Gonzaga-Leal-e-Alaide-Costa-Foto-Georgia-Branco-400x

Por Fabian Chacur

Se eu fosse obrigado a definir Porcelana, primeiro CD lançado em dupla pelos experientes e talentosos cantores Alaíde Costa e Gonzaga Leal, com uma única palavra, ela seria sutileza. Nada mais sutil do que as canções, os arranjos e especialmente as interpretações contidas neste álbum, com direito a 13 canções repletas de lirismo e sensibilidade pura.

Alaíde Costa é uma das pioneiras da Bossa Nova, e está na estrada há mais de 50 anos, esbanjando talento ao interpretar composições alheias e também as de sua própria autoria. Seu dueto com Milton Nascimento em Me Deixa em Paz, faixa do antológico Clube da Esquina (1972), é para mim um dos mais brilhantes e emocionantes da história da MPB.

Por sua vez, Gonzaga Leal está na estrada desde a década de 1970, investindo em um trabalho que se preza pelo bom gosto e por um apurado senso de qualidade na seleção de repertório e músicos que o acompanham. Investir no que estiver na moda ou em facilidade para “tocar nas rádios” nunca foi sequer opção para ele, que assim construiu uma trajetória bem respeitável no cenário da MPB.

A carioca radicada há décadas em São Paulo e o pernambucano fazem shows juntos há dez anos, e faltava apenas registrar essa parceria bem entrosada em disco. Não falta mais. Porcelana é um daqueles trabalhos que você precisa ouvir com atenção, para poder captar as suas nuances em termos musicais e poéticos. Não se presta a uma audição apressada e desatenta, pois não foi feito para isso. E vale dar ao CD essa atenção.

As vozes de Gonzaga e Alaíde são muito belas, e brilham tanto nos momentos solo como nas horas em que se encontram. Facilita as coisas os belos arranjos instrumentais, que são assinados por ótimos músicos como Maurício Cesar (teclados) e Marcos FM (baixo). O tema básico do disco são as idas e vindas do amor, olhados de forma lírica e poética e sem cair no rotineiro ou no banal. É a paixão como mote o tempo todo.

O repertório, assinado por autores das mais diversas origens e fama, prima pelas melodias elaboradas e letras sofisticadas, mas sem nunca cair naquela erudição exagerada/arrogante. É música popular, sim, mas de bom gosto. São vários os destaques, entre os quais Meu Amor Abre a Janela, O Meu Menino é D’oiro e Quando Se Vai Um Amor, provas de que dá para se falar de amor sem cair naquelas coisas repetitivas e tolas que tocam nas rádios mais popularescas.

Porcelana é um daqueles trabalhos que apostam na inteligência e no bom gosto do ouvinte. Impressiona a categoria de Alaíde Costa, que há pouco comemorou 80 anos de idade que definitivamente não aparenta, nem em termos físicos, nem em termos vocais. E Gonzaga Leal é categoria pura, digno seguidor do que de melhor a nossa música popular nos rendeu em toda a sua história. Eis um disco que merecia ter impresso a frase Disco é Cultura que aparecia nos LPs nos anos 1970.

Meu Amor Abre a Janela:

Divinamente Nua a Lua: