genival lacerda

Por Fabian Chacur

Uma das diversas variantes do forró leva como subtítulo “duplo sentido”, cujas letras investem na semelhança entre algumas palavras para dar a entender uma coisa ao ouvinte, tentando disfarçar essa intenção sempre escancarada. Presente há décadas no imaginário do povo brasileiro, esta vertente teve como seu principal nome o paraibano Genival Lacerda, que nos deixou nesta quinta-feira (7) no Recife (PE) aos 89 anos, após mais de um mês internado por causa da covid-19. Uma grande perda para a nossa cultura.

Nascido em Campina Grande (PB) em 15 de abril de 1931, Genival iniciou sua carreira musical nos anos 1950, quando se mudou para o Recife, onde gravou seu primeiro disco. Aceitando a sugestão de seu concunhado, o célebre e genial Jackson do Pandeiro, ele se mudou para o Rio de Janeiro em 1964, trabalhando em casas de forró e tentando ampliar os seus horizontes profissionais. Foi duro, mas enfim ele conseguiu.

Isso ocorreu em 1975, quando Severina Xique-Xique, sua composição em parceria com João Gonçalves, tomou conta de todo o país com sua letra bem-humorada e com o refrão grudento “ele tá de olho é na boutique dela”. Além da música ser muito boa em seu estilo, também a ajudou o fato de Genival ter uma forte presença cênica, com direito a roupas coloridas e a indefectível dança balançando sua barriga protuberante.

Presença frequente nos programas populares de TV nos anos 1970 e 1980, o artista paraibano emplacou uma série de hits, entre os quais Mate O Véio Mate, Quem Dera, Radinho de Pilha e inúmeros outros, todos investindo na ala mais dançante do forró e com versos irreverentes beirando (e muitas vezes ultrapassando) o politicamente incorreto. Mas sua simpatia e carisma sempre o ajudaram a superar possíveis problemas.

Uma das marcas registradas de Genival Lacerda foi sua capacidade de se reinventar e de estar sempre aberto a parcerias com outros artistas. Em 1988, por exemplo, ele marcou presença no primeiro LP solo do roqueiro Marcelo Nova, na faixa A Gente é Sem-Vergonha. Com Zeca Baleiro, gravou em 1997 O Parque de Juraci, faixa de Por Onde Andará Stephen Fry?, álbum de estreia do cantor e compositor maranhense.

Em 2010, foi a vez de Ivete Sangalo registrar um dueto com ele, a divertida Chevette da Menina, na qual brincam com o fato de o nome do carro rimar com o da cantora. E teve também uma parceria de Genival com o impagável Falcão, Forró Cheiroso, que saiu no álbum Casa do Forró, de 1998.

Mas o momento mais curioso de sua carreira ocorreu na metade dos anos 1990, quando o DJ Cuca fez uma versão dance de Rock do Jegue. A versão fez tanto sucesso que gerou o álbum Forró Dance By Genival Lacerda, lançado pela gravadora Paradoxx. Para divulgar essa música, ele chegou a ir em programas de TV vestido com uma versão forrozeira de um MC de dance music, incluindo até aqueles bonés típicos.

Mas esse seu lado pop não tirou dele o respeito por parte dos fãs do forró mais tradicional, o que pode ser comprovado pelo fato de ele participar de programas de TV dedicados à música brasileira de raiz, como o de Rolando Boldrin, por exemplo. Ele conseguia agradar ao povão mais simples e aos mais sofisticados.

Rock do Jegue (Cuca Mix)- Genival Lacerda: