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Por Fabian Chacur

Para John Lennon, as palavras ideais para se definir o rock and roll seriam Chuck Berry. Vindo de quem veio, um elogio daqueles. E mais do que justo. Depois de uma longa trajetória de vida, na qual construiu uma obra influente e inesquecível, este genial cantor, cantor e guitarrista americano parte rumo à eternidade. Ele foi encontrado morto neste sábado (18) no condado de St. Charles, Missouri (EUA), aos 90 anos de idade. Saudoso é pouco!

Charles Edward Anderson Berry nasceu em 18 de outubro de 1926. De temperamento difícil e com várias idas e vindas em sua trajetória, incluindo internação em um reformatório e posteriores prisões, ele chegou a atuar em várias ocupações, mas se achou mesmo na música. Em 1955, lançou Maybelenne, single que seria o primeiro dos inúmeros clássicos que lançaria até a metade dos anos 1960. Embora quase trintão, ele se mostrou mestre em colocar no papel os temas preferidos pelos adolescentes.

Aliás, curiosamente, não só dos adolescentes daqueles já longínquos anos 1950, mas os de todos os que viriam posteriormente. Berry descrevia em suas letras romances sensuais, a busca pelas garotas, os carros, a dança e a libido sempre a mil. Temas que nunca saíram e que nunca sairão de moda, e que ele abordou com simplicidade, poesia e muita categoria. De quebra, nos trouxe alguns dos mais incríveis riffs de guitarra de todos os tempos.

Rock and Roll Music, Johnny B Goode, Around And Around, Carol, Memphis Tennessee, Havana Moon, No Particular Place to Go, Nadine, School Days… O songbook assinado por Chuck Berry é a base em cima da qual artistas como os Rolling Stones, Bruce Springsteen, Beatles e centenas (milhares?) de outros foram buscar informações para criar suas próprias canções. Para ajuda-lo, sua ótima dicção permitia que todas as letras fossem facilmente compreendidas pelos ouvintes.

Graças a seus diversos problemas legais, à redução de novas canções realmente relevantes e também ao surgimento de novos artistas, Chuck Berry viu seu poder de criação cair nos anos subsequentes a 1965. Ainda mostrou força em 1972 quando sua versão ao vivo de My Ding-a-Ling atingiu o primeiro lugar na parada americana, a única vez em que conseguiu tal façanha. Ironicamente, com uma música rasteira, muito abaixo de seus clássicos.

Após lançar o disco de inéditas Rock It (1979), que teve pequena repercussão, o astro do rock passou a viver exclusivamente do passado, o que já estava fazendo há algum tempo. O procedimento era bem curioso: ele ia sozinho, às vezes até sem a própria guitarra, e tocava com os músicos que seu contratante arrumasse. Em certa ocasião, em um show nos anos 1970, sua banda de apoio teve em sua formação o então desconhecido Bruce Springsteen.

Em 1986, Keith Richard, uma espécie de filho bastardo de Berry em termos musicais, resolveu reverenciar seu herói e montou uma banda para acompanha-lo em dois shows comemorativos dos seus 60 anos de idade que iriam gerar o excelente documentário Hail! Hail! Rock ‘N’ Roll, lançado em outubro de 1987, que trazia cenas dos shows, entrevistas com o homenageado e também depoimentos de músicos importantes. De arrepiar.

Berry esteve no Brasil pela primeira vez em 1992, participando do Free Jazz Festival. Um dos shows foi realizado no estádio do Pacaembu, em São Paulo, reunindo ele e Little Richard. Ele quase não entra em cena, pois passou na bilheteria e queria ser pago antes de tocar. Pelo menos, é o que reza a lenda. Mas o show rolou, com ele esbanjando carisma e sendo acompanhado pelo motorista no baixo e músicos brasileiros como o baterista Carlinhos Bala. Eu estava lá!

No último dia 18 de outubro, quando comemorou 90 anos de idade, Mr. Berry anunciou que lançaria em 2017 um novo álbum, intitulado Chuck e seu primeiro trabalho de inéditas desde 1979. Nele, gravações novas e a participação dos filhos Charles Berry Jr. e Ingrid, além de uma dedicatória à esposa Themetta Berry, casada com ele há longos 68 anos. Com o selo Dualtone, o álbum agora será um trabalho póstumo que tentará saciar a saudade de seus inúmeros fãs.

Com Chuck Berry, sai de cena uma era incrível do rock and roll, da qual restam ainda vivos (toc, toc, toc!) Little Richard, Jerry Lee Lewis e Fats Domino. Com certeza, um ser humano polêmico e dos mais complicados, mas um artista cujo talento, capacidade criativa (mesmo que por um período curto de tempo, de 1955 a 1964) e carisma ajudaram a lançar esse tal de rock and roll rumo ao topo do mundo musical.

Havana Moon– Chuck Berry: