Tato Mahfuz é um daqueles músicos que desenvolve sua carreira artística paralelamente a outra atividade, em seu caso a advocacia. Procura ser bom nas duas. No direito, não tenho parâmetros para avalia-lo. Na música, sim, e só tenho elogios a seu mais recente trabalho, o CD Cá Entre Nós, distribuído pela independente Tratore.
Cá Entre Nós é o terceiro item na discografia deste violonista, guitarrista e arranjador. Os anteriores são Rumo Norte (1991), que lhe valeu o Prêmio Sharp de Revelação Instrumental, e o também bastante elogiado 24h (1995). Ou seja, foram 18 longos anos até que tivéssemos um novo trabalho dele. Mas valeu a espera.
O trabalho de Tato é desenvolvido na seara da música instrumental, e seu novo álbum o flagra investindo com extrema consistência em melodias delicadas, arranjos repletos de sutilezas bacanas e temas ora mais swingados, ora mais introspectivos, sempre com elegância e lirismo e fugindo do óbvio e da mesmice.
Mahfuz se vale de sonoridades quase jazzísticas ao tocar a guitarra, apresentando boas doses de brasilidade especialmente ao empunhar o violão. O resultado é um som mestiço, com sabor de MPB, jazz, bossa nova e até eventuais pitadas de rock progressivo aqui e ali. Tudo intuitivo, sem frescuras, mas no capricho.
A seu lado, o músico conta com o apoio de feras como Sizão Machado (baixo), Jarbas Barbosa (guitarra), Celso Pixinga (baixo), Edmundo Cassis (piano), Cuca Teixeira (bateria) e especialmente Ricardo Marão (baixo, teclados, programações etc), que faz o papel de seu braço direito no CD como um todo, e dá bela conta do recado.
As dez faixas de Cá Entre Nós fluem com desenvoltura e mantém o ouvinte entretido de ponta a ponta e bem longe do tédio, em temas como Canal 100, Mil Tons, Caminhada (Part.2), Tudo de Bom e Impressões de um Rio, que propõem inventividade, alegria, romance e mergulho interior de forma estimulante.
Após ouvir esse ótimo CD, fica a esperança de que não tenhamos de esperar mais 18 anos para apreciar um próximo lançamento deste ótimo Tato Mahfuz. O mundo do direito que nos perdoe, mas músicos com esse quilate não podem se ocultar durante tanto tempo em meio a audiências, livros e leis intermináveis. Não mesmo!
Veja entrevista de Tato Mahfuz ao programa Em Cartaz, de Atílio Bari:
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