Por Fabian Chacur

Em recente entrevista, Tom Petty comentou que ao começar a conceber seu novo trabalho, pensou no que nunca havia feito em seus quase trinta anos de carreira. E surgiu a ideia de criar um trabalho de blues, algo até então inédito em sua trajetória. Nascia Mojo, novo álbum de Tom Petty & The Heartbreakers e um de seus melhores.

A grande sacada do brilhante cantor, compositor e guitarrista americano foi não cair na tentação de fazer músicas que seguissem apenas um dos diversos caminhos do blues, semente de praticamente tudo o que de fato interessa na música- rock, jazz, rhythm and blues, soul, funk, rap, a lista é interminável.

Nas 15 faixas deste álbum, Petty e seus colegas de banda usaram a linguagem básica do blues das mais diversas formas. Jefferson Jericho Blues, que abre o disco, por exemplo, é um blues de Chicago típico, dançante e ardido, quase roqueiro.

I Should Have Known It é o típico hard rock de origem blueseira, e curiosamente, é seguida pela faixa mais próxima do blues de raiz, a crua U.S. 41. No Reason To Cry lembra ao mesmo tempo baladas de Eric Clapton e do próprio Petty, e encanta pela doçura.

First Flash Of Freedom, com seu andamento de valsa, nos leva aos psicodélicos anos 60, lembrando coisas do Lovin Spoonful e cativando logo nos primeiros acordes. Dá para sonhar acordado com o romantismo viajandão dessa faixa.

E o disco tem muito mais, como a roqueira bubblegum Candy, o blues mais sentido Good Enough (com ecos de B.B. King) e o reggae-blues Don’t Pull Me Over. Cada audição te leva a novas descoberta.

Lógico que Tom Petty não seria nada se não tivesse alguns músicos fiéis e geniais a seu lado, sendo o maior deles o excepcional guitarrista Mike Campbell, que Petty não deixa de lado nem quando grava sem os Heartbreakers.

O tecladista Benmont Tench e o baixista Ron Blair também são Heartbreakers da primeiríssima geração, enquanto Scott Thurston (guitarra e gaita) e Steve Ferrone (bateria e percussão) são adições mais recentes (e importantes) ao time de roqueiros.

Mojo mostra um músico veterano que não dorme em cima dos louros conquistados em tantos anos na ativa e o mostra sem perder o tesão que leva quem gosta do que faz a sempre querer fazer melhor do que antes. Pode até não conseguir sempre, mas as tentativas prosseguirão ad eternum. Ainda bem!