero que sucumbiram, no melhor estilo “óleo e água”, sem dar liga. Aqui, no entanto, a combinação se mostrou das melhores, e quem sabe a amizade e as grandes afinidades sonoras tenham feito a diferença para tal resultado.

O repertório de Zil Ao Vivo traz as oito faixas do álbum original (sete no vinil e uma a mais nas versões em CD lançadas nos EUA, Europa e Japão) e mais seis adicionais. Oito delas são instrumentais, e seis seguem o formato canção. Das 14 faixas, só três não levam a assinatura de algum dos integrantes. Duas tem como coautor Milton Nascimento: Anima (parceria com Zé Renato) e Portal da Cor (escrita com Ricardo Silveira).

O som do grupo soube incorporar com sabedoria e bom gosto o background dos músicos, como as vocalizações a la Boca Livre, as improvisações típicas da fusion, as sofisticadas harmonias musicais da bossa nova etc.

O bacana é que eles encaixam seus talentos de forma generosa, sem cair em duelo de egos para ver quem sola de forma mais criativa ou tecnicamente mais difícil. Todos jogam a favor da música, e o resultado é muito bom de se ouvir, embora sofisticado e criativo ao extremo.

Preto e branco dá um tom vintage à festa

Se a enorme qualidade da performance dos músicos já não fosse suficiente, o DVD se torna ainda mais clássico pela opção de registrá-lo em preto em branco, com uma iluminação ressaltando o clima de barzinho de filme noir dos anos 1940/1950. Durante a música Lua Branca, o registro é feito em cima do palco, enfocando individualmente cada músico, com um efeito esteticamente delicioso.

Em Suite Gaúcha, Nucci e Zé Renato ficam de fora, eles que dividem o palco sem a banda na releitura de Blackbird, dos Beatles. E Calma traz apenas Ariel, Nogueira e Silveira. Os dois cantores se valem de suas vozes em encantadores vocalizes nos momentos de enfoque instrumental, em alguns trechos tendo o acréscimo de Baptista, Nogueira e Silveira.

O DVD é bom como um todo, mas alguns momentos podem ser ressaltados, como a encantadora Anima, as deliciosas Zarabatana e Song For a Rainforest (Tupete) , a ácida Pegadas Frescas (cuja letra permanece mais atual do que nunca) e a quase progressiva Portal da Cor, com seus mais de 10 minutos de duração.

Se fica difícil imaginar muitas reuniões futuras desse time tão requisitado e ocupado, ao menos agora temos um registro de alta qualidade para matarmos a vontade de vê-los juntos. Menos mal. O DVD foi dedicado ao saudoso produtor Paulinho Albuquerque (1942-2006), que teve participação importante na idealização e criação da banda nos anos 1980.

Portal da Cor (ao vivo)- Banda Zil: