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David Crosby e seu Sky Trails, mais um desses CDs incríveis

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Por Fabian Chacur

David Crosby é um dos grandes gênios do nosso amado rock. Não satisfeito em ter integrado algumas das mais importantes bandas de todos os tempos, The Byrds e Crosby, Stills & Nash/Crosby, Stills, Nash & Young, o cara ainda possui uma carreira solo das mais elogiáveis, e que anda bem produtiva nos últimos anos. Seu mais recente CD é o maravilhoso Sky Trails, que saiu cerca de um ano após outra maravilha, Lighthouse (2016- leia a resenha aqui).

Em sua trajetória musical, este brilhante cantor, compositor e músico americano que caminha para completar 77 anos de idade conseguiu criar uma sonoridade própria que mistura com desenvoltura rock, folk, country e jazz. Sabe harmonizar vozes como ninguém, tem uma voz belíssima, compõe com assinatura inconfundível e toca muito bem guitarra e, principalmente, violão.

Sky Trails guarda boas semelhanças com o trabalho da banda CPR, e não é para menos. O braço direito de Crosby durante todo o álbum é exatamente um de seus parceiros naquele trio, o filho tecladista e compositor James Raymond, sendo que em uma faixa, o incisivo rock midtempo Sell Me a Diamond, o terceiro integrante da banda, o guitarrista Jeff Pevar, marca presença com seus solos intensos.

O CPR lançou dois discos de estúdio e dois ao vivo entre 1998 e 2001, e nos oferecia uma mescla de jazz-rock e folk envolvente. E esse é basicamente o clima deste trabalho. A abertura fica por conta de uma composição solo de Raymond, a deliciosa e delicadamente funkeada She’s Got To Be Somewhere, com um jeitão de Steely Dan e muito swing.

Sky Trails, a faixa que dá nome ao disco, é uma parceria de Crosby com a talentosa cantora, compositora e guitarrista americana Bekka Stevens, dobradinha que já havia rendido uma faixa antes, no álbum Lighthouse, a incrível By The Light Of Common Day. A nova colaboração nos mostra o belo encaixa das vozes dos dois, em uma melodia delicada e de rara beleza, capaz de cativar o ouvinte logo nos seus primeiros segundos.

Parceria de Crosby com Michael McDonald (ex-Doobie Brothers, que não participou da gravação), Before Tomorow Falls On Love é uma bonita balada com piano em destaque no acompanhamento. Here It’s Almost Sunset aposta em clima mais acústico. Capitol investe em jazz rock, em um momento um pouco mais swingado.

De autoria de Joni Mitchell e lançada originalmente no álbum da estrela canadense Hejira (1976), Amelia mereceu uma releitura próxima do registro da autora, e não foi escolhida por acaso, pois sua letra segue a linha das viagens internas e externas propostas a rigor em todas as faixas do álbum, como as delicadas Somebody Home e Curved Air.

Uma marca registrada do CD é a participação destacada dos sopros em vários momentos, comandados pelo experiente Steve Tavaglione. Mais uma vez Crosby se concentra nos vocais, tocando seu violão endiabrado apenas na bela Home Free, que encerra o álbum. Sky Trails transmite paz de espírito, boas energias e muita emoção ao ouvinte, mostrando que, sim, a vida pode seguir em frente e nos surpreender positivamente. David Crosby é a prova concreta disso.

Sky Trails- David Crosby (ouça em streaming):

David Crosby, ou a inquietude de um grande gênio do rock

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Por Fabian Chacur

David Crosby equivale a um grande mistério. Aos 76 anos, completados no dia 14 de agosto, este cantor, compositor e músico americano se mostra mais atuante do que nunca. Menos de um ano após lançar o incrível Lighthouse, ele se prepara para nos oferecer outro lançamento, previsto para sair no exterior no dia 29 de setembro. O título é Sky Trails, que já tem uma faixa circulando na rede, a envolvente She’s Got To Be Somewhere.

Ao contrário do essencialmente acústico trabalho anterior, sobre o qual falaremos mais no decorrer desta matéria, Sky Trails é um álbum de banda, no qual Crosby tem a seu lado, entre outros músicos, os ex-parceiros de CPR, o filho James Raymond (teclados) e Jeff Pevar (guitarra). A sonoridade traz influências de jazz fusion, soul e rock. A faixa Before Tomorrow Falls On Love é uma parceria do roqueiro com Michael McDonald, ex-Doobie Brothers.

Quatro músicas são parceria de Crosby e Raymond, filho temporão que o roqueiro deu para adoção no inicio dos anos 1960 e só redescobriu nos anos 1990. Uma única faixa não é autoral. Trata-se de Amelia, de Joni Mitchell, cuja versão original foi registrada pela estrela canadense em 1976 no álbum Hejira. A expectativa em torno deste álbum é grande.

A carreira de David Van Cortland Crosby equivale a uma inacreditável viagem, repleta de surpresas. Ele passou seus anos de formação nos Byrds, banda na qual ele era um coadjuvante de luxo para o líder Roger McGuinn (vocal, composições e guitarra) e também para Gene Clark (vocal). Com o tempo, percebeu que não conseguiria ter no grupo o espaço suficiente para dar vasão a seu talento, e no processo acabou sendo expulso do time, no final de 1967.

A partir daí, ele abriu as portas da sua carreira para novas experiências. Conheceu Stephen Stills (ex-Buffalo Springfield) e Graham Nash (ex-The Hollies) e criou o Crosby, Stills & Nash, grupo seminal para a história do rock no qual as individualidades eram respeitadas, e que volta e meia virava Crosby, Stills, Nash & Young com a eventual participação de Neil Young (também ex-Buffalo Springfield).

Paralelamente ao CSN/CNSY e a trabalhos em dupla com Graham Nash, Crosby também desenvolveu uma carreira solo que iniciou de forma brilhante, com If I Could Only Remember My Name (1971). Teríamos de esperar 18 longos anos para poder ouvir um segundo trabalho solo do artista, com o irônico título Oh Yes I Can (1989). “Se eu ao menos pudesse me lembrar do meu nome”, dizia o título da estreia solo. “Oh, sim, eu posso”, afirma sem sombra de dúvidas o segundo.

Nos anos 1990, foram três trabalhos solo, um de estúdio com composições alheias e duas de sua autoria, o belíssimo Thousand Roads (1991) e dois ao vivo, It’s All Coming Back To Me Now (1994) e King Biscuit Flower Hour (1996). Aí, surge o trio CPR com Raymond e Jeff Pevar, que lançou quatro álbuns (dois de estúdio e dois ao vivo) entre 1998 e 2001) com uma bela mistura de rock, jazz, folk e country.

Filho do premiado cineasta Floyd Crosby (1899-1985), David Crosby tem como marcas um forte lado intelectual, além de ouvinte atento de jazz, preferência audível nos acordes de violão que usa em suas composições. De temperamento difícil e rebelde, ele teve de superar problemas como prisão por consumo de drogas na metade dos anos 1980, um transplante de fígado nos anos 1990 e um problema cardíaco em 2014, percalços que venceu tal qual um highlander do rock.

Em 2014, após alguns anos se dedicando a trabalhos com o Crosby, Stills & Nash, Crosby volta à carreira solo com o excelente Croz (leia a resenha de Mondo Pop aqui). E não parou mais de fazer shows e gravar, afora aquele susto cardíaco que felizmente foi só um sustão.

Lighthouse- a resenha

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Em outubro de 2016, chegou ao mercado internacional Lighthouse, que, assim como Croz, permanece inédito no Brasil. O álbum traz como marca a parceria de Crosby com o multi-instrumentista Michael League, líder do grupo (na verdade, uma espécie de coletivo) de jazz fusion Snarky Puppy, que está na estrada desde 2004 e já faturou três troféus Grammy com seus mais de 10 CDs lançados até o momento.

League é o braço direito de Crosby no álbum, atuando como coprodutor (ao lado de Fab Dupont), vocalista de apoio e também tocando vários instrumentos, além de ser o coautor de cinco das nove faixas do CD. Aliás, na maior parte das faixas são só os dois em cena, sendo que os tecladistas Cory Henry e Bill Laurance (também do Snarky Puppy) marcam presença em duas cada.

Com base fundamentalmente acústica, Crosby e League nos oferecem acordes belíssimos e sutilezas que vão sendo descobertas a cada audição do álbum. Curiosidade: não temos nem bateria, nem percussão. Em um making of do trabalho, o roqueiro afirma que os únicos som mais percussivos saíram dele batendo com sua aliança no violão.

O clima das canções varia da balada Things We Do For Love à jazzy-bossa Look In Their Eyes, passando pelo clima hipnótico e quase dark de Somebody Other Than You e a sacudida The City. A voz do astro roqueiro se mostra mais afinada e afiada do que nunca, cativando no modo solo e também nas vocalizações, uma de suas marcas registradas.

A canção que encerra o álbum, By The Light Of Common Day, é parceria de Crosby com outra integrante da família Snarky Puppy, a incrivelmente talentosa Becca Stevens. Com mais de seis minutos de duração que passam a jato, essa música equivale a um verdadeiro farol (tradução do título do álbum) perante os mares revoltos e não tão animadores do mundo atual. As vozes dos dois se encaixam feito luva, e o violão de Michael League evoca as belas sonoridades do saudoso Michael Hedges, que não por acaso também foi parceiro de Mr. Crosby.

Aliás, uma das explicações pelas quais é possível entender porque um músico de 76 anos de idade que passou por tantas coisas na vida consegue se manter tão relevante é a sua eterna abertura ao novo. Ele sabe se renovar, trocando figurinhas com músicos das novas gerações e nunca se rendendo aos caminhos mais fáceis em termos musicais e de carreira. Dessa forma, cada novo show e cada novo álbum de David Crosby merecem toda a nossa atenção, pois as perspectivas são sempre as melhores. O passado é de glórias, o presente, belíssimo, e o futuro nos trará ainda mais, se Deus quiser. Parabéns, mestre!

By The Light Of Common Day– David Crosby:

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