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Tag: pop anos 1970

Mary Wilson, 76 anos, uma das fundadoras da The Supremes

mary wilson supremes

Por Fabian Chacur

Há alguns dias, Mary Wilson postou um vídeo no youtube (veja aqui) no qual, de forma jovial e entusiasmada, revelava que a gravadora Universal Music irá em breve relançar seu primeiro álbum solo, autointitulado e de 1979, com direito a quatro faixas-bônus inéditas produzidas em 1980 por Gus Dudgeon, conhecido por seu trabalho com Elton John. Imaginem o susto ao sabermos que, na última segunda (8), a cantora, integrante da formação original do seminal grupo The Supremes, nos deixou, aos 76 anos, de causas não reveladas.

Nascida em 6 de março de 1944, Mary Wilson se uniu à amiga Florence Ballard (1943-1976) no finalzinho dos anos 1950 com o intuito de montar, em Detroit, um grupo vocal. Essa formação ainda incluía Barbara Martin e Betty Travis, mas esta última saiu rapidinho de cena. Aí, o cantor Eddie Kendricks, que integrava um grupo vocal chamado The Primes, sugeriu como substituta uma amiga de nome Diane Ross, fã incondicional do cantor Frankie Lymon.

No início, o quarteto topou fazer backing vocals em shows dos amigos do The Primes, e, por isso, inicialmente, usaram o nome Primettes. Em 1960, quando os Primes foram contratados pela Motown Records, e rebatizados de The Temptations, Mary e sua turma pediram uma chance ao dono da gravadora, o hoje lendário Berry Gordy. Ele as aconselhou a terminarem o colégio, ensaiarem mais um pouco e depois voltarem para novos testes.

Persistentes, as meninas conseguiram uma chance no pequeno selo Lupine Records, gravando backing vocals para artistas como Eddie Floyd e Wilson Pickett, que também davam seus primeiros passos. Naquele mesmo 1960, gravaram dois singles para esta gravadora, ambos com Mary como vocalista principal, sem grande repercussão. Aí, voltaram a frequentar a Motown, até finalmente serem contratadas, o que ocorreu no dia 15 de janeiro de 1961, rebatizadas como The Supremes, sugestão de Florence.

As adolescentes (três com 16 anos e Florence com 17) vibraram com a oportunidade, e seu primeiro single para a gravadora de Detroit, I Want a Guy, saiu no final de 1961. Era apenas o início de uma longa trajetória até o sucesso, com direito ao lançamento de vários singles que passaram batidos e a tentativa de descobrir um som e um formato corretos para aquele grupo. Barbara resolveu sair fora logo após o lançamento do single.

Agora definidas como um trio, as meninas passaram a ter Diana como vocalista principal, seguindo a orientação de Gordy. Florence não curtiu muito a ideia, mas a aceitou, enquanto Mary não ficou tão afetada, por achar que se incumbir dos backing vocals era tão importante para o grupo como a voz principal.

A coisa só foi engrenar quando Gordy resolveu dar ao trio de compositores e produtores Lamont Dozier e os irmãos Brian e Eddie Holland a incumbência de trabalhar para as meninas. Em janeiro de 1964, o single assinado e produzido pelo trio, When The Lovelight Starts Shining Through His Eyes, atingiu o 23º lugar na parada pop americana. E muita coisa boa viria logo a seguir.

Quando compuseram a música Where Did Our Love Go, Eddie achou que Mary seria mais adequada para assumir o vocal principal, enquanto Brian e Lamont preferiam Diana. Com uma mudança de tom, o trio concordou de forma unânime em dar a Diana a missão. Bingo! Esta canção, em julho de 1964, tornou-se a 1ª do grupo a atingir o primeiro posto na parada americana. Até 1970, outras 11 conseguiriam tal façanha.

Enquanto Mary se sentia aparentemente confortável com Diana aos poucos ganhando cada vez mais os holofotes, Florence foi se tornando muito insatisfeita, até que, em julho de 1967, ela acabou sendo substituída por Cindy Birdsong. O nome do grupo também havia mudado, para Diana Ross & The Supremes, o que indicava o que estava por vir em um futuro não muito distante.

Em 1970, Diana sai do grupo rumo a uma carreira-solo de muito sucesso. Mary, então, torna-se a única remanescente da formação original, agora ao lado de Cyndi e da novata Jean Terrel, que se incumbiu dos vocais principais em hits como Stoned Love, Nathan Jones e Floy Joy, entre outros.

O grupo se manteria ativo, com mudanças na formação, até 1977, quando saiu de cena. Nesse meio tempo, lançou um álbum produzido e com canções do grande Jimmy Webb em 1972, e teve single produzido por Stevie Wonder. O último hit foi I’m Gonna Let My Heart Do The Walking, que chegou ao nº 40 nos EUA.

Com o fim das Supremes, Mary lançou seu primeiro álbum solo, intitulado Mary Wilson, em 1979. Centrado em disco music, emplacou um hit modesto, a ótima Red Hot, mas não vendeu bem. Em 1980, ela já havia gravado quatro faixas com Gus Dudgeon para o que seria o seu segundo álbum-solo pela Motown Records, mas a gravadora preferiu abortar o projeto e encerrar o contrato com a cantora.

Os 25 anos da Motown Records foram celebrados com um show intitulado Motown 25: Yesterday, Today And Tomorrow, e uma de suas principais atrações era a participação das Supremes com Diana Ross, Mary Wilson e Cindy Birdsong (Florence Ballard morreu em 1976, após anos tristes e decadentes). Nas gravações, os desentendimentos entre Diana e Mary se mostraram evidentes, embora a versão exibida na TV tenha retirado os momentos mais picantes.

Em 1986, Mary lançou Dreamgirl: My Life as a Supreme, sua primeira autobiografia, escrita em parceria com Patricia Romanovsky e focada na história do seu ex-grupo nos anos 1960. A parceria voltaria em um segundo livro, Supreme Faith: Someday We’ll Be Together (1990), desta vez dedicado ao período pós-Diana Ross do grupo e à sua carreira solo.

Em 1992, a cantora lançou o seu segundo álbum solo, Walk The Line, no qual releu um hit das Supremes, You Keep Me Hangin’ On, e uma composição da hitmaker Dianne Warren, Under Any Moon, além de I Am Changing, do musical Dreamgirls (1981), supostamente baseado na carreira das Supremes. Ela também participou de discos de artistas como Neil Sedaka, The Four Tops, Paul Jabara e do grupo australiano Human Nature.

Os fãs do grupo que marcou a história da música pop com hits como Baby Love, Stop! In The Name Of Love, You Keep Me Hangin’ On e tantos outros ficaram animados em 1999, quando os boatos de uma possível turnê de reunião das Supremes voltou à tona. No entanto, as complicadas negociações e os velhos ressentimentos não permitiram que esse sonho de seus admiradores se realizasse. Pelo menos, não como deveria.

Diana Ross se juntou a duas outras ex-integrantes do grupo, curiosamente da fase anos 1970 em que ela própria não estava mais por lá, Scherrie Payne e Linda Laurence, para a realização de uma turnê intitulada Return To Love. A série de shows, que teve um início promissor com show sold out no Madison Square Garden, acabou sendo interrompida na sua metade, devido à procura de ingressos ter sido muito inferior ao esperado. Triste.

Outro lançamento bacana de Mary Wilson longe das Supremes saiu em 2006 nos formatos CD e DVD. Trata-se de Up Close: Live From San Francisco, show gravado ao vivo em dezembro de 2005 no Blush Room em San Francisco no qual ela releu desde standards da música americana até hits mais recentes de autores como Eric Clapton, Sting e Joni Mitchell. Curiosidade: temos aqui um pot-porry com I Remember You, The Girl From Ipanema e Mas Que Nada.

Uma das canções desse CD-DVD certamente foi escolhida a dedo. Trata-se de Tears In Heaven, feita por Eric Clapton em tributo ao seu filho Connor, morto de forma trágica aos 5 anos de idade. Mary perdeu seu filho de 14 anos em um acidente de carro em janeiro de 1994.

Mary permaneceu uma figura relativamente constante na mídia, sendo entrevistada em programas de TV e rádio. Em 2015, um single inédito dela, Time To Move On, atingiu o 17º lugar na parada dance da Billboard, 36 anos após Red Hot ter atingido essa parada, sendo esse um recorde de distância entre uma classificação e outra de singles de uma mesma artista nesse chart.

Em 2019, participou do popular reality show norte-americano Dancing With The Stars, além de lançar uma nova biografia, Supreme Glamour: New York, Thames & Hudson, escrito em parceria com Mark Bego. Vale lembrar que em 1999 ela publicou uma versão condensando as duas primeiras bios em um único volume.

Red Hot– Mary Wilson:

Stevie Wonder celebra 70 anos como um dos gênios da música

stevie wonder-400x

Por Fabian Chacur

A voz de Stevie Wonder entrou na minha vida com a música Yester-Me Yester-You Yesterday, que lá pelos idos de 1969-1970 tocava e muito nas rádios paulistanas. Era faixa de seu álbum My Cherie Amour (1969). A partir dali, fui aos poucos mergulhando no maravilhoso universo musical desse grande cantor, compositor e músico americano, que nesta quarta-feira (13) chegou aos 70 anos de vida, dando-nos de presente uma carreira brilhante e repleta de grandes momentos. Um autêntico gênio no setor musical.

Stevie é um daqueles caras que parecem talhados para o estrelato. Seu talento para a música foi descoberto quando ele ainda era criança. Não enxergar se mostrou um obstáculo que o cara soube superar com uma desenvoltura absolutamente absurda. Tanto que, em 1962, lançou seu primeiro álbum, The Jazz Soul Of Little Stevie, jovem aposta da gravadora Motown, que então começava a despontar no cenário americano.

Após gravar um álbum em homenagem a uma de suas inspirações, Ray Charles (Tribute To Uncle Ray-1962), Stevie surpreendeu a todos ao atingir o topo da parada pop americana com o álbum ao vivo Recorded Live: The 12 Old Genius (1963), sucesso impulsionado pelo galopante single Fingertips, que também ponteou os charts, no setor singles.

Em um período mais ou menos rápido, Wonder foi criando uma personalidade própria, com o apoio do mentor Clarence Paul e do presidente da Motown, Berry Gordy. O crítico e pesquisador musical Zeca Azevedo sempre se queixa do fato de a imprensa musical normalmente deixar um pouco de lado essa fase inicial da carreira do artista, e está repleto de razão, pois temos pencas de momentos bacanas nesses anos de aprendizado.

Não faltam músicas maravilhosas nesse período que vai até 1970. Só para citar algumas, vamos da já comentada Yester-Me Yester-You Yesterday e prosseguir com outras pepitas: I Was Made For Love Her, Uptight (Everything’s Alright), For Once In My Life, My Chérie Amour, Signed Sealed Delivered I’m Yours e Pretty World (versão em inglês de Sá Marina, de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar). Em 1970, Stevie já era um artista repleto de hits e discos bacanas.

Só que em 1971, ao completar 21 anos e atingir a maioridade, ele enfim teve acesso a todo o dinheiro que ganhou naqueles anos todos. Isso lhe deu a independência financeira para experimentar novos rumos musicais, e também para negociar um novo contrato com a Motown Records que lhe desse a liberdade artística que desejava, seguindo os passos do colega de gravadora Marvin Gaye. Gordy rateou, mas acabou dando o braço a torcer.

A parceria com os integrantes do inovador grupo Tonto’s Expanding Head Band, Robert Margouleff and Malcolm Cecil, abriu a ele um universo de novas possibilidade em termos de sons de teclados. Isso veio à tona no álbum Music Of My Mind (1972), que inclui a maravilhosa Superwoman (Where Were You When I Needed You), um de seus clássicos superlativos.

Até o fim dos anos 1970, Stevie Maravilha gravou alguns dos melhores discos de todos os tempos, os maravilhosos Talking Book (1972), Innervisions (1973) e Fulfillingness’ First Finale (1974). Em 1975, não lançou um novo LP, e Paul Simon brincou ao receber seu Grammy de melhor álbum do ano por Still Crazy After All These Years, pois Wonder havia faturado nos dois anos anteriores.

Em 1976, Wonder tirou a diferença com o álbum-duplo Songs In The Key Of Life, que no formato vinil trazia dois LPs e um compacto duplo adicional. O sucesso foi estrondoso, e foi inevitável o cidadão abocanhar mais um Grammy de melhor álbum do ano. Ali, já estava sacramentada a abrangência da música de Wonder, misturando soul, funk, jazz, música africana, latinidades, pop e muito mais.

Nesse período de quatro anos, Stevie Wonder nos proporcionou pérolas sonoras de raríssimo valor do porte de You Are The Sunshine Of My Life, Higher Ground, Superstition, Living For The City, All In Love Is Fair, You Haven’t Done Nothing, Sir Duke, As, I Wish, Boogie On Reggae Woman e muitas outras, entre hits e faixas ótimas “escondidas” nos álbuns.

Em 1979, lançou o ambicioso álbum duplo Stevie Wonder’s Journey Through “The Secret Life of Plants feito inicialmente para trilha de um documentário mas que ganhou vida própria. Se só trouxesse a encantadora e envolvente balada Send One Your Love já valeria o preço, mas tem muito mais, embora não tenha tido o mesmo sucesso comercial de seus trabalhos anteriores.

Hotter Than July (1980) o trouxe com mais força aos charts, trazendo clássicos de seu repertório como o envolvente reggae Master Blaster (Jammin’), uma bela homenagem a Bob Marley, e a fantástica Happy Birthday, tributo ao grande Martin Luther King que virou hino de sua bela campanha para que a data de nascimento desse grande ativista virasse um feriado nacional nos EUA, o que acabou se concretizando.

Em 1982, mais dois itens bacanas em sua trajetória: ele lançou a coletânea dupla Stevie Wonder’s Original Musiquarium I, com 12 hits da fase 1972-1980 e quatro petardos inéditos: That Girl, Do I Do (com participação especial do ícone do jazz Dizzy Gillespie), Front Line e Ribbon In The Sky. De quebra, ainda gravou dois duetos com Paul McCartney incluídos no álbum Tug Of War, do ex-beatle: Ebony And Ivory e What’s That You’re Doing, ambas ótimas.

Até o fim dos anos 1980, lançou os hits Part-Time Lover, Overjoyed e I Just Call To Say I Love You e participou com destaque de We Are The World, do projeto beneficente USA For Africa. Characters (1987) não vendeu tanto, mas traz a energética Skeletons e um dueto com Michael Jackson, Get It.

Após a ótima trilha para o filme Jungle Fever (1991), de Spike Lee, os lançamentos inéditos de Stevie Wonder passaram a ser bem mais esparsos. Na verdade, nos últimos 29 anos, foram só dois novos álbuns de estúdio com faixas inéditas: Conversation Peace (1995) e A Time For Love (2005).

Ele continuou fazendo shows e participando de discos de outros artistas, entre os quais Sting, Luciano Pavarotti, Babyface, Herbie Hancock, The Dixie Humminbirds, Elton John, Gloria Estefan e inúmeros outros. Também lançou um esplêndido DVD gravado ao vivo, Live At Last- A Wonder Summer’s Night (2009), gravado ao vivo na imensa O2 Arena, em Londres com altíssima qualidade técnica e na qual ele dá uma bela geral em seu fantástico songbook se mostrando em plena forma.

O astro vendeu mais de 100 milhões de discos nesses anos todos, além de influenciar inúmeros outros artistas. Ele faturou 25 troféus Grammy e também um Grammy pelo conjunto de sua carreira, além de ser o único a ganhar o laurel de melhor álbum do ano com três lançamentos consecutivos. Seus shows no Brasil em 1971 (gravado pela TV Record e exibido por essa emissora) e em 1995 foram marcantes, com grande repercussão de público e crítica.

Com essa trajetória maravilhosa humildemente resumida aqui, Stevie Wonder nos mostrou como um ser humano pode atingir o ponto alto de seu potencial artístico ao superar limitações e desenvolver com rara habilidade canções capazes de cativar as mais distintas gerações. Gênio!

Yester-me Yester-you Yesterday– Stevie Wonder:

Marie Fredriksson, do Roxette, a cantora que não gostava de tédio

Por Fabian Chacur

Swedish pop duo Roxette and their June 2001 album, Room Service.

Swedish pop duo Roxette and their June 2001 album, Room Service.

Don’t Bore Us- Get To The Chorus! (não nos entedie, vá direto ao refrão!, em tradução livre) é o título da primeira coletânea de hits do grupo sueco Roxette, lançada em 1995, e serve como uma boa definição da música que este bem-sucedido e talentoso duo fez durante sua carreira. Infelizmente, essa trajetória está encerrada, pois sua vocalista, Marie Fredriksson, nos deixou nesta segunda-feira (9), aos 61 anos, após ter lutado de forma corajosa durante quase 20 anos contra um câncer.

Nascida em 30 de maio de 1958, Marie se formou em música e se envolveu na cena pop musical sueca. Após integrar grupos sem grande repercussão, ela resolveu iniciar uma carreira-solo e teve o apoio de um amigo, o cantor, compositor e guitarrista Per Gessle, integrante da bem-sucedida banda de rock Gyllene Tider. Eles gravavam seus discos em sueco e cresciam em termos locais.

No entanto, o talento dos dois indicava possibilidades de uma carreira internacional, e o primeiro passo foi pegar uma música do guitarrista, vertê-la para o inglês e gravá-la em duo com Marie. O resultado, Neverending Love, foi a semente que gerou o surgimento do duo, batizado de Roxette, cujo primeiro álbum, Pearls Of Passion, saiu em 1986, sem atingir os objetivos desejados.

Sem desanimar, eles prosseguiram investindo no projeto. Nesse meio-tempo, Marie fez uma mudança radical no visual, cortando os longos cabelos e adotando um estiloso corte curtinho que virou sua marca registrada. Em 1988, veio o segundo álbum, Look Sharp!, que parecia se encaminhar para o mesmo destino do anterior. Só que não! O single The Look estourou de forma inesperada nos EUA em 1989, atingindo o número 1 na parada de lá.

Era o início de uma invasão no principal mercado musical mundial, que se espalhou pelos quatro cantos do mundo. Do mesmo álbum, Listen To Your Heart repetiu a performance de The Look, enquanto Dangerous atingiu o segundo posto. Em 1990, como parte da trilha sonora do filme Pretty Woman (Uma Linda Mulher), estrelado por Julia Roberts e Richard Gere, It Must Have Been Love também virou nº 1 nos EUA.

A fórmula azeitada era simples, mas muito bem executada: um misto de rocks com pegada dançante e power ballads compostas por Per e interpretadas com muita personalidade e categoria por Marie. De quebra, os clipes sempre bem elaborados e os shows calorosos e de um profissionalismo impecável, além da simpatia dos dois, tornou o Roxette um fenômeno de vendas e popularidade.

Joyride (1991) manteve os amigos nos charts, com sua festiva faixa-título sendo seu 4º número um no formato single e a balada Fading Like a Flower (Every Time You Leave) chegando ao 2º lugar. Era o auge do Roxette no mercado americano.

A partir daí, o sucesso do duo na terra de Barack Obama teria uma grande redução, mas isso não ocorreria no resto do mundo, onde os dois amigos permaneceram populares e requisitados.

Em 1995, sai a primeira coletânea de hits do grupo, Don’t Bore Us- Get To The Chorus!- Roxette’s Greatest Hits, incluindo 12 hits e quatro inéditas, entre as quais uma que estourou por aqui, a deliciosamente sessentista June Afternoon, com direito a um icônico clipe revivalista.

As coisas começaram a se complicar para o Roxette a partir do lançamento do álbum Room Service (2001). Pouco tempo depois, Marie foi diagnosticada com um tumor cerebral. Mesmo com essa séria dificuldade a ser enfrentada, a cantora não se entregou, lançando em 2004 seu primeiro disco solo em inglês, The Change, e voltando a se dedicar ao Roxette a partir do lançamento do álbum Charm School (2011).

O último álbum do Roxette, Good Karma, saiu em 2016, e nesse mesmo período a cantora anunciou que não faria mais turnês. Ela ainda lançou três singles solo entre 2017 e 2018. Foram oito discos solo (sete deles em sueco) e dez álbuns de estúdio com o Roxette.

Com grande sucesso no Brasil, Marie Fredriksson e Per Gessle fizeram sua primeira turnê por aqui em 1992, e tive a honra de participar da coletiva de imprensa concedida por eles em São Paulo, quando consegui o autógrafo do duo na capa da minha edição em vinil do álbum Joyride e ainda troquei umas palavras adicionais com o Per após a coletiva, na qual ele me falou sobre sua paixão pela marca Rickenbacker de guitarras e pelo som de Tom Petty e Jackson Browne.

O show em São Paulo, realizado no estacionamento do Parque Anhembi, foi simplesmente impecável, com gente pelo ladrão. Em 1995, eles voltaram, e estive de novo na entrevista coletiva. O duo voltou a tocar por aqui em 1999 e 2011, sempre atraindo um público significativo.

A simpática e talentosa guerreira Marie nos deixou de forma prematura, mas fica a certeza de que soube aproveitar bem essa sua passagem por essa coisa chamada vida. C’mon join the joyride!

June Afternoon (clipe)- Roxette:

Rita Coolidge virá ao Brasil pela primeira vez em abril de 2019

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Por Fabian Chacur

Uma belíssima notícia para os fãs de pop-rock de veia romântica. Rita Coolidge, uma das intérpretes de maior sucesso dos anos 1970 nessa área, com direito a cinco hits certeiros incluídos em trilhas de novelas globais, finalmente fará shows no Brasil. Ela se apresentará em Vitória (ES) no dia 10 de abril, no Estacionamento do Shopping Vitória, em São Paulo no dia 12 de abril, no Tom Brasil, e no dia 13 de abril no Rio de Janeiro, no Vivo Rio.

A estrela do pop-rock vive um momento importante de sua carreira. Em maio de 2018, lançou o álbum Safe In The Arms Of Time, o primeiro em 13 anos, que conta com as participações de nomes importantes como Graham Nash, Keb’ Mo’, Stan Lynch e Chris Stapleton. Ela define o momento atual de sua carreira e vida de forma muito sábia:
“É tudo sobre a jornada. Às vezes, o caminho é cercado por arco-íris e às vezes está enterrado na lama. Ainda estou aqui e ainda tenho muita gratidão por todo o processo de poder fazer música. ”

Em plena turnê de divulgação desse novo trabalho, ela trará músicas deste álbum e vários de seus maiores sucessos no repertório, com uma energia que prova que ela conseguiu superar o trauma da trágica morte de sua irmã Priscilla, com a qual integrou um trio vocal, o Walela.

Em 2015, lançou uma autobiografia, Delta Lady, título que extraiu da música homônima feita em sua homenagem pelo músico Leon Russell e sucesso mundial na voz de Joe Cocker nos anos 1970.

Rita Coolidge nasceu em Lafayetteville, Tenessee (EUA), em 1º de maio de 1945. Sua iniciação musical teve como base a música gospel. Enquanto cursava a universidade, gravava jingles para conseguir pagar os estudos. O trabalho virou uma paixão, e a levou a se decidir por mergulhar na carreira musical.

Ela foi convidada a participar do grupo Delaney & Bonnie and Friends no final dos anos 1960, e foi com eles que conheceu nomes importantes do rock com os quais gravaria backing vocals, entre eles Eric Clapton (no grande hit After Midnight) e Stephen Stills (Love The One You’re With, outro clássico do rock). Também trabalhou com Jimi Hendrix, Graham Nash, Leon Russel e Joe Cocker.

Ela participou da lendária turnê Mad Dogs And Englishmen, liderada pelo cantor britânico Joe Cocker, e no álbum ao vivo gravado durante os shows brilhou ao interpretar Superstar, de Leon Russell. Também inspirou uma das personagens do incrível rock Cowboy Movie, um dos destaques do primeiro álbum solo de David Crosby, If I Could Only Remember My Name (1971).

De 1973 a 1980, foi casada com o também consagrado ator, cantor e compositor Kris Kristofferson, com quem lançou três álbuns- Full Moon (1973), Breakaway (1974) e Natural Act (1978), que proporcionaram a eles dois troféus Grammy, o Oscar da música.

A carreira-solo, que mantinha paralelamente aos outros trabalhos, teve início em 1971 com o lançamento de um elogiado álbum autointitulado. Versátil, ela nunca se ateve a um único estilo musical, misturando rock, soul, pop, country, gospel, jazz, blues e até reggae em sua sonoridade.

Em 1977, ao lançar seu sexto trabalho individual, Anytime…Anywhere, enfim fez sucesso por conta própria, com o estouro da sua releitura para o clássico de Jackie Wilson, (Your Love Has Lifted) Higher and Higher. Logo a seguir, o álbum Love Me Again (1978) a ajudou a se firmar de vez como uma das vozes mais populares da cena pop mundial.

Nessa época, Rita virou uma espécie de presença obrigatória em trilhas de novelas globais, sempre com músicas que se tornavam grandes hits no Brasil. Fizeram muito sucesso por aqui We’re All Alone (O Astro, 1977), You (Pecado Rasgado, 1978), Love Me Again (Sinal de Alerta, 1978), I’d Rather Leave While I’m In Love (Chega Mais, 1980) e All Time High (Eu Prometo, 1983).

Por sinal, All Time High foi gravada, escrita e lançada originalmente como tema principal do filme Octopussy (1983), da franquia James Bond, tarefa para a qual só são escolhidos nomes do porte de Paul McCartney, Carly Simon, Shirley Bassey, Duran Duran, A-ha e Adelle. Bem acompanhada a moça, heim?

Em 1983, mostrando sua versatilidade e abertura para novos trabalhos alheios, ela lançou o álbum Never Let You Go, no qual releu com grande categoria hits então recentes de nomes da nova geração como Culture Club (Do You Really Want To Hurt Me), Squeeze (Tempted), Joe Jackson (Fools In Love) e Ian Dury (Stop Wasting Your Time).

You– Rita Coolidge:

Manhattans c/Gerald Alston é opção de show de soul em SP

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Por Fabian Chacur

Duas notícias, uma ruim, a outra, ótima. Primeiro a parte negativa: o grupo The Manhattans, banda de soul music romântica dos anos 1970 e 1980, virá ao Brasil pela 1ª vez sem quatro dos cinco integrantes de sua formação clássica. No entanto, o único remanescente é justamente o mais importante deles, o vocalista principal Gerald Alston. O agora trio americano vai se apresentar em São Paulo no dia 2 de junho (sábado) no Tom Brasil (rua Bragança Paulista, nº 1.281- fone 0xx11-4003-1212), com ingressos de R$ 120,00 a R$ 240,00.

Além de Alston, a escalação atual dos Manhattans, que se mantém desde o início dos anos 2000, traz os também cantores Troy May e David Tyson. Este último é irmão de Ron Tyson, que desde 1983 faz parte da antológica banda americana The Temptations. Vale lembrar que Alston também tem um parentesco nobre: ele é sobrinho da cantora Shirley Alston Reeves, vocalista do grupo vocal feminino The Shirelles, conhecido nos anos 1960 por hits como Will You Still Love Me Tomorrow, Baby It’s You e Soldier Boy, entre outros.

A carreira dos Manhattans teve início em 1962, sendo que o então quinteto gravou seu primeiro single em 1964. Eles ganharam impulso real a partir de 1970, quando Gerald Alston, com cerca de dez anos a menos de idade do que seus colegas, entrou no time para substituir George Smith, que morreu naquele mesmo ano. Em 1973, contratados pela Columbia Records (cuja acervo hoje pertence à Sony Music), lançaram seu primeiro hit, There’s No Me Without You, nº 43 nos EUA.

Com um estilo influenciado por grupos vocais como Stylistics, Temptations e Blue Magic, os Manhattans mostraram sua força comercial ao atingir o primeiro lugar da parada de singles ianque com a antológica canção Kiss And Say Goodbye, cuja marca é a introdução interpretada com a voz grave de Winfred Blue Lovett para, logo a seguir, termos a entrada triunfal de Gerald Alston, algo que se tornaria padrão.

O grupo teve em seus discos desse período participação de músicos do chamado “Som da Filadélfia”, entre os quais Norman Harris, Ron Kersey, Vincent Montana Jr., Ronnie Baker e Earl Young, conhecidos por seus trabalhos com The O’Jays, Harold Melvin & The Blue Notes, Billy Paul, Bunny Sigler e outros astros produzidos pela dupla Kenny Gamble & Leon Huff. Eles, no entanto, não foram produzidos por esse duo genial.

Em 1980, a banda emplacou seu segundo maior sucesso, a balada swingada Shining Star, que conseguiu o 5º lugar na parada americana. Outras canções de sucesso de seu repertório são Don’t Take Your Love, Hurt, I Kinda Miss You, That’s How Much I Love You e Just The Lonely Talking Again, esta última regravada com sucesso por Whitney Houston em seu segundo álbum, de 1987.

Conforme a década de 1980 foi se desenrolando, o sucesso do grupo infelizmente se reduziu bastante. E temos uma curiosidade que os liga fortemente ao Brasil. A música Forever By Your Side, faixa-título de seu álbum de 1983, teve pouco destaque nos EUA, mas, incluída em 1985 na trilha da novela global A Gata Comeu, virou um megahit, sendo possivelmente sua música mais conhecida por aqui, com direito a versão em português, Pra Sempre Vou Te Amar, gravada pela cantora romântica Adriana e pelo cantor gospel Robinson “Anjinho”.

Para revigorar sua trajetória, Gerald Alston resolveu sair dos Manhattans, iniciando uma carreira solo em 1988 que lhe rendeu hits medianos como Take Me Where You Want It, Slow Motion e Getting Back Into Love. No total, ele lançou até o momento seis CDs individuais, sendo o mais recente, True Gospel, de 2014, totalmente dedicado ao gospel.

Entre os anos 1990 e 2000, tivemos duas bandas com o nome Manhattans no mercado de shows. Uma, liderada por Edward Sonny Bivins, da formação original, deu continuidade ao time após as saídas de Alston em 1988 e Blue Lovett em 1990. A outra, criada depois e capitaneada por Alston e Lovett, é exatamente a que chega ao Brasil, só que sem o segundo, que morreu em 2014. Aliás, o único membro da formação clássica da banda ainda vivo é exatamente Alston.

Kiss And Say Goodbye (clipe original)- The Manhattans:

Kiss And Say Goodbye (ao vivo-2/2017)- The Manhattans:

Andy Gibb, astro pop que não aguentou o peso do estrelato

andy gibb 1-400x

Por Fabian Chacur

No dia 5 de agosto de 1988, Andy Gibb completou 30 anos de idade. Embora ainda bem jovem, já tinha vivido muito, e intensamente. Sucesso, consagração, badalação, vício, insegurança, problemas de saúde… Tudo foi muito intenso para ele. Tanto isso é verdade que, apenas cinco dias após se tornar trintão, o cantor e compositor britânico nos deixou, em um triste 10 de agosto daquele mesmo ano. Se a história acaba mal, o legado musical que ele nos deixou não poderia ter sido melhor.

A história de Andy Gibb é repleta de curiosidades e momentos bacanas. Ele nasceu na cidade inglesa de Manchester em 5 de agosto de 1958, o filho mais novo do casal Hugh e Barbara Gibb, que também gerou Lesley, Barry e os gêmeos Robin e Maurice. O fraldinha da companhia tinha apenas seis meses quando a família resolveu se mudar para a Austrália em busca de dias mais fartos e vitoriosos naquele lado do mundo.

Quando os Gibb voltaram à Inglaterra, em 1967, Barry, Robin e Maurice eram estrelas do pop-rock australiano, como integrantes dos Bee Gees e a ambição de conquistarem o Reino Unido e, na sequência, o mundo todo. Deu certo. Tanto que em pouco tempo o trio ganhou a idolatria de um contingente enorme de fãs, o que levou Hugh e Barbara a buscarem um lugar mais tranquilo para criarem seu filho caçula, já que Lesley ficou na Austrália e os outros já estavam voando com as próprias asas.

Em 1970, já vivendo em Ibiza, Ilhas Baleares (ao leste da Espanha), Andrew Roy Gibb (seu nome de batismo) começou a dar vasão a sua veia musical, cantando em bares na cidade e se acompanhando com o violão que ganhou de Barry. Ao voltarem ao Reino Unido em 1973, para morar na Ilha de Man, a família Gibb viu seu caçula montando pequenos grupos musicais. Quando ficou claro que o garoto realmente tinha talento, Barry resolve dar um conselho ao maninho.

Na opinião do filho mais velho dos Gibb, Andy poderia desenvolver melhor seu potencial na Austrália, onde não sofreria tanta pressão da mídia. Em 1974, ele foi para lá, e em 1975, após algumas tentativas, assinou com o pequeno selo local ATA Records e lançou o single Words and Music, um belo hit na terra dos cangurus. Aí, entrou na parada Robert Stigwood, empresário dos Bee Gees e dono da gravadora RSO.

Quando sentiu o potencial de Andy, Stigwood resolveu contratá-lo, o que se efetivou em 1976. Na época, os Bee Gees estavam mudando a sua base para Miami, Flórida, e foi para lá que o cantor se mudou. Antes, ficou uns dias nas Ilhas Bermudas, na casa de Stigwood e com o irmão Barry, com o intuito de compor músicas para o seu primeiro álbum.

Cercado por um elenco de músicos do primeiríssimo time sob o comando do genial tecladista, produtor e arranjador Albhy Galuten, um dos nomes fundamentais para a criação da fase rhytmn’ and blues/disco dos Bee Gees, Andy gravou um belíssimo álbum de estreia. Flowing Rivers saiu em 1977, e foi antecedido por um single de sucesso absurdo, I Just Want To Be Your Everything, que chegou ao primeiro lugar na parada americana.

O álbum atingiu o 19º posto na parada ianque e traz dez faixas, sendo nove composições dele (sendo duas parcerias com Galuten e uma com Barry) e uma só de Barry, exatamente o hit funky I Just Want To Be Your Everything. Também lançada em single, (Love Is) Thicker Than Water atingiu o primeiro lugar nos EUA e foi escrita por Andy e Barry. Outro momento incrível do álbum é a canção country Flowing Rivers, essa só do Gibb fraldinha.

Embora com diversas similaridades com o estilo que os Bee Gees desenvolviam na época, Andy não soava como um mero diluidor do trabalho deles. Muito longe disso. Com uma voz doce e capaz de valorizar as melodias bacanas disponíveis, ele se mostrou, aos 19 anos, com uma maturidade artística muito acima do que se poderia imaginar. Uma curiosidade: Joe Walsh, guitarrista dos Eagles, participou de duas faixas de Flowing Rivers.

Em 1978, veio seu segundo álbum. A faixa título, Shadow Dancing, saiu um pouco antes como single, e proporcionou ao jovem astro uma façanha: atingiu o primeiro lugar nos EUA e o tornou o primeiro artista na história da música pop a garantir a posição mais alta da parada americana dos compactos simples com seus três primeiros singles. Shadow Dancing, o álbum, traz oito composições de Andy, sendo seis sozinho, uma em parceria com Barry (Why) e outra escrita pelos quatro irmãos (a faixa-título).

As duas faixas que completam o segundo LP de Andy Gibb são a deliciosamente pop An Everlasting Love (de Barry Gibb e nº 5 na parada de singles) e a deslumbrante balada (Our Love) Don’ Throw It All Away (Barry e Blue Weaver, nº9 entre os singles mais vendidos). O álbum chegou ao nº 7 nos EUA, e sua faixa-título foi o maior hit de 1978 na terra de Barack Obama, acima até mesmo dos inúmeros hits do filme Saturday Night Fever, dos irmãos Gibb.

Em seu primeiro grande show solo, em 1978, ele contou com convidados especiais: nada menos do que os Bee Gees, a primeira vez em que os quatro irmãos pisaram juntos em um palco profissionalmente. Em 9 de janeiro de 1979, ele participou com destaque do show beneficente Music For Unicef, espetáculo que contou com os Bee Gees, Earth, Wind & Fire, Donna Summer, Abba e outros. Gibb aparece no álbum que documentou esse evento histórico interpretando as músicas I Go For You e Rest Your Love On Me, essa última em dueto com Olivia Newton-John.

É mais ou menos nessa época, quando Andy Gibb disputava os primeiros lugares das paradas de sucesso do mundo todo com seus irmãos, que ele começa a mostrar os primeiros sinais mais claros de que não estava segurando a onda de tanta exposição pública. Várias podem ter sido as razões, sendo a mais clara sua insegurança. O fato de seus maiores hits terem autoria ou coautoria do irmão Barry também podem ter reforçado essa situação de autoestima baixa.

Dessa forma, o cantor mergulhou nas drogas, especialmente cocaína. As consequências disso refletiriam em algumas características de seu terceiro álbum, After Dark, lançado em 1980. Das dez faixas incluídas nele, apenas duas levam a sua assinatura, e ainda assim em parceria com Barry, que assina outras cinco sozinho, uma em parceria com Albhy Galuten e as duas restantes com os irmãos Robin e Maurice.

Ou seja, After Dark é quase um disco solo de Barry Gibb com os vocais do irmão. Vocais, por sinal, gravados a muito custo. Ainda assim, o disco é muito bom, trazendo como destaques a ótima faixa título, a meio latina Desire (número 4 entre os singles mais vendidos) e dois duetos inspiradíssimos com a amiga Olivia Newton-John: I Can’t Help It e Rest Your Love On Me. O álbum chegou ao número 21 nos EUA.

Portanto, se não fosse a atuação decisiva de Barry no intuito de ajudar Andy a concretizar seu 3º álbum, o disco poderia perfeitamente não ter sido nem gravado, nem lançado. Ele praticamente não compunha mais nada, e para ficar em condições decentes para cantar, era preciso uma verdadeira operação de guerra. Isso explica o fato de o LP usar faixas como Desire e Warm Ride, ambas pensadas inicial e respectivamente para os Bee Gees e o grupo soul Rare Earth, não para Andy.

Diante desse quadro, Robert Stigwood não viu outra alternativa a não ser encerrar o contrato de Andy com a RSO Records. Como forma de finalizar essa parceria, foi lançada ainda em 1980 a coletânea Greatest Hits, trazendo como atrativos três gravações inéditas: o ótimo rock Time is Time (parceria dele com Barry que chegou ao nº 15 entre os singles em 1981), a balada Me (Without You) (esta só dele, nº 40 entre os singles) e a releitura de Will You Still Love Me Tomorrow (de Carole King), esta última um dueto com a cantora P.P. Arnold. O álbum atingiu o número 46 nos EUA, e marcou o fim de uma era.

Em 1981, Andy entrou forte nas revistas de fofocas de estrelas ao namorar com a atriz Victoria Principal, que vivia a Pamela Ewing na série televisiva de enorme sucesso Dallas. Ele, inclusive, gravou um single com ela, relendo All I Have To Do Is Dream, hit dos Everly Brothers, que chegou ao número 51 da parada ianque em 1951. Seria a última vez em que um de seus trabalhos entraria nos charts, e seu último lançamento antes de seu fim precoce. O namoro também acabou alguns meses depois, quando a atriz exigiu que Andy escolhesse entre ela ou as drogas. Deu a segunda opção, na cabeça.

A década de 1980 seria mesmo muito tumultuada para Andy Gibb, embora não tivessem faltado oportunidades para ele dar a volta por cima. O astro atuou como ator em dois badalados espetáculos teatrais, The Pirates Of Penzance e Joseph Ad The Amazing Technicollor Dreamcoat, e recebeu elogios por suas atuações neles. No entanto, foi demitido das duas produções americanas, ambas por faltar de forma constante aos ensaios e sessões.

Na TV, o mesmo ocorreu. Chegou a ser apresentador do programa Solid Gold entre 1980 e 1982 (com idas e vindas), atuou como convidado na série Punky Brewster (Punky, a Levada da Breca, no Brasil) e como protagonista da série Something’s Afoot ao lado de Jean Stapleton. Em 1984, retomou por uns tempos a música e fez shows nos EUA, Chile e Brasil, shows estes registrados e lançados posteriormente em DVDs piratas. Apresentações bem profissionais, por sinal, sendo que por aqui ele cantou usando uma camiseta amarela com o nome Brasil estampado. No repertório, hits dele, dos irmãos e um de Lionel Richie (All Night Long).

Em 1985, acabou sendo internado na célebre clínica Betty Ford para tentar se livrar das drogas, e a esperança ficou no ar. Em 1987, teve sua falência decretada, mergulhado em dívidas, mas outro raio de luz parecia surgir no horizonte: ele voltou a gravar, em parceria com os três irmãos e almejando o seu retorno triunfal ao meio musical.

Nesse período, foram gravadas quatro músicas, sendo que duas delas seriam lançadas de forma póstuma: Man On Fire, incluída na coletânea em CD intitulada Andy Gibb (1991) e Arrow Though The Heart, na caixa de quatro CDs Mythology (2010), que traz um disco para cada integrante dos Bee Gees e uma para o irmão mais novo. As gravações geraram boas expectativas.

No início de 1988, a Island Records tentou contrata-lo. O intuito era lançar dois singles e, em seguida, o esperado álbum de retorno de Andy. Infelizmente, isso não se concretizou, pois ele mais uma vez se incumbiu de faltar nas datas programas para assinar o compromisso com a gravadora. E, em 10 de março de 1988, a notícia que ninguém queria que se concretizasse veio a tona: Andy já não estava mais entre nós.

Muito se especulou sobre a causa da morte precoce do mais novo dos Bee Gees. Overdose parecia uma opção próxima da realidade, mas informações posteriores apontam para uma miocardite causada por uma infecção viral. Essa condição foi proporcionada por anos consecutivos de uso de drogas, o que deixou o artista com uma saúde bastante frágil, agravada por uma incapacidade latente de se alimentar de forma satisfatória. Uma pena.

Andy Gibb deixou uma filha, Peta, fruto de um casamento ainda na Austrália na metade dos anos 1970. Ela tinha apenas dez anos quando o pai morreu, e recentemente foi convidada a integrar o projeto The Gibb Collective, que reúne ela e os filhos de Barry (Stephen), Sam e Adam (Maurice) e Spencer (Robin) para gravar um álbum com faixas do songbook da família. A saga continua…

I Just Want To Be Your Everything (live Brasil 1984)- Andy Gibb:

Cyndi Lauper e Rod Stewart: dupla anuncia tour pelos EUA

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Por Fabian Chacur

De um lado, um astro que se tornou popular na década de 1970 e desde então se mantém firme nos palcos de todo o mundo. Do outro, uma cantora festiva e talentosa que a partir da década de 1980 invadiu as paradas de sucesso do planeta. São eles, respectivamente, Rod Stewart e Cyndi Lauper. A dupla anunciou esta semana que fará 18 shows em parceria nos EUA durante os meses de julho e agosto, com início em 6 de julho na Flórida e final em Houston, Texas, dia 12 de agosto.

No momento, os dois artistas se encontram em estúdio finalizando projetos individuais. Rod prepara o sucessor do ótimo Another Country (2015- leia a resenha de Mondo Pop aqui), enquanto Cyndi grava um novo trabalho, após o êxito de Detour (2016), álbum de pegada country que contou com as participações de Willie Nelson e Emmylou Harris.

A cantora americana está em fase de parcerias, pois também divulgou shows que fará na Nova Zelândia em abril em dobradinha com a banda Blondie, da musa Debbie Harry. Cyndi e Rod são amigos há muito tempo, e chegaram mesmo a apresentar o vencedor de uma premiação pop em 1988, da qual o vencedor foi o grupo australiano Inxs.

Rod Stewart e Cyndi Lauper apresentando um prêmio em 1988:

Billy Paul, verdadeiro estilista da soul music, hoje é saudade

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Por Fabian Chacur

O Dia dos Namorados, comemorado no Brasil no dia 12 de junho, este ano será bem triste. Certamente não teremos um show de Billy Paul para celebrá-lo, como ocorreu algumas vezes nos últimos anos. A razão é definitiva: ele nos deixou neste domingo (24), aos 81 anos de idade, vítima de um câncer. Uma grande perda. Ele era um estilista da soul music.

Billy Paul nasceu no dia 1º de dezembro de 1934 na cidade da Philadelphia, nos EUA. Começou a carreira ainda muito jovem, lançando seu primeiro single em 1952, com as músicas Why Am I e That’s Why I Dream. Seu primeiro álbum só sairia em 1968, Feelin’ Good At The Cadilac Club, que iniciou sua parceria com os produtores e compositores Kenny Gamble e Leon Huff. Seria o início de uma parceria que se mostraria das mais produtivas.

Quando Gamble e Huff resolveram montar um selo mais forte, a Philadelphia International Records (PIR), com o apoio da Epic/CBS, não demoraram a chamar Billy Paul para assinar com eles. O primeiro lançamento do contrato, Going East (1971), não teve muita repercussão. O segundo, no entanto, foi bola no ângulo. Golaço musical.

360 Degrees Of Billy Paul (1972) inclui Me and Mrs. Jones, que no formato single chegou ao primeiro lugar da parada pop americana e por lá ficou por três semanas. Musicalmente doce e com um tempero jazzístico, a canção fala sobre um momento de infidelidade, e chega a ser surpresa ter feito tanto sucesso em um país tão conservador como os EUA. A faixa virou o cartão de visitas da carreira de Billy Paul.

Mas o álbum traz também outras canções bem bacanas, como suas belas releituras de Your Song (Elton John) e It’s Too Late (de Carole King). A sacudida Am I Black Enough For You? foi escolhida para suceder Me and Mrs. Jones, e atingiu apenas a posição de nº 79 nos charts. Desta vez, a temática racial não foi bem aceita pelo público médio, uma pena, levando-se em conta a qualidade da mesma. O álbum chegou ao nº 17 na parada pop. Nunca mais ele teria tanto sucesso comercial nos EUA.

Embora sua qualidade musical permanecesse alta, seus álbuns não venderiam mais tão bem. Com faixas longas e forte tempero psicodélico, o excelente álbum War Of The Gods(1973) só chegou ao número 110 nos EUA, com o single Thanks For Saving My Life, única com um formato mais pop e compacto, atingindo apenas o número 37. Daí para a frente, seus trabalhos venderiam cada vez menos em sua terra natal.

Em países como o Brasil, no entanto, Billy Paul continuou um hitmaker potente, emplacando nos charts as músicas já citadas nesta matéria e outras que passaram batidas na terra de Richard Nixon, entre as quais as excelentes July July July July, Let Em In (de Paul McCartney), Only The Strong Survive e Bring The Family Back. Sua primeira passagem por aqui seria em 1976, apenas o começo de uma cumplicidade incrível.

First Class, de 1979, que inclui Bring The Family Back, marcou o fim de sua parceria com a PIR, dos amigos Gamble & Huff. Curiosamente, eles se reencontrariam nos tribunais, quando Paul reclamou de direitos não pagos por eles, e acabou vencendo a questão, assim como também venceu a luta contra a utilização de Me And Mrs. Jones pela Nike em um comercial já nos anos 2000. Coisas do mundo capitalista selvagem…

Nos anos 1980, ainda arriscou dois discos de inéditas, Lately (1985) e Wide Open (1988), mas as tentativas de modernização não deram muito certo. Ele chegou a dizer, durante um show na Inglaterra, em 1989, que iria se aposentar. Houve quem acreditasse, até pelo fato de ele ter 55 anos na época, mas no fim das contas, foi um alarme falso. Suas turnês se tornaram frequentes, pelos EUA, Europa, Ásia e América Latina.

No Brasil, Billy Paul virou presença constante, com direito até a abrir um show do Olodum, em 1994, presenciado por este que vos tecla. Antes, em 1988, ele havia gravado um dueto com Sandra de Sá, Amanhã, que tocou bastante nas rádios. Muitos até brincavam com esses seus retornos frequentes (leia análise sobre isso aqui).

Além dos shows, Billy Paul nos proporcionou os discos gravados ao vivo Live World Tour 1999-2000, com gravações feitas em São Paulo, Paris, Bermudas e Philadelphia, e Your Song: Live In Paris, gravada na Cidade do Amor. Em 2009, foi lançado o excelente documentário Am I Black Enough For You?, do diretor sueco Goran Hugo Olsson, que tem até cenas gravadas no Brasil (leia a resenha aqui).

War Of The Gods– Billy Paul:

Thanks For Saving My Life– Billy Paul:

Your Song– Billy Paul:

Am I Black Enough For You?– Billy Paul:

Only The Strong Survive– Billy Paul:

Biografia relata com detalhes a incrível trajetória do Abba

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Por Fabian Chacur

Durante um período de dez anos, entre 1972 e 1982, o Abba desafiou fronteiras e se tornou uma das bandas mais bem-sucedidas da história da música pop. Após a sua separação, nem mesmo uma incrível proposta de meio bilhão de dólares os animou a voltarem à cena. Sua incrível trajetória é contada de forma exemplar no livro Abba A Biografia, de Carl Magnus Palm, lançado no exterior em 2008 e no Brasil em 2014 pela Best Seller.

Fã exacerbado do Abba, Carl Magnus Palm já havia lançado anteriormente livros envolvendo a banda, e desta vez resolveu mergulhar fundo no tema, valendo-se de entrevistas feitas por ele próprio e em vasto material de pesquisa nas mais diversas e ricas fontes. Ele não abriu mão dos menores detalhes, mas sem deixar a fluência do texto perder em nada.

Dessa forma, é possível conhecer a história de como Bjorn Ulvaeus, Benny Andersson, Anni-Frid (Frida) Lyngstad e Agnetha Faltskog acabaram por formar o Abba. Veremos que o quarteto foi uma espécie de “supergrupo” do pop sueco, pois reuniu quatro indivíduos que já tinham carreiras anteriores de sucesso em várias escalas, todos experientes e talentosos.

Bjorn, por exemplo, integrou o mais bem-sucedido grupo folk daquele país, os Hootenanny Singers, com o qual conheceu em 1963 Stikkan Anderson, dono da gravadora Polar Music e futuro empresário do Abba. Em 1966, foi a vez de Bjorn fazer amizade com Benny, líder da banda de pop rock The Hep Stars, campeã de popularidade na região nesse setor.

Enquanto isso, Frida e Agnetha desenvolviam carreiras solo. Eles basicamente gravavam na língua local. Bjorn e Benny começaram a compor juntos, e pouco depois começaram a namorar, respectivamente, Agnetha e Frida. Seus primeiros shows conjuntos ocorreram em 1970, evoluindo até que virassem um quarteto de fato em 1972.

Carl Magnus Palm nos apresenta a história com todos os contornos. No caso do lado artístico, detalhando as gravações de cada disco, desde o primeiro single People Need Love, partindo para a música que os levou à fama internacional em 1974, Waterloo, passando por todas as fases de sua trajetória, música a música, com fatos saborosos.

Quem procura revelações do lado pessoal dos músicos também encontrará farto material, tendo a oportunidade de ver como aqueles dois aparentemente felizes casais acabaram vendo suas relações indo para o espaço, e na sequência a própria banda. Os filhos, o relacionamento com pais e parentes, as brigas, está tudo aqui.

Os vocais impecáveis, o instrumental sempre afiado e as composições diversificadas e repletas de criatividade são destrinchadas de um jeito que torna um pouco mais simples entender o porque esse grupo teve tanto sucesso. E tem também a complicada relação entre eles e seu empresário Stikkan Anderson, figura chave para o estouro do quarteto.

Abba a Biografia é daqueles livros consistentes que você não consegue parar de ler. O único senão fica por conta da revisão um pouco descuidada da versão brasileira, que deixou passar um volume de erros um pouco além do desejável. Mas, mesmo assim, é leitura essencial para os fãs dessa fantástica e inesquecível banda pop.

Knowing Me Knowing You– Abba:

S.O.S.– Abba:

Summer Night City– Abba:

Honey Honey– Abba:

The Name Of The Game– Abba:

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