Por Fabian Chacur

Em 2000, tive a honra de entrevistar Reginaldo Rossi. Ele estava lançando um novo disco pela Sony Music, e eu era o último repórter que ele iria atender naquele dia, por volta das 18h30, após uma agenda que havia se iniciado por volta das 10h. Após nos apresentarmos, ele, de forma simpática, me fez um pedido: “Fabian, será que eu poderia esticar as minhas pernas?” Com minha autorização, ele apoiou os pés na mesa à sua frente, sem os sapatos, e ficou mais à vontade.

Na sequência, concedeu-me uma entrevista adorável, sem papas na língua e sem frescuras, mas também sem grosserias. Um baita de um sujeito. Lógico que fumou durante o papo, um dos incontáveis cigarros que consumiu durante sua vida, vício que provavelmente o ajudou a se mandar tão cedo desse mundo, nesta triste sexta-feira (20), aos 70 anos. Uma perda daquelas.

Rossi foi vítima de um câncer no pulmão que o obrigou a ser internado no dia 27 de novembro em sua cidade natal, Recife. Ele chegou a ter uma melhora, mas infelizmente precisou voltar à UTI e por volta das 9h25 da manhã desta sexta nos deixou. Rossi nasceu na capital pernambucana no dia 14 de fevereiro de 1943 (ou 1944, fica a dúvida no ar).

Inicialmente um estudante universitário que quase se graduou em engenharia e que chegou a dar aulas de física e matemática para os colegas, Rossi mergulhou no mundo da música a partir de 1964, apaixonado pelos Beatles e pouco depois por Roberto Carlos. Não demorou a assimilar as influências do Rei e da Jovem Guarda, virando quase um Robertão do Nordeste.

Com o decorrer dos anos, incorporou à sua musicalidade elementos de bolero, música latina em geral e romantismo, com boa dose de irreverência e bom humor. Essa somatória gerou um estilo impactante e popular que o levou no decorrer dos anos a ser considerado um dos inventores e reis do que se convencionou chamar de música brega, ao lado de Odair José, Wando, Amado Batista e tantos outros.

Os sucessos foram se sucedendo, pérolas do naipe de A Raposa e as Uvas, Deixa de Banca, Mon Amour Meu Bem Ma Femme e a impagável Tô Doidão. A maior de todas, no entanto, foi Garçom, lançada inicialmente em um disco pela EMI-Odeon nos anos 80 com aceitação mediana. Mas as coisas mudariam e muito uns bons anos depois, quando a mídia dava Rossi como ultrapassado e totalmente fora de cena.

Graças a um certeiro álbum gravado ao vivo pela independente Polydisc em 1998, Reginaldo Rossi Ao Vivo, Garçom voltou com força total às paradas de sucesso e deu ao astro pernambucano a marca de mais de um milhão de cópias vendidas e a maior popularidade que jamais teve. A partir daí, não saiu mais da mídia, com hits e entrevistas impagáveis, sempre.

Seu provável único erro grave foi ter se candidatado duas vezes, não conseguindo votos suficientes para se tornar vereador ou deputado. Melhor para nós, pois o Rossi cantor era muito mais importante para todos. As mortes dele e de Wando em 2012 desfalcaram e muito esse universo de artistas realmente populares e inteligentes, que hoje se tornam cada vez mais raros. Descanse em paz, bicho!

Ouça Tô Doidão, com Reginaldo Rossi: