Por Fabian Chacur

O Bem Amado é um dos momentos marcantes da dramaturgia no Brasil. Afinal, essa obra de Dias Gomes já gerou novela, peça teatral e seriado de televisão, sempre com sucesso. Agora, chegou a vez do filme, que estreia no final de julho, dia 23, para ser mais preciso.

O excelente ator Marco Nanini teve a mais difícil missão de sua vida, que estou curioso para saber se ele conseguiu encarar: chegar perto, ao menos (já que superar é impossível) a performance do iluminado e saudoso Paulo Gracindo no papel do político picareta e folclórico Odorico Paraguaçu.

Mas a trilha sonora da película (como diriam os antigos) já está nas lojas, lançada pela Universal Music. Vale lembrar que a da novela foi assinada por ninguém menos do que Toquinho & Vinícius e é maravilhosa, com direito a Paiol de Pólvora, Meu Pai Oxalá e O Bem Amado, só para citar três faixas seminais.

No caso do filme, temos dez faixas que se dividem basicamente em três categorias: canções inéditas, temas incidentais instrumentais (alguns com vocalizações) e regravações de clássicos dos anos 60, período no qual a trama se desenvolve.

O destaque fica por conta das duas canções assinadas por Caetano Veloso. Esta Terra, interpretada pelo próprio, é excelente, e tem fortes ecos do Tropicalismo que ele capitaneou com tanta categoria.

A outra é o bolero rasgado A Vida É Ruim, que aparece em versão instrumental e outra com Zélia Duncan, esta última em mais uma interpretação emotiva e perfeita dessa que é uma das melhores cantoras e compositoras brasileiras dos últimos 20 anos.

O setor regravações traz dois momentos diametralmente opostos. De um lado, Zé Ramalho dá um tom mais soturno e intimista a Carcará, composição de João do Valle que foi o primeiro sucesso de Maria Bethânia na metade dos anos 60.

Do outro, Mallu Magalhães mostra sua impressionante limitação como intérprete em Nossa Canção, de Luiz Ayrão e sucesso com Roberto Carlos nos tempos da jovem guarda e recentemente com Vanessa da Mata.

Mallu soa como se fosse uma dessas participantes caricatas dos American Idols da vida, grasnando de forma patética e sem alma uma melodia no mínimo maravilhosa. De longe o pior momento de sua curta carreira. Só o namorado Marcelo Camelo deve ter gostado. Talvez nem ele…

As instrumentais são simpáticas e despretensiosas, com destaque para Chachacha das Cajazeiras e Boogie Sem Nome. Esta última reúne Leo Jaime e três de seus ex-colegas da banda João Penca & Os Miquinhos Amestrados, os impagáveis Selvagem Big Abreu, Bob Gallo e Leandro Verdeal. Ficou bacana, no melhor estilo doo wop/surf music/balada rock and roll.

E tem também Jingle de Odorico, divertido jingle eleitoral de Odorico Paraguaçú no qual temos as vozes de Thalma de Freitas e Nina Becker, que brilham na Orquestra Imperial e em carreiras solo respeitáveis. E A Bandeira do Meu Partido, de e na voz grave e carismática de Jorge Mautner.

São só dez faixas, mas Trilha Sonora do Filme O Bem Amado vale o dinheiro que você pagar nela, apesar do vexame de Mallu Magalhães. Afinal, uma gravação ruim para dez boas equivale a vitória por goleada.