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Gilberto Gil-Duetos 2 reúne colaborações raras e preciosas

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Por Fabian Chacur

Durante a sua longa e bem-sucedida carreira musical, Gilberto Gil sempre esteve aberto a colaborações com outros artistas. Várias delas ficaram restritas aos discos dos outros artistas, sendo que algumas se transformaram em raridades. Como forma de resgatar 16 desses momentos tão especiais e de também homenagear os 80 anos deste genial artista baiano, a Warner vai disponibilizar nas plataformas digitais no dia 22 de julho e lançar em CD físico a compilação Gilberto Gil Duetos 2.

As gravações, lançadas originalmente entre 1980 e 2013, flagram o autor de Aquele Abraço trocando preciosas figurinhas musicais com luminares do porte de Joyce Moreno, Dominguinhos, Milton Nascimento, Maria Rita, Quarteto em Cy, Pepeu Gomes, Pery Ribeiro, Johnny Alf e Maria Bethânia, só para citar alguns deles. A seleção do repertório ficou por conta do jornalista e pesquisador musical Renato Vieira.

Eis as músicas incluídas em Gilberto Gil Duetos 2:

1) Abri a Porta – com Dominguinhos (gravação de 1980)

2) Imagine – com Milton Nascimento (gravação de 2001)

3) Amor Até o Fim – com Maria Rita (gravação de 2009)

4) Monsieur Binot – com Joyce Moreno (gravação de 1994)

5) Ilha da Ilusão – com Pery Ribeiro (gravação de 1991 – inédita em CD e nas plataformas)

6) Tempo Rei – com Quarteto em Cy (gravação de 1994)

7) Meu Coração – com Pepeu Gomes (gravação de 2004)

8) Mané João – com Erasmo Carlos (gravação de 1980)

9) Mancada – com Beth Carvalho (gravação de 2007)

10) Eu e a Brisa – com Johnny Alf (gravação de 1990)

11) Se eu Morresse de Saudade – com Maria Bethânia (gravação de 2001/lançada em 2013)

12) Um Carro de Boi Dourado – com Francis Hime (gravação de 1984)

13) Eu Só Quero um Xodó – com Anastácia (gravação de 1985 – inédita em CD e nas plataformas)

14) Vida – com Obina Shok e Gal Costa (gravação de 1986)

15) Marcha da Tietagem – com Trio Dodô e Osmar e As Frenéticas (gravação de 1980)

16) A Força Secreta Daquela Alegria – com Jorge Mautner (gravação de 1981)

Monsieur Binot– Joyce Moreno e Gilberto Gil:

Tempo Feliz é livro que conta a história de uma bela aventura

tempo feliz capa do livro-400x

Por Fabian Chacur

Uma forma interessante de estudar a história da música brasileira é se deter na trajetória das gravadoras, especialmente as independentes ou de pequeno e médio porte. É através delas que muita coisa importante aconteceu. Um bom exemplo é a Forma, criada por Roberto Quartin e Wadi Gebara em 1964 e que se manteve assim até 1967, quando foi vendida para a CBD (cujo acervo hoje pertence à Universal Music). Eis a missão assumida pelo jornalista Renato Vieira, que mergulhou fundo nela e nos proporcionou o excelente livro Tempo Feliz- A História da Gravadora Forma (Kuarup Música).

Além das tradicionais entrevistas com boa parte dos principais envolvidos com o enredo do tema que resolveu abordar, Vieira teve uma ideia bastante interessante. Como o acervo de lançamentos da Forma em seu período independente comporta um número pequeno de títulos (pouco mais de 20), ele nos traz uma análise de cada um deles, com direito a fichas técnicas, textos das contra-capas e também uma análise inteligente dos discos, incluindo desempenho comercial e repercussão na imprensa.

Além disso, ele nos situa de forma basante precisa naquele período da história do Brasil, quando o golpe militar havia acabado de ocorrer e as perseguições à área cultural foram aos poucos aumentando, além do clima favorável à bossa nova no exterior, graças ao mitológico show no Carnegie Hall em 1962 e principalmente ao estouro do álbum Getz-Gilberto (1964), que vendeu muito e rendeu 4 troféus Grammy ao músico americano Stan Getz e seus talentosos parceiros brazucas.

É dentro dessa dualidade medo/esperança que a Forma surge. Ela é fruto do idealismo quase irresponsável do jovem Roberto Quartin, que se une a um profissional do meio musical, o alemão Peter Keller, para criar um selo musical que teria seus discos prensados e distribuídos pela CBD. Keller saiu da sociedade antes mesmo do lançamento do 1º álbum, e o também jovem músico amador e arquiteto Wadi Gebara acabou sendo o seu parceiro de fato nessa ousada empreitada.

Quartin tinha como objetivo lançar discos de artistas extremamente talentosos e que admirava muito, mesmo sem saber se poderiam lhe dar um retorno comercial que viabilizasse o negócio. Cada álbum teria apresentação luxuosa, com direito a capas duplas, textos assinados por nomes importantes da cultura brasileira e fichas técnicas completas. E assim foi feito, mesmo sob o olhar assustado de Gebara em vários momentos, ele mais próximo do lado financeiro dessa operação.

Em termos musicais, deu muito certo. Entre outros, lançou o mitológico Os Afro-Sambas, firmando a célebre parceria de Baden Powell e Vinícius de Moraes, os primeiros discos do seminal Quarteto em Cy, o icônico Coisas, do maestro Moacir Santos e discos importantes e marcantes dos então ainda novatos Eumir Deodato e Victor Assis Brasil, só para citar alguns.

O duro é que, por circunstâncias as mais diversas, esses discos foram acumulando prejuízos, e em 1966 o próprio Quartin resolveu se mandar, deixando a encrenca nas mãos de Gebara. A Forma só se manteve no mesmo espírito independente até 1967, quando foi vendida para a CBD e tornou-se apenas um selo como outro qualquer até 1971, quando enfim saiu de cena. Mas sua história ficou marcada.

Com um texto fluente e consistente, Renato Vieira nos conta essa história com muita riqueza de detalhes e bastidores, e que mostra um pouco do idealismo em prol da criação de espaços nobres para lançamentos de artistas que praticassem a boa música brasileira que gerou empreitadas como esta Forma e também a mais conhecida delas, a Elenco de Aloysio de Oliveira, outra que acabou sendo incorporada ao acerco da gloriosa CBD.

Roberto Quartin ainda faria algumas produções eventuais, após deixar a Forma, e nos deixou em 2004, aos 62 anos de idade. Wadi Gebara saiu de vez da cena musical sem um tostão, e voltou a se dedicar à arquitetura, sendo uma das fontes deste livro e quem sugeriu o belo título. Ele infelizmente nos deixou antes de vê-lo publicado, em 2019, aos 81 anos.

Ao desabafar um dia com o amigo Roberto Menescal sobre o fato de ter perdido todo o dinheiro que tinha com o projeto da Forma, Gebara ouviu de um dos grandes craques da bossa nova uma frase lapidar, e com um trocadilho matador: “Wadi, foi a melhor forma de você perder dinheiro”.

Os Afro-Sambas- Baden e Vinícius (ouça em streaming):

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