Por Fabian Chacur

Iniciei minha carreira como jornalista e crítico musical na metade dos anos 80, e tive a oportunidade de acompanhar o início da carreira de diversos artistas importantes durante tal período.

Uma delas foi Marisa Monte, que bastante jovem surpreendeu a todos com shows marcantes e um disco de estreia significativo, MM (1989).

Até 1996, a cantora e compositora carioca se manteve acessível, sempre concedendo entrevistas e divulgando seus novos lançamentos e shows de forma ampla e democrática.

No momento em que sua carreira se consolidou de forma definitiva e ficou claro que a moça tinha em suas mãos um público fiel e uma conta bancária generosa, essa atitude começou a se alterar.

Nos últimos 15 anos, Dona Marisa se tornou cada vez menos fácil de se entrevistar, mantendo-se o mais longe possível da imprensa.

No DVD Infinito Ao Meu Redor (2008), ela chegou ao ponto de tirar sarro da cara dos repórteres, colocando registros com vários deles fazendo à “diva” perguntas iguais, provavelmente para ridicularizar o trabalho dos jornalistas e desmerecê-los.

Pois esse processo atinge agora o auge. Na edição deste domingo (30) da revista Serafina, distribuída junto com a edição do mesmo dia do jornal Folha de S.Paulo, Marisa Monte concedeu a primeira entrevista “muda” da história da música pop.

De forma bizarra, a assessoria de imprensa da intérprete de Bem Que Se Quis propôs à revista o seguinte: a cantora faria uma sessão de fotos no Rio de Janeiro com locais e poses prédeterminadas pela estrela e indicando o fotógrafo para realizar tal missão, Walter Firmo, que em sua carreira registrou vários nomes clássicos do samba.

Ah, tinha mais uma “pequena” condição: a revista não teria direito a nenhuma palavrinha da cantora. Nada. Zero. “Vocês terão de respeitar o silêncio dela, que não quer falar com a imprensa”, teriam dito.

A “diva” não falaria nem mesmo sobre o que seria o tema principal da tal matéria, o lançamento de seu novo CD, intitulado O Que Você Quer Saber de Verdade (título irônico, heim?). O “repórter” de texto poderia apenas acompanhar a sessão de fotos, sem direito a uma única questão sequer. Não podia atrapalhar “the delicate genius”.

A Serafina topou. Acho meio antiético avaliar a qualidade da matéria resultante de tal acordo absurdo, mas não ficarei em cima do muro: parece um release insosso, sem nenhuma informação sobre o novo CD, fase atual da carreira da intérprete… Nada, só babação de ovo podre.

Teria sido muito mais digno para a publicação simplesmente recusar-se a fazer a matéria nessas circunstâncias absurdas. Enfim, cada publicação que cuide do seu próprio nariz.

O mais importante aqui é frisar a atitude arrogante de Miss Monte, que alega não ter tempo a perder com esse tipo de “coisa”.

Teria sido muito mais digno para a moça simplesmente não dar entrevista alguma para divulgar seu disco do que fazer essa publicação pagar um mico desse tamanho.

É nessas horas que muita gente que adora desmerecer o tempo todo a imprensa deveria refletir melhor, e ver que também há o outro lado, ou seja, artistas que nos usam e depois nos descartam na maior cara de pau.

Será que esse afastamento da imprensa teria a ver com a visível queda de qualidade da obra de Miss Monte, que não nos proporciona um disco à altura de seu inegável talento desde os anos 90?

Nos últimos 15 anos, a coisa mais próxima a isso foi o simpático Tribalistas (2002), que gravou ao lado de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. De resto, só repetição, diluição, autoindulgência etc. Amor, I Don’t Love You This Way!!!

É, Dona Marisa, não precisa perder tempo com a imprensa, não. Mas, ao menos, grave discos que prestem!!!

Veja o clipe de Ainda Bem, do novo CD de Marisa Monte: