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Uganga surpreende com o remix Depois do Dub, lançado em single

Uganga_Depois do Dub_Capa

Por Fabian Chacur

Em 2019, o grupo mineiro Uganga lançou Servus (leia a resenha aqui), um dos melhores álbuns do rock brasileiro na década passada. Sempre aberto a experimentações em sua sonoridade solidamente ancorada em thrash metal, hardcore e punk, a banda do vocalista Manu Joker certamente surpreenderá muita gente com o seu novo single. Trata-se de Depois do Dub, remix de Riti Santiago (2Dub Brasil) com participação de Bruno Xavier (Jah Live). A faixa original tem o nome Depois de Hoje…, e ganhou uma roupagem de reggae dub.

Para quem não sabe, o dub é uma das subdivisões mais experimentais e hipnóticas do reggae, criada por nomes seminais do porte de Lee Scratch Perry e Mad Professor e explorado com categoria por grupos como Asian Dub Foundation e The Clash. Quem explica essa associação aparentemente improvável de rock pesado e dub é Manu Joker:

“É sobre não se estagnar, saca? No Uganga, a 1ª experiência com o dub foi em 1999 com a música Couro Cru presente em nosso disco de estreia, Atitude Lótus. Nós inclusive tocamos ao vivo uma versão da Couro Cru na MTV, na época. O 1º remix, Graxa Dub Mix, saiu no álbum Na Trilha Do Homem de Bem de 2005 e foi também feito pelo Riti Santiago (2DUB/Moretools) em cima da faixa 7 Chaves.”

“Agora, em Depois do Dub , mais uma vez nos reencontramos com nosso velho amigo Riti para mais um trabalho juntos. É o doom da faixa Depois de Hoje do Servus se encontrando com a Jamaica e com o Cerrado Mineiro. É Uganga e fazemos isso faz muito tempo! Para fechar, o Riti ainda chamou o Bruno Xavier (Jah Live – 2DUB) para fazer uma segunda linha de baixo matadora. Tenho muito orgulho desse single e acho que vai confundir muita gente… Legal!”

Depois do Dub (clipe)- Uganga & 2Dub:

Uganga ousa e consolida a sua sonoridade com o álbum Servus

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Por Fabian Chacur

Não é fácil desenvolver uma sonoridade original e consistente na seara do rock pesado. Um dos problemas é o fato de esse gênero exigir virulência e massa sonora, o que às vezes leva algumas bandas a caírem em uma armadilha que as prendem a clichês que sempre dão certo em termos gerais, em detrimento de uma personalidade mais apurada. O grupo mineiro Uganga, em seus mais de 25 anos de trajetória, nunca despencou nesse perigoso alçapão, e dessa forma cresce a cada ano. Servus, o seu novo álbum, mostra mais uma vez o poder criativo e energético dessa turma do barulho, no melhor sentido do termo.

A história do Uganga (leia mais sobre eles aqui) teve início no Triângulo Mineiro, mais precisamente na bela cidade de Uberlândia (MG). Possuem no currículo cinco álbuns de estúdio, um ao vivo gravado na Alemanha, um DVD incluindo documentário sobre sua trajetória e show ao vivo e turnês por Brasil e Europa.

A maturidade adquirida nessa trajetória se mostra muito evidente em Servus, a partir dos apoios obtidos para a sua realização. A Waken Foundation, por exemplo, é uma organização alemã sem fins lucrativos criada em 2008 pelos produtores do festival Waken Open Air, considerado o maior de heavy metal do planeta, e que apoia projetos consistentes de hard e heavy metal de todo o mundo. Outro parceiro importante para a realização deste álbum é o Programa Municipal de Incentivo À Cultura (PMIC) de Uberlândia, que soube reconhecer o quanto a banda divulga e eleva o nome da cidade pelo mundo afora.

O retorno desses investimentos você percebe logo ao manusear o CD físico, com direito a capa digipack dupla e um encarte luxuoso com letras, fotos e ficha técnica completa. As impactantes artes de capa e contracapa ficaram a cargo do artista pernambucano Wendell Araújo, que já trabalhou com grupos como Ratos de Porão e Cólera. A qualidade técnica de gravação, mixagem e masterização tem padrão internacional, e foi feita em nosso país, basicamente no estúdio Rock Lab, em Goiânia (GO), com produção a cargo do vocalista da banda, Manu Joker, em parceria com Gustavo Vazquez.

Se tudo isso relatado até aqui já seria suficiente para ficar bem impressionado com o Uganga, o que de fato os torna dignos de muitos elogios é o conteúdo musical de Servus. Mesmo com tanto tempo de estrada, o time continua com aquela fúria energética típica de bandas iniciantes. No entanto, essa adrenalina toda é filtrada de modo a gerar um resultado tecnicamente impecável, fugindo da mera barulheira insana rumo a uma estrutura na qual você consegue ouvir cada detalhe, incluindo as tramas das guitarra, a sólida cozinha rítmica e os penduricalhos adicionais incluídos em cada uma das 13 faixas.

Capitaneando essa estrutura bem azeitada, Manu Joker se mostra um dos melhores cantores de rock pesado do Brasil. Sua voz tonitroante é controlada de forma quase cirúrgica, e com uma dicção impecável (algo não tão frequente em vocalistas dessa praia), que nos permite entender e mergulhar nas letras em português, o que valoriza ainda mais as conquistas deles no exterior, onde o inglês é quase obrigatório para quem quiser ver sua música valorizada.

O conteúdo poético contido nas letras do álbum traz um forte protesto contra o sofrimento da maior parte da população nas mãos dos poderosos de plantão, sem cair em panfletarismos ou ideologias restritivas. O refrão da alucinada faixa título exemplifica bem essa linha de pensamento: “escravos somos nós, escravos coniventes de loucos genocidas insanos, errados somos nós, massa de manobra, não mais do que servos”. A esperança de tempos melhores, no entanto, sempre aparece, com elementos espiritualistas sendo utilizados.

Manu tem a seu lado neste álbum Christian Franco (guitarra), Thiago Soraggi (guitarra), Maurício “Murcego” Pergentino (guitarra), Raphael “Ras” Franco (baixo e vocais) e Marcelo Henriques (bateria e vocal). Pergentino saiu do time após a gravação do álbum, substituído por Lucas “Carcaça”. Um time coeso, vibrante e tecnicamente impecável, que viabiliza a sonoridade thrascore, uma mistura de thrash metal com o punk hardcore, de forma plena e muito criativa.

Também temos as participações especiais da cantora e dançarina pernambucana Flaira Ferro, que com Manu e Luiz Salgado divide os vocais da incrível faixa E.L.A., do grupo chileno de rap Lexico na vigorosa Hienas, e também de Renato BT (do John No Arms), DJ Eremita, Marco Melo (sax), Fábio Marreco (do Totem) e o espiritualista Sr. Waldir, este último na enigmática Depois de Hoje…, que traz sampler de um discurso do líder pacifista indiano Mahatma Ghandi.

Servus nos mostra uma inquietude e inconformismo com os rumos atuais vividos pela humanidade, mas sempre com um olho no futuro que pode ser melhor, se as pessoas do bem se unirem para modificar essa situação. Com este álbum, o Uganga mostra que quem considera o heavy metal um antro de gente que só sabe fazer barulho insano e abordar temas satânicos precisa urgentemente atualizar os seus conceitos. Aqui, estamos diante de rockers do melhor calibre, lutando por um mundo melhor em todos os sentidos, tanto musicais como de convivência entre os seres humanos.

Servus (videoclipe)- Uganga:

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