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Little Richard, 87 anos, um dos grandes gênios do rock and soul

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Por Fabian Chacur

Dos grandes nomes que ajudaram a criar o rock and roll nos anos 1950, Little Richard é certamente aquele que se manteve mais próximo do rhythm and blues original. De certa forma, também ajudou na criação da soul music, pois sua música também veio da fusão do gospel com o r&b. Um gênio supremo, cuja morte aos 87 anos infelizmente nos foi anunciada neste sábado (9) por seu filho, Danny Penniman. A causa ainda não foi revelada, embora especule-se que tenha sido consequência de um câncer.

Richard Wayne Penniman nasceu em Macon, Georgia, em 5 de dezembro de 1932. Sua ligação com a música veio do que ouvia nas igrejas, mas também do r&b. E foi dessa fusão do “sagrado” com o “pecaminoso” que a música de Richard surgiu. Suas primeiras gravações ocorreram entre 1951 e 1954 pelos selos RCA e Peacock, mas não tiveram grande repercussão. A coisa começou a andar quando ele assinou com a Specialty Records.

Na gravadora presidida por Art Rupe, Richard enfim encontrou o local certo para desenvolver o seu trabalho. A coisa deu certo logo de cara, em 1955, com o lançamento do single Tutty Frutty. Seu vozeirão, acompanhado por um piano encapetado (com o perdão da piadinha) o empurrou para os primeiros postos das paradas de sucesso, dando início a uma fase simplesmente irresistível de hits.

Seu produtor nessa fase, Robert Bumps Blackwell (1918-1985) se mostrou decisivo para a concretização desse estouro, sendo inclusive seu parceiro nos megahits Long Tall Sally, Rip It Up, Readdy Teddy e Good Golly Miss Molly. Outros hits de Richard viriam até 1957, como Slippin’ and Slidin’, Lucille e The Girl Can’t Help It (tema do filme de mesmo nome no qual ele aparece).

Nesse período, ele lançou o seu primeiro álbum, Here’s Little Richard (1957), considerado um dos primeiros grandes álbuns da história do rock and roll e presença constante nas listas do que melhor se fez nesse seminal gênero musical. E com uma capa mais do que icônica, vale registrar.

Em outubro de 1957, durante uma turnê que fazia ao lado de Eddie Cochran e Gene Vincent na Austrália, Richard afirma ter tido uma visão que o fez se decidir por abandonar o rock and roll, passando não muito tempo depois a gravar apenas canções gospel e a se dedicar à religião. Para sorte dos rockers, esse período não durou tanto assim, e em 1962 o astro estava de volta às turnês e ao rock and roll.

Nesse mesmo 1962, fez shows na Inglaterra e teve como banda de abertura uns novatos de Liverpool, que se diziam seus fãs incondicionais. Um deles, Paul McCartney, até se aperfeiçoou na sua imitação cantando uma música que o tal grupo, ninguém menos do que os Beatles, gravariam dali a pouco, a incandescente Long Tall Sally. Na banda de Richard, tínhamos um jovem Billy Preston, que depois gravaria com os Beatles no álbum Let It Be (1970).

Nos anos 1960, Little Richard não teve muita sorte em termos de sucesso. Seus novos discos tiveram repercussão bem menor, com raros e pequenos hits como Bama Lama Bama Loo (1964). O que ele mais fez foi regravar, para vários selos e com resultados frequentemente inferiores aos dos registros originais da Specialty, seus maiores sucessos, em estúdio ou ao vivo. Em 1965, teve por um breve período um jovem Jimi Hendrix na sua banda de apoio.

Na década de 1970, com um revival do rock and roll original, viu seus shows começarem a atrair novamente um grande público. A grande novidade desse período ficou por conta de Money Is, espetacular faixa escrita e produzida por Quincy Jones lançada em 1971 na trilha sonora do filme $ (Dollars), que por sinal é boa de ponta a ponta e era usada na sonoplastia da versão original da novela global Selva de Pedra (1973).

Em 1986, Richard mostrou todo o seu poder de fogo em mais uma música gravada para o cinema, Great Gosh A’ Mighty , tema do filme Down And Out In Beverly Hills, estrelado por Bette Midler. Sua gravação do clássico infantil Itsy Bitsy Spider também alguma repercussão. E o filme Twins (1988) trouxe como tema principal a música Twins, que reunia Little Richard e Philip Bailey, do Earth Wind & Fire, em um dueto simplesmente explosivo.

Pouco depois, em 1990, nosso herói surpreendeu a todos a participar de uma faixa do álbum Time’s Up, da banda Living Colour. E não foi uma faixa qualquer: trata-se da pesada e irônica Elvis Is Dead.

Em 1992, Little Richard se apresentou no Brasil no Free Jazz Festival. Um dos shows foi absolutamente histórico, realizado no estádio do Pacaembu e reunindo ele e Chuck Berry (que fizeram apresentações separadas). Richard, acompanhado por uma banda afiada, deu uma aula de rock and roll, e ainda brincou com a plateia presente: “are you happy to see the queeeeeeeeen?” . Quem viu não se esquecerá jamais!

Em 2006, Richard gravou junto com o também lendário Jerry Lee Lewis I Saw Her Standing There, dos Beatles, no álbum Last Man Standing, de Lewis. O último álbum de estúdio de Little Richard saiu em 1992, Little Richard Meets Masayoshi Tanaka, mas ele se manteve fazendo shows até 25 de agosto de 2014, quando se despediu dos palcos.

Money Is– Little Richard e Quincy Jones:

Dave Bartholomew, parceiro de Fats Domino e pioneiro do rock

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Por Fabian Chacur

Como todo estilo musical que se preze, o rock and roll teve vários pais, e não surgiu da noite para o dia. Quando o single Rock Around The Clock, de Bill Haley And His Comets, atingiu o primeiro lugar na parada americana em julho de 1955, fato considerado o marco zero do início do rock and roll, muita água já havia passado por baixo da ponte musical. E um dos caras que ajudou muito na criação desse estilo musical tão amplo e de que tanto gostamos nos deixou neste domingo (23), aos 100 anos de idade. Trata-se do compositor, músico, arranjador, bandleader e produtor americano Dave Bartholomew, que nos deixou um belo legado repleto de grandes canções e gravações inesquecíveis.

Dave Bartholomeu nasceu no dia 24 de dezembro de 1918 em Edgar, Louisiana, e se mudou para New Orleans em 1933. Por lá, iniciou o seu envolvimento com a música, dedicando-se ao trompete. Ele integrou várias bandas de jazz, e, ao servir o exército em plena Segunda Guerra Mundial, uniu o útil ao agradável ao integrar uma banda militar. Com o fim do conflito, voltou à vida civil em 1945 e criou sua própria banda, Dave Bartholomew And The Dew Droppers.

Com ouvido apurado e muito talento, Bartholomew viveu a transição do jazz das big bands que se misturava ao blues e ao emergente rhythm and blues, gerando dessa forma uma nova sonoridade, dançante e energética.

Em 1949, ele foi convidado a ser o A&R (diretor artístico) da gravadora Imperial Records, e foi por lá que iniciou a parceria que o eternizou no panteão do rock com um então jovem e promissor cantor, compositor e pianista, um certo Fats Domino (1928-2017, leia mais sobre ele aqui). Juntos, compuseram The Fat Man, lançada naquele mesmo ano e considerada uma das primeiras canções a ter as características do que depois seria rotulado como rock and roll.

Durante a década de 1950 e início dos anos 1960, a parceria com Domino, cujos discos ele também se incumbiu de produzir, gerou inúmeros clássicos do início do rock, como Ain’t That a Shame (1955), Blue Monday (1954), I’m In Love Again (1956), I’m Walkin’ (1957), I’m Gonna Be a Wheel Someday (1957) e Whole Lotta Loving (1958), só para citar alguns deles.

O estilo swingado e a voz doce de Domino, aliadas aos arranjos e à produção impecável criadas pelo talentoso parceiro Bartholomew, deram a esses discos seu tom de marcos não só do rock, como da boa música como um todo.

As composições da dupla também fizeram sucesso nas regravações de grandes nomes da música. Paul McCartney, por exemplo, que homenageou Domino com Lady Madonna, releu com transparente prazer Ain’t That a Shame (que John Lennon também gravou) e I’m Gonna Be a Wheel Someday. Pat Boone chegou ao número 1 da parada americana com a mesma Ain’t That a Shame.

Sozinho ou com outros parceiros, Bartholomew escreveu outros hits bem bacanas. One Night e Witchcraft, por exemplo, entraram nas paradas de sucesso na voz de ninguém menos do que Elvis Presley. E My Ding-a-Ling, que o próprio Bartholomew gravou em 1952, atingiu o topo da parada americana em 1972 na regravação sacana e irreverente de Chuck Berry.

A partir do final dos anos 1960, Dave Bartholomew deixou as gravadoras e passou a investir em sua banda de jazz no estilo dixieland, com a qual fez vários shows e lançou alguns discos. Ele foi incluído no Rock And Roll Hall Of Fame em 1991. Mais de 12 de suas canções atingiram o Top 10 da parada americana.

A ideia dele era celebrar seus 100 anos de idade com um show em New Orleans no fim de 2018, mas seus planos não se concretizaram devido a uma internação hospitalar, prenúncio de que, infelizmente, seu fim estava próximo. Seu pioneirismo e suas ótimas canções ficam como um dos mais expressivos legados da criação desse tal de rock and roll.

Ain’t That a Shame– Fats Domino:

Fats Domino, um precursor do rock, nos deixa aos 89 anos

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Por Fabian Chacur

Quando o cantor, compositor e pianista americano Fats Domino lançou em 1949 o seu primeiro single, The Fat Man, o termo rock and roll nem existia no meio musical. Ele é considerado um dos precursores desse gênero musical, e infelizmente nos deixou nesta terça-feira (24) aos 89 anos. Ele já estava doente há alguns anos, e raramente aparecia em público, para tristeza de seus inúmeros fãs.

Um dos responsáveis pela transição do rhythm and blues rumo ao rock and roll, Domino tinha uma voz deliciosa e um estilo de tocar piano envolvente, além de ser um compositor de primeira e também um artista capaz de reler com categoria obras de outros artistas. Ele nasceu na incrivelmente musical cidade de New Orleans em 26 de fevereiro de 1928, oriundo de uma família na qual a música tinha forte importância.

Começou a tocar e cantar em bares a partir dos 14 anos de idade. Em 1949, conheceu o arranjador e produtor Dave Bartholomew, que não só virou seu parceiro musical como também o indicou à gravadora Imperial Records. Logo em seu primeiro single, The Fat Man, mostrou que não estava ali para marcar bobeira. Essa música é citada por estudiosos como uma das primeiras que podem ser rotuladas como rock and roll. Se bem que, na verdade, boa parte do rock and roll original era, basicamente, puro rhythm and blues. Enfim…

Em 1955, depois de anos lançando trabalhos com repercussão crescente, Domino invadiu as paradas de sucesso com a incrível Ain’t That a Shame, que atingiu o 10º lugar na parada pop na sua interpretação, e o primeiro, em releitura de Pat Boone. A partir daí, o swingado e tímido artista emplacaria diversos hits, entre os quais as clássicas Blueberry Hill, Goin’ Home, I’m In Love Again, Walking To New Orleans, I’m Gonna Be a Wheel Someday, I’m Walkin’ e inúmeras outras.

Em 1963, saiu da Imperial Records e assinou com a ABC, mesmo selo que havia contratado Ray Charles e apostado em sua guinada rumo a bem-sucedidas releituras soul de clássicos country. No caso de Domino, a parceria não deu certo, e o artista saiu das paradas de sucesso, emplacando apenas (e de forma menos intensa) o single com a regravação do clássico do jazz Red Sails In The Sunset (35º lugar nos EUA). No entanto, boas surpresas viriam a seguir.

Em 1964, com um show agendado para New Orleans, os Beatles pediram aos contratantes para que pudessem conhecer Fats. O encontrou gerou boa publicidade para o artista, e um belo reconhecimento público de sua influência sobre a banda. Em 1968, o grupo lançou Lady Madonna, evidente homenagem ao estilo de compor e tocar piano do pioneiro do rock and roll que fez muito sucesso.

No mesmo ano de 1968, Domino retribuiu a força dos Fab Four e regravou de forma brilhante Lady Madonna. Ele também releu à sua ótima moda duas outras composições do grupo, Lovely Rita e Everybody’s Got Something To Hide Except Me And My Monkey. Em seu álbum de covers Rock And Roll (1975), Lennon retribuiu a gentileza ao registrar de forma bem competente Ain’t That a Shame.

Quando resolveu gravar um álbum de covers destinado a sair inicialmente apenas na antiga União Soviética, Paul McCartney incluiu no repertório três músicas de Domino: Ain’t That a Shame, I’m Gonna Be a Wheel Someday e I’m In Love Again. Elas entraram no álbum Choba B CCCP (Back in The USSR, em russo), que saiu naquele país em 1988 e no resto do mundo em 1991.

A partir dos anos 1980, Fats Domino reduziu bastante o número de seus shows. Sua última turnê fora dos EUA ocorreu em 1996 durante três semanas, na Europa. Mesmo os shows nos EUA costumavam se restringir a eventos na sua New Orleans, especialmente no New Orleans Jazz And Heritage Festival. Ele entrou para o Rock And Roll Hall Of Fame em 1986, e mereceu o Grammy Lifetime Achievement Award, pelo conjunto de sua obra, em 1987.

Em agosto de 2005, um baita de um susto. O furacão Katrina arrasou com New Orleans, e durante alguns dias Domino e sua família foram dados como desaparecidos. Eles felizmente foram resgatados, embora a casa do artista tenha sido destruída. Em 2007, foi lançado o álbum-tributo Goin’ Home- A Tribute To Fats Domino, com a participação de astros como Elton John, Neil Young, Paul McCartney (em dueto com Allen Toussaint na faixa I Want To Walk You Home) e o objetivo de ajudar o artista a refazer a sua vida em termos materiais.

I’m Gonna Be a Wheel Someday– Fats Domino:

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