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Victor Riskallah Chacur se foi há 20 anos e faz muita, muita falta!

victor eu primo 1967 mais ou menos

Por Fabian Chacur

No dia 6 de janeiro de 1999, há exatos 20 anos, perdi o meu irmão, Victor Riskallah Chacur. Naquele triste momento, fiquei sem o último vínculo com minha família mais próxima. Minha querida mãe, Victoria, deixou esta existência no dia 22 de junho de 1996, enquanto meu amado pai, Fuad, seguiu rumo à eternidade no dia 21 de setembro de 1998, ou seja, pouco mais de três meses antes do meu irmão. Éramos quatro, agora somos um. Unzinho, que desde então tenta seguir em frente, mas sempre com aquela forte sensação de vazio deixada pela falta dos meus três nobres parceiros diretos.

Se hoje sou um eterno viciado em música boa, devo muito disso ao Victor. No mínimo, pela ótima iniciação. Afinal de contas, os primeiros discos que tive a oportunidade de ouvir eram dele, em sua maioria. Esse vício de comprar discos eu herdei dele, ampliando-o até as raias do impossível e impagável.

E os discos do cara eram de primeiríssima linha. Tipo aquele compacto dos Beatles com Hey Jude e Revolution, que ouvimos até o limite da exaustão naquele finalzinho de 1968, quando eu tinha apenas sete aninhos de idade, e quando recebi a visita do meu primo Jair, que veio passar as festas conosco. Para intercalar, na mesma época, também curtimos o belo compacto do obscuro grupo one-hit-wonder californiano People com a ótima I Love You.

Conheci os Beatles, até hoje (e para sempre) minha banda favorita, graças a ele. E vários outros grupos e artistas. O Deep Purple, por exemplo, ouvindo muito o seu exemplar do In Rock, com Living Wreck, Speed King e Child In Time.

E aquele compacto, com Nobody de um lado e Slippery St. Paul do outro, de 1971? Esse raio desse disco me viciou em outra das minhas bandas favoritas até hoje, os Doobie Brothers. Amo esses caras!

A voz potente e os riffs certeiros da guitarra de Tom Johnston, a guitarra dedilhada e os vocais de Patrick Simmons, as vocalizações certeiras, a fusão de rock-country-folk-soul etc…… Doobie Brothers forever!

O primeiro disco de Paul McCartney que ouvi na vida foi o Ram, de 1971. Lógico que o exemplar do glorioso Victor. Também ouvi até furar Uncle Albert/Admiral Halsey, Monkberry Moon Delight, Dear Boy, Heart Of The Country….

A partir dos meus dez anos de idade, a gente começou uma disputa besta para ver quem comprava primeiro um disco de sucesso. Era divertido ver quem surgia primeiro com o novo do Seals & Crofts, Bread, Rolling Stones, Bee Gees…..

Quando fiz 17 anos, acordei e vi, em cima do criado mudo ao lado da minha cama, um compacto simples embrulhado. Abri: Got a Feeling, de Patrick Juvet, grande hit em 1978 e um clássico da disco music que eu amo.

Fico arrepiado só de lembrar a alegria ao ganhar esse disco, que obviamente tenho até hoje. Foi o único presente que ganhei naquele aniversário, e me lembro de ter chorado no final do dia, sozinho, sabe-se lá porque.

Eu também curto músicas bizarras, aquelas que de tão ruins chegam a ser boas, mas o Victor, não. Ele só curtia coisas boas. Tipo aquele maravilhoso álbum Cicatrizes, do MPB-4, um dos melhores de música brasileira que já tive a oportunidade de ouvir.

Ou O Canto das Três Raças, da Clara Nunes, que você abria a capa e a mesma virava um pôster imenso. Ou alguns do Martinho da Vila (Memórias de Um Sargento de Milícias, por exemplo), o samba em sua autêntica e bela expressão.

Vou parar por aqui, pois a lista vai longe. Lógico que, como bons irmãos, brigamos algumas vezes, frequentemente por razões imbecis, mas sempre voltávamos às boas, felizmente. E a vida seguia!

Tá bom, ele tinha um defeito gravíssimo: torcia para aquele timinho da Marginal Sem Número. Mas fazer o que? Perfeição não existe…..

O Victor foi internado próximo do natal de 1998. Lembro que minha cunhada ligou para me avisar na editora onde eu trabalhava na época, quando eu estava prestes a sair rumo à “festa da firma”. Nem é preciso dizer que abortei a ida à confraternização e fui direto ao hospital, onde dei um jeito de conseguir visitá-lo, mesmo fora do horário normal.

Foram dias difíceis, nas quais felizmente pude falar com ele em algumas ocasiões, e pude lhe dar toda a força que pude, e meu apoio incondicional. Incondicional mesmo, como ele e eu sabemos, e só nós dois!

No dia 6 de janeiro de 1999, ele me deixou, após alguns dolorosos dias em estado de coma. Fica a recordação de alguém que foi fundamental em minha vida, e a quem devo muito mais do que ele poderia imaginar. Onde estiver, meu abraço apertado, cara, e a saudade eterna!

obs.: o Victor é o primeiro da esquerda para a direita, na foto acima, tirada há mais de 50 anos em Uberlândia (MG).

I Love You– People:

Can’t Buy a Thrill – Steely Dan (ABC/1972)

Por Fabian Chacur

Ah, seo Victor Riskallah Chacur, quanto eu te devo em termos de conhecimento musical! Uma dessas dívidas, dentre inúmeras outras, foi ter conhecido no início de 1973 uma música espetacular chamada Do It Again, interpretada por um tal de Steely Dan, com Fire In The Hole no lado B. Mal sabia eu que estava descobrindo uma banda clássica e genial, uma das minhas favoritas.

Esse grupo seminal teve sua semente no encontro em 1967 entre os então garotos Donald Fagen e Walter Becker no Bard College, em Nova York. Não demoraram a perceber afinidades musicais infindáveis, e começaram a tocar juntos e a compor músicas. O músico Kenny Vance, do Jay And The Americans, gostou do que ouviu e os convidou para acompanhar esse grupo pop ao vivo e escrever músicas para serem oferecidas a outros artistas.

Fagen e Becker até que tentaram, mas pouca gente se interessou por seu som pop já bastante sofisticado, com letras irônicas e esbanjando personalidade. Não demorou a ficar claro o óbvio: eles mesmo teriam de gravar suas obras, e isso acabou se concretizando em 1972, mesmo ano em que largaram Vance e se mudaram para Los Angeles.

O lado intelectual e bem-humorado da banda surge logo no seu nome de batismo. Steely Dan saiu das páginas do livro The Naked Lunch, no qual seu autor, William Burroughs, cita em uma de suas páginas um “consolo”, “vibrador” ou como você preferir em português (em inglês, chama-se dildo) movido a vapor e com esse nome peculiar.

Além de Fagen nos vocais e teclados e Becker no baixo e vocais (no futuro, ele tocaria guitarra), a formação da banda neste álbum de estreia incluía Jeff Skunk Baxter (guitarra, pedal steel e violão), Denny Dias (guitarra e cítara elétrica), Jim Hodder (bateria e percussão) e David Palmer, cantor que entrou de última hora.

A escalação de Palmer se deveu ao fato de que Fagen, até então o principal cantor da banda, não se sentia à vontade na função. Com o tempo, isso seria superado por ele, e não por coincidência, as duas músicas de maior sucesso do primeiro LP do Steely Dan tem ele como lead singer: Do It Again e Reeling In The Years.

Can’t Buy a Thrill, título do álbum de estreia do projeto de Fagen e Becker, também tem origem nobre: os primeiros versos de It Takes A Lot To Laugh, It Takes a Train To Cry, de Bob Dylan, um dos pontos altos do célebre (e já resenhado em Mondo Pop) Highway 61 Revisited (1965), o mesmo que também inclui Like a Rolling Stone.

Lançado no final de 1972, o álbum mostra um Steely Dan um pouco diferente do que ele se tornaria mais para a frente. Trata-se de um disco mais roqueiro, energético e pop, embora os elementos de funk, soul e jazz que depois tomariam conta da sonoridade do grupo já estivessem por ali, especialmente na estupenda Do It Again, com seu tempero latino e belíssimas passagens de teclados. Um hit hipnotico, com um quê de Santana no meio.

Interpretada por David Palmer, Dirty Work é um raro caso de balada rock na obra do grupo e arrepia, assim como Midnight Cruiser, que traz o baterista Jim Hodder no vocal principal. O lado jazzy comparece com a deliciosa Only A Fool Would Say That, que traz um tempero de bossa nova e latinidade que a tornam um verdadeiro achado.

O rock and roll mais rasgado é o mote de Reelin’ In The Years, com direito a melodia sofisticada, levada de piano simplesmente envolvente e solos de guitarra vigorosos e em alguns momentos no melhor estilo twin guitars, quando dois ou mais guitarristas tocam as mesmas notas ao mesmo tempo, com um efeito arrasa-quarteirão.

Em termos comerciais, o CD teve ótima repercussão, atingindo o 17º posto na parada americana e emplacando dois singles no top 20: Do It Again (nº6) e Reelin’ In The Years (nº11). No quesito artístico, trata-se sem sombra de dúvidas de uma das melhores estreias de uma banda do primeiro time do rock, repleto de grandes canções, energia e a impressão de que se tratava de um time que viria para ficar. E ficou mesmo, embora mantendo só seu núcleo básico (Fagen e Becker).

Ouça Can’t Buy A Thrill, do Steely Dan, na íntegra:

Os 70 anos do eterno Mano Caetano

Por Fabian Chacur

Minha relação com a música de Mano Caetano, que completa 70 anos de idade nesta terça(7) com um espírito forever young, começou (só para variar…) através de um LP do meu mais do que saudoso irmão Victor Riskallah Chacur. Era aquele autointitulado álbum de 1971, gravado em Londres e praticamente todo cantado em inglês

Ou seja, conheci esse mestre da MPB em um disco atípico, marcado pela dor do exílio imposto pela Ditadura Militar. Com predominância acústica, com direito a cordas impecáveis e a solos de flauta que o tornam absolutamente único, o álbum apresenta clássicos como London, London (aquela do RPM ahahaha) e Maria Bethânia.

A música em homenagem à maninha mais nova particularmente me marcou, especialmente pelo arranjo absurdamente belo de cordas, pela tensão e pelos longos minutos de verdadeira “mastigação” vocal na parte final, efeito também usado na única música totalmente em português do álbum, uma releitura de Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

Desde que estourou nacionalmente graças ao célebre festival da Record de 1967 com Alegria, Alegria, Caetano tornou-se o favorito dos transgressores, dos moderninhos, dos fãs de inovação, dos irreverentes, e obviamente também dos que tentam se mostrar inteligentes, embora nem sempre o sejam.

Arrogante, acertivo, sempre opinando sobre tudo e admitindo isso na célebre frase “é que narciso acha feio o que não é espelho”, da clássica Sampa, Mr. Veloso influenciou muitos artistas, alguns infelizmente só imitando a arrogância, sem talento suficiente para digerir bem as influências musicais e criar algo decente a partir daí.

A infindável capacidade de se renovar fez com que Caetano protagonizasse momentos os mais diversos em sua prolífica carreira, indo de cantar ao vivo com Odair José a atuar com músicos de vanguarda, com tudo o que se imaginar entre isso.

Foi campeão de devoluções com o célebre álbum Araçá Azul (1972), um dos trabalhos mais bizarros e por isso mesmo fascinantes da história da MPB, e ultrapassou a barreira de um milhão de cópias vendidas com Prenda Minha (1998), álbum ao vivo que trazia como pepita de ouro uma fantástica releitura ao vivo de Sozinho, composição do craque Peninha.

Nem sempre acertou, como prova a canção Você é Minha, uma das baladas mais bregas e recheadas de clichês da história da música brasileira, ou o superestimado álbum Velô (1984), tentativa de soar roqueiro que mais parecia “rock para quem não gosta de rock”, de tão asséptico. Mas ele acertaria a mão no rock and roll no vibrante (2006).

Tive a oportunidade de participar de umas duas entrevistas coletivas com o cantor, compositor e músico baiano, nas quais ele era “obrigado” a opinar sobre tudo, até sobre o insuportável trânsito de São Paulo ou sobre os Smiths (em 1986). Difícil acreditar, ao vê-lo de perto, que aquele cara magrelo e baixinho era esse verdadeiro gigante da MPB. Mas é.

Em um cenário tão raquítico como o da MPB e do rock brasileiro dos últimos 20 anos, é lógico que a importância de Caetano Veloso se torna ainda maior, mesmo quando ele dá seu aval a artistas ainda insossos como a clone de Marisa Monte Maria Gadú e o nefando Criolo.

Parabéns, Mano Caetano, seu legado é de riqueza absurda, e seu nome continuará sendo louvado e sua música apreciada por décadas, décadas e mais décadas. E novos brasileiros te podem curtir numa boa.

Ouça London, London, com Caetano Veloso:

Ouça Maria Bethânia, com Caetano Veloso:

Robin Gibb nos deixa aos 62 anos

Por Fabian Chacur

O ano de 2012 está se mostrando pródigo em nos privar de grandes nomes da história da música pop. Agora, é a vez de nos despedirmos de Robin Gibb. O integrante dos Bee Gees morreu neste domingo, 20 de maio, vítima de um câncer que o desafiava há alguns anos.

Ele tinha apenas 62 anos, e se vai ironicamente no dia em que meu irmão Victor Riskallah Chacur, um fã incondicional de suas músicas, faria 58 anos (ele se foi em 1999, aos 44 anos). Segundo a Billboard, o grupo do qual fez parte, os Bee Gees, vendeu mais de 200 milhões de cópias pelo mundo afora.

Robin Gibb nasceu em 22 de dezembro de 1949, 35 minutos antes do que seu irmão gêmeo Maurice, que nos deixou em 2003. Os dois e o irmão mais velho Barry montaram o trio The Bee Gees quando eles ainda eram crianças, na Inglaterra. O grupo tomou força quando eles se mudaram para a Austrália.

Em 1967, após lançaram vários discos de sucesso na terra dos cangurús, eles voltaram à Inglaterra, onde estouraram rapidamente com New York Mining Disaster 1941. Era o início de uma primeira fase repleta de hits influenciados por Beatles e pela soul music, entre os quais I Started a Joke, Words e Massachusetts.

Um desentendimento entre os irmãos levou Robin a lançar em 1969 seu primeiro single solo, Saved By The Bell, em 1969, mas logo os irmãos voltaram a gravar juntos, estourando com canções do calibre de How Can You Mend a Broken Heart e Run To Me.

A voz de Robin era a mais grave, com Barry se valendo de falsete e Maurice ficando no meio, equilibrando as vocalizações marcantes e inconfundíveis do trio.

Em 1975, a banda, que vivia um momento de entressafra em termos de sucessos, mudou-se para Miami e lá, no estúdio Criteria, descobriu uma nova fórmula musical, com batidas dançantes e forte influência da então emergente disco music.

Esse momento atingiria seu auge na segunda metade dos anos 70, quando sua participação na trilha do filme Os Embalos de Sábado À Noite (1977) e o álbum Spirits Having Flown (1979) os tornaram o grupo mais popular do mundo, graças a hits como Night Fever, Stayin’ Alive, Too Much Heaven, Tragedy e inúmeros, mas inúmeros outros mesmo.

Nos anos 80, eles viveram nova fase de entressafra e inclusive umas férias entre 1983 e 1987, período no qual aproveitaram para lançar discos solo. Robin estourou com a dançante canção Juliet, que tocou à exaustão aqui no Brasil.

No fim daquela década, a banda voltou a atingir os primeiros postos das paradas, liderando os charts britânicos em 1987 com a faixa You Win Again e atingindo o sétimo posto nos EUA com One. A partir daí, o grupo passou a lançar novos álbuns de forma mais espaçada, mas sempre com sucesso, entre os quais o ótimo Still Waters (1997).

Devido aos problemas cardíacos de Barry, o grupo passou a fazer menos shows a partir da metade dos anos 90. Uma rara turnê, que incluiu apenas cinco shows (um por continente), gerou o álbum ao vivo One Night Only (1998), que vendeu bem nos formatos CD e DVD.

O último álbum de inéditas dos Bee Gees, o excelente This Is Where I Came In, chegou às lojas em 2001. Com a morte de Maurice em 2003, o grupo saiu de cena, sendo que Robin Gibb se manteve em constante atividade, gravando novas músicas e também um DVD ao vivo.

Robin se apresentou ao vivo no Brasil em 2005, e iria repetir a dose em 2010. Os shows foram adiados para abril de 2011, mas foram novamente cancelados, reflexo da doença que começava a minar as energias de Gibb.

O último trabalho de Robin Gibb foi lançado este ano. Trata-se de Titanic Requiem, peça de cunho erudito que ele escreveu em parceria com o filho, Robin-John Gibb, e na qual interpratava uma única canção.

Robin Gibb é o terceiro dos irmãos Gibb a nos deixar. Além dele e de Maurice, o mais novo da turma, Andy, morreu em 1988, com apenas 30 anos de idade. Ele gravava como artista solo, mas seus maiores hits levavam a assinatura dos irmãos, que também participavam dos discos nos vocais e instrumentos em hits como Shadow Dancing e Love Is Ticker Than Water. Andy cantou no Brasil em 1981.

Ouça Massachusetts ao vivo com os Bee Gees:

Ouça I Started a Joke, com os Bee Gees:

Ouça Juliet, com Robin Gibb:

A preciosa discoteca de Victor Riskallah Chacur

Por Fabian Chacur

Tem horas em que penso ser a música a razão da minha vida. A cura para os meus males, ou pelo menos uma forma de minimizá-los. E tudo começou lá atrás, quando era muito moleque, fuçando os discos que existiam em casa.

Tinha os da minha mãe, entre os quais dois se sobressaiam: uma coletânea de Orlando Silva e o estupendo Abismo de Rosas, do violonista Dilermando Reis, lançado exatamente no ano em que nasci, 1961. Este último é um despretensioso (e delicioso) álbum de violão instrumental. Existe em CD.

Mas quem tinha discos mesmo na rua Sud Menucci, 374- Vila Mariana era o meu irmão Victor. Sete anos mais velho, também gostava muito de música. Beatles, por exemplo, eu conheci através dele.

Quase furei aquele compacto com Hey Jude de um lado e Revolution do outro. Mas curiosamente, sabe-se lá porque, ele não tinha LPs da banda. Fui eu quem, em 1973, ainda com meus 12 aninhos, juntei as moedinhas de minha mesada para comprar a coletânea The Beatles 1962-1966, a famosa de capa vermelha, que havia acabado de sair.

O primeiro álbum duplo da minha coleção, e um autopresente de Natal preciosíssimo. Nem é preciso dizer que não deu para comprar, também, o The Beatles 1967-1970, o que só fiz já na era do CD, nos anos 90.

Mas ele tinha um LP de um dos ex-integrantes da banda. Era Ram, creditado a Paul & Linda McCartney e lançado em 1971, mas cujo artista eu pensava que era o tal de Ram… Mas tu é burro, rapaz!

Capa dupla, com uns desenhos malucos para cá e para lá. Mas a música era muito mais legal do que a embalagem. Até hoje me arrepio ao ouvir a faixa de abertura, Too Many People.

O disco teve como faixa de maior sucesso Uncle Albert/Admiral Halsey, que tocava muito nas rádios daqui e do exterior. Pop até a medula, uma delícia, com seu refrão lá no fim.

O legal era ouvir, nas rádios, os disc jockeys vacilarem, pelo fato de o fim dessa música no LP ser colada ao da música seguinte, o rockão Smile Away. Era diversão garantida ouvir aqueles acordes iniciais de guitarra tocarem de graça e a música ser tirada rapidinho do ar…

Heart Of The Country é uma daquelas canções que só McCartney sabe fazer, uma simples canção country em cujo refrão ele repete as notas que toca no violão com a voz, em efeito dobrado arrepiante.

O rockão negroide Monkberry Moon Delight foi trilha de uma novela da TV Tupi com um tal de Exuma, mas a versão bala é a do Macca, que solta a voz, ora de forma grave, ora em falsete potente. E quem disse que ele só gravava baladas? Cambada de tontos!

Dear Boy é um doce, delicada até a medula. Ram On, com sabor folk britânico e mandolin, é evocativa de uma infância que nunca voltará para mim, a não ser nas recordações que essa canção me traz.

Ela aparece em duas partes, sendo que a segunda acaba com um trechinho que seria ampliada e equivaleria à parte inicial de Big Barn Bed, do álbum Red Rose Speedway, de 1973, aquele que tem My Love.

E a balada arrebatadora The Back Seat Of My Car é outro ponto alto desse álbum, com sua mistura de delicadeza e ecos dos anos ingênuos, em que se namorava inocentemente no banco de trás do carro.

Um crítico internacional, na época, definiu o álbum como de “rock suburbano”. Que conversa mole… Esse foi apenas um dos discos que conheci graças ao mano, que teria feito 56 anos no dia 20 de maio.

Pena que num triste 6 de janeiro de 1999 ele se foi. Mas sua memória, e as músicas que descobri graças a ele, ficarão para sempre.

Victor Riskallah Chacur, brigadão pela iniciação!

doobie brothers 1por Fabian Chacur

Sempre que essa época de natal se aproxima, as recordações voltam às mentes de quem já não tem mais por perto os seus entes queridos.

No meu caso, perdi minha mãe em junho de 1996, meu pai em setembro de 1998 e meu irmão em janeiro de 1999. Este último, Victor Riskallah Chacur, se foi muito cedo, com apenas 44 anos.

Se hoje sou um eterno viciado em música boa, devo muito disso a ele. No mínimo, pela ótima iniciação. Afinal de contas, os primeiros discos que tive a oportunidade de ouvir eram dele, em sua maioria.

Tipo aquele compacto dos Beatles com Hey Jude e Revolution, que ouvimos até o limite da exaustão naquele finalzinho de 1968, quando eu tinha apenas sete aninhos de idade. Para intercalar, o compacto do obscuro grupo People com a ótima I Love You.

Conheci os Beatles, até hoje (e para sempre) minha banda favorita, graças a ele. E várias outras bandas e artistas. O Deep Purple, ouvindo muito o seu exemplar do In Rock, com Living Wreck, Speed King e Child In Time.

E aquele compacto, com Nobody de um lado e Slippery St. Paul do outro, de 1971? Esse raio desse disco me viciou em outra das minhas bandas favoritas até hoje, os Doobie Brothers. Amo esses caras!

A voz potente e a guitarra certeira de Tom Johnston, a guitarra e os vocais de Patrick Simmons, as vocalizações certeiras, a fusão de rock-country-folk-soul etc…… Doobie Brothers forever!

O primeiro disco de Paul McCartney que ouvi na vida foi o Ram, de 1971. Lógico que do glorioso Victor. Também ouvi até furar Uncle Albert/Admiral Halsey, Monkberry Moon Delight, Three Legs, Heart Of The Country….

A partir dos meus dez anos de idade, a gente começou uma disputa besta para ver quem comprava primeiro um disco de sucesso. Era divertido ver quem surgia primeiro com o novo do Seals & Crofts, Bread, Rolling Stones, Bee Gees…..

Quando fiz 17 anos, acordei e vi, em cima do criado mudo ao lado da minha cama, um compacto simples embrulhado. Abri: Got a Feeling, de Patrick Juvet, grande hit em 1978 e um clássico da disco music que eu amo.

Fico arrepiado só de lembrar a alegria ao ganhar esse disco, que obviamente tenho até hoje. Foi o único presente que ganhei naquele aniversário, e me lembro de ter chorado no final do dia, sozinho, sabe-se lá porque.

Eu também curto músicas bizarras, aquelas que de tão ruins chegam a ser boas, mas o Victor, não. Ele só curtia coisas boas. Tipo aquele maravilhoso álbum Cicatrizes, do MPB-4, um dos melhores de música brasileira que já tive a oportunidade de ouvir.

Ou O Canto das Três Raças, da Clara Nunes, que você abria a capa e a mesma virava um pôster imenso. Ou alguns do Martinho da Vila, o samba em sua mais autêntica e bela expressão.

Vou parar por aqui, pois a lista vai longe. Lógico que, como bons irmãos, brigamos muito, frequentemente por razões imbecis, mas sempre voltávamos às boas.

Tá bom, ele tinha um defeito gravíssimo: torcia para aquele timinho da Marginal Sem Número. Mas fazer o que? Perfeição não existe…..

No dia 6 de janeiro de 1999, ele me deixou. Fica a recordação de alguém que foi fundamental em minha vida, e a quem devo muito mais do que ele poderia imaginar. Onde estiver, meu abraço apertado, cara, e a saudade eterna!

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