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John Cale lança seu primeiro single inédito em quatro anos

john cale 400x

Por Fabian Chacur

Em meio a tantos obituários e notícias ruins, é de se comemorar o fato de John Cale, ex-Velvet Underground e um dos nomes mais importantes da história do rock, lançar o seu primeiro single em quatro anos. Aos 78 anos, o cantor, compositor e músico galês radicado desde os anos 1960 nos EUA nos oferece a densa Lazy Day, uma canção hipnótica divulgada por um envolvente videoclipe dirigido por Abby Portner.

Como muitos outros artistas, Cale foi pego de surpresa quando estava finalizando um novo álbum, ainda sem previsão de lançamento. Em comunicado enviado à imprensa, o artista explica a situação e fala sobre sua nova canção, desde já um dos lançamentos mais interessantes desse sombrio 2020:

“Eu estava tão pronto para finalmente lançar meu novo álbum; trancos e barrancos e então o maldito 2020 aconteceu! Muito a dizer nestes tempos ”, diz Cale. “O contexto é tudo e 140 caracteres não vão bastar! Como compositor, minha verdade está toda ligada a essas canções que devem esperar um pouco mais. E então me ocorreu que eu tenho algo para o momento, uma música que eu terminei recentemente… Com o mundo saindo de sua órbita, eu queria parar a guinada e desfrutar de um período em que podemos tomar nosso tempo e respirar nosso caminho de volta para um mundo mais calmo.”

Lazy Day (clipe)- John Cale:

John Cale será a atração principal do Nublu Festival em São Paulo

john cale 400x

Por Fabian Chacur

O Nublu Festival celebrará a sua 10ª edição com um belo nome como atração principal. Trata-se de ninguém menos do que John Cale, um dos fundadores da mitológica banda Velvet Underground e com extensa e importante carreira-solo. O evento ocorrerá de 12 a 14 de março no Sesc Pompeia em São Paulo e no Sesc de São José dos Campos (SP).

Também estão na programaçáo Femi Kuti, Yaslin Bey (antes usava o nome Mos Def), Juçara Marçal, Negra Li e o Otis Trio 7. Os ingressos começarão a ser vendidos a partir dos dias 3 (online) e 4 de março (nas unidades do Sesc).

Nascido no Reino Unido no dia 9 de março de 1942, John Cale se mudou para Nova York em 1963, e no ano seguinte conheceu Lou Reed, com quem criou o Velvet Underground. A banda propunha uma inovadora mistura de rock básico com elementos experimentais, e Cale contribuiu nas composições e tocando baixo, viola e piano. Seus conhecimentos de música erudita e de vanguarda ajudaram no tempero inovador.

Após participar com destaque dos álbuns The Velvet Underground & Nico (1967, também conhecido como o “Disco da Banana”) e White Light/White Heat (1968), ele foi excluído do grupo, devido a desentendimentos com Lou Reed. Em 1969, iniciou a carreira como produtor, e que início! Ele assina a produção de The Stooges, álbum de estreia da banda que revelou Iggy Pop para o mundo.

Em 1970, daria o pontapé inicial em sua carreira individual com o excelente Vintage Violence, no qual investe em um rock mais convencional, porém muito inspirado. A partir daí, mostraria versatilidade e criatividade em diversos trabalhos que, se não obtiveram sucesso comercial, mereceram muitos elogios por parte da crítica especializada e influenciaram diversos outros artistas.

Em 1990, voltou a trabalhar com Lou Reed, lançando em parceria com o astro do rock o álbum Songs For Drella, homenagem ao artista plástico Andy Warhol, que teve importância fundamental na divulgação do trabalho do Velvet Underground. Aliás, nos anos 1990 a banda voltou à ativa com a realização de alguns shows e o lançamento do álbum ao vivo Live MCMXCIII (1993).

Cale também trabalhou com Brian Eno e produziu discos para artistas como a ex-colega de Velvet Underground, Nico, a cantora canadense Jennifer Warnes e o grupo americano The Modern Lovers, além de ter feito diversas trilhas para filmes. Seu álbum mais recente, M:Fans, saiu em 2016. Ele foi condecorado como Oficial da Ordem do Governo Britânico (OBE) em 2010.

Ouça Vintage Violence, de John Cale, em streaming:

Minhas memórias do genial Lou Reed

Por Fabian Chacur

Neste domingo (28), nosso amado rock and roll perdeu um de seus nomes mais emblemáticos, talentosos e influentes. Lou Reed nos deixou graças a problemas decorrentes do transplante de fígado que sofreu em abril deste ano. Ou algo do gênero, não saberemos precisar neste momento. Mas a verdade é que Laurie Anderson e todos nós estamos viúvos, órfãos, deixados para trás. Mas nem tanto.

Afinal de contas, o ser humano Lou Reed não se encontra mais nesse alucinado planeta do sistema solar. Sua obra, no entanto, jamais sairá de cena. E já que todo mundo já escreveu tudo sobre a carreira dele, resolvi registrar, de forma aleatória e sem querer fazer uma retrospectiva ou algo do gênero, algumas coisas de sua produção que me impressionaram bastante.

De temperamento difícil e nenhuma disposição em ceder às pressões da indústria musical, Mr. Reed nos surpreendeu em diversas ocasiões de sua carreira. Duas delas são bem marcantes. O álbum que gravou em parceria com o Metallica, o controverso Lulu (2011), é recente a ponto de todos se lembrarem. A outra parceria é bem mais surpreendente, e praticamente esquecida de todos: uma dobradinha com o Kiss de Gene Simmons e Paul Stanley.

O álbum Music From The Elder (1981), o mais polêmico da carreira do quarteto mascarado americano, traz três faixas que inclui Lou Reed como letrista: Dark Light, Mr. Blackwell e A World Without Heroes, sendo que esta última foi a que conseguiu melhor repercussão em termos de divulgação. Mesmo assim, foi provavelmente o trabalho do Kiss que menos vendeu.

Artistas de todos os tipos regravaram canções de Lou Reed. Duas das gravações mais curiosas ocorreram em 1995, quando o Duran Duran resolveu ler à sua moda a ótima Perfect Day em seu álbum de covers Thank You, e em 1994, com Marisa Monte interpretando de forma suave e inspirada a bela Pale Blue Eyes em seu melhor trabalho, Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão. Ah, e tem a inominável Vi Shows (Vicious), raro tropeço de Arnaldo Brandão.

Em 1983, Lou Reed deu provas de seu sarcástico bom humor ao participar do divertido e descompromissado filme Get Crazy! Na Zorra do Rock. Na atração, ele vive o papel de um excêntrico roqueiro que está há anos fora de cena e que é convidado por um velho amigo promotor de shows a participar de um evento de ano novo para salvar uma badalada casa noturna. Ele aceita o desafio, no fim das contas.

No entanto, como não tinha nenhuma música nova pronta para tocar no tal show, ele passa o filme inteiro andando de taxi e finalizando a canção. Nem é preciso dizer que, quando chega no teatro, o espetáculo já havia acabado, só restando por lá uma jovem e fiel fã que queria vê-lo a qualquer custo. Aí, quando os créditos do filme surgem, ele canta a bela balada rock Little Sister, perante essa única admiradora. Delicioso!

Em 1996, tive a oportunidade de ver seu show em São Paulo, no finado Palace, parte de sua primeira passagem por nosso pais. Naquela turnê, ele divulgava o ótimo e hoje bem esquecido CD Set The Twilight Reeling, que inclui belos rocks como NYC Man e Hooky Wooky. Alguns clássicos ficaram bem diferentes das versões originais, mas como diria a amiga Claudia Bia, “ele sempre foi assim”. E sempre foi mesmo!

Gosto muito da obra do Velvet Underground, banda que vendeu poucos discos mas influenciou bandas que posteriormente venderam muito mais do que eles. Curiosamente, meu trabalho favorito da banda capitaneada em sua fase áurea por Lou Reed e John Cale é o póstumo VU (1985), que nem parece um álbum com sobras de outros álbuns, tal a sua qualidade. Excepcional, com pérolas como I Can’t Stand It (depois regravada em sua carreira solo), Lisa Says e Foggy Notion.

A obra de Lou Reed é repleta de momentos sublimes, e quem não a conhece certamente perde bastante em seu conhecimento musical. Letras ácidas e irônicas, melodias básicas, riffs de guitarra envolventes, momentos folk de rara beleza, ousadia em álbuns quase absurdos como Metal Machine Music (1975) e nenhum compromisso com a mesmice e o mediano. A Wild Side nunca mais será a mesma sem ele.

Can’t Stand It, com Lou Reed (versão da carreira solo):

Little Sister, com Lou Reed:

Veja o filme Get Crazy! Na Zorra do Rock:

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