maurice white 400x

Por Fabian Chacur

Festa sem os grooves e as melodias do Earth, Wind & Fire não costuma prestar. Pois o criador dessa banda maravilhosa nos deixou nesta quinta-feira (4) aos 74 anos. Maurice White sofria de Mal de Parkinson, que o impediu a partir de 1994 de se apresentar ao vivo com a banda, embora tenha continuado a participar, na medida do possível, de suas gravações. Uma daquelas perdas tão dolorosas, mas tão dolorosas, que só mesmo dançando ao som da sua música para suportar.

Maurice White nasceu em 19 de dezembro de 1941, e teve várias experiências musicais bacanas antes de montar a banda que o tornou conhecido mundialmente, entre elas integrar como baterista o The Ramsey Lewis Trio, de hits instrumentais bacanas como The In Crowd. Não demorou para ele sentir que seu negócio era partir para um trabalho próprio, no qual desenvolveria uma sonoridade nova e repleta de energia e criatividade musical.

A fase inicial rendeu dois discos pela Warner no início dos anos 70, sem grande repercussão, mas já com um trabalho interessante. Foi a partir de uma mudança na formação e da entrada na Columbia Records, ocorrida em 1972, que o grupo começou a pegar forma. White era o cantor, compositor e percussionista, e tinha na kalimba, raro instrumento africano, sua marca registrada. O irmão Verdine White segurava todas no baixo, e Phillip Bailey, com seus vocais em falsete, completou a trinca básica do time, ao lado de outras feras.

Em 1975, o single Shining Star atingiu o topo da parada de singles americana, mesma façanha atingida pelos álbuns That’s The Way Of The World (1975) e o ao vivo Gratitude (1976). A receita: uma mistura de funk, soul, música latina em geral (até a brasileira), rock, jazz e pop, com direito a muita energia positiva, temas transcendentais nas letras e romantismo também, que ninguém é de ferro.

Até o início dos anos 80, o Earth, Wind & Fire ganhou admiradores no mundo todo graças a sua combinação de discos repletos de boas canções e shows energéticos com direito a recursos audiovisuais até então não muito comuns em shows de grupos de black music. Devotion (uma das melhores baladas soul de todos os tempos), September, Boogie Wonderland, Can’t Let Go, Serpentine Fire, Let’s Groove, Let Me Talk, a lista é interminável. E simplesmente irresistível.

A liderança de Maurice White sempre foi positiva, pois ele tinha seu espaço na banda, mas sempre abria as oportunidades para que os outros integrantes brilhassem, além de chamar gente de fora para trabalhar com eles, como o então iniciante tecladista, compositor e músico David Foster, cuja presença no álbum I Am (1979) foi decisiva em faixas como After The Love Is Gone, da qual Foster é um dos autores.

Em 1980, a primeira visita da banda ao Brasil rendeu shows marcantes, como no Maracanãzinho, no Rio, tornando os caras ainda mais populares por aqui. Vale lembrar que eles gravaram Brazilian Rhyme no álbum All ‘N’ All (1977), assinada por Milton Nascimento. O grupo deu uma pequena parada na metade dos anos 1980, mas voltou a partir de 1987, embora sem o mesmo sucesso comercial com novos trabalhos.

Os shows, no entanto, continuaram contagiantes e populares, como vimos aqui no Brasil em 2008 (leia resenha de um dos shows aqui). Mesmo os discos lançados por eles a partir dos anos 90 são interessantes, e neles Maurice White continuava a mostrar seu talento. O Mal de Parkinson, no entanto, o afastou dos palcos, para tristeza dos fãs, embora a banda se mantenha até hoje na estrada, com Verdine e Bailey fazendo as honras da casa com classe.

No excelente documentário Shining Stars: The Official Story of Earth, Wind, & Fire (2001- saiba mais sobre ele aqui), lançado no Brasil pela extinta gravadora ST2, Maurice deu depoimentos nos quais era nítida sua dificuldade em se movimentar e mesmo falar. Uma pena. Esse cara vai deixar muita, mas muita saudade mesmo. E vale lembrar: ele nasceu no mesmo ano (1941) de Martin Balin e Signe Toly Anderson, do Jefferson Airplane. Xô, dona morte!

Devotion (live)- Earth Wind & Fire:

Boogie Wonderland– Earth Wind & Fire e The Emotions:

September– Earth Wind & Fire:

Serpentine Fire– Earth Wind & Fire:

Can’t Let Go– Earth Wind & Fire: