Por Fabian Chacur

No final de 2011, Gal Costa lançou o ousado álbum Recanto, seu primeiro trabalho de inéditas em quase uma década e com repertório composto especialmente para ela por Caetano Veloso. O trabalho gerou uma turnê que, por sua vez, acaba de render o DVD e CD duplo Recanto Gal Ao Vivo, lançado pela Universal Music.

Como forma de divulgar esse novo ítem em seu currículo, a cantora baiana concedeu uma entrevista coletiva à imprensa em São Paulo (onde mora atualmente), realizada em um hotel de luxo na região dos Jardins. Mondo Pop esteve lá e teve a chance de fazer algumas perguntas e também de saber mais sobre o DVD/CD.

Simpática, tranquila e não aparentando nem de perto os 67 anos de idade que possui, Gal deu uma geral em seus projetos mais recentes, detalhou alguns aspectos dessa nova obra e fez comentários sobre o seu modo de encarar a vida e a profissão. Uma entrevista muito bacana, que durou quase uma hora e que você poderá ler a seguir, em seus melhores momentos.

Como foi a concepção de Recanto Gal Ao Vivo, e como foram sendo encaixadas as canções de outras fases de sua carreira ao lado do repertório do disco de estúdio?
Gal Costa– O álbum de estúdio teve como ideia inicial ser feito com minha voz em tom mais cool. O show acabou virando outra coisa, pois os arranjos cresceram, os músicos adicionaram outros elementos. A estreia foi no Rio em um lugar intimista, mas a segunda apresentação ocorreu em São Paulo ao ar livre, com um público heterogêneo mas com muitos jovens,que estão ouvindo meus discos dos anos 60 e 70. E ali ficaram explicitadas todas as Gals que estão dentro de mim. As canções antigas foram adaptadas à nova sonoridade, mas algumas soam mais próximas dos arranjos anteriores. Baby, por exemplo, ficou mais suave. Há mudanças maiores e menores, dependendo de cada canção.

Como ocorreu a seleção do repertório e a escolha dos músicos que tocaram com você neste show?
Gal Costa– O Caetano (produtor do CD e diretor do show) selecionou o repertório, sendo que não concordei com uma ou duas músicas, e teve uma que entrou depois. Os músicos foram escolhidos pelo Moreno Veloso e pelo Caetano, e nasceu uma harmonia espontânea entre eu e eles. Fizemos 16 ensaios para o show, o que não é muito. A interação entre nós foi rápida.

Um desses músicos é o Pedro Baby, que é filho do Pepeu Gomes e da Baby do Brasil. Você, no lendário show Fa-Tal, tocou com Pepeu. Como foi ter agora o filho dele em sua banda?
Gal Costa– Conheci o Pedro Baby quando ele era pequenininho, era muito amiga da Baby, tenho um carinho muito grande por ele, que toca muito bem. Aliás, foi emocionante tocar novamente Vapor Barato no mesmo teatro (o hoje Theatro Net Rio) em que essa música foi lançada por mim no show Fa-tal.

No repertório do show, temos várias músicas clássicas em seu repertório, e também aquela que provavelmente é a que fez mais sucesso entre todas, Um Dia de Domingo, que você gravou originalmente com o Tim Maia. Como surgiu a ideia de neste show você imitar o Tim Maia na parte que ele cantava, e como você avalia essa canção em sua carreira?
Gal Costa– A sugestão de eu imitar o Tim Maia veio do Caetano, e fiz uma caricatura dele, aproveitei os graves que tenho hoje na voz. Gravei originalmente essa música por causa do Tim, que eu só conheci em 1985 quando participamos da música Chega de Mágoa, gravada em benefício do Nordeste. Ele me elogiou e propõs que gravássemos juntos. Essa canção era dos autores que ele gravava, deixei a música no meu disco Bem Bom por causa dele, essa música existe na minha vida graças a ele. Um Dia de Domingo fez sucesso no Brasil todo e na América Latina, em Portugal. Fui também crucificada pela crítica por gravá-la, mas nunca tive medo de encarar desafios, faz parte do meu temperamento.

Quem ouvir e ver o DVD terá a oportunidade de observar que você continua cantando músicas que gravou há décadas nos mesmos tons originais, sem ter perdido rigorosamente nada de sua afinação. A que você atribui isso? Faz algum tipo de preparação ou coisa do gênero para manter de forma tão intacta sua voz?
Gal Costa– Nunca aprendi canto, sempre tive muita intuição ao usar minha voz. Descubro coisas enquanto canto, mas eu me deixo levar, a emoção vem nova, sempre. Eu me aproprio das canções. Canto as antigas nas mesmas tonalidades em que as gravei. Não perdi os agudos e ainda ganhei os graves que o tempo nos dá. Procuro cuidar da minha saúde, pois quero envelhecer de forma saudável, tendo saúde.

Quais são os seus planos para este ano? Tem outros projetos já engatilhados?
Gal Costa– Já estou pensando em um próximo trabalhom sem nada fechado que eu possa revelar agora. Recanto ainda tem muita história pela frente, pelo menos durante este ano. Farei shows em vários locais, sendo que em São Paulo cantarei no Teatro Bradesco e no Sesc Pinheiros. Também me apresentarei no Circo Voador (RJ), Portugal, Itália, França etc.

Muitas cantoras e artistas da nova geração citam você como uma forte influência. Como encara isso?
Gal Costa– A nova geração tem cantoras super bacanas. Conheci pessoalmente a Céu, a Tulipa Ruiz. A juventude sempre traz boas energias, mas a minha alma sempre foi jovem, não é nada forçado. Cantar para os jovens é bom, a energia é muito forte, muito boa.

Recanto Escuro (ao vivo)- Gal Costa:

Vapor Barato (ao vivo) – Gal Costa: