Por Fabian Chacur

O Velvet Underground se manteve na ativa entre 1965 a 1973. Em sua existência, fracassou em obter sucesso comercial, embora tenha ganho alguns fãs entusiásticos.

Reza a lenda que pouca gente comprou os discos da banda, mas quem o fez acabou criando seu próprio grupo.

Com uma sonoridade minimalista, sombria, crua e inovadora, o grupo americano revelou um dos maiores gênios do rock, o cantor, compositor e guitarrista Lou Reed, além do vanguardista John Cale.

Em 1985, já havia ficado clara a importância do Velvet na história do rock, pois eram audíveis e claras as suas influências em importantes trabalhos que vieram a seguir, como os dos grupos Television, Joy Division, Echo & The Bunnymen, Lloyd Cole & The Commotions, The Jesus & Mary Chain e inúmeros outros.

Quando resolveu lançar versões remasterizadas dos três primeiros álbuns do grupo americano, a gravadora Verve (distribuída pela Universal Music) descobriu em seu acervo gravações inéditas do time.

Sem pestanejar, aquelas fitas foram devidamente remasterizadas e retrabalhadas, com a ajuda do engenheiro de som Michael Barbiero. O resultado foi o álbum VU, lançado naquele mesmo ano.

Ironicamente, o disco vendeu mais do que todos os outros lançamentos anteriores da banda somados. Faz sentido.

Naquele momento, os ouvidos em geral já estavam preparados para ouvir o som peculiar da banda que incluiu, além de Reed e Cale, o guitarrista Sterling Morrison, a baterista Maureen Mo Tucker e o baixista Doug Yule.

O repertório também era imbatível. I Can’t Stand It, por exemplo, que Lou Reed gravou bem em seu primeiro disco solo, aparece aqui em versão muito mais crua, como que prevendo o que no futuro seria chamado de pós-punk.

Essa característica também é a marca da sensacional Foggy Notion, quase new wave em sua levada energética e contagiante. A delicadeza melódica marca Stephanie Says, assim como a quase vaudeville I’m Sticking With You.

She’s My Best Friend tem ecos do rock britânico dos anos 60. Já Lisa Says é uma daquelas baladas cruas típicas de Lou Reed, irmãzinha de Pale Blue Eyes, por exemplo, e tão boa quanto, com um quê de Bob Dylan no tempero.

O lamento enigmático e introspectivo de Ocean, o pique rocker cru de Temptation Inside Your Heart, a influência blues rock de One Of These Days e a levada rocker sujona de Andy’ Chest completam bem o repertório.

VU é uma espécie de álbum perdido do Velvet Underground, pois suas faixas foram gravadas entre 1968 e 1969, período compreendido entre os álbuns The Velvet Underground (1969) e Loaded (1970).

Outra marca desse período foi a saída de John Cale, que só participa de Stephanie Says e Temptation Inside Your Heart. Ele foi substituído por Doug Yule, que mostrou serviço de forma elogiável.

Fica difícil ouvir VU e acreditar que se trata apenas de um álbum póstumo, tal a sua qualidade.

Há quem o considere o melhor trabalho do Velvet Underground, uma opinião polêmica. Mas que é um discaço, isso não se discute de forma alguma.