antonio adolfo octect capa 400x

Por Fabian Chacur

Antonio Adolfo completou 75 anos em fevereiro deste ano. Este pianista, compositor e arranjador carioca é a prova concreta de que, sim, é possível se chegar a uma idade antes tida como avançada esbanjando energia, criatividade e produtividade. A sua produção sempre foi alta, mas nos últimos 15 anos se mostra particularmente fecunda (leia mais sobre ele aqui). O mais novo rebento é Octet And Originals, disponível nas plataformas digitais e em belíssima versão em CD. Mais um golaço desse craque musical!

Um dos segredos de Adolfo para se manter neste patamar tão alto é nunca ficar repetindo fórmulas. Sim, ele possui um estilo próprio e uma assinatura que podemos perceber de imediato. Mas ele sempre nos oferece novos cardápios sonoros, inventivos e extremamente bons de se ouvir. Seus belos álbuns são exemplos de como a música instrumental pode ser acolhedora, instigante e acessível, fugindo do óbvio.

Neste Octet And Originals, o músico se concentra em material autoral, mesclando composições recentes com alguns clássicos de seu songbook devidamente repaginados. Ao piano, ele capitaneia um octeto do tipo Butantã (só de cobras!) formado por Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Danilo Sinna (sax alto), Marcelo Martins (sax tenor e flauta), Rafael Rocha (trombone), Ricardo Silveira (guitarra), Jorge Helder (baixo acústico) e Rafael Barata (bateria e percussão).

Mantendo o jargão futebolístico em cena, é lógico que não adiantaria nada ter um elenco desse calibre sem um bom treinador. E, nessa função, Antonio Adolfo se mostra absurdamente talentoso. Ele sabe tirar o melhor de cada músico, com arranjos de extremo bom gosto nos quais abre espaços para cada um desempenhar suas funções com categoria. Não há atropelos nem exibicionismos, só o apreço pelos melhores solos, timbres, andamentos e convenções. Entrosamento perfeito e vitória por goleada.

Os arranjos de metais de Antonio Adolfo são particularmente expressivos, pois ele encaixa esses instrumentos de uma forma sempre exata, ou para solarem, ou para enfatizarem alguma passagem. E conduz com maestria o seu piano, que comanda as ações e joga sempre em função das músicas.

A sonoridade dele enquanto compositor sempre parte da mistura do jazz com várias vertentes da música brasileira, na melhor tradição da bossa nova, seu berço musical. A parte percussiva sempre tem destaque, o que de certa forma explica um pouco o sucesso que seu trabalho tem no exterior, especialmente nos EUA, onde seus álbuns sempre estão nas primeiras posições das paradas de vendas, execução e streaming.

As 10 faixas que integram Octet And Originals são ótimas, mas vale alguns destaques. Emaú, por exemplo, esbanja fluência, energia e mudança de climas, com uma batida rítmica variante e sempre deliciosa. A releitura de sua clássica Sá Marina, aqui com o titulo da versão em inglês que fez sucesso no exterior (Pretty World), mantém os pilares melódicos essenciais dessa canção icônica e acresce sutilezas que lhe dão um sabor renovado e atual.

Teletema, outro cartão de visitas dele enquanto autor, tem a bela sacada de manter a abertura de piano da gravação clássica de Wilson Simonal e depois ir explorando outros nuances dessa melodia maravilhosa. Por sua vez, Feito em Casa, faixa-título do marcante álbum de 1977, comparece com arranjo delicioso, preservando a sua essência e acrescentando novos temperos.

Boogie Baião mostra a evidente afinidade (mas que alguns nem imaginavam existir) entre o baião e o rock and roll original, e tem um quê do estilo de um dos músicos que influenciaram Antonio Adolfo, o grande músico americano Herbie Hancock. E outra inédita, Toada Moderna, é uma delícia, para fechar com muita felicidade um álbum que você certamente não vai ouvir uma única vez. Ouça Octet And Originals e ria gostoso de quem acha música instrumental algo hermético e chato.

Ouça Octet And Originals, de Antonio Adolfo, em streaming: