Por Fabian Chacur

Hélcio Aguirra, um dos melhores guitarristas da história do rock pesado brasileiro, nos deixou na tarde desta terça-feira (21) aos 56 anos. Ele foi encontrado morto no apartamento onde morava em São Paulo. Segundo o seu primo Cauê Badaró, que anunciou a triste notícia em post no Facebook, a causa da morte pode ter sido a hipertensão que o levou a ser internado algumas vezes em 2013.

Tive a oportunidade de conhecer Hélcio lá pelos idos de 1984, quando ele colaborou com a organização do evento Praça do Rock, que era realizado no Parque da Aclimação em São Paulo e reunia as melhores bandas independentes de rock da época em épicos shows gratuitos ao vivo. Naquela época, ele já brilhava como integrante da primeira formação da banda Harppia, que fez show memorável naquele evento.

Ao lado de Jack Santiago (vocal), Marcos Patriota (guitarra), Ricardo Ravache (baixo) e Tibério Correa (bateria), Hélcio gravou em 1985 o primeiro álbum do grupo, o excepcional A Ferro e Fogo, pela Baratos Afins do sempre visionário Luis Carlos Calanca. O disco é até hoje referência no heavy metal brasileiro, com direito a clássicos como A Ferro e Fogo, Náufrago e especialmente o hino Salém (A Cidade das Bruxas).

Pouco depois, Aguirra sairia do Harppia com o intuito de investir em outro projeto, desta vez dedicado ao hard rock. Nascia o Golpe de Estado, que em sua formação inicial e clássica trazia Catalau (vocal), Nelson Brito (baixo) e Paulo Zinner (bateria), além de Hélcio na guitarra. Em 1986, a mesma Baratos Afins lançaria o autointitulado álbum de estreia do quarteto.

Esse outro momento mágico do rock nacional trouxe como destaques as ótimas Society, Sem Ser Vulgar, Olhos de Guerra e a excepcional Pra Conferir, com seu refrão irresistível e sua letra satirizando as mancadas de nosso rock and roll tupiniquim. Em 1988, Forçando a Barra manteria a banda no topo, incluindo Noite de Balada, Moondog e Onde Há Fumaça Há Fogo, esta última com vocais de Arnaldo Antunes e Branco Mello.

No fim dos anos 80, o Golpe de Estado seria contratado pela Gravadora Eldorado, onde também lançou ótimos álbuns e ampliou ainda mais seu público. Os shows do quarteto sempre foram envolventes, com o carisma de Catalau, a excelência da guitarra de Aguirra, a segurança do baixista Britto e a desenvoltura do baterista Zinner, que depois tocou com Rita Lee.

A partir da metade dos anos 90, Catalau saiu do Golpe, que mesmo assim se manteve na ativa com mudanças na formação e com Hélcio Aguirra no time. O mais recente álbum da banda, Direto do Fronte, saiu em 2012, e conta com a participação especial de Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial. Hélcio também era conhecido como especialista em aparelhos eletrônicos com válvulas, e prestou serviços para grandes nomes de nosso rock and roll.

Além de grande músico e especialista na parte técnica do rock, Hélcio Aguirra era extremamente humilde e simpático. Tive a oportunidade de entrevista-lo por várias vezes nesses anos todos, e cada papo equivalia a um prazeroso aprendizado de elementos do rock, da técnica musical e da vida mesmo. Mais um sujeito gente boa que nos deixa rumo a algum lugar que, torcemos, seja melhor do que esse Vietnã aqui.

Pra Conferir, com o Golpe de Estado:

Onde Há Fumaça Há Fogo, com o Golpe de Estado: