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Brian Eno tem emergência climática como tema de CD

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Por Fabian Chacur

Além de ser um dos mais bem-sucedidos produtores musicais de todos os tempos e de ter integrado a banda Roxy Music em sua fase inicial, Brian Eno também desenvolve um sólido e criativo trabalho como artista solo. Ele lançará o seu 22º álbum individual de estúdio no dia 14 de outubro em vários formatos, com o título FOREVERANDEVERNOMORE. A primeira de suas 10 faixas acaba de ser divulgada pela gravadora Universal Music.

Trata-se de There Were Bells, colaboração com o irmão Roger Eno e cuja estreia ocorreu em um evento patrocinado pela UNESCO na Acrópole de Atenas, na Grécia. Por sinal, foi lá, em agosto de 2021, que foi gravado o clipe desta canção, que acaba de ser disponibilizada.

Em comunicado à imprensa, Brian Eno fala sobre a motivação do álbum, cujo tema básico é a emergência climática vivida pelo planeta neste momento:

“Como todo mundo – exceto, aparentemente, a maioria dos governos do mundo – eu tenho pensado sobre nosso futuro estreito e precário, e essa música surgiu desses pensamentos. Talvez seja mais correto dizer que estou sentindo sobre isso. E a música cresceu a partir desses sentimentos. Aqueles de nós que compartilham essas preocupações estão cientes de que o mundo está mudando em um ritmo super-rápido e que grande parte dele está desaparecendo para sempre. Daí o título do álbum. Resumidamente, precisamos nos apaixonar novamente, mas desta vez pela natureza, pela civilização e por nossas esperanças para o futuro”.

There Where Bells (clipe)- Brian Eno:

Manifesto (1979), o álbum que iniciou nova fase do Roxy Music

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Por Fabian Chacur

Em 1979, o Roxy Music completava três anos longe de cena. Seu último álbum de estúdio até então, Siren (1975), foi divulgado por uma turnê que rendeu o esplêndido álbum ao vivo Viva! (1976). Depois, o silêncio. Portanto, não faltou alegria aos inúmeros fãs da banda britânica quando Manifesto chegou às lojas em março daquele ano. Um retorno à altura de um grupo que já havia feito muita coisa boa em seu produtivo primeiro período na ativa.

Concebido pelo estudante de artes Bryan Ferry, seu cantor e principal compositor, o Roxy Music trouxe em seu DNA o espírito da experimentação pop. Ou seja, a criação de um som aberto a fusões e misturas com várias tendências do rock, como o básico, o progressivo, o psicodélico, o hard etc e também o rhythm and blues, o soul, o funk, a música eletrônica, o jazz e os standards americanos. Tudo com uma classe e um refinamento extremo, mas sem fugir exageradamente do perfil pop. O famoso conceito dos “biscoitos finos para as massas” do brasileiro Oswald de Andrade se encaixa feito luva para definir o resultado dessa simbiose roqueira.

O núcleo básico do grupo traz, além de Ferry, Andy Mackay (sax e oboé) e Phil Manzanera (guitarra), com Paul Thompson (bateria) completando o time fixo. Brian Eno (teclados e efeitos sonoros) participou dos dois primeiros álbuns, mas acabou trombando com o líder da banda, e saiu fora rumo a uma carreira solo incrível e também para se tornar um consagrado produtores musical.

Com o então jovem tecladista Eddie Jobson no posto de Eno, o Roxy Music gravou mais três álbuns de estúdio e um ao vivo entre 1973 e 1976, firmando-se no cenário rocker, especialmente o britânico e o europeu. Além de uma musicalidade própria inovadora e cativante, o Roxy trazia como marcas o visual fashion de seus integrantes e a classe de Bryan Ferry como cantor, influenciado pelos crooners de jazz e pelos intérpretes da ala mais soft do soul.

Durante os três anos que o Roxy ficou fora de cena, Bryan Ferry lançou mais três álbuns solo (ele já tinha gravado outros dois paralelamente ao trabalho com a banda). Quando ele resolveu se reunir novamente com Manzanera, Mackay e Thompson, trouxe como ponto de partida a sonoridade de duas músicas de Siren (1975), as sacudidas Love Is The Drug e Both Ends Burning. Vivíamos o auge da era da disco music, e o grupo inglês soube se valer de sua influência sem cair em oportunismo ou mero pastiche. Deu super certo.

Nessa linha pra cima, Angel Eyes e Dance Away foram as faixas que impulsionaram o álbum rumo às primeiras posições das paradas de sucesso internacionais. Também dançante, mas com uma batida mais sensual, Ain’t That Soul ajuda a manter o baile animado, assim como os pop-rocks Cry Cry Cry e My Little Girl.

Com uma introdução instrumental hipnótica de influência oriental de 2,5 minutos, Manifesto é uma faixa título absurda de boa em seus mais de 5 minutos de duração total, uma espécie de carta de intenções do que seria o álbum, uma escolha perfeita para abrir um disco tão icônico.

Trash, um rock nervoso com leve pegada punk, mostra a capacidade da banda de pegar um som que estava em voga naquele momento e transformá-lo em algo totalmente diferente. Com belos riffs de guitarra, a rock-soul Still Falls The Rain tem um clima que lembra o do álbum Siren. O clima introspectivo e levemente progressivo marca Stronger Through The Years , com direito a belos solos dos músicos. E o LP é encerrado por uma balada delicada e viajante, Spin Me Round. O início perfeito de um período mágico na carreira dessa banda.

Mais curiosidades e considerações sobre Manifesto:

*** Manifesto foi o álbum do Roxy Music a atingir o posto mais alto na parada americana, o número 23, mas não o mais bem vendido. Avalon (1982), embora só tenha chegado ao número 53, com o decorrer dos anos acabou ultrapassando a marca de um milhão de cópias vendidas por lá, recebendo o prêmio de disco de platina por isso.

*** A versão inicial de Angel Eyes tinha uma levada de power pop. Na hora de lançar o single, o grupo e a gravadora optaram por investir em uma regravação com levada disco, que ganhou rapidamente o público. Dessa forma, apenas a tiragem inicial de Manifesto traz Angel Eyes no estilo rocker, sendo substituída nas tiragens posteriores pela disco version. Isso também ocorreu com Dance Away, embora neste caso as diferenças entre as gravações sejam mais sutis.

*** Vocês devem ter notado que não citei o nome de baixistas nesta matéria até o presente instante. É que o Roxy Music teve como marca, em sua carreira, o fato de ter tido inúmeros músicos entrando e saindo, nesse posto. Em Manifesto, cuidaram dessa função Gary Tibbs e Alan Spenner. Outros baixistas que tocaram com o Roxy, durante sua carreira: Rick Willis, John Wetton (depois, famoso com o grupo Asia), Sal Maida, John Gustafson, John Porter, Rick Kenton e Graham Simpson (ufa!).

*** Manifesto foi gravado em estúdios ingleses e americanos. A parte ianque do álbum conta com a participação de músicos bem legais, entre os quais Rick Marotta (bateria), Steve Ferrone (bateria), Richard Tee (piano), Melissa Manchester (vocais) e Luther Vandross (vocais). A participação dos dois outros bateristas não foi por acaso: Paul Thompson não curtia a parte mais dançante dessa fase do Roxy, e saiu do grupo após a turnê de divulgação deste álbum.

*** Quem marca presença no álbum, tocando teclados, é o cantor, compositor e multi-instrumentista britânico Paul Carrack. Então ainda desconhecido, ele faria muito sucesso nas décadas de 1980 e 1990 integrando como vocalista os grupos Squeeze e Mike+The Mechanics. É dele a voz principal de hits incríveis desses grupos como Tempted e Over My Shoulders, só para citar dois deles.

*** As capas dos discos do Roxy sempre foram comparáveis às de revistas de moda, por serem muito sofisticadas e incluírem modelos famosas. A de Siren, por exemplo, trouxe no papel de uma sereia ninguém menos do que Jerry Hall, que depois seria durante anos a esposa de Mick Jagger. Quem ajudava na criação era um amigo de Ferry, o fashion designer Antony Price. No caso de Manifesto, temos uma festa com direito a muitos modelos, serpentina e confetes.

*** Saiu em 2008, inclusive no Brasil (pela extinta ST2) Live In America, CD gravado ao vivo durante a turnê de lançamento de Manifesto. O registro ocorreu em um show realizado no dia 12 de abril de 1979 no Rainbow Music Hall, em Denver, Colorado (EUA). São 13 faixas, sendo 6 delas do álbum que estavam divulgando. Muito, mas muito bom mesmo, com os quatro (Ferry, Manzanera, Mackay e Thompson) apoiados por Gary Tibbs (baixo) e David Skinner (teclados).

Ouça Manifesto na integra, em streaming:

Morre John Wetton, o incrível cantor e baixista de prog rock

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Por Fabian Chacur

John Wetton era aquele tipo de músico que fazia os concorrentes passarem vergonha na hora de comparar os currículos. Afinal de contas, esse cantor, compositor e baixista inglês tocou com alguns dos mais importantes grupos de rock de todos os tempos, especialmente em termos de rock progressivo. Ele nos deixou nesta terça-feira (31), aos 67 anos, após uma longa batalha contra o câncer.

Mesmo com problemas de saúde, ele não deixou de trabalhar nos últimos tempos. Inclusive, ele deveria começar em breve uma turnê com uma das bandas que o tornou famoso, a Asia, que faria shows em dobradinha com o Journey. Ele anunciou no dia 11 de janeiro que não poderia participar dos primeiros shows por determinação médica, sendo substituído pelo amigo Billy Sherwood (do grupo Yes). O músico também estava se dedicando a relançamentos de trabalhos-solo.

Além disso, está previsto para sair no dia 24 de fevereiro o lançamento de um novo trabalho do Asia, Symfonia- Live In Bulgaria 2013, que sairá em CD duplo e DVD. Os relançamentos de seus trabalhos-solo, assim como a disponibilização de gravações raras e/ou inéditas dele, estavam sendo realizadas por um selo próprio, o Primary Purpose.

Nascido na Inglaterra em 12 de junho de 1949, John Wetton começou no cenário do rock tocando em grupos como o Mogul Trash. Em 1971, entrou na banda Family, a qual acabou deixando em 1972 para aceitar um convite imperdível: ser o novo baixista e vocalista do King Crimson, seminal time de rock progressivo que naquele momento partia para uma nova formação. Ao lado de Robert Fripp (guitarra) e Bill Brufford (bateria), lançou três discos seminais do prog rock: Larks Tongue In Aspic (1973), Starless And Bible Black (1974) e Red (1974).

Com a separação do Crimson em 1974, Wetton ficou até 1977 participando de vários trabalhos alheios, tocando baixo com o Roxy Music em uma turnê da banda (ele aparece no incrível álbum Viva!, lançado por esta banda em 1976) e também participando (entre 1974 e 1978) de discos solo de Bryan Ferry e Phil Manzanera. Em 1975 e 1976, fez parte do Uriah Heep, com o qual gravou dois álbuns, entre eles o elogiado Return To Fantasy (1975).

Em 1977, Wetton cria a banda U.K. ao lado de outros músicos badalados, como Bill Brufford (Asia, King Crimson), Eddie Jobson (Roxy Music) e Alan Holdsworth. Com o fim da banda, em 1980, ele lança o seu primeiro disco solo, Caught In The Crossfire, que é elogiado mas não consegue boas vendagens. Aí, surgiria um projeto campeão de vendas para compensá-lo de forma massiva.

Era o Asia, que trazia ele como cantor e baixista ao lado de Geoff Downess (ex-Buggles e Yes, teclados), Steve Howe (guitarra, ex-Yes) e Carl Palmer (bateria, ex-Emerson, Lake & Palmer). O grupo tornou-se um verdadeiro fenômeno de vendas do pop-rock, vendendo milhões de discos, atingindo o primeiro lugar da parada nos EUA e ficando por lá durante nove semanas e se tornando o álbum mais vendido de 1982 pela Billboard, com hits como Heat Of The Moment e Only Time Will Tell.

A partir daí, já mais do que consagrado, John Wetton se dividiu entre o lançamento de trabalhos-solo, de um álbum em dupla com Phil Manzanera e inúmeros outros projetos bacanas. Em 1997, saiu My Own Time: The Authorized Biography Of John Wetton, de autoria de Kim Dancha. Wetton esteve no Brasil em 1991 com o Asia, onde fez alguns shows. Ele conseguiu superar o vício de bebidas alcoólicas, e ajudava outras pessoas com esse problema sério.

Do It Again (ao vivo)- John Wetton e Phil Manzanera:

Bryan Ferry completa 70 anos com a classe que é sua marca

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Por Fabian Chacur

Neste sábado (26), um dos grandes estilistas do rock completará 70 anos. Só para variar, com a classe de sempre. Bryan Ferry se encontra atualmente em turnê de divulgação de seu mais recente álbum, o ótimo Avonmore (2014), e soprará as velinhas entre um show e outro na Alemanha. Eis um cara que merece ser louvado por quem gosta de música boa e inventiva. Mesmo!

Nascido em 26 de setembro de 1945, Ferry se dividiu entre a música e a graduação em artes, que em seguida lhe proporcionou a oportunidade de dar aulas. A partir de 1970, porém, ficou claro que sua opção pelo caminho musical era inevitável, e depois de ter integrado pequenos grupos como The Banshees, fundou a banda que lhe tornou mundialmente famoso, a Roxy Music.

Desde o início, esse grande cantor, compositor e músico britânico deixou claro que sua visão de arte e moda também integraria o pacote musical criado por si próprio. Ele incorporou uma elegância e um estilo marcante aos shows de seu grupo, e também trouxe esse refinamento às capas de seus álbuns, estrelados por famosas e lindas modelos com as quais também namorou, entre as quais Amanda Lear e Jerry Hall.

Em termos musicais, o som de Bryan Ferry se caracteriza por um mergulho criativo e personalizado nos universos do glam rock, da black music americana em suas várias vertentes (soul, jazz, disco music, funk) e do pop, com um bom gosto simplesmente absurdo. Romântico, sim, brega, nem em pensamento. Tudo pontuado por sua voz de crooner das antigas, explorada com uma classe e uma categoria reservada a poucos cantores na história do pop.

Com o Roxy Music, lançou álbuns absurdamente bons e influentes, entre os quais Roxy Music (1972), For Your Pleasure (1973), Siren (1976), Manifesto (1979) e Avalon (1982), inspiradores para gente como Nile Rodgers (do grupo Chic), David Bowie, Duran Duran e tantos outros.

Na carreira solo, Bryan Ferry sabe mesclar como poucos a releitura de clássicos de várias eras do pop, desde os standards do jazz americano do tipo These Foolish Things, passando por soul, doo-wop, rock e muito mais, até uma obra autoral capaz de nos proporcionar sons climáticos, envolventes e nos quais o ouvinte é levado a viagens deliciosas pelos meandros do amor, da paixão e dos estados elevados da alma.

Da trajetória individual, também não são poucos os trabalhos recomendáveis, como These Foolish Things (1973), Boys And Girls (1985), Taxi (1993), Frantic (2002) e Olympia (2010). De quebra, o cara sempre soube se cercar de grandes músicos nesses trabalhos, gente com o currículo de Nile Rodgers, Robin Trower, Chris Spedding, Gregg Phillinganes, Nathan East e David Gilmour, além dos colegas de Roxy Music Phil Manzanera, Andy MacKay e Paul Thompson.

Tive a chance de entrevistar Bryan Ferry lá pelos idos de 1995, quando ele veio ao Brasil para shows pela primeira vez, e o vi ao vivo naquela mesma época e também em 2003, em apresentações históricas e repletas de vigor e categoria. Se você é fã e conhece a obra de Mr. Ferry, comemore comigo. Se não é, faça um favor a si mesmo: mergulhe em sua obra e tente não se apaixonar por ela. Pessoas de bom gosto não escapam incólumes dessa experiência.

Smoke Gets In Your Eyes– Bryan Ferry:

The ‘In’ Crowd– Bryan Ferry:

Let’s Stick Together– Bryan Ferry :

The Right Stuff – Bryan Ferry :

N.Y.C. – Bryan Ferry :

You Can Dance– Bryan Ferry :

Bryan Ferry relê hits em estilo jazz anos 20

Por Fabian Chacur

Bryan Ferry, considerado um dos grandes cantores da história do rock, surpreende os fãs novamente e lança seu primeiro álbum instrumental. The Jazz Age, na verdade, equivale a uma sucessão de surpresas para quem acompanha há 40 anos esse verdadeiro gênio do rock e da música pop em geral.

O cantor, compositor e músico britânico selecionou onze de suas composições gravadas por ele com o Roxy Music ou em carreira solo e deu a elas versões instrumentais. Mas não qualquer instrumental. O álbum se vale de arranjos extremamente bem elaborados e baseados no jazz da década de 20, período conhecido como The Jazz Age (daí o nome do álbum).

Com direção musical a cargo do maestro e tecladista Colin Good, que trabalhou com Ferry no CD As Time Goes By (1999), no qual o cantor releu standards do jazz dos anos 30 e 40, o trabalho envolve o ouvinte e ressalta possibilidades melódicas e rítmicas que ninguém imaginaria serem possíveis nesse ótimo repertório.

Slave To Love, Do The Strand, Avalon e Virginia Plain são destaques de um álbum simplesmente delicioso, que mergulha em uma sonoridade jazzística que se encaixa feito luva no repertório Roxy/Ferry. Ressalte-se a belíssima capa, que aproveita desenhos do artista francês Paul Colin (1892-1985), especialista em cartazes para espetáculo artísticos.

Esse é o repertório de The Jazz Age:

Don’t Stop The Dance
Just Like You
Avalon
The Bogus Man
Slave To Love
This Is Tomorrow
The Only Face
I Tought
Reason Or Rhyme
Virginia Plain
This Island Earth

Slave To Love – The Bryan Ferry Orchestra:

Do The Strand (trecho) – The Bryan Ferry Orchestra:

Veja vídeo com cenas das gravações de The Jazz Age:

DVD conta a história do seminal Roxy Music

Por Fabian Chacur

O Roxy Music é uma das bandas mais influentes da história do rock.

Criada no início dos anos 70 pelo estudante de artes plásticas Bryan Ferry, concebeu uma sonoridade única composta pela fusão de rock básico, soul, rock progressivo e o que mais pintasse.

Tudo sob a batuta rígida de Ferry, sempre muito bem auxiliado por Phil Manzanera (guitarra) e Andy MacKay (sax e teclados), seus inseparáveis parceiros.

Capaz de atrair fãs tão distintos como John Taylor (Duran Duran), Siouxsie Sioux (Siouxsie And The Banshees), Steve Jones (dos Sex Pistols) e Nile Rodgers (do Chic), o Roxy Music fez história.

Com sua voz de crooner no melhor estilo Frank Sinatra, Ferry ajudou a criar um estilo musical ao mesmo tempo sofisticado, acessível e extremamente diversificado.

Álbuns como For Your Pleasure (1973), Siren (1975), Viva! The Live Roxy Music Album (1976), Manifesto (1978) e Avalon (1982) estão entre os momentos essenciais da história da música pop.

A carreira dos rapazes está muito bem contada no documentário The Story Of Roxy Music – More Than This, que a ST2 lançou há pouco no Brasil.

Com depoimentos de todos os integrantes e também dos artistas citados no início desta matéria, o filme mostra a banda desde os anos iniciais, quando contava com o hoje produtor Brian Eno (conhecido por seu trabalho com o U2 e inúmeros outros artistas), até o retorno aos shows do time, nos anos 2000, após quase 20 anos fora de cena

A narrativa é pontuada por registros ao vivo da época, que exemplificam bem a evolução da banda de 1972 até 1982, quando lançaram seu último álbum de estúdio, o belíssimo Avalon.

Todos os aspectos envolvendo o grupo são bem desenvolvidos, inclusive as capas de álbuns com modelos na capa (incluindo Jerry Hall, que anos depois foi mulher de Mick Jagger) e as mudanças constantes de baixistas.

De bônus, entrevistas adicionais e três performances na íntegra da banda em 2006, com as músicas Both Ends Burning (que me levou a virar fã dessa banda magistral, em 1976), Editions Of You e Do The Strand.

A única bola fora da ST2 foi não ter incluído legendas em português, embora as em inglês contidas no vídeo sejam suficientes para quem domina a língua britânica de forma razoável. Custava legendar, custava?

Um toque: Olympia, álbum solo de Bryan Ferry de 2010 que eu comentei aqui em Mondo Pop, conta com as participações dos integrantes do Roxy e merece a sua atenção. Discaço!

Álbum ao vivo do Roxy Music sai no Brasil

Por Fabian Chacur

Depois, ainda tem gente que por alguma razão diz detestar lojas de discos físicas. Pois foi uma delas que me permitiu descobrir a existência de Live In America, do Roxy Music.

Esse CD saiu por aqui em 2008 via ST2 na total surdina, e só o descobri no finalzinho de 2010. Antes tarde do que nunca.

As 13 faixas do álbum foram gravadas ao vivo em 12 de abril de 1979 no Rainbow Music Hall, na cidade de Denver, estado do Colorado, nos EUA.

Era a primeira vez que a banda tocava por lá, durante a turnê de divulgação de Manifesto, álbum que marcou o retorno dos ingleses à ativa após quase quatro anos fora de cena.

Além do trio que se manteve em todas as formações, que consiste em Bryan Ferry (vocal e teclados), Phil Manzanera (guitarra) e Andy Mackay (sax), temos aqui outro fiel escudeiro, Paul Thompson (baterista mais constante da história da banda), Gary Tibbs (baixo) e David Skinner (teclados).

A qualidade de captação de áudio é excelente, com garantia de que foi conseguida direto da mesa de som.

O repertório traz, do excelente álbum que estavam divulgando na época, as ótimas Manifesto, Angel Eyes, Trash, Still Falls The Rain, Ain’t That So e Stronger Through The Years, músicas que nas turnês posteriores quase nunca foram tocadas.

As faixas restantes são clássicos do repertório do grupo inglês: Out Of The Blue, A Song For Europe, Ladytron, In Every Dream Home a Heartache, Love Is The Drug e Re-make / Re-model.

O desempenho do grupo é simplesmente arrasador. A classe do vocal de Bryan Ferry se revela em grande forma.

Os solos de guitarra de Phil Manzanera, especialmente nas músicas Still Falls The Rain, In Every Dream Home a Heartache e Stronger Through The Years, mostram o como esse excepcional músico se solta ao vivo.

Live In America traz um encarte com apenas quatro páginas. Que, no entanto, traz informações suficientes para saciar a curiosidade dos fãs mais detalhistas, embora sem uma única foto da banda.

Tipo do álbum indispensável para os fãs da banda, especialmente pela performance excelente dos músicos e pelo repertório incomum.

Ouça Manifesto ao vivo:

Bryan Ferry lança excepcional álbum Olympia

Por Fabian Chacur

Aos 65 anos, Bryan Ferry continua sendo o rei da classe no cenário do pop rock mundial.

Para quem tem dúvidas, recomendo ouvir agora mesmo Olympia, que a EMI acaba de lançar no Brasil.

Minha única queixa será feita logo de cara, só para entrar logo a seguir no que de fato interessa: a edição brazuca não inclui as faixas bônus lançadas no exterior, que são releituras de Whatever Gets You Thru The Night, de John Lennon (do álbum Walls & Bridges, de 1974) e One Night, hit na voz de Elvis Presley.

De resto, é uma festa só. Ferry se mantém fiel à sonoridade que moldou ainda no Roxy Music lá pelos idos de 1976 com o álbum Siren, depois arredondada em maravilhas como Manifesto (1979) e Avalon (1982).

A vibe de Ferry é bem noturna, com um clima dançante com ecos de soul, disco music e pop sempre vestido com sonoridades inovadoras, eletrônicas e também acústicas e sofisticação acessível.

As baladas matadoras, daquelas de cortar os pulsos, sempre aparecem, assim como releituras cirúrgicas de clássicos pinçados do repertório da música pop/rock/folk/country.

Olympia, mais uma vez com uma bela mulher na capa (a modelo Kate Moss), tem início com a arrasadora You Can Dance, de botar fogo em qualquer pista de dança logo de cara.

Alphaville vem a seguir para prosseguir na missão pista cheia, sendo seguida pelas mudanças de andamento de rock para quase reggae para pop total de Heartache By Numbers.

O primeiro momento balada é a lancinante Me Oh My, com citações de hits pop e interpretada no fio da navalha por esse fantástico crooner rocker, uma das vozes mais belas e mais bem utilizadas da história da música popular em qualquer formato e qualquer época.

Shameless nos traz de volta aos momentos chacoalhantes, encerrando o que seria o lado um de um disco de vinil.

O lado B imaginário para quem tem CD começa com a releitura de Song To The Siren, lançada em 1967 por Tim Buckley e cujo título remete ao seminal álbum Siren já citado acima, aquele de Both Ends Burning e Just Another High.

Após ouvir a versão de Mr. Ferry e confessando não conhecer a gravação original, creio ser difícil acreditar que essa música não é dele, tal a forma que o cara se apossou da canção alheia.

Outro cover vem a seguir: No Face No Name No Number, do genial Steve Winwood e sucesso com o Traffic também em 1967.

BF Bas (Ode To Olympia) é o último momento dançante do disco, e finaliza essa vertente no trabalho com rara habilidade.

Reason Or Rhyme segue aquela linha blueseira e de clima noturno que ele fez várias vezes nesses seus quase 40 anos de carreira, e com a mesma inspiração de sempre.

Para encerrar um disco perfeito, Tender Is The Night soa como a canção do finalzinho da noite, com acompanhamento esparso, interpretação cirúrgica e melodia delicada e belíssima.

Olympia é arte, é música pop, é para as pistas de dança, é para se ouvir com atenção, é para vibrar, é para curtir até cansar.

Como de praxe, Mr. Ferry reuniu muitos craques da música para acompanhá-lo, entre os quais Nile Rodgers (Chic), Dave Gilmour (Pink Floyd), colegas de Roxy Music (que volta e meia faz shows, bem que podiam vir ao Brasil…), Flea (Red Hot Chili Peppers)…

Nem é preciso dizer que meu atual sonho de consumo é achar o disco com as duas faixas bônus que ficaram de fora do CD nacional…

Kate Moss na capa do novo CD de Bryan Ferry

Por Fabian Chacur

Nos anos 70, a marca das capas da seminal banda britânica Roxy Music eram belas mulheres, sendo que uma delas foi a modelo e posteriormente mulher de Mick Jagger, Jerry Hall (no álbum Siren, de 1976).

Pois Bryan Ferry, vocalista e líder da banda que está fazendo alguns shows em 2010, resolveu retomar o costume para seu novo CD solo.

Olympia, previsto para chegar às lojas via EMI em outubro, estampa desta vez a badalada Kate Moss. A foto você está vendo aqui. Agora vem o mais interessante: o trabalho conta com participações especialíssimas.

Marcam presença três colegas do Roxy Music: Brian Eno (que saiu da banda em 1973), Phil Manzanera e Andy MacKay. Além deles, feras do naipe de Dave Gilmour, Johnny Greenwood (do Radiohead), Mani (ex-Stone Roses) e Flea (do Red Hot Chili Peppers).

A faixa de trabalho inicial, You Can Dance, já deve estar disponível por aí nas redes de compartilhamento de arquivos musicais. Como Ferry até hoje não conseguiu fazer um único álbum ruim, os meus ouvidos coçam e muito para conferir sua nova masterpiece. Que outubro chegue logo!

Como eu descobri o Roxy Music

Por Fabian Chacur

O ano de 1976 não foi exatamente uma brastemp nas programações de rádio do Brasil. Especialmente em termos de hits internacionais. O que tocou de abacaxi naqueles 12 meses foi uma grandeza. Acompanhar as paradas daqui era jogo duro.

Mas me lembro bem de que, nas paradas se não me engano da rádio Excelsior, sempre tocava naquele período, entre as primeiras colocadas, uma tal de Both Ends Burning, de um certo grupo Roxy Music, do qual eu não tinha a menor referência.

Essa canção ficou na minha memória por pelo menos uns  sete anos. Baixem o pano. Sete anos se passaram. Agora, estou em 1983, em uma loja de discos chamada Golden Hits, que ficava na rua Matias Aires, perto da Augusta.

Olhando os diversos discos existente, vi um intitulado Viva!, lançado nos idos de 1976 e que tinha a tal música. Como estava baratinho, resolvi comprar para experimentar. Mal imaginei que aquilo viraria um vício.

Embora tenha adorado a versão ao vivo, queria Both Ends Burning em sua gravação de estúdio, a mesma que ouvi na rádio, e dessa forma, cheguei a Siren, de 1976, comprado na mesma loja.

Nem é preciso dizer que, em pouco tempo, fui comprando tudo o que vi dessa banda na minha frente. Confesso que cheguei a passar três deles para a frente, mas resolvi readquiri-los, dando uma nova chance, e me dei muito bem. Hoje, acho Manifesto (79), Flesh + Blood (80) e Avalon (82) maravilhosos. E tenho tudo deles, tudo mesmo.

Em 1995 e 2003 tive a honra de entrevistar o vocalista dessa banda, o genial Bryan Ferry, com direito a autógrafo e tudo. Os dois shows solo que ele fez aqui naqueles anos, respectivamente no Olympia e no Credicard Hall foram presenciados por mim. Sensacionais, só para não me alongar. Sim, também tenho tudo da carreira solo dele.

O Roxy Music, e Bryan Ferry em sua carreira solo, ajudaram a criar os parâmetros para um som pop que consegue misturar ousadia, experimentalismo e belas melodias e canções.

Além disso, Ferry é um cantor iluminado, que empresta sua voz de crooner à antiga a rock, soul, pop e muito mais com uma categoria que poucos conseguem igualar. Um gênio, que no grupo teve a seu lado mestres como o guitarrista Phil Manzanera, o saxofonista Andy Mackay e o baterista Paul Thompson, além do brilhante Brian Eno.

Tudo isso eu conheci graças a uma música que conseguiu furar o bloqueio de músicas internacionais malas que tocavam nas rádios brasileiras daquele ano de 1976. Caso clássico de colher uma pérola na lama…

obs.: essa beldade que está aí na capa de Siren que ilustra esse post é a mesma que foi casada com Mick Jagger, e que chegou a ser namorada de Brian Ferry antes de optar pelo rolling stone.

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