Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

Tag: mister sam

Lady Lu e Ovelha regravam o sucesso sem fim Não Se Vá

lady-lu-e-ovelha-400x

Por Fabian Chacur

Há músicas que se recusam a morrer ou a ficar no passado, enterradas ao lado de diversos outros sucessos momentâneos. Uma delas é Não Se Vá. A música que consagrou a dupla Jane & Herondy foi lançada em 1976, mas a rigor nunca saiu das paradas de sucesso. Até eu já a interpretei nos karaokês da vida! Pois agora, a canção pode estourar em uma nova releitura, desta vez em um dueto estrelado por Lady Lu e Ovelha.

A sacada dessa releitura, que traz um arranjo com tempero latino que pode perfeitamente agradar em cheio os fãs da música sertaneja atual, saiu da mente do produtor, compositor e empresário Santiago Sam Malnati, ele mesmo, o Mister Sam, responsável pelo lançamento de artistas como Gretchen e Black Juniors, além de ser um dos DJs pioneiros no Brasil em termos de divulgar a disco e dance music, com o lançamento de coletâneas matadoras nos anos 1970.

Para quem não sabe, Não Se Vá é a versão em português para Tu T’En Vas (ouça essa música aqui ), canção que em 1975 estourou na gravação feita pelo cantor francês Alain Barriere, que se tornou conhecido do público a partir do sucesso de Ma Vie, em 1964, e que desde então se firmou como ídolo da música romântica de seu pais, em dueto com a cantora francesa Noelle Cordier, outra intérprete romântica de respeito na terra de Charles Aznavour. Grande estouro, inclusive no Brasil.

Mas a versão em português gravada pela dupla Jane & Herondy (ouça aqui ) foi ainda além por aqui, liderando as paradas de sucesso nos idos de 1976 e impulsionando rumo ao estrelato Jane Moraes, que antes de entrar no segmento popular havia cantado bossa nova como integrante do grupo Os Três Moraes, do qual também fazia parte Sidney Moraes, que se tornou mais ou menos na mesma época Santo Morales, lançando álbuns no Brasil com sucessos latinos com acompanhamento orquestral.

Durante esses 40 anos, Não Se Vá nunca sumiu de cena, e chegou até mesmo a integrar a trilha do filme Domésticas, em 2001. E quem são os novos intérpretes desse hit eterno? Ademir Rodrigues de Araújo, que teve seu batismo artístico como Ovelha feito por ninguém menos do que o lendário Chacrinha, estourou em 1981 com Te Amo Que Mais Posso Dizer, versão de More Than I Can Say, hit com o cantor Leo Sayer.

Dono de um vozeirão, Ovelha cantou rock, forró e outros ritmos nesses anos todos. Por sua vez, Luciane Gonçalves Caeiro, a Lady Lu, iniciou a carreira musical como integrante do grupo As Ladies, com o qual gravou um LP. Na carreira-solo, que começou em 1991, ela já lançou trabalhos dedicados a dance music, zouk e outros ritmos dançantes, sendo presença frequente em programas populares na TV.

Não se Vá– Lady Lu e Ovelha:

Gretchen Filme Estrada, bizarro e genial

Por Fabian Chacur

Adoro ver documentários sobre praticamente qualquer tema. Música, então, vira obrigação, por razões profissionais e também gosto pessoal. Neste sábado (15), tive a oportunidade de finalmente conferir Gretchen Filme Estrada (2010), e fiquei simplesmente estupefato. Bizarro e genial ao mesmo tempo!

Maria Odete Miranda virou Gretchen na segunda metade dos anos 70, e tornou-se sucesso nacional graças ao faro do produtor argentino radicado no Brasil Mister Sam. Ele sacou a sensualidade da jovem e soube oferecer a ela um repertório ideal, composto de pop dançante com tempero latino e muita simplicidade, ideais para sua voz de pequena extensão, embora bastante agradável. Deu certo.

Durante um período de aproximadamente cinco anos, a cantora levou às paradas hits dançantes como Freak Le Boom Boom, Melô do Piripiri (Je Suis La Femme) e Conga Conga Conga e se tornou figurinha fácil em programas populares de TV do tipo Silvio Santos e Chacrinha. Aí, Sam e Gretchen seguiram caminhos distintos, e o sucesso da moça acabou.

A partir de meados dos anos 80, Gretchen passou a viver do passado, dublando seus sucessos onde fosse possível. De tempos em tempos, tentava gravar novos hits, mas seus discos nunca mais venderam coisa alguma, e nem mesmo um breve retorno da parceria com Sam nos anos 90 reverteu tal situação, ou Marisa Monte cantar Conga Conga Conga em alguns shows.

Gretchen Filme Estrada surgiu com o intuito de registrar a campanha da moça para tentar ser eleita em 2008 prefeita de Itamaracá, em Pernambuco, onde se radicou há mais de uma década. Seu projeto era abandonar a vida artística e mergulhar de vez na política. Inacreditável, mas real. Quem será que deu a ela essa ideia “genial”?

O que vemos no documentário é uma pessoa próxima dos 50 anos de idade com a ingenuidade de uma adolescente de antigamente. Sua incursão na política é do tipo “eu sou a solução para tudo”, típica de quem não tem noção de onde está entrando. Seu ataque de choro no finalzinho do filme prova isso de forma certeira. Isso, mesmo com pessoas tentando treiná-la.

Enquanto sua campanha se desenvolve aos trancos e barrancos, com direito a uma inesperada mudança da candidata a vice no decorrer do período, ela é flagrada durante apresentações patéticas em pequenos shows no nordeste, realizados em circos com condições precárias e na base da dublagem dos sucessos dos velhos e bons tempos.

Em uma das apresentações, o CD player falha, e Gretchen paga o mico de, perante um público quase inexistente, ter de repetir a música mais de uma vez. O momento mais triste é em João Pessoa (PB), quando uma chuva de proporções bíblicas afasta o público e deixa o circo mais vazio do que bolso de pobre. De chorar.

Conforme o tempo vai passando, a inicialmente animada Gretchen vai se dando conta da fria na qual entrou, e com isso nossa personagem se torna perdida, tensa, agressiva e em muitos momentos sem saber o que fazer. Uma senhora chega a questionar Gretchen: “eu acho que você sonhou alto demais”. Sonhou mesmo…

No fim das contas, a Rainha do Bumbum não passa de 400 votos, algo em torno de 2% do eleitorado local, e vê seu “sonho” enterrado bem fundo. Na verdade, fica claro, no fim das contas, que ela foi vítima de sua total falta de noção e incapacidade de investir em uma carreira política. Tremo só de pensar no que ocorreria, se ela fosse eleita.

Eliane Brum e Paschoal Samora mereciam um prêmio por terem conseguido, a partir de um material tão ruim, concretizar um documentário como esse. Em alguns momentos do filme, por exemplo, temos depoimentos das pessoas autorizando o uso de suas imagens no documentário. Vários momentos, por sinal! Em um deles, com o público de um dos circos onde ela cantou falando junto com ela a frase cedendo seus direitos.

Se esse material exibido era o melhor disponível, dá arrepios imaginar nas sobras de filmagens… Pouco se fala na carreira de Gretchen, de como começou, como gravou os hits etc, e o nome de Mister Sam sequer é citado durante ele. No fim, é exibido um clipe com ela cantando nos bons tempos, o que equivale a uma espécie de “olhem como ela era, e olhem como ela ficou, depois de tantos anos”.

Gretchen Filme Estrada é ao mesmo tempo bizarro e essencial, pois mostra a coragem de uma artista ao se mostrar tão frágil, perdida e mal assessorada em uma fase de carreira na qual deveria estar devidamente consolidada. Tipo do filme ideal para quem acha fácil ser artista.

Ainda mais quando a artista em questão não conseguiu dar continuidade ao que parecia ser seu destino, no início: uma diva pop. No fim das contas, virou uma melancólica caricatura disso. Mesmo assim, Gretchen merece nosso carinho e nosso apoio, pois continua sendo aquela adolescente sonhadora de seu início, nos já distantes anos 70 do século passado.

Veja cenas de Gretchen Filme Estrada:

© 2024 Mondo Pop

Theme by Anders NorenUp ↑