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Michael Nesmith, 78 anos, dos Monkees, rebelde compositor

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Por Fabian Chacur

Em 1965, o cantor, compositor, ator e músico americano Michael Nesmith fez parte de um processo seletivo para uma série de TV americana que contou com 437 concorrentes. Ele foi um dos quatro escolhidos, e ganhou fama mundial sendo um dos integrantes do The Monkees, que além de seriado televisivo também virou um grupo de rock de muito sucesso. O mais rebelde e de personalidade mais forte da turma, ele infelizmente nos deixou nessa última sexta-feira (10), aos 78 anos, vítima de uma insuficiência cardíaca.

Nascido em Houston, Texas (EUA) em 30 de dezembro de 1942, Nesmith começou a carreira musical participando do circuito folk de Los Angeles, Califórnia, e gravou singles para o selo Colpix valendo-se do pseudônimo Michael Blessing. Em outubro de 1965, foi escolhido para integrar o elenco de The Monkees ao lado do inglês Davy Jones (1945-2012) e dos também americanos Peter Tork (1944-2019) e Micky Dolenz (1945). A química entre eles se mostrou perfeita desde o início.

A partir da estreia da série na TV americana, em setembro de 1966, The Monkees se tornou um imenso sucesso não só por sua divertida trama, a de um grupo fictício de rock talentoso, divertido e escancaradamente inspirado nos Beatles das fases A Hard Day’s Night e Help!, mas também pelas ótimas músicas gravadas para os episódios e lançadas em singles e álbuns, de autores como Boyce & Hart, Carole King, Neil Diamond e outros.

No inicio, os quatro atores participavam pouco ou quase nada dos discos, mas Nesmith desde o começo se sobressaiu como compositor e também como o rebelde da turma. Foi ele quem atiçou o quarteto a tentar se impor como um grupo de verdade, tocando e cantando em seus discos. Várias de suas composições foram gravadas pelos Monkees, entre as quais Listen To The Band, The Girl I Knew Somewhere, Tapioca Tundra, Mary Mary e Good Clean Fun.

Após o sucesso meteórico em 1966 e 1967, o seriado saiu de cena em meados de 1968 e o quarteto viu a sua popularidade ir caindo rapidamente. Peter Tork foi o primeiro a sair do time. Michael Nesmith pegou o gorrinho de lã (sua marca registrada) e deu o fora em 1970. Um pouco antes, já havia lançado seu primeiro disco solo, The Wichita Train Whistle Sings (1968). Uma de suas composições, Different Drum, fez muito sucesso em 1967 com o Stone Poneys, grupo que tinha como vocalista Linda Ronstadt, que depois viraria uma estrela do country rock.

Fora dos Monkees, Nesmith mergulhou em uma carreira no country rock, lançando vários LPs solo e também investindo em bandas como a First National Band. Alguns de seus singles viraram hits, entre os quais Joanne e Silver Moon . Foi provavelmente o mais estável e respeitado dos ex-integrantes do grupo em sua jornada individual, destacando-se como cantor, músico e compositor.

A mãe de Michael Nesmith, Bette, foi a criadora do célebre liquid paper, e vendeu em 1979 a sua parte na empresa correspondente para a Gillete Corporation pelo então enorme valor de 47 milhões de dólares. Ela faleceu no ano seguinte, e toda essa herança ficou para o filho único, que por sinal vivia naquele momento uma fase de vacas magras em termos financeiros. A partir dali, ele também passou a produzir filmes e atuar em projetos beneficentes.

Dessa forma, Nesmith se manteve afastado do bem-sucedido retorno dos Monkees em 1986, fato ocorrido graças ao relançamento de todos os álbuns do quarteto pelo selo Rhino e também pela reexibição do seriado na TV. Ele só marcou presença em dois dos shows da turnê, e só para participações breves.

No entanto, em 1996, a surpresa: os Monkees não só voltavam com a sua formação original, como também lançavam Justus, o primeiro álbum feito totalmente por eles, que não só compuseram todas as canções (sendo duas de autoria de Nesmith) como também se incumbiram de todos os vocais e instrumentos. O CD não foi um estouro de vendas, mas recebeu elogios por parte da crítica e dos fãs. O título é um trocadilho (just us, apenas nós, em tradução livre).

Após a morte de Davy Jones, os Monkees fizeram shows em formato de trio em 2012, 2013 e 2014. O grupo também lançou dois novos álbuns, Good Times! (2016) e Christmas Party (2018), ambos com participação de Nesmith, que também participou de alguns shows. Ele também escreveu alguns livros durante sua trajetória. Infelizmente, agora só temos Micky Dolenz entre nós desse grupo que poderia ter sido apenas uma piada televisiva, mas que marcou a vida de muita gente com suas canções divertidas e deliciosamente pegajosas.

Listen To The Band– The Monkees:

50 anos do melhor álbum pré-fabricado da história do rock

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Por Fabian Chacur

Nos anos 80, meu grande amigo e mestre Ayrton Mugnaini Jr. me disse uma frase bastante significativa: o mundo da música pop não aceita o vácuo. Trocando em miúdos: quando um determinado artista deixa de fazer um tipo de música que lhe atraía muitos fãs e segue rumo a outras sonoridades, normalmente alguém irá se dar bem ao retomar esse estilo sonoro. Eis um dos segredos dos Monkees, cujo primeiro álbum saiu em 10 de outubro de 1966.

Em 1966, os Beatles viviam um momento de mutação sonora total. Com o lançamento do álbum Revolver e do single Paperback Writer/Rain, os Fab Four davam uma forte guinada rumo ao psicodelismo. Eles ampliavam seus horizontes musicais, e deixavam para trás os incríveis anos de A Hard Day’s Night (1964) e Help! (1965). Além disso, começaram a lançar novos trabalhos em doses homeopáticas, em relação ao que ocorreu entre 1963 e 1965. Isso deixava uma forte demanda reprimida no mercado musical.

É neste cenário que os produtores de TV Bob Rafelson (1933) e Bert Schneider (1933-2011) enfim conseguem emplacar um projeto que havia surgido de forma tímida em 1962: fazer uma série de TV baseada na carreira de uma banda fictícia de rock. Reza a lenda que até o grupo The Lovin’ Spoonful chegou a ser cotado para estrelar essa atração, mas foram postos de lado ao assinar com uma gravadora e entrarem no mercado musical de verdade.

Com o estouro dos Beatles e logo em seguida do seu primeiro filme, A Hard Day’s Night (Os Reis do Iê-iê-Iê),em 1964, Rafelson e Schneider viram que estavam no caminho certo, fato que o estouro de outra atração cinematográfica beatle, Help!, só tornou mais óbvio. E o contrato com a Screem Gems viabilizou o projeto. Agora, era só escolher os quatro caras para estrelar a atração. Um deles foi definido a priori.

O inglês Davy Jones (1945-2012) era famoso por atuar em atrações teatrais, além de também cantar. Curiosamente, ele se apresentou com o elenco de uma dessas peças no programa de Ed Sullivan no mesmo dia 9 de fevereiro de 1964 em que os Beatles apareceram pela primeira vez na TV americana, causando um verdadeiro pandemônio. A vez de Jones chegaria não muito tempo depois.

Como forma de atrair pessoas para uma seleção, os produtores colocaram anúncios nas publicações Daily Variety e The Hollywood Reporter procurando músicos/atores. Foram 437 os interessados. Curiosamente, apenas um deles entrou no time tendo atendido ao chamado, Michael Nesmith. Micky Dolenz já tinha um currículo como ator infantil e cantor e furou a fila, e Peter Tork veio indicado pelo amigo Stephen Stills, reprovado por causa de seus dentes.

Como forma de dar força ao programa, o produtor musical televisivo Don Kirshner ficou com a missão de buscar canções adequadas. Ele apostou em uma jovem dupla de músicos e compositores, Tommy Boyce (1939-1994) e Bobby Hart (1939), que acabou se incumbindo de boa parte das canções e também da produção do álbum. Também contribuíram o então desconhecido David Gates (que depois estouraria como líder da banda Bread), Carole King e Gerry Goffin.

No dia 16 de agosto de 1966, chega às lojas o single Last Train To Clarksville/Take a Giant Step, primeira gravação atribuída aos Monkees. Vale o registro: o programa de TV só estreou no dia 12 de setembro daquele ano, e quando isso ocorreu, esse compacto simples já estava ponteando as paradas de sucesso. E no dia 10 de outubro, chegava às lojas o primeiro álbum daquele verdadeiro fenômeno instantâneo.

Como os quatro integrantes dos Monkees não eram propriamente músicos treinados para tocar em grupo, ao menos não naquele momento, Kirshner preferiu apostar no talento de Boyce & Hart e de músicos de estúdio para as gravações. Nesmith conseguiu ficar com a produção das duas faixas de sua autoria, e encaixou nas duas a guitarra de Peter Tork, naquele momento o músico mais competente entre os quatro. E foi o único deles a tocar no disco.

Na verdade, nenhuma das 12 faixas de The Monkees conta com a participação dos quatro monkees juntos. Aliás, 8 delas só trazem um dos caras por vez. Micky Dolenz, o melhor cantor, ficou com o vocal principal de seis faixas, e em uma divide o microfone com Davy Jones, que por sua vez se incumbe dos lead vocals em três canções. As outras duas foram interpretadas por Mike Nesmith.

Por causa disso, e também pelo fato de a contracapa do álbum não listar o nome dos músicos de estúdio que participaram do trabalho, ficava no ar um clima de farsa, como se fossem eles os responsáveis por todos os sons incluídos no disco. Rapidamente, todos ficaram sabendo de como as coisas ocorreram de fato, e não demorou para que os Monkees recebessem o apelido de Prefab Four (os quatro pré-fabricados), um contraponto avacalhado aos Fab Four originais.

O público não ligou para isso, pois a série de TV era simplesmente hilariante, desenvolvendo com muita inteligência os rumos apresentados nos filmes dos Beatles, e a qualidade das músicas apresentadas em cada episódio ajudou a solidificar esse estouro. Resultado: grandes índices de audiência televisiva, e a chegada no dia 12 de novembro de 1966 do LP The Monkees ao primeiro lugar na parada americana, onde permaneceu durante 13 longas semanas.

O que dizer de um disco que traz clássicos maravilhosos do porte de Last Train To Clarksville, Take a Giant Step, Tomorrow’s Gonna Be Another Day, I Wanna Be Free e (Theme From) The Monkees? As canções conseguiram de forma brilhante emular o estilão beatle 1964/65 sem cair na mera cópia ou paródia. E o melhor de tudo, para eles: naquele período, John, Paul, George e Ringo estavam imersos no estúdio, longe dos palcos e preparando novo LP. O caminho estava livre para os Monkees reinarem.

Logo a seguir, os Prefab Four realizaram a façanha de substituir seu primeiro álbum no topo pelo segundo, More Of The Monkees, que a partir de fevereiro de 1967 se manteve liderando os charts ianques durante longas 18 semanas. Era a Monkee mania total! Aí, em maio de 1967, Headquarters, o terceiro álbum do grupo, marcou o início do maior envolvimento de seus integrantes, compondo, tocando e cantando, sem o apoio de Don Kirshner.

Headquarters ficou durante apenas uma semana na liderança dos charts americanos. Na semana seguinte, a ironia das ironias ocorreu. Eles foram apeados da ponta pelo Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, o tão esperado novo álbum dos Beatles, que permaneceu por lá por 15 longas semanas. Os Monkees ainda conseguiriam grande sucesso com seu quarto álbum Pisces, Aquarius, Capricorn & Jones Ltda, que ficou cinco semanas no número 1, mas coube ao Magical Mystery Tour acabar com a festa de uma vez por todas.

Muitas outras coisas ocorreriam na história dos Monkees, que se tornaram uma espécie de boneco Pinnochio do sr. Gepetto ou do monstro do doutor Victor Frankestein, ganhando vida própria e virando uma banda de verdade. Mas nada supera o impacto desse seu disco de estreia, e de seus maravilhosos singles. Até mesmo um grupo pré-fabricado dos anos 60 merece estatura de mito… Anos incríveis mesmo!

The Monkees- The Monkees (ouça em streaming):

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