eumir deodato

Por Fabian Chacur

Existem profissionais que possuem currículos imensos, e o músico, arranjador. compositor e produtor carioca Eumir Deodato certamente é um deles. Trabalhou com Frank Sinatra, Tom Jobim, Aretha Franklin, Roberta Flack e inúmeros outros, além de desenvolver uma carreira-solo de muito sucesso. No entanto, quando tive a honra de entrevistá-lo, em São Paulo, para o Diário Popular, no dia 14 de julho de 1992, eu só conseguia pensar em um item dessa trajetória brilhante: ele tinha sido o produtor do grupo americano Kool & The Gang de 1979 a 1982.

Conheci o trabalho do Kool & The Gang de forma pitoresca. Sua música intitulada Kool & The Gang, de 1970, era utilizada pela TV Bandeirantes, no Brasil, nos comerciais e na hora da exibição da série americana Jeannie é um Gênio.

Começava ali uma relação de pura paixão, que culminou quando comprei, ao completar 18 anos de idade, o maravilhoso álbum Ladies Night (1979), um dos meus discos favoritos de todos os tempos. E o produtor desse trabalho é ninguém menos do que Eumir Deodato. Logo…

Radicado nos EUA desde 1967, Deodato voltava ao Brasil para o seu primeiro concerto no país desde então. A ocasião era mais do que nobre: participar do Projeto Memória Brasileira-Série Arranjadores, em apresentação que homenagearia o grande Lyrio Panicali (1906-1984) e também outra fera do mesmo calibre, Léo Peracchi (1911-1993), que não esteve no show por recomendações médicas e nos deixaria meses depois.

Além do meu entrevistado, também participaram do evento, realizado no dia 16 de julho de 1992 no Teatro Cultura Artística, em São Paulo, a Orquestra Experimental de Repertório (regida por Jamil Maluf e Luis Gustavo Petri), alguns integrantes da Banda Savana e os craques Alex Malheiros (baixo), Victor Biglione (guitarra) e Pascoal Meirelles (bateria).

Bastante simpático e de temperamento forte,Deodato me falou sobre o projeto. Depois de conseguir as informações que precisava sobre o tema principal de nosso papo, respirei fundo e comecei a fazer perguntas sobre a sua parceria de quatro anos com o Kool & The Gang. Para minha felicidade, ele não se opôs a falar sobre o tema, e me passou algumas informações muito bacanas.

Ao iniciar o seu trabalho com a banda americana criada pelos talentosos irmãos Ronald “Khalis Bayyan” (leia mais sobre ele e a banda aqui) e Robert “Kool” Bell, sua primeira sugestão foi que eles escalassem um vocalista principal, e foi nessa brecha que entrou no time o cantor James J.T. Taylor.

Segundo Deodato, ele atuava na parte técnica das gravações e também em termos de arranjos, tendo criado algumas introduções e ganchos importantes das músicas deles naquele período, incluindo Ladies Night e várias outras. Ele também tocou teclados em algumas das faixas.

Ele assinou a produção dos álbuns Ladies Night (1979), Celebrate! (1980), Something Special (1981) e As One (1982), todos com ótimas vendagens e geradores de uma série de hits. O fim da parceria entre eles foi sem dramas, se bem me lembro de sua resposta.

O mais divertido, digamos assim, ficou pela lembrança de que, alguns anos depois, ele chegou a negociar para produzir o que viria a ser o primeiro disco solo de J.T. Taylor. A razão pela qual o projeto não se concretizou, ele definiu em uma frase bem direta: “que cara mesquinho!”. A equipe da casa de shows Via Funchal, que iria trazer o ex-cantor do Kool & The Gang para shows por aqui há alguns anos, certamente concorda com a opinião de Deodato, pois o cara lhes deu um baile, cancelando quase que em cima da hora as apresentações.

Lógico que eu não perderia a chance de pedir um autógrafo a Eumir Deodato, e levei para esse fim seu primeiro álbum-solo internacional, o sublime Prelude (1973- CTI Records, saiu aqui em vinil na época pela Top Tape com capa dupla), que traz sua matadora releitura de Also Sprach Zarathustra, de Richard Strauss. Só que, na hora do “vamos ver”, a minha caneta Bic não “pegava” na capa. E aí?

Bem, resolvi da melhor forma possível: pedi o autógrafo na contracapa da pasta que trazia os releases do evento e sobre Deodato, e lá ele escreveu: “ao Fabian, com meus melhores votos de boa sorte etc…” Era o final daquele delicioso encontro com um dos músicos brasileiros mais conceituados no exterior.

Get Down On it (clipe)- Kool & The Gang: