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Por Fabian Chacur

Coletâneas costumam ser encaradas de forma não muito positiva por críticos e fãs mais radicais de música. O argumento é sempre o mesmo: seria uma forma de apresentar uma obra de forma fatiada, com escolhas nem sempre justificáveis e frequentemente mostrando um retrato nada fiel do artista enfocado. Questão de opinião. Para mim, coletâneas são, quando bem feitas e bem planejadas, belas obras de entrada para obras musicais. Eis a função que Pure McCartney, álbum duplo que acaba de sair no Brasil, pode cumprir em relação ao trabalho de Paul McCartney.

Pure McCartney pode ser encontrado no exterior em três formatos: o mesmo CD duplo com 39 faixas, uma caixa com 4 CDs (contendo 67 faixas) e vinil quádruplo com 41 faixas. Todas essas alternativas seguem o mesmo conceito, conforme explica texto escrito pelo próprio Macca no encarte que acompanha os lançamentos: “uma coleção de minhas gravações tendo em mente nada além de ser algo divertido para se ouvir, ou talvez para ser ouvida em uma longa viagem de carro, ou em um evento em casa ou ainda uma festa com amigos”. Simples assim.

Dessa forma, fica fácil entender o porque vários sucessos marcantes ficaram de fora, preteridos em alguns casos por músicas não tão conhecidas. O repertório cobre toda a carreira solo do ex-beatle, indo desde 1970 até 2014. Para aquele fã que tem tudo do artista, só cinco itens mais interessantes: os remixes de Ebony And Ivory, Say Say Say, Here Today e Wanderlust, e a belíssima Hope For The Future, lançada em 2014 para a trilha do vídeo game Destiny e disponível anteriormente apenas no exterior em um single de 12 polegadas de vinil.

O repertório não foi ordenado de forma cronológica, o que nos proporciona saborosas idas e vidas por fases bem distintas do trabalho do artista. A curiosidade fica por conta de a primeira e a última faixa em todos os formatos serem as mesmas e oriundas do primeiro álbum solo do astro britânico, McCartney (1970), respectivamente Maybe I’m Amazed e Junk. Isso não deve ser obra do acaso…

As músicas contidas nesta compilação reforçam um sonho que muitos fãs do autor de Yesterday gostariam de realizar: ter a chance de ver um de seus shows só com material da carreira-solo, sem canções dos Beatles. Nada contra o repertório maravilhoso dos Fab Four, mas é que McCartney tem tantas músicas boas de 1970 para cá que seria bem bacana poder ouvir ao vivo uma Heart Of The Country, por exemplo, ao invés da milésima interpretação de Hey Jude.

Ouvir Pure McCartney é uma bela oportunidade de se curtir a incrível versatilidade de um grande talento. Power ballad em Maybe I’m Amazed, disco music em Coming Up, soul-jazz em Arrow Through Me, folk puro em Junk, pop delicioso em Listen To What The Man Said, rock na veia em Jet, rock eletrônico em Save Us, lirismo puro em Here Today

A variedade de estilos é incrível, sempre com grande qualidade técnica e artística. E acredite: com o material que sobrou, mesmo se levarmos em conta a caixa com quatro CDs, ainda restou material bom o suficiente para justificar pelo menos umas quatro compilações do mesmo gênero, sem repetir faixas e com a mesma força.

O único problema para o neófito que se meter a ouvir Pure McCartney é acabar se viciando no som do cara, e por tabela sair atrás de toda a sua obra. É disco pra burro!!! Mas pode ter certeza de que vale a pena colecionar. Tipo do vício sem contraindicações. E reforço o ponto: ótimo para desancar quem acha que o trabalho solo de Paul McCartney não está a altura do que ele fez nos Beatles. Não? Pense outra vez!

Arrow Through Me– Wings:

Dear Boy– Paul McCartney:

Hope For The Future– Paul McCartney: