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Chris Cornell, ou mais um dos grandes que nos deixa cedo

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Por Fabian Chacur

Em pleno caos político que vive o Brasil nesse exato momento, os fãs de rock estão vivenciando mais um duro luto. Chris Cornell, 52 anos, foi encontrado morte nesta quarta (17) no banheiro de um hotel em Detroit, EUA, horas após ter feito um show com o Soundgarden, banda que o tornou famoso mundialmente. Há indícios de que possa ter sido suicídio. Uma perda irrecuperável, de um artista que estava na ativa e ainda poderia nos proporcionar muita coisa.

Nascido em Seattle no dia 20 de julho de 1964, Cornell foi um dos nomes mais importantes da cena musical que ajudaria a resgatar o rock dos porões rumo ao topo das paradas de sucesso novamente. Criada em 1984, sua banda principal, a Soundgarden, foi a primeira da cena do que se convencionou chamar de grunge a assinar com uma grande gravadora, em 1988. O grupo começou a firmar seu nome no mainstream rock com Badmotorfinger (1991), um álbum furioso e com músicas do porte de Outshined e Rusty Cage.

Mais ou menos na mesma época de Badmotorfinger, também saiu Temple Of The Dog, álbum no qual ele homenageou o amigo Andrew Wood (1966-1990), morto por uma overdose de heroína, e teve a seu lado músicos que a seguir formariam o Pearl Jam e também um colega do Soundgarden. Um trabalho que ficou marcado na história do rock não só pelo tributo em si, mas também graças à qualidade de suas músicas.

Dos grupos do núcleo do grunge, o Soundgarden era o com mais influência do heavy metal, especialmente do Black Sabbath, e o vozeirão de Cornell se encaixava feito luva nesse panorama. Com Superunknown (1994), o grupo atingiu o topo da parada americana, e se mostrava um pouco mais melódico, com canções como Black Old Sun e Spoonman. Após lançar Down On The Upside (1996), no entanto, o grupo entraria em crise e a separação se tornaria o passo a seguir, tomado em 1997.

No período em que o Soundgarden ficou fora de cena, Chris Cornell apostou na versatilidade como proposta. Lançou três álbuns-solo bem diferentes entre si, Euphoria Morning (1999), Carry On (2007) e Scream (2009), sendo que no último ousou ao investir em r&b pop e com produção a cargo do badalado Timbaland. Outro trabalho individual sairia em 2015, Higher Truth, além do ao vivo Songbook (2011).

De 2001 a 2007, ele também integrou o Audioslave, grupo que era uma espécie de Rage Against The Machine com Cornell na vaga do cantor Zack de La Rocha. O quarteto lançou três álbuns, sendo o melhor o autointitulado trabalho de estreia, lançado em 2002 e trazendo canções intensas como Cochise, Like a Stone e Show Me How To Live. O supergrupo acabou quando o Rage original resolveu seguir adiante, e seu cantor voltou à carreira-solo.

O Soundgarden fez a alegria dos fãs em 2010 ao anunciar o seu retorno, coroado com um álbum de inéditas, King Animal, lançado em 2012. Atualmente, a banda estava em turnê, e é uma pena ver Cornell sair de cena de forma tão prematura e trágica. Seu vozeirão, carisma e talento, que o público brasileiro teve a chance de conferir em shows solo e com o Soundgarden, ficarão marcados na memória de todos.

Like a Stone– Audioslave:

Almir Guineto, belo craque do samba, nos deixa aos 70 anos

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Por Fabian Chacur

Lá pelos idos de 1998, eu era colaborador da extinta revista Cavaco, especializada em samba, e tive a oportunidade de entrevista Almir Guineto no apartamento onde ele morava na época, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo. De forma hospitaleira, o cara me ofereceu um suco. Como estava um calor daqueles, tomei rapidinho, e ele me ofereceu outra dose logo a seguir, com a frase clássica: “toma mais, porque por esse preço…”. Essa figuraça infelizmente nos deixou nesta sexta-feira (5), aos 70 anos.

Almir Guineto nasceu no Rio de Janeiro em 12 de julho de 1946, e é cria do Salgueiro. Nos anos 1970, no entanto, também passou a frequentar a sede do Bloco Cacique de Ramos, onde se enturmou e fez amizade com figuras emergentes do porte de Zeca Pagodinho, Ubirany, Bira Presidente e outros do mesmo porte. No fim daquela década, ele integrou por um curto período de tempo dois grupos. O primeiro foi os Originais do Samba, de Mussum e Cia, fundado pelo seu irmão Chiquinho e que gravou algumas de suas composições.

O Grupo Fundo de Quintal completa a dobradinha. Guineto marcou presença no primeiro álbum desse verdadeiro Butantã do samba (só tinha e só tem cobras), Samba é No Fundo de Quintal (1980). Vale lembrar que ele foi a rigor o músico que introduziu o banjo no samba, uma das várias inovações geradas pelo Fundo de Quintal. Ou seja, fica difícil qualificar o trabalho dele como “samba de raiz”, pois, embora tivesse forte ligação com as tradições deste gênero musical, ele no entanto apostou nas inovações e ajudou-o a progredir ainda mais.

Em 1981, fez muito sucesso com a música Mordomia, que defendeu no Festival MPB-Shel de 1981, da Globo, faixa de destaque de seu primeiro álbum solo, O Suburbano, lançado naquele mesmo ano pela efêmera divisão brasileira da gravadora K-Tel. Em 1985, estourou com Jiboia, e depois com Caxambu e diversas outras, em seus trabalhos individuais, sempre com sua voz grave e repleta de swing e personalidade, ora apostando no bom humor, ora no romantismo.

Grande amigo de Zeca Pagodinho, ele inclusive gravou em 1999 um autointitulado álbum pela Universal Music graças à indicação do parceiro. Ótimo interprete, ele no entanto teve mais sucesso como compositor, tendo sido parceiro na autoria de maravilhas do porte de Coisinha do Pai, Corda no Pescoço, Pediu ao Céu e inúmeras outras, gravadas por Beth Carvalho, Alcione, Zeca e outras feras do samba. Almir foi vítima de problemas renais crônicos, agravados por diabetes. Uma dessas perdas mais do que lamentáveis. Que descanse em paz!

Mordomia– Almir Guineto:

Belchior nos deixa fina poesia, brilho e belíssimas canções

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Por Fabian Chacur

Há mais de dez anos, Belchior estranhamente sumiu do cenário artístico, deixando seus fãs órfãos e só aparecendo nas manchetes devido a notícias sensacionalistas e bizarras. Pois ele infelizmente ocupa de novo os holofotes por uma razão triste. Aliás, a mais triste de todas. Ele foi encontrado morto na noite deste sábado (29) na casa onde morava há um ano, na cidade de Santa Cruz do Sul (RS). Ele tinha 70 anos, e seu corpo deve encontrar sua moradia final em Sobral (CE), onde nasceu em 26 de outubro de 1946.

Muito triste essa saída de cena. Cenas de um próximo capítulo nada desejado por seus inúmeros fãs. Minha ligação com Belchior é muito forte desde sempre. Vi dois shows dele ao vivo, um em 1980, em um colégio na região da Avenida Paulista, e outro em 1984, no Tuca, ambos muito legais. Fui conhece-lo pessoalmente lá pelos idos de 1985, por uma razão corriqueira: trabalhava na agência da Receita Federal da Vila Mariana, em São Paulo, e entreguei a ele uma restituição de imposto de renda que ele não havia recebido na sua devida época.

Não muito tempo depois, iria reencontrá-lo, só que desta vez como jornalista e crítico musical, por volta de 1987. Entre esse ano e o final dos anos 1990, foram vários papos, sempre deliciosos, nos quais criei um vínculo de amizade não só com ele, mas também com um de seus produtores, o Paulo Roberto Magrão, uma das figuras mais atenciosas e gente fina que já tive a chance de conhecer em minha trajetória como jornalista especializado em música.

Bel (como o chamávamos) vai fazer muita falta, independente de estar há muito tempo sem lançar novos trabalhos. Com uma obra consistente, ele nos deixa como legado canções maravilhosas, repletas de idealismo, poesia, inteligência e ironia, com aquela inspiração contida apenas em gênios. E ele era um deles. Não consigo escrever mais nada, perdoem-me. Leiam a homenagem que fiz quando ele completou 70 anos em outubro de 2016 aqui , e a resenha da caixa Três Tons de Belchior, seu mais recente lançamento, aqui . Descanse em paz, amigo. Apenas um rapaz latino americano? O cacete!

Alucinação– Belchior (ouça o álbum em streaming):

Jerry Adriani: um ser humano adorável e um grande artista

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Por Fabian Chacur

Conheci Jerry Adriani pessoalmente lá pelos idos de 1986, quando iniciava a minha carreira como jornalista e crítico especializado em música. Foi em uma entrevista coletiva na antiga gravadora Polygram (hoje, parte do conglomerado Universal Music), na qual o cantor paulistano divulgava seu então recém-lançado LP Outra Vez Coração. Tenho até foto desse encontro. Nascia ali uma grande admiração pelo ser humano por trás do artista já tão famoso naquela época.

Jerry infelizmente nos deixou neste domingo (23) às 15h30, conforme divulgação feita por seus familiares. Ele combatia um câncer e também esteve internado devido a uma trombose sofrida em uma de suas pernas. Os últimos registros fotográficos divulgados o mostravam muito abaixo do seu peso habitual, e com uma aparência abatida. Uma pena.

Após aquele primeiro contato com Jerry, tive a oportunidade de entrevista-lo em diversas outras ocasiões. Suas marcas registradas: simpático, bonachão, bem-humorado e sempre com boas histórias para contar. Nunca vou me esquecer de uma dessas ocasiões, ocorrida em um barzinho, em São Paulo, na região dos Jardins.

Já no fim do bate-papo, surgiu do nada um gato por ali. Jerry não disfarçou o seu incômodo pelo bichano estar nas cercanias de onde estávamos sentados, e deu a genial e divertida justificativa: “sabe como é, meu nome artístico é Jerry, que é um rato…”. A capacidade de soltar essas pérolas era infindável. Tive a oportunidade de entrevista-lo até no apartamento que mantinha em São Paulo, e assinei o press-release que acompanhou o álbum Rádio Rock Romance, que ele lançou em 1996.

Jair Alves de Souza, seu nome de batismo, nasceu em São Paulo, no bairro do Brás, em 29 de janeiro de 1947. Seu primeiro álbum, Italianíssimo (1964), só com músicas em italiano, marcou o início de sua carreira discográfica, que renderia inúmeros fruto. Seu estouro coincidiu com o da era da Jovem Guarda, e mesclou rocks românticos, baladas e canções pop, sempre tendo sua belíssima e bem colocada voz como ponto de destaque.

No fim dos anos 1960, ele foi o responsável pela mudança de um então ainda desconhecido Raul Seixas para o Rio de Janeiro. Jerry o havia conhecido em Salvador, pois havia sido acompanhado em shows por lá pelo grupo que o roqueiro mantinha na época, Raulzito e os Panteras. Raul não só produziria alguns de seus discos na gravadora CBS (hoje, Sony Music) como também comporia alguns sucessos para o cara, como Doce Doce Amor, Tudo o Que é Bom Dura Pouco e Tarde Demais.

Ao contrário de outros artistas da era da Jovem Guarda, Jerry conseguiu se manter sempre em evidência, graças ao profissionalismo, à capacidade de renovar o repertório e também ao espírito positivo. Em 1985, por exemplo, a banda Legião Urbana estourou com a música Será, e muitos comparavam a voz de seu cantor, Renato Russo, com a de Jerry. Ele curtiu a comparação, elogiou o colega e, em 1999, gravaria o álbum Forza Sempre, com releituras de músicas da Legião com a participação de músicos que haviam tocado com Renato.

Versátil, Jerry apresentou programas e trabalhou como ator em filmes, novelas e séries de TV, sempre com um desempenho elogiado. Em 1990, ele gravou um álbum incrível, Elvis Vive, interpretando versões em português para alguns dos grandes hits de Elvis Presley. Seu mais recente trabalho, Outro (2016), gravado ao vivo e feito em parceria com o Canal Brasil, mostrava o cantor investindo em um repertório mais sofisticado. Aguardem em breve resenha deste trabalho por aqui.

Georgia On My Mind (ao vivo)- Jerry Adriani:

Chuck Berry, ou um sinônimo para a expressão rock and roll

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Por Fabian Chacur

Para John Lennon, as palavras ideais para se definir o rock and roll seriam Chuck Berry. Vindo de quem veio, um elogio daqueles. E mais do que justo. Depois de uma longa trajetória de vida, na qual construiu uma obra influente e inesquecível, este genial cantor, cantor e guitarrista americano parte rumo à eternidade. Ele foi encontrado morto neste sábado (18) no condado de St. Charles, Missouri (EUA), aos 90 anos de idade. Saudoso é pouco!

Charles Edward Anderson Berry nasceu em 18 de outubro de 1926. De temperamento difícil e com várias idas e vindas em sua trajetória, incluindo internação em um reformatório e posteriores prisões, ele chegou a atuar em várias ocupações, mas se achou mesmo na música. Em 1955, lançou Maybelenne, single que seria o primeiro dos inúmeros clássicos que lançaria até a metade dos anos 1960. Embora quase trintão, ele se mostrou mestre em colocar no papel os temas preferidos pelos adolescentes.

Aliás, curiosamente, não só dos adolescentes daqueles já longínquos anos 1950, mas os de todos os que viriam posteriormente. Berry descrevia em suas letras romances sensuais, a busca pelas garotas, os carros, a dança e a libido sempre a mil. Temas que nunca saíram e que nunca sairão de moda, e que ele abordou com simplicidade, poesia e muita categoria. De quebra, nos trouxe alguns dos mais incríveis riffs de guitarra de todos os tempos.

Rock and Roll Music, Johnny B Goode, Around And Around, Carol, Memphis Tennessee, Havana Moon, No Particular Place to Go, Nadine, School Days… O songbook assinado por Chuck Berry é a base em cima da qual artistas como os Rolling Stones, Bruce Springsteen, Beatles e centenas (milhares?) de outros foram buscar informações para criar suas próprias canções. Para ajuda-lo, sua ótima dicção permitia que todas as letras fossem facilmente compreendidas pelos ouvintes.

Graças a seus diversos problemas legais, à redução de novas canções realmente relevantes e também ao surgimento de novos artistas, Chuck Berry viu seu poder de criação cair nos anos subsequentes a 1965. Ainda mostrou força em 1972 quando sua versão ao vivo de My Ding-a-Ling atingiu o primeiro lugar na parada americana, a única vez em que conseguiu tal façanha. Ironicamente, com uma música rasteira, muito abaixo de seus clássicos.

Após lançar o disco de inéditas Rock It (1979), que teve pequena repercussão, o astro do rock passou a viver exclusivamente do passado, o que já estava fazendo há algum tempo. O procedimento era bem curioso: ele ia sozinho, às vezes até sem a própria guitarra, e tocava com os músicos que seu contratante arrumasse. Em certa ocasião, em um show nos anos 1970, sua banda de apoio teve em sua formação o então desconhecido Bruce Springsteen.

Em 1986, Keith Richard, uma espécie de filho bastardo de Berry em termos musicais, resolveu reverenciar seu herói e montou uma banda para acompanha-lo em dois shows comemorativos dos seus 60 anos de idade que iriam gerar o excelente documentário Hail! Hail! Rock ‘N’ Roll, lançado em outubro de 1987, que trazia cenas dos shows, entrevistas com o homenageado e também depoimentos de músicos importantes. De arrepiar.

Berry esteve no Brasil pela primeira vez em 1992, participando do Free Jazz Festival. Um dos shows foi realizado no estádio do Pacaembu, em São Paulo, reunindo ele e Little Richard. Ele quase não entra em cena, pois passou na bilheteria e queria ser pago antes de tocar. Pelo menos, é o que reza a lenda. Mas o show rolou, com ele esbanjando carisma e sendo acompanhado pelo motorista no baixo e músicos brasileiros como o baterista Carlinhos Bala. Eu estava lá!

No último dia 18 de outubro, quando comemorou 90 anos de idade, Mr. Berry anunciou que lançaria em 2017 um novo álbum, intitulado Chuck e seu primeiro trabalho de inéditas desde 1979. Nele, gravações novas e a participação dos filhos Charles Berry Jr. e Ingrid, além de uma dedicatória à esposa Themetta Berry, casada com ele há longos 68 anos. Com o selo Dualtone, o álbum agora será um trabalho póstumo que tentará saciar a saudade de seus inúmeros fãs.

Com Chuck Berry, sai de cena uma era incrível do rock and roll, da qual restam ainda vivos (toc, toc, toc!) Little Richard, Jerry Lee Lewis e Fats Domino. Com certeza, um ser humano polêmico e dos mais complicados, mas um artista cujo talento, capacidade criativa (mesmo que por um período curto de tempo, de 1955 a 1964) e carisma ajudaram a lançar esse tal de rock and roll rumo ao topo do mundo musical.

Havana Moon– Chuck Berry:

Tommy LiPuma, um produtor lendário, morre aos 80 anos

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Por Fabian Chacur

A primeira vez que eu li o nome Tommy LiPuma em um disco foi em um trabalho de George Benson, para ser mais preciso o compacto simples de vinil com a música Love Ballad (1978). Mal sabia eu que ainda ouviria muita coisa boa com o toque mágico de seu trabalho. Ele infelizmente nos deixou nesta segunda(13) aos 80 anos, em Nova York. Seu legado, no entanto, permanecerá eterno.

Nascido em 5 de julho de 1936, LiPuma começou o seu envolvimento no cenário musical como instrumentista, mas acabou enveredando para a área de divulgação no fim dos anos 1950. Após algumas experiências na área de produção, incluindo uma com o então ainda emergente trio de r&b The O’Jays, foi contratado pela gravadora A&M, onde ficou de 1965 a 1968 e assinou a produção de ao menos um grande hit, The More I See You, lançada em 1965 por Chris Montez.

Em 1968, resolveu se associar a outro profissional da área musical, Bob Krasnow (que por sinal nos deixou em 11 de dezembro de 2016), para criar o selo Blue Thumb Records. Até 1978, a gravadora lançaria discos de artistas como Sylvester (os dois primeiros, Sylvester & The Hot Band e Bazaar, ambos de 1973), Gerry Rafferty, Phil Upchurch, The Crusaders, Dave Mason e The Pointer Sisters, entre outros.

Sem se dedicar com exclusividade ao próprio selo, ele tirou a sorte grande em 1976, quando produziu Breezin’, álbum que tornou George Benson uma estrela pop, atingiu o primeiro lugar na parada ianque e rendeu a ele, LiPuma, o primeiro dos cinco troféus Grammy que conquistaria no decorrer de sua vida.

A parceria com Benson rendeu os também clássicos álbuns In Flight (1976), Livin’ Inside Your Love (1978) e o ao vivo Weekend In L.A. (1977, com aquela eletrizante releitura de On Broadway, dos Drifters). Eles voltariam a trabalhar juntos posteriormente em algumas ocasiões.

Em vários momentos de sua carreira, Tommy atuou como produtor e também como executivo de gravadoras, e dessa forma trabalhou com vários artistas brasileiros, como Eumir Deodato, Tom Jobim, João Donato e João Gilberto. Também trabalharam com ele Al Jarreau, Barbra Streisand, Michael Bublé, Willie Nelson e muitos outros.

Em 1991, ele assinou a produção de oito músicas de Unforgettable…With Love, tributo de Natalie Cole a seu pai Nat King Cole que se tornou um campeão de vendas e de Grammys.

Quando resolveu gravar um disco com releituras de standards de jazz, Paul McCartney acabou escolhendo Tommy LiPuma para a tarefa. A colaboração gerou o álbum Kisses On The Bottom (2012), que chegou ao top 5 da parada americana e posteriormente geraria também um belíssimo DVD gravado ao vivo com o seu repertório, que também incluiu duas composições inéditas do Macca seguindo o estilão do material compilado aqui por ele.

Não satisfeito, Tommy LiPuma também descobriu em 1995 uma jovem cantora, compositora e pianista canadense chamada Diana Krall. Naquele ano, produziu o segundo álbum da hoje megaestrela do jazz, Only Trust Your Heart, e assinou outros nove até 2009. Ela também participou do CD de McCartney produzido por ele. Aliás, seu último trabalho na produção marcou seu reencontro com a pupila, o álbum Turn Up The Quiet, que sairá nos EUA em 5 de maio deste ano.

Love Ballad– George Benson:

Morre Joni Sledge, integrante do grupo vocal Sister Sledge

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Por Fabian Chacur

O quarteto vocal americano Sister Sledge fez furor na era da disco music, especialmente com o álbum We Are Family (1979), que estourou no mundo todo. Uma de suas integrantes, a cantora e compositora Joni (última à direita na foto ao lado), nos deixou na última sexta-feira (10). Ela foi encontrada morta em sua casa por um amigo, em Phoenix, Arizona (EUA), e tinha 60 anos de idade.

Nascida em 13 de setembro de 1956 na cidade de Filadélfia, Joni montou ainda menina o grupo com suas irmãs Debbie (9/7/1954), Kim (21/8/1957) e Kathy (6/1/1959). A primeira gravação do quarteto, o single Time Will Tell, saiu em 1971, sem grande repercussão. As meninas não desanimaram e continuaram fazendo shows, até serem contratadas em 1974 pela Atlantic Records. Os primeiros anos foram bem difíceis, até que dois “anjos” entraram em suas vidas.

Foram eles Nile Rodgers e Bernard Edwards, da banda Chic, então estourada com o hit Le Freak. Eles receberam a missão de produzir um novo álbum para as meninas, com direito a compor todo o material e escalar os mesmos músicos de seu time. Bingo! O primeiro trabalho deles nessa parceria não poderia ter dado mais certo, e deu às irmãs o sucesso que tanto procuravam e pelo qual tanto batalharam.

O álbum We Are Family saiu no início de 1979 e acabou atingindo o terceiro posto na parada americana, além de vender muito bem no resto do mundo. Joni foi a vocalista principal em duas faixas, Easier To Love e Lost In Music, sendo que Kathy se mostrou a mais sortuda, pois fez a voz principal nos dois maiores hits do LP, We Are Family e He’s The Greatest Dancer, além das faixas Somebody Loves Me e Thinking Of You.

Seria difícil suceder um trabalho tão bom como esse e também repetir seu sucesso comercial. Love Somebody Today (1980) até chegou perto em termos de qualidade musical, mas atingiu apenas a posição de nº 31 nos charts ianques. O maior hit foi Got To Love Somebody, na voz de Kathy, mas Joni mandou bem em Reach Your Peak e I’m a Good Girl. Infelizmente, este foi o último LP da parceria delas com Nile e Bernard.

Até o fim dos anos 1980, as Sisters Sledge viram sua popularidade cair, embora ainda tenham emplacado alguns hits menores, entre os quais All American Girls (produzido por Narada Michael Walden, de elogiável carreira-solo e que que depois trabalharia com Whitney Houston), My Guy (releitura do sucesso de Mary Wells, dos anos 1960) e Frankie. Em 1989, Kathy sai do grupo rumo a uma carreira-solo, só se reunindo eventualmente com as irmãs.

A partir daí, o trio remanescente se manteve na ativa em shows nostálgicos, lançando alguns discos eventuais. Entre eles, o mais badalado foi African Eyes (1997), que contou com a produção e algumas composições de Joni e recebeu elogios por parte da crítica especializada, embora vendesse pouco. Em 2015, Kathy Sledge fez um show em São Paulo em show que também incluiu o grupo Shalamar, em uma festa disco (leia sobre esse show aqui).

Vale uma última e muito importante informação: em diversas entrevistas, Nile Rodgers, cuja versão atual do Chic está escalada para tocar no Rock in Rio 2017, nomeou We Are Family como o seu álbum favorito, dentre todos os que gravou e produziu durante seus mais de 40 anos de carreira artística. Uma bela escolha, por sinal.

Lost In Music– Sister Sledge:

Al Jarreau, aos 76 anos, leva a sua belíssima voz para o céu

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Por Fabian Chacur

Do The Right Thing (Faça a Coisa Certa-1989), de Spike Lee, é um dos meus filmes favoritos. A sua parte final é bastante violenta. Após uma verdadeira carnificina capaz de abalar qualquer pessoa mais sensível, uma incrível surpresa. Enquanto passam os créditos, uma música doce, suave e envolvente intitulada Never Explain Love nos ajuda a recuperar o fôlego, a esperança e a paz. Seu intérprete, o talentosíssimo Al Jarreau, nos deixou neste domingo (12) aos 76 anos.

Este cantor americano nascido em 12 de março de 1940 em Milwaukee, Wisconsin (EUA) tem inúmeros pontos importantes em seu extenso currículo. Em 1985, por exemplo, ele não só se apresentou com destaque da primeira edição do Rock in Rio como também foi um dos cantores a participar de uma das gravações mais conhecidas de todos os tempos, a beneficente We Are The World, ao lado de Michael Jackson, Bruce Springsteen e dezenas de outras estrelas do seu mesmo calibre.

Filho de um pastor evangélico e de uma pianista de igreja, Alwin Lopez Jarreau (seu nome de batismo) se envolveu com a música desde o berço, portanto. Curiosamente, demorou um pouco a mergulhar de cabeça nessa carreira. Ele se formou em psicologia e trabalhou na área de reabilitação vocacional. Nas horas vagas, cantava com um trio de jazz liderado por um certo George Duke, que viraria um parceiro musical, também estrela do jazz e amigo para o resto da vida.

Em 1968, incentivado pela boa repercussão que vinha obtendo em pequenos shows, resolveu virar cantor em tempo integral. Fez inúmeras apresentações ao vivo e participou de programas de TV importantes, e em 1976, após marcar presença no hoje mitológico Saturday Night Live, recebeu o convite para gravar seu primeiro álbum solo, We Got By, lançado naquele mesmo ano. Ele já tinha 36 anos, mas soube aproveitar essa oportunidade rapidinho.

Em 1978, com o álbum Look To The Rainbow, ganhou o primeiro dos sete Grammy Awards que faturaria em sua carreira. Embora investindo basicamente em jazz, com destaque para scat singing, ele também não se furtava a gravar rhythm and blues, soul e canções românticas, mas sempre com muito bom gosto e sem concessões exageradas.

Em 1981, seu elogiado álbum Breakin’ Away o colocou na 9ª posição da parada pop americana, graças a belas canções pop. Ele sempre liderou os charts de jazz e também de r&b, graças a canções como a maravilhosa Mornin’, que também fez sucesso no Brasil.

Ele também marcou presença em várias trilhas sonoras. Além da do filme de Spike Lee citado logo na abertura deste texto, outro destaque fica por conta de Moonlighting, tema da série de TV A Gata e o Rato, que foi ao ar de 1985 a 1989 e era estrelada por Sybil Sheperd e Bruce Willis. Ele chegou a participar de um álbum da adorável Vila Sésamo, In Harmony: A Sesame Street Record.

Sua paixão pela música brasileira o levou a gravar as músicas Waters Of March e Girl From Ipanema, de Tom Jobim, no álbum A Twist Of Jobim (1997), do célebre guitarrista americano Lee Ritenour, e também da faixa Double Face, em 2010, em um álbum de Eumir Deodato. Ele homenageou o amigo Duke recentemente com o álbum My Old Friend: Celebrating George Duke (2014). Um de seus melhores trabalhos foi Givin’ It Up (2006), gravado em parceria com George Benson, outro grande amigo e que tocou naquele mesmo Rock in Rio de 1985.

Os problemas mais sérios com a saúde de Al Jarreau tiveram início em 2010, quando o astro chegou a ficar internado por bastante tempo na França, entre a vida e a morte. Mesmo assim, conseguiu se recuperar e continuou fazendo shows e gravando até quando isso foi possível. Ele inclusive tinha shows marcados para o Brasil em março deste ano, mas as apresentações foram canceladas por causa de seu estado de saúde, há alguns dias. Uma pena! Que descanse em paz!

Never Explain Love– Al Jarreau:

Morre John Wetton, o incrível cantor e baixista de prog rock

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Por Fabian Chacur

John Wetton era aquele tipo de músico que fazia os concorrentes passarem vergonha na hora de comparar os currículos. Afinal de contas, esse cantor, compositor e baixista inglês tocou com alguns dos mais importantes grupos de rock de todos os tempos, especialmente em termos de rock progressivo. Ele nos deixou nesta terça-feira (31), aos 67 anos, após uma longa batalha contra o câncer.

Mesmo com problemas de saúde, ele não deixou de trabalhar nos últimos tempos. Inclusive, ele deveria começar em breve uma turnê com uma das bandas que o tornou famoso, a Asia, que faria shows em dobradinha com o Journey. Ele anunciou no dia 11 de janeiro que não poderia participar dos primeiros shows por determinação médica, sendo substituído pelo amigo Billy Sherwood (do grupo Yes). O músico também estava se dedicando a relançamentos de trabalhos-solo.

Além disso, está previsto para sair no dia 24 de fevereiro o lançamento de um novo trabalho do Asia, Symfonia- Live In Bulgaria 2013, que sairá em CD duplo e DVD. Os relançamentos de seus trabalhos-solo, assim como a disponibilização de gravações raras e/ou inéditas dele, estavam sendo realizadas por um selo próprio, o Primary Purpose.

Nascido na Inglaterra em 12 de junho de 1949, John Wetton começou no cenário do rock tocando em grupos como o Mogul Trash. Em 1971, entrou na banda Family, a qual acabou deixando em 1972 para aceitar um convite imperdível: ser o novo baixista e vocalista do King Crimson, seminal time de rock progressivo que naquele momento partia para uma nova formação. Ao lado de Robert Fripp (guitarra) e Bill Brufford (bateria), lançou três discos seminais do prog rock: Larks Tongue In Aspic (1973), Starless And Bible Black (1974) e Red (1974).

Com a separação do Crimson em 1974, Wetton ficou até 1977 participando de vários trabalhos alheios, tocando baixo com o Roxy Music em uma turnê da banda (ele aparece no incrível álbum Viva!, lançado por esta banda em 1976) e também participando (entre 1974 e 1978) de discos solo de Bryan Ferry e Phil Manzanera. Em 1975 e 1976, fez parte do Uriah Heep, com o qual gravou dois álbuns, entre eles o elogiado Return To Fantasy (1975).

Em 1977, Wetton cria a banda U.K. ao lado de outros músicos badalados, como Bill Brufford (Asia, King Crimson), Eddie Jobson (Roxy Music) e Alan Holdsworth. Com o fim da banda, em 1980, ele lança o seu primeiro disco solo, Caught In The Crossfire, que é elogiado mas não consegue boas vendagens. Aí, surgiria um projeto campeão de vendas para compensá-lo de forma massiva.

Era o Asia, que trazia ele como cantor e baixista ao lado de Geoff Downess (ex-Buggles e Yes, teclados), Steve Howe (guitarra, ex-Yes) e Carl Palmer (bateria, ex-Emerson, Lake & Palmer). O grupo tornou-se um verdadeiro fenômeno de vendas do pop-rock, vendendo milhões de discos, atingindo o primeiro lugar da parada nos EUA e ficando por lá durante nove semanas e se tornando o álbum mais vendido de 1982 pela Billboard, com hits como Heat Of The Moment e Only Time Will Tell.

A partir daí, já mais do que consagrado, John Wetton se dividiu entre o lançamento de trabalhos-solo, de um álbum em dupla com Phil Manzanera e inúmeros outros projetos bacanas. Em 1997, saiu My Own Time: The Authorized Biography Of John Wetton, de autoria de Kim Dancha. Wetton esteve no Brasil em 1991 com o Asia, onde fez alguns shows. Ele conseguiu superar o vício de bebidas alcoólicas, e ajudava outras pessoas com esse problema sério.

Do It Again (ao vivo)- John Wetton e Phil Manzanera:

O último natal de um saudoso e brilhante George Michael

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Por Fabian Chacur

Uma das presenças constantes nos set lists natalinos desde 1984 sempre foi a canção Last Chrismas, do duo pop Wham!, um dos nomes mais populares do pop mundial na década de 1980. Certamente essa canção repetiu novamente a sua função. Infelizmente, desta vez ganhou um novo sentido, pois este dia 25 de dezembro de 2016 infelizmente se tornou o último natal de um de seus intérpretes, o cantor, compositor e músico britânico George Michael.

Nascido em 25 de junho de 1963, Michael se tornou conhecido mundialmente ao montar com o amigo Andrew Ridgeley o Wham!, em 1981. Entre 1982 e 1986, eles se mostraram rivais à altura de Duran Duran, Spandau Ballet, Human League e outras bandas pop daquela era, emplacando um hit atrás do outro e esbanjando bem assimiladas influências do som da Motown Records. Wake Me Up Before You Go-Go, Freedom, Everything She Wants, The Edge Of Heaven, a lista é grande.

O sucesso da balada com sonoridade mais adult contemporary, Careless Whispers, creditada apenas a George Michael no formato single, embora incluída no álbum Make It Big, do Wham!, apontava uma possível carreira-solo, que se concretizou com o fim do duo em 1986 e, no ano seguinte, com o lançamento do álbum Faith, um estouro de proporções mundiais. Uma influência chave nessa sua nova fase foi Prince, que ironicamente também nos deixou neste doloroso 2016.

Rebelde e inquieto, George Michael lançou em 1990 um álbum simplesmente marcante, Listen Without Prejudice Vol.1, no qual ampliava seus horizontes musicais ainda mais. Nele, a música Freedom 90, que em janeiro de 1991 foi apontada por muitos como um verdadeiro hino do Rock in Rio II, que levou o público que lotou o estádio do Maracanã nos dias em que ele se apresentou a dançar e pular como se não houvesse amanhã. Quem viu, não esquece.

Este que vos tecla, especialmente, pois até então, eu considerava George Michael apenas um artista pop de mediano para bom. Após ver aqueles dois shows incríveis, nos quais ele não só interpretou com categoria seus próprios hits como também releu de forma primorosa maravilhas como Ain’t No Stoppin’ Us Now (McFadden & Whitehead), Calling You (da trilha do filme Bagdad Café) e um pot-pourry matador mesclando Papa Was a Rolling Stone (hit dos Temptations) com Killer (de Adamsky com Seal nos vocais). Simplesmente espetacular.

A partir dali, mergulhei nos discos do Wham! e finalmente percebi o valor daquelas despretensiosas canções dançantes e românticas, e também passei a ouvir cada novo lançamento desse sujeito com um respeito que todo grande artista merece. E percebi porque ele tinha como fãs e parceiros astros do porte de Elton John, Aretha Franklin e os integrantes do Queen, só para citar alguns nomes acima de quaisquer suspeitas. Sua mescla de soul, pop, disco music, rock, jazz e muito mais se tornou personalizada e invejável.

Em 1998, ele lançou uma coletânea matadora e exemplar, Ladies & Gentlemen: The Best Of George Michael, com direito a muitos hits e algumas inéditas que consegue a façanha de, mesmo sendo dupla, não incluir uma única faixa abaixo de excelente. Se você por ventura não conhece a obra solo dele, ou pretende ter um único disco do cara, é esse aqui, sem discussão. Mas quer saber? Todo disco solo lançado por ele tem dignidade e busca pela excelência, e vale ser ouvido.

Se como artista George Michael figura entre os grandes, como ser humano também merece ser louvado. Seu comportamento pessoal sempre foi controverso, com direito a alguns escândalos públicos daqueles, mas nada que se compare a seu elogiável comprometimento com causas nobres, emprestando seu talento e carisma para arrecadar fundos em shows, gravações etc.

Segundo seu empresário, ele foi vítima de insuficiência cardíaca, em sua casa na Inglaterra, neste triste dia de Natal de 2016. O artista já sofria com problemas de saúde desde 2011, pelo que consta. Mas pouco importa. Tomara que tenha sido sem dor, em paz. E com muita liberdade! Vai o ser humano, ficam suas canções. E que canções!

Last Christmas– Wham!:

Freedom 90- George Michael:

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