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Tag: rock brasileiro (page 3 of 21)

Made In Brazil faz dois shows com LP Paulicéia Desvairada

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Por Fabian Chacur

Há 40 anos, o grupo Made In Brazil lançou Paulicéia Desvairada, considerado por muitos o melhor álbum de suas cinco décadas de existência dedicadas ao velho e bom rock and roll. Como forma de celebrar essa efeméride bacana, a banda fará na próxima quarta-feira (21) em São Paulo dois shows, respectivamente às 18h e 21h, no Sesc 24 de Maio (rua 24 de Maio, nº 109- Centro- fone 0xx11-3350-6256), com ingressos de R$ 9,00 a R$ 30,00 para cada apresentação.

Paulicéia Desvairada é o terceiro álbum da banda dos irmãos Oswaldo Rock Vecchione (vocal, baixo, violão, guitarra e gaita) e Celso Kim Vecchione (guitarra, violão, baixo e teclados), e traz homenagem à mitológica Semana de Arte Moderna Moderna de 1922, especialmente ao seu lado criativo e rompedor de barreiras. O álbum contou com a coprodução do lendário e saudoso jornalista e crítico musical Ezequiel Neves, que depois trabalharia com o Barão Vermelho.

Com 12 músicas, o LP (posteriormente relançado em CD) mostra rocks certeiros, baladas bem bacanas e blues, também, além de vocais de apoio femininos e metais. Entre outras, destacam-se a faixa titulo, Gasolina, Eu Vou Estar Com Você, Massacre, Uma Banda Made In Brazil, Massacre e Chuva. O set list dos shows trará todas essas 12 canções, e provavelmente mais alguns hits dessa banda seminal.

Além dos irmãos Vecchione, a atual formação do Made conta com Rick R.Monstrinho Vecchione (bateria), Guilherme Ziggy Mendonça (guitarra e violão), Octavio Lopes Garcia Bangla (sax), Solange Sol Blessa (vocais de apoio) e Thiago Mineiro Tavares (teclados).

Teremos como músicos convidados feras que participaram do disco e da turnê de divulgação do mesmo na época. São eles Caio Flávio (vocais), Tony Babalu (guitarra e violão), Lucinha Turnbull (vocal), Tibet (vocal), Rubens Rubão Nardo (vocal) e Naná Fernandes (guitarra). “A festa vai continuar até o mundo acabar”, como dizem versos do rockão que dá nome a esse álbum tão bacana. Uma noitada que promete se tornar histórica no centro de Sampa City!

Paulicéia Desvairada- ouça em streaming:

Wander Taffo homenageado com um show em São Paulo

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Por Fabian Chacur

Wander Taffo (1954-2008) se foi há 10 anos, mas nos deixou um belo legado. Seu trabalho como guitarrista em bandas como Rádio Taxi, Banda Taffo, Joelho de Porco, Made in Brazil e acompanhando Rita Lee, Guilherme Arantes, Marina Lima e outros entrou para os anais do pop-rock brasileiro. Neste sábado (4) em São Paulo, às 21h30, será realizado em sua homenagem o show Viva Wander Taffo, na Comedoria do Sesc Belenzinho (rua Padre Adelino, nº 1.000- Belenzinho- fone 0xx11-2076-9700), com ingressos a R$ 10,00 e R$ 20,00.

Além de grande músico e um ser humano adorável, Wander Taffo também se destacou na área da educação musical ao criar a IG&T (Instituto de Guitarra e Tecnologia), moderna escola de música situada em São Paulo no bairro do Jabaquara que ajudou a desenvolver muitos talentos. Uma pena ter nos deixado de forma tão prematura. Mas a música que criou permanece presente.

O show no Sesc Belenzinho reunirá ótimos músicos, sendo que alguns tocaram com ele. O elenco traz Maurício Gasperini (vocal, ex-Rádio Taxi), Marco Bavini (voz e violão), Edu Ardanui (guitarra), Ivan Busic (bateria e vocal, ex-Banda Taffo), Andria Busic (baixo e vocal, ex-Banda Taffo) e Tiago Mineiro (teclados).

No repertório, teremos músicas das várias fases da carreira de Taffo, entre as quais Me Dê Sua Mão, Olhos de Neon, Pra Dizer Adeus, Vento Sol e também hits do Rádio Taxi (possivelmente Garota Dourada e Você se Esconde farão parte do set list), certamente a banda mais popular entre as quais integrou como um de dos líderes.

Me Dê a Tua Mão– Banda Taffo:

Tony Babalu toca com o swing roqueiro na Sala Olido-Sampa

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Por Fabian Chacur

Em 2017, Tony Babalu lançou um dos melhores discos de qualquer estilo musical no Brasil naquele ano, o envolvente e criativo Live Sessions II (leia a resenha de Mondo Pop aqui). Além de boas críticas, ele recebeu o troféu Catavento, idealizado pelo histórico produtor musical Solano Ribeiro em parceria com a Rádio Cultura. Ele fará show em São Paulo nesta sexta-feira (3) às 19h na Sala Olido (avenida São João, nº 473- Centro- fone 0xx11-3331-8399), com entrada gratuita.

Na ativa desde a década de 1970, o guitarrista, compositor e produtor conseguiu nesses anos todos se consolidar como um dos melhores músicos de rock do Brasil. Além de ter tocado com a banda Made In Brazil e produzir trabalhos de diversos artistas, ele desenvolveu uma carreira solo dedicada ao rock instrumental, conseguindo a proeza de cativar os fãs de ousadia técnica com uma sonoridade capaz de agradar qualquer pessoa que curta rock, sem complicações.

Em seu show na Sala Olido, localizada no Centro Cultural Olido, Babalu mostrará músicas do mais recente álbum, do anterior, o também excelente Live Sessions At Mosh (2014- leia a resenha de Mondo Pop aqui) e também material inédito. Tocarão com ele Adriano Augusto (teclados), Leandro Gusmão (baixo) e Percio Sapia (bateria).

In Black (ao vivo)- Tony Babalu:

Banda Kurandeiros lança seu novo single, Andando na Praia

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Por Fabian Chacur

Kim Kehl e sua banda Kurandeiros estão com um single novo disponível nos canais digitais. Trata-se de Andando na Praia, um furioso e envolvente rock com tempero de psicodelia divulgado por um audioclipe cujo visual evoca exatamente o desenvolvido pelas bandas de rock da segunda metade dos anos 1960. A música é uma parceria de Kehl com o baixista do grupo, Luiz Domingues. Carlinhos Machado (bateria) completa o time, e participam da gravação Nelson Ferraresso (teclados) e Marcos “Pepito” Soledade (percussão).

Nascida de uma ideia musical de Domingues que foi desenvolvida junto com o grupo e chegou a ser um tema instrumental tocado com sucesso em alguns shows da banda, Andando na Praia tem uma letra bem simples e uma interpretação vibrante por parte da banda, com vocal ardido e solos de guitarra e teclados simplesmente viscerais, tendo de quebra uma cozinha rítmica impecável dando a base a tudo.

Na estrada há 40 anos, Kim Kehl integrou bandas como Made In Brazil, Mixto Quente e Nazi e os Irmãos do Blues. Este guitarrista, cantor e compositor criou os Kurandeiros em 1991, e lançou três CDs (Kim Kehl e os Kurandeiros-2004, Mambo Jambo-2008 e 7 Anos-2012) e um EP desde então. Luiz Domingues, baixista e também compositor, é uma figura marcante da música paulistana, tendo feito parte de grupos bacanas como Língua de Trapo e A Chave do Sol.

Andando na Praia (audioclipe)- Os Kurandeiros:

Feras do rock brasileiro serão a atração de show em Sampa

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Por Fabian Chacur

O formato é atrativo e costuma dar sempre certo. Reúna nomes bacanas de um estilo musical, monte uma banda e invista em um repertório com alguns dos grandes hits dos artistas envolvidos. É esse o mote de Rock Connection Rio-Sampa, show que será realizado em São Paulo nesta quinta (7) às 22h30 no Bourbon Street (rua dos Chanés, nº 127- Moema- fone 0xx11-5095-6100), com couvert artístico a R$ 75,00. O time reunido é bem bacana.

Arnaldo Brandão (baixo e vocal) tocou na banda de Caetano Veloso nos anos 1970 e 1980 e teve grande destaque nos grupos Brylho e Hanói Hanói. George Israel (vocal e sax) integrou o Kid Abelha, enquanto Guto Goffi (bateria) continua pilotando as baquetas do Barão Vermelho. Os cariocas trazem consigo o talentoso guitarrista Guilherme Schwab para incrementar essa parceria bem bacana.

De São Paulo, estão escalados Kiko Zambianchi (guitarra e vocal), dono de uma respeitável carreira solo, e o lendário Luis Sérgio Carlini (guitarra e vocal), parceiro de Rita Lee na banda Tutti Frutti e também conhecido por seus trabalhos ao lado de gente do porte de Erasmo Carlos e Guilherme Arantes, só para citar alguns nomes.

O show, que poderá ter convidados surpresa em seu desenrolar, terá no seu set list clássicos do rock brasileiro como Rádio Blá (Hanói Hanói e Lobão), Eu Tive Um Sonho (Kid Abelha), A Noite do Prazer (Brylho), Puro Êxtase (Barão Vermelho), Primeiros Erros (Kiko Zambianchi e Capital Inicial) e Rolam as Pedras (Kiko Zambianchi). Citando os versos de uma dessas músicas citadas, “a noite vai ser boa, de tudo vai rolar”…

Rádio Blá– Hanoi Hanoi:

Barão Vermelho mostra nova cara e os grandes hits em SP

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Por Fabian Chacur

Em 2017, o Barão Vermelho voltou ao cenário rock nacional. No lugar de Roberto Frejat, que optou de vez pela carreira-solo, entrou Rodrigo Suricato, incumbindo-se de vocal, violão e guitarra. Desde então, o time, que depois também perdeu o baixista Rodrigo Santos, está na estrada, mostrando sua nova cara. Eles tocam nesta sexta (27) às 22h30 em São Paulo na Casa Natural Musical (rua Artur de Azevedo, nº 2.134- Pinheiros- fone 0xx11-4003-6860), com ingressos de R$ 140,00 a R$ 200,00.

A atual encarnação desta marcante banda surgida no Rio em 1981 e um dos pilares do rock brasileiro na década de 1980 e desde então traz, além de Suricato, os fundadores Guto Goffi (bateria) e Mauricio Barros (teclados) e Fernando Magalhães (guitarra), este último no time há quase 30 anos. Uma escalação concisa e com muita fome de palco, como seus shows recentes mostraram aos fãs.

Como forma de marcar a fase atual, o grupo acaba de lançar nas plataformas digitais #Barãoprasempre, que traz nove músicas gravadas ao vivo no Rio no Estúdio Palco 41, sendo sete delas releituras elétricas de hits da banda como Pense e Dance, Pro Dia Nascer Feliz, Puro Êxtase e Eu Queria Ter Uma Bomba e as releituras acústicas de Por Você e Brasil, esta última hit da carreira solo do primeiro vocalista da banda, Cazuza. As gravações ainda tiveram Rodrigo Santos como baixista.

No repertório do show, teremos músicas desse álbum digital e também outros sucessos marcantes do Barão Vermelho, entre os quais Bete Balanço, Maior Abandonado e Por Que a Gente é Assim. Além de dar prosseguimento à atual turnê, o grupo promete para um futuro não muito distante um trabalho com canções inéditas.

Pense e Dance (nova versão)- Barão Vermelho:

Helio Flanders lança um clipe com a eslovaca Andrea Bucko

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Por Fabian Chacur

Em 2015, Helio Flanders, líder da banda Vanguart, lançou Uma Temporada Fora de Mim, seu primeiro álbum realmente solo (leia mais sobre este trabalho aqui). Agora, é a vez de mais um trabalho sem o seu grupo. Trata-se de When Our Voices Match (Touch Me), parceria com a cantora e compositora Andrea Bucko, cujo clipe acaba de ser divulgado.

A parceria entre os dois teve início quando Flanders dividiu em 2016 uma turnê com a cantora e pianista em Bratislava (Andrea é natural da Eslováquia, cuja capital é a cidade citada). “Fiz uma turnê na Europa em 2016 e, já nos primeiros shows, a melodia da canção pulsava em mim. Era uma forma de procurar um entendimento entre novas cidades e idiomas que eu estava encontrando”, relembra o artista.

Aí, a canção, que o líder do Vanguart define como uma espécie de milonga, tomou corpo e foi escrita em parceria com Andrea. “O inglês sempre foi natural pra mim, era o idioma que usávamos no começo do Vanguart. Gosto da ideia de uma canção assim. É uma milonga, um estilo uruguaio, argentino, escrita por um brasileiro e uma eslovaca, em inglês, clamando por compreensão do mundo”. É o primeiro trabalho de Flanders com uma artista estrangeira.

When Our Voices Match (Touch Me)– Andrea Bucko & Helio Flanders:

Cazuza 60 é na verdade 100, mil, mais do que dois mil e um

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Por Fabian Chacur

Nesta quarta-feira (4), Cazuza comemoraria 60 anos de idade. Infelizmente, o roqueiro carioca se foi naquele triste sete de julho de 1990, com apenas 32 anos bem vividos, e deixou um vazio não só no rock, como na música e cultura brasileira como um todo.

Tive a honra de entrevistá-lo duas vezes, e de ver um dos shows mais emblemáticos de sua brilhante e breve carreira solo. Vou relembrar alguns momentos desses três contatos de forma aleatória, sem querer ser detalhista demais. O que me vier à mente.

Em 1987, vivi o início de minha carreira jornalística em tempo integral, após dois anos de frilas conciliados com um emprego, digamos, convencional. E em abril daquele ano, participei da entrevista coletiva que Cazuza concedeu em São Paulo para divulgar Só Se For a Dois, seu segundo trabalho solo.

A coletiva ocorreu no bairro do Paraíso, onde ficava na época a sede paulistana da gravadora Polygram, hoje Universal Music. Era a estreia dele pelo selo, após ter lançado o LP que inclui Exagerado em 1985 na Som Livre, meses depois de sair do Barão Vermelho.

Gravei a entrevista no meu heroico gravador grandão, grande parceiro. Tenho essa fita até hoje, e um dia (quando a encontrar, obviamente; mas ela está comigo, tenho certeza) a transcreverei na íntegra para os leitores de Mondo Pop. Por enquanto, ofereço recordações superficiais. Ele foi extremamente simpático com todos.

Ele respondeu todas as nossas perguntas, sem frescuras, e após o final, tirou fotos e deu autógrafos a todos que os solicitaram, eu incluso. Também tirei fotos com ele. Uma saiu meio ruim por causa do flash, e infelizmente é a única que me sobrou, pois a outra foi roubada por uma sobrinha. Que ódio! E tenho fotos da entrevista coletiva, essas bem legais. Preciso escaneá-las, também.

Naquele mesmo dia de 1987, tive a oportunidade de conhecer um de meus ídolos na área do jornalismo musical, o inimitável Ezequiel Neves, com quem também tirei foto, junto com o amigo Humberto Finatti.

Na época, trabalhava na editora Imprima, coordenando as revistas de textos de lá, que se notabilizou pelas revistinhas com cifras para violão e guitarra. Um tempo bom, de aprendizado e que me proporcionou a chance de conhecer muita gente boa.

Em 1988, quando começava no Diário Popular (hoje Diário de S. Paulo), pude rever Cazuza quando ele veio a São Paulo divulgar, com show no extinto (e então badaladíssimo) Aeroanta, no largo da Batata, em Pinheiros, o seu então novo álbum, o incrível Ideologia.

Lembro que tomei um susto (que disfarcei) ao vê-lo bem mais magro do que no encontro anterior. Mas a energia, a simpatia e as ideias bacanas continuavam ali, firmes. O fato de ele portar o vírus HIV ainda não havia se tornado público. Pena que vacilei e não vi aquele show.

Para minha sorte, no final de 1988 Cazuza voltou a São Paulo, desta vez para tocar no antigo Palace (hoje CitiBank Hall) e fazer o show que acabaria gerando, ao ser gravado no Rio, o emblemático álbum ao vivo O Tempo Não Para- Cazuza Ao Vivo. Um show inesquecível.

No início, apesar da energia do roqueiro e de sua banda, a plateia reagiu de forma um pouco fria. Isso, mesmo com o início arrepiante, com o cover de Vida Louca Vida, de Lobão, que no entanto a interpretação apaixonada do autor de Exagerado tornou sua para sempre.

Mesmo irritado, ele tocou o barco. Aos poucos, o público foi entrando no espírito anárquico do artista e se soltou, dançando, pulando, cantando junto e transformando o emepebístico Palace em uma arena rocker.

Aí, Cazuza se soltou, agradecendo o apoio, dizendo que queria fazer shows para pessoas bem loucas e descontraídas, sem frescuras, e proporcionando aos presente um show de maravilhoso rock and roll.

Exagerado, Faz Parte do Meu Show, a então inédita O Tempo Não Para (que Simone regravou de forma canhestra), Brasil (idem com Gal Costa) e Codinome Beija-Flor, só para citar alguns dos clássicos tocados por ele, fizeram a minha noite e a dos milhares de fãs presentes inesquecível.

No Diário Popular, no extinto caderno cultural intitulado Revista, coisa inédita para a publicação: duas críticas. Uma de minha autoria elogiando o show e a atitude de Cazuza em pedir a participação de todos.

Outra do editor (e meu mestre) Osvaldo Faustino criticando o cantor pelo fato de ele ter intimado os presentes a participar. Belo exercício de democracia. E as duas opiniões faziam total sentido, eram pontos de vista que se completavam muito bem, modéstia à parte.

E então, meses de sofrimento de vê-lo doente, da campanha idiota da revista Veja contra ele, o lançamento do inconsistente e duplo Burguesia em 1989 (na verdade uma desculpa para alguém muito doente ter motivação para conseguir se manter vivo, sem sombra de dúvidas) e, em 1990, a morte precoce aos 32 anos.

Duas curiosidades, uma engraçada, outra mórbida. A primeira: no lançamento de Burguesia, a Polygram realizou uma festa na qual todos recebiam o LP. Seis deles vieram com cupons, incluindo o meu. Dois desses seis foram sorteados e ganharam viagens para os Estados Unidos. Eu perdi. Foi o mais perto que fiquei, até hoje, de ir ao exterior…

A outra é quase macabra. No início de 1989, a morte do roqueiro do bem parecia iminente. Então, meu editor na época, Danilo Angrimani Sobrinho, pediu-me uma matéria sobra a carreira de Cazuza, para ficar na gaveta e ser publicada rapidamente no caso da morte do artista. Fiz a contragosto, rezando para que nunca fosse publicada.

Se a morte acabou sendo inevitável, ao menos demorou um ano e meio para que aquela matéria “mortuária” chegasse às páginas do jornal. Mas uma ironia: na época, a redação ainda era na base das máquinas de escrever, laudas de papel, edição na raça etc. E a matéria havia sido feita quando ainda não se sabia como seria Burguesia.

Nem o seu título, que durante meses foi divulgado como A Volta do Barão. Eu estava de folga, e quem publicou a matéria não se preocupou em revisar isso. Ou seja, o leitor do finado Dipo “ganhou” um álbum inexistente de Cazuza…

Cazuza foi um roqueiro perfeito. Voz cheia de energia que superava defeitos técnicos do tipo língua presa, letras maravilhosas e melodias sempre trazidas por parceiros inspirados. Quantas coisas boas a mais ele não teria feito, se não tivesse saído de cena em 1990… Ele só viveu 32 anos, que, no entanto, equivaleram a 60, 100, mais do que 2001… Saudades, exagerado, você faz muita falta!

Ritual– Cazuza:

Primavera nos Dentes mostra remake de Secos & Molhados

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Por Fabian Chacur

Nada melhor do que presenciar uma banda composta por músicos experientes e talentosos pegar um repertório consagrado e muito bem formatado, como o do Secos & Molhados, e dar a ele novas e criativas feições. É isso o que o Primavera nos Dentes nos ofereceu em seu ótimo trabalho de estreia, de 2017. Ele se apresentam em São Paulo nesta quinta (22) e sexta (23) às 21h no Sesc Pompeia (rua Clélia, nº 93- Pompéia- fone 0xx11-3871-7700), com ingressos de R$ 9,00 a R$ 30,00.

O projeto Primavera nos Dentes surgiu em 2016, e tem como integrantes Charles Gavin (bateria, ex-Titãs), Paulo Rafael (guitarra, ex-Ave Sangria e braço direito há mais de 40 anos de Alceu Valença), Duda Brack (vocal), Felipe Pacheco Ventura (violino e guitarra) e Pedro Coelho (baixo). O seu álbum de estreia, lançado em CD, vinil e versão digital pela gravadora Deck, traz onze canções extraídas dos dois primeiros álbuns de estúdio dos Secos & Molhados, lançados em 1973 e 1974 com a sua formação original.

Os ótimos remakes das canções do lendário trio setentista serão tocadas pelo quinteto carioca em seus dois shows no Sesc Pompeia, entre os quais Sangue Latino, Rosa de Hiroshima, Fala, O Vira, O Patrão Nosso de Cada Dia e Primavera nos Dentes (faixa que batizou a banda). Também está no repertório uma músicas que não entrou no disco deles, El Rey, integrante do álbum de 1974 dos S&M.

Primavera nos Dentes- ouça o álbum em streaming:

MarceloMarcelino demonstra fôlego em sua carreira solo

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Por Fabian Chacur

Em 1997, Marcelo Marcelino iniciava a sua trajetória no cenário do rock nacional. Após integrar as bandas Sem Destino (de 1997 a 2004) e Madrenegra (de 2011 a 2016), com as quais lançou bons álbuns e participou de festivais importantes, ele agora inicia uma carreira solo que parece das mais promissoras, se levarmos em conta o conteúdo do trabalho de estreia dessa nova fase de sua trajetória, o álbum Marcelo Marcelino, disponível em CD e no formato digital.

Oriundo do Jardim Ingá, distrito da cidade goiana de Luziânia, situada no entorno do Distrito Federal, este cantor, compositor e músico destoa de boa parte da produção atual da música brasileira. Em primeiro lugar pelo texto de suas canções, repleto de consistência, inspiração literária e uma preocupação nítida em abordar temas relevantes, como amizade, amor, esperança, paz, combate ao preconceito e aos “poderosos trajando terno e gravata” que afligem as nossas vidas.

O que faz a força de Marcelino enquanto trovador rocker é que ele canta, com vozeirão potente e se valendo de ótima dicção, com a determinação de quem acredita em cada palavra presente em suas letras. Não, aqui não temos um desses oportunistas da canção que “cantam o que o povo quer ouvir”; nosso amigo goiano “canta o que o povo precisa ouvir”. Suas inspirações nesse setor são claras: Raul Seixas, Zé Ramalho, Bob Dylan, Bob Marley, John Lennon, gente desse gabarito.

Valendo-se de uma sonoridade próxima do folk rock, Marcelino se alterna entre violão, baixo, bandolim, ukulele e kazoo. Neste álbum, gravado no Electro Sound Studio, em Santos (SP), ele conta com o apoio de André Pinguim (bateria, ex-Charlie Brown Jr.), André Freitas (guitarra, produção, masterização e mixagem) e Maru Monhawk (teclados). Outro ex-Charlie Brown Jr, Marcão Britto, faz um endiabrado solo de guitarra em Jeito Estranho.

Nas 14 faixas do álbum (sendo uma delas, Alguma Poesia, composta por versos declamados a capella), Marcelino nos apresenta urgência, energia, sensibilidade e ótimas ideias. Os arranjos são simples e diretos, além de muito bem feitos e executados, sem tentar inventar a roda ou coisa do gênero. São rocks e baladas diretos, sem rodeios, interpretados com categoria e personalidade dignas deste artista de 43 anos de idade cronológica e energia de uns 20, se tanto.

As composições vão desde algumas dos tempos do Sem Destino até outras bem recentes, reunidas com forte unidade temática e sonora. Profecia de Mendigo, A Balada de Rosa e Montanha, Anjo Doido, Jeito Estranho, Puta Que Pariu Acontece Outra Vez (que inclui citação de Partido Alto, de Chico Buarque) e Meu Amigo Olha Só a Ironia são destaques, mas o álbum é bem coeso, sem pontos baixos.

O trabalho de Marcelo Marcelino é um tapa na cara com luva de pelica naqueles que desdenham da força do atual rock brasileiro. Pode não estar na grande mídia, mas está aí, à disposição de quem tiver paciência para procurar. Tomara que muitos descubram a voz, o carisma e a poesia deste ótimo artista, e que este seja o início de uma trajetória solo repleta de reconhecimento, sucesso e crescimento pessoal.

Ouça o álbum Marcelo Marcelino em streaming:

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