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Cosmo’s Factory (1970), o auge do Creedence Clearwater Revival

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Por Fabian Chacur

Nesta quinta (28), John Fogerty completa 75 anos de idade. Em abril, Doug Cosmo Clifford (no dia 24) e Stu Cook (no dia 25) atingiram a mesma idade. Como forma de homenagear esses três grandes músicos, resolvi mergulhar de cabeça no mais bem-sucedido álbum da carreira da banda que os consagrou, o Creedence Clearwater Revival. Trata-se de Cosmo’s Factory, que no dia 25 de julho celebrará 50 anos de seu lançamento. A homenagem também se estende ao quarto integrante do time, o saudoso Tom Fogerty (9-11-1941/6-9.1990).

Em 1970, poucas bandas de rock se aproximavam do Creedence Clearwater Revival em termos de popularidade. Em um período de dois anos, haviam lançado quatro álbuns que atingiram os primeiros postos das paradas de sucesso do planeta, todos recheados de singles certeiros, entre os quais Proud Mary, Suzy Q, Down On The Corner, Green River e Fortunate Son, só para citar alguns. Como explicar tanto sucesso e produtividade artística em tão curto período de tempo?

Não, o CCR não surgiu do nada. Na verdade, os colegas de ginásio John, Doug e Cook tocavam juntos desde o finalzinho dos anos 1950, quando ainda eram adolescentes imberbes. Pouco depois, Tom, o irmão mais velho de John, entrou no time, na época intitulado The Blue Velvets. Durante anos, o quarteto tocou em bares, e gravou singles a partir de 1961, inicialmente como Tommy Fogerty & The Blue Velvets e também Tommy Fogerty & The Blue Violets.

Em 1964, foram contratados pela Fantasy Records, agora batizados de The Golliwogs. Eles lançaram diversos singles, mas sem o desejado sucesso comercial. Pode-se dizer que, dessa forma, os garotos fizeram o seu caminho das pedras, aprendendo a tocar e gravar e conquistando dessa forma um entrosamento impressionante. Em 1966, John e Clifford tiveram de servir o exército, mas nem isso baixou a guarda do grupo.

Mudança de nome e o sucesso enfim se concretiza

O ponto de mudança ocorreu em 1967, quando a Fantasy Records foi adquirida pelo ambicioso Saul Zaentz. Ele viu o enorme potencial daquele quarteto endiabrado e resolveu apostar de vez nele, mas com uma condição: deixar o tolo nome Golliwogs e adotar outro mais palatável. A sugestão foi aceita.

No início de 1968, o agora rebatizado Creedence Clearwater Revival vinha à tona. Naquele mesmo ano, no mês de maio, lançou seu autointitulado álbum de estreia, de sucesso moderado, mas com um single matador, Suzie Q (releitura do clássico rockabilly de Dale Hawkins), que chegou ao 11º lugar nos EUA.

O ano de 1969 marcou um verdadeiro tsunami roqueiro por parte de John Fogerty e seus asseclas. Em apenas 12 meses, lançaram três álbuns de muito sucesso, Bayou Country, Green River e Willy And The Poor Boys, que atingiram, respectivamente, as posições de nº 7, 1 e 3 nas paradas americanas. De quebra, ainda tocaram com destaque no festival de Woodstock.

Uma proposta sonora atípica ganha o público

O mais impressionante é situar o CCR em meio ao que ocorria na época. O rock vivia um momento de mudanças, com gêneros como o hard rock, o heavy metal e o psicodelismo dando as cartas. E o que o quarteto californiano oferecia ao público? Uma sólida releitura do rock and roll original, com direito a rockabilly, country, blues e soul na mistura. “É onde o country e o rhythm and blues se encontram que fica o meu lugar favorito”, disse John Fogerty em entrevista a Craig Rosen para o livro The Billboard Book Of Number One Albums.

Lógico que esse coquetel molotov sonoro só atingiu esse sucesso todo devido ao imenso talento dos músicos envolvidos. É a chamada simplicidade sofisticada, algo muito difícil de se concretizar. De cara, o vozeirão inconfundível de John, somado ao seu talento como compositor e guitarrista-solo.

A seu lado, um certeiro guitarrista-base (seu irmão Tom) e uma das melhores cozinhas rítmicas da história do rock. O extremamente eficiente Cook encaixava seu baixo com perfeição na sólida batida de Clifford, um dos melhores bateristas de rock de todos os tempos, verdadeira usina rítmica que merecia ser mais reverenciada pelos críticos e público em geral.

O disco-síntese de uma banda seminal

É nesse momento de puro êxtase artístico e comercial que Cosmo’s Factory vem à tona. O nome do álbum tem a ver com o lugar onde o quarteto realizava os seus ensaios, localizada em um espaço situado na casa do baterista da banda, cujo apelido Cosmo vem desde seus tempos de moleque. O jeitão de fábrica valeu o apelido ao local, que é exatamente onde a foto da capa do álbum foi registrada.

A ideia de John Fogerty era que o álbum se tornasse uma espécie de auge desses anos iniciais do CCR, e seu desejo não poderia ter se concretizado de forma mais cristalina e potente. O álbum atingiu o topo da parada americana, permanecendo por lá durante nove longas semanas e ultrapassando a marca de quatro milhões de cópias nos EUA desde então.

Trata-se de uma espécie de disco-síntese da banda, ao trazer em suas 11 faixas bons exemplos das variações sonoras que se propôs a fazer durante sua carreira, além da bela mistura de composições próprias de John com releituras de clássicos alheios. Vale uma análise faixa a faixa, para explicitar isso.

As faixas de Cosmo’s Factory

Ramble Tamble (J.C. Fogerty)- Nada melhor para abrir um álbum de puro rock como esta aqui. Com mais de 7 minutos de duração, começa e termina com levada rockabilly, e possui várias mudanças de andamento no meio, ficando mais rápida e mais lenta e com direito a belos solos.

Before You Accuse Me (Bo Diddley)- Um clássico do repertório do célebre bluesman roqueiro merece uma releitura vigorosa mostrando o jeito próprio de abordar o blues do CCR.

Travelin’ Band (J.C. Fogerty)- Rock and roll cinquentista típico, clara homenagem a Little Richard, de quem o CCR regravou Good Molly Miss Molly no álbum Bayou Country (1969). Fogerty chegou a ser incomodado pela editora de vários hits de Richard sob acusação de plágio, mas acabou dando em nada. O famoso “parece mas não é”.

Ooby Dooby (Moore-Penner)- O primeiro hit de Roy Orbison, em seus tempos de Sun Records, é relido de forma ao mesmo tempo reverente e energética, com muito balanço e categoria.

Lookin’ Out My Back Door (J.C. Fogerty)- O momento mais country do álbum, com pique dançante e um delicioso sotaque caipira.

Run Through The Jungle (J.C. Fogerty)- O rótulo swamp rock criado por um crítico para definir o som da banda tem neste rock balançado com elementos do som de Nova Orleans um bom exemplo. Matadora!

Up Around The Bend (J.C. Fogerty)- Um rockão sacudido com riff de guitarra ardido e inconfundível. Aqui, o estilo próprio do CCR se mostra de forma mais explícita.

My Baby Left Me (Arthur “Big Boy” Crudup)- Regravação vigorosa de clássico do mesmo autor de That’s All Right, o primeiro sucesso de Elvis Presley. Aliás, Elvis também regravou essa música. Fica difícil dizer quem a releu melhor, mas creio que o Creedence ganhe por pequena diferença.

Who’ll Stop The Rain (J.C. Fogerty)- Delicioso rock balada no qual Fogerty aproveita para falar sobre a Guerra do Vietnã, algo que poucos esperariam em uma canção tão delicada e melódica.

I Heard It Through The Grapevine (Norman Whitfield-Barrett Strong)- Este clássico do songbook da Motown Records possui três versões espetaculares, todas com muito sucesso: a de Marvin Gaye, a de Gladys Knight And The Pips e esta aqui. A do CCR cativa pela longa duração, mais de 11 minutos, uma batida sólida, dançante e constante e uma performance absurda dos músicos, improvisando com foco e sem perder o prumo.

Long As I Can See The Light (J.C. Fogerty)- Para encerrar o álbum, nada melhor do que uma fantástica balada soul, na qual John tem uma performance certeira nos vocais e ainda toca sax, de quebra.

A reedição de Cosmo’s Factory lançada em 2008 traz, além de um belo encarte com fotos, ficha técnica e texto informativo e opinativo do consagrado crítico Robert Cristgau, três faixas-bônus: uma versão alternativa de Travellin’ Band, uma gravação ao vivo de Up Around The Bend e uma gravação (infelizmente com baixa qualidade técnica) de Born On The Bayou reunindo o CCR com o mitológico grupo Booker T & The MGs.

obs.: a primeira edição de Cosmo’s Factory lançada no Brasil em vinil veio com duas faixas diferentes. Ninety Nine And a Half (Steve Cropper, Eddie Floyd, Wilson Pickett), lançada originalmente no álbum de estreia do CCR, entrou no lugar de Travellin’ Band, enquanto The Working Man (J.C. Fogerty), também do primeiro álbum do grupo, veio na vaga de Who’ll Stop The Rain. Os relançamentos posteriores em vinil e depois em CD em nosso país trouxeram a seleção original de faixas. Obrigado aos amigos Emilio Pacheco e Valdir Angeli por essa informação, que adicionei após ter publicado este post.

Ouça Cosmo’s Factory em streaming:

Creedence Clearwater Revival em belo DVD

Por Fabian Chacur

Encontrei em uma banca de jornais um DVD intitulado Creedence Clearwater Revival-20 Maiores Sucessos, lançado no Brasil por uma tal VZ Multimídia Importação Exportação Comércio e Editora Ltda. O preço: R$20.

Como simplesmente adoro essa banda, que povoou minha infância com seus hits eternos calcados no velho e bom rock and roll básico, resolvi arriscar. E não é que me dei bem?

O DVD tem qualidade de mediana para boa de imagens e até boa de áudio. Mas seu conteúdo histórico compensa qualquer probleminha técnico. Temos aqui na verdade três partes distintas. Vamos destrinchá-las.

A primeira, da faixa 1 (Down On The Corner) até a sétima (I Heard It Through The Grapevine) reúne gravações de apresentações do quarteto americano na TV (dublando) e também alguns clipes, entre os quais o de Sweet Hitch-Hiker, primeira música que ouvi na vida do CCR e até hoje a minha favorita.

Da faixa 8 (Born On The Bayou) até a 14 (Keep On Choogling), temos um show da banda realizado provavelmente na Inglaterra nos idos de 1970, na qual eles esbanjam pique e carisma. A apresentação rola em um ginásio, e a recepção do público é entusiástica.

A parte final rola da faixa 15 (Traveling Band) até a 20 (Keep On Choogling), em mais um show realizado também provavelmente por volta de 1970. Como o DVD não tem ficha técnica, as informações não são precisas.

Em ambas as performances, o grupo surge em sua formação clássica de quarteto, com John Fogerty nos vocais e guitarra solo, Tom Fogerty na guitarra base e vocais, Stu Cook no baixo e Doug Cosmo Clifford na bateria.

O legal é que o DVD, com seus aproximadamente 80 minutos de duração, equivale a uma bela amostra do porque o Creedence pode ser considerado um dos melhores grupos de rock and roll de todos os tempos.

Guiados pela poderosa voz e guitarra solo arrepiante de John Fogerty, da base sólida da guitarra do irmão Tom e da precisão e balanço da cozinha formada por Cook e Cosmo, o Creedence dava um banho de raça, categoria e simplicidade, aquele tipo de simplicidade hiper rara de se conseguir.

Difícil acreditar que a banda tenha criado tantos hits no curto período compreendido entre 1968 e 1972, pérolas roqueiras do naipe de Proud Mary, Bad Moon Rising, Sweet Hitch-Hiker, Born On The Bayou, Green River e The Midnight Special, todas incluídas neste DVD. Procure por aí que vale a pena.

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