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A parceria Caetano/Gadú: o lado Gadú

Por Fabian Chacur

Acaba de chegar às lojas o álbum duplo em CD e DVD simples Multishow ao Vivo  Caetano e Maria Gadú, lançado pela Universal Music.

Trata-se do registro do show feito pelo autor de Alegria, Alegria e da revelação da MPB no fim de 2010 no Rio, gravado depois de um aquecimento proporcionado por performances em São Paulo, Salvador e Recife.

A parceria surgiu quando o canal por assinatura Multishow resolveu marcar a inauguração de seu novo prédio com um show de Gadú, e achou que uma parceria com Caê poderia ser uma boa.

Ele topou, o show rolou e as afinidades entre os dois teriam aflorado de tal forma que a gravação acabou sendo o passo seguinte.

Vou analisar esse lançamento em dois posts, um sob o ângulo de Maria Gadú, e o outro, pelo ângulo do Caetano.

Em seu disco de estreia, Maria Gadú provou ser uma cantora de grande potencial, embora com timbre vocal e estilo interpretativo bastante semelhante ao de Marisa Monte.

Suas composições também ainda se mostravam inferiores ao talento vocal, enquanto sua capacidade como violonista parecia muito interessante.

Vê-la ao lado de um monstro sagrado como Caê e em um formato tão despojado (só os dois, acompanhando-se com violões) ajudou a ressaltar todas essas impressões.

A moça realmente tem uma voz belíssima, que ganha muito realce ao navegar por músicas realmente boas, como A História de Lilly Braun (Chico Buarque/Edu Lobo) ou Rapte-me Camaleoa (Caetano), por exemplo.

A violonista também é uma fera no quesito acompanhar-se, sendo capaz de criar uma base instrumental encantadora e recheada de sutilezas. Ela toca muito bem.

Se pudesse dar um conselho a ela (dizem que se conselhos fossem realmente bons, seriam cobrados, mas as melhores coisas da vida são grátis!), incentivaria a moça a investir um pouco mais em canções alheias e tentar parcerias com outros compositores para criar músicas mais consistentes.

Para ela, gravar um DVD/CD ao lado de Caetano Veloso é um ponto altíssimo em sua carreira, na juventude de seus 24 anos.

E para ele? Leia o próximo post!

Caetano Veloso manda ver seus transambas

Por Fabian Chacur

Nos anos 80, Caetano Veloso tentou uma aproximação mais forte com o rock que se fazia naquela época.

A principal tentativa de um álbum convincente com essa sonoridade new wave, pós-punk ou como você preferir foi Velô (1984).

No entanto, os músicos que participavam na época da banda do genial e sempre controvertido cantor, compositor e músico baiano não se mostraram adequados para a tarefa.

Músicas como Podres Poderes sempre soaram nos meus ouvidos como rocks feitos por quem não gosta de rock, que acha esse estilo musical muito “simples” e tenta complicá-lo de forma tola e excessiva.

Mais de 20 anos depois, o eternamento inquieto tropicalista de origem enfim encontrou os músicos certos para revigorar sua música na direção rocker pós punk.

Os álbuns(2006), Cê ao Vivo (2007) e zii e zie (2009) são misturas vigorosas de rock básico e minimalista, MPB e muito mais.

Pedro Sá (guitarra), Marcelo Callado (baixo) e Ricardo Dias Gomes (bateria), hoje também conhecidos como Banda Cê, esbanjam versatilidade e incorporaram com sapiência influências de Talking Heads, Pixies e outras seminais bandas oitentistas.

MTV Ao Vivo – Caetano zii e zie, que a Universal acaba de lançar em DVD e CD, é outro capítulo impecável dessa fase controvertida e produtiva desse sempre controvertido e produtivo artista.

O repertório mistura músicas dos dois discos de estúdio feitos por eles com releituras instigantes de clássicos do Tropicalismo e pérolas pinçadas de outras eras caetânicas.

O cenário inclui uma asa delta, que, somada às cenas mostradas pelo telão de alta definição, geram a impressão de que os músicos estão voando. E, de certa forma, estão mesmo.

A Voz do Morto, Três das Cores, Maria Bethânia (em versão de arrepiar), Odeio, A Base de Guantánamo e Força Estranha são destaques de um espetáculo vibrante, gravado ao vivo nos dias 7 e 8 de outubro de 2010.

Nos extras, temos um documentário e mais nove músicas gravadas durante a longa temporada Obra Em Progresso, durante a qual Caetano amadureceu o repertório de zii e zie antes de entrar em estúdio para gravá-lo.

Pelo andar da carruagem, Caetano Veloso continuará protagonista do que de melhor a MPB tem para nos oferecer, além de ter vigor suficiente para atrair novas gerações.

Veja o clipe de Odeio, de Caetano Veloso:

Generosos extras tornam o DVD de Uma Noite Em 1967 ainda melhor do que o ótimo documentário

Por Fabian Chacur

Uma Noite Em 67 é um dos melhores documentários já feitos tendo a música popular brasileira como tema.

O filme dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil retrata de forma brilhante o 3º Festival da Música Popular Brasileira, realizado pela TV Record em 1967 e um marco na história de nossa música.

Já escrevi em Mondo Pop sobre a atração.

Agora, tive a oportunidade de conferir a edição em DVD, que merece a palavra sublime como adjetivo a denotar sua alta qualidade.

Aos 85 minutos do filme, foi acrescentado mais ou menos o mesmo tempo de extras.

Esse material amplia o universo abordado pelo documentário de forma magnífica.

Temos, por exemplo, entrevistas com alguns dos integrantes da atuante plateia daquele evento, entre os quais a incrível jornalista Telé Cardim, que rouba a cena com seu carisma e deliciosas memórias.

Foram 12 as músicas finalistas da competição musical. As cinco primeiras foram abordadas no documentário.

Seis das outras sete ficaram para os extras, com direito a detalhes bacanas sobre cada uma delas e a execução das mesmas na íntegra.

Só ficou faltando Ventania, de Geraldo Vandré, que sequer é citada no filme ou nos extras.

Certamente para evitar problemas legais que poderiam ser causados pelo polêmico autor e intérprete. Mas não faz falta…

No segmento intitulado Causos, temos histórias adicionais daquele festival e também da época, contados por Chico Buarque, Caetano Veloso, Marília Medalha, Ferreira Gullar e outros.

Uma Noite em 67, o DVD, é uma fantástica viagem a uma era em que a música no Brasil era encarada como algo que ia muito além de simples notas em partituras interpretadas por seres humanos iguais a nós.

Este DVD equivale a uma verdadeira aula de história e música feita de forma fluente, gostosa e cativante.

Um presentão que todo fã de música popular brasileira de verdade precisa dar para si.

Ouça Ponteio, a vencedora do festival:

Caetano Veloso brilha na trilha de O Bem Amado

Por Fabian Chacur

O Bem Amado é um dos momentos marcantes da dramaturgia no Brasil. Afinal, essa obra de Dias Gomes já gerou novela, peça teatral e seriado de televisão, sempre com sucesso. Agora, chegou a vez do filme, que estreia no final de julho, dia 23, para ser mais preciso.

O excelente ator Marco Nanini teve a mais difícil missão de sua vida, que estou curioso para saber se ele conseguiu encarar: chegar perto, ao menos (já que superar é impossível) a performance do iluminado e saudoso Paulo Gracindo no papel do político picareta e folclórico Odorico Paraguaçu.

Mas a trilha sonora da película (como diriam os antigos) já está nas lojas, lançada pela Universal Music. Vale lembrar que a da novela foi assinada por ninguém menos do que Toquinho & Vinícius e é maravilhosa, com direito a Paiol de Pólvora, Meu Pai Oxalá e O Bem Amado, só para citar três faixas seminais.

No caso do filme, temos dez faixas que se dividem basicamente em três categorias: canções inéditas, temas incidentais instrumentais (alguns com vocalizações) e regravações de clássicos dos anos 60, período no qual a trama se desenvolve.

O destaque fica por conta das duas canções assinadas por Caetano Veloso. Esta Terra, interpretada pelo próprio, é excelente, e tem fortes ecos do Tropicalismo que ele capitaneou com tanta categoria.

A outra é o bolero rasgado A Vida É Ruim, que aparece em versão instrumental e outra com Zélia Duncan, esta última em mais uma interpretação emotiva e perfeita dessa que é uma das melhores cantoras e compositoras brasileiras dos últimos 20 anos.

O setor regravações traz dois momentos diametralmente opostos. De um lado, Zé Ramalho dá um tom mais soturno e intimista a Carcará, composição de João do Valle que foi o primeiro sucesso de Maria Bethânia na metade dos anos 60.

Do outro, Mallu Magalhães mostra sua impressionante limitação como intérprete em Nossa Canção, de Luiz Ayrão e sucesso com Roberto Carlos nos tempos da jovem guarda e recentemente com Vanessa da Mata.

Mallu soa como se fosse uma dessas participantes caricatas dos American Idols da vida, grasnando de forma patética e sem alma uma melodia no mínimo maravilhosa. De longe o pior momento de sua curta carreira. Só o namorado Marcelo Camelo deve ter gostado. Talvez nem ele…

As instrumentais são simpáticas e despretensiosas, com destaque para Chachacha das Cajazeiras e Boogie Sem Nome. Esta última reúne Leo Jaime e três de seus ex-colegas da banda João Penca & Os Miquinhos Amestrados, os impagáveis Selvagem Big Abreu, Bob Gallo e Leandro Verdeal. Ficou bacana, no melhor estilo doo wop/surf music/balada rock and roll.

E tem também Jingle de Odorico, divertido jingle eleitoral de Odorico Paraguaçú no qual temos as vozes de Thalma de Freitas e Nina Becker, que brilham na Orquestra Imperial e em carreiras solo respeitáveis. E A Bandeira do Meu Partido, de e na voz grave e carismática de Jorge Mautner.

São só dez faixas, mas Trilha Sonora do Filme O Bem Amado vale o dinheiro que você pagar nela, apesar do vexame de Mallu Magalhães. Afinal, uma gravação ruim para dez boas equivale a vitória por goleada.

Verdade Tropical-Caetano Veloso, 13 anos depois

Por Fabian Chacur

Em 1997, Caetano Veloso lançou seu primeiro livro de memórias. Intitulado Verdade Tropical, o trabalho influenciou até um disco que lançou mais ou menos na mesma época, que ele intitulou de forma espirituosa Livro.

Na época, não me interessei por lê-lo, ou por viver um momento conturbado em minha vida pessoal, ou por absoluta falta de dinheiro para comprá-lo, ou ainda por temer um amontoado verborrágico de páginas intermináveis.

Sim, Caetano Veloso é um gênio, um artista brilhante, alguém que há muito deixou o seu nome cravado na cultura brasileira com destaque. Mas em algumas ocasiões ele pode ser meio difícil de se digerir. E um livro parecia ser a mídia mais provável para que isso acontecesse de forma exponencial.

Treze anos se passaram. Dentro de uma revistaria situada numa rodoviária de São Paulo há algumas semanas, vi uma edição pocket de Verdade Tropical a preço acessível, e me deu um clique: chegou a hora de ler Caetano.

Me dei bem. Verdade Tropical, que está mais para “Minha Verdade Tropical”, representa pensamentos, opiniões e análises deliciosas de alguém que tem uma infinidade de experiências maravilhosas de vida e que, generosamente, resolveu dividi-las com os interessados.

Não se trata de uma autobiografia tradicional, pois ele, se conta várias passagens de sua existência pessoal e profissional, prefere centrar fogo na experiência do Tropicalismo.

Lendo o livro de Caetano, você terá um belo depoimento de quem esteve no centro da criação de um dos mais importantes movimentos musicais da história da música brasileira, cujos frutos influenciam até hoje a música feita no Brasil e no mundo.

As análises, opiniões e teorias do artista são sempre escritas de forma caudalosa, entusiasmada e ativa, sem subir em cima de muros e sempre tomando partidos nos mais diversos momentos.

O relato dos meses em que ficou preso pela Ditadura Militar, do final de 1968 até meados de 1969, é uma boa oportunidade de se ver o quanto aquele período foi nefasto na vida política do Brasil.

Detalhes sobre músicas fundamentais como Tropicália e Alegria, Alegria também tornam a leitura de Verdade Tropical indispensável para quem é apaixonado por música.

Como não abordou todos os aspectos de sua carreira, fica a esperança de que, um dia, Mr. Veloso possa escrever outro registro desse gabarito, trazendo mais lembranças desses anos intensos de criação e polêmicas de sua vida.

Só não consigo compartilhar de seu entusiasmo por João Gilberto, que para mim foi, é e sempre será um pioneiro que, com o passar dos anos, virou uma espécie de Chuck Berry da bossa nova, refazendo mal a mesma coisa e sendo ultrapassado pelos artistas que influenciou, entre eles o próprio Caetano. Bem, mas essa é a minha verdade tropical…

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