A formação musical de Antonio Adolfo (leia mais sobre ele aqui) foi fortemente impactada pelo surgimento da Bossa Nova. Este genial pianista, compositor e arranjador carioca integra uma geração que podemos nomear de “filhos da bossa”. Nada mais natural do que ele homenagear os 65 anos do mais influente gênero musical brasileiro em termos mundiais.
O recorte escolhido por Adolfo não poderia ter sido mais original e oportuno. Ele resolveu gravar um álbum com composições de dois autores seminais da bossa que ainda estão entre nós. Ou seja, deu a eles as flores em vida. Nasceu, assim, Bossa 65- Celebrating Carlos Lyra and Roberto Menescal, lançado pelo seu selo AAM Music e disponível em CD e também nas principais plataformas digitais.
A escolha dos dois autores não foi aleatória. Um dos primeiros trabalhos do ainda bem jovem Antonio Adolfo como pianista profissional foi no musical Pobre Menina Rica (1963-64), escrito por Carlos Lyra com seu parceiro, o eterno poeta Vinícius de Moraes.
Ao lado de Roberto Menescal, ele participou da banda que gravou os álbuns Elis in London e Elis And Toots Thielemans com Elis Regina em 1969, e posteriormente esteve em vários projetos de “Menesca” enquanto produtor na gravadora Polygram, nos anos 1970.
O álbum tem 10 faixas, cinco de cada um. O repertório traz desde standards mais conhecidos como O Barquinho (Roberto Menescal-Ronaldo Bôscoli) e Marcha da Quarta-Feira de Cinzas (Carlos Lyra-Vinícius de Moraes), a outras escolhidas a dedo nesse repertório tão rico e repleto de coisas boas. Temos até Bye Bye Brasil (Roberto Menescal-Chico Buarque), composição feita para o icônico filme homônimo lançado em 1980.
Incumbindo-se do piano e dos arranjos, Adolfo escalou um timaço integrado por Lula Galvão (guitarra), Jorge Helder (baixo acústico), Rafael Barata (bateria e percussão), Dada Costa (percussão), Danilo Sinna (sax alto) e Rafael Rocha (trombone), com Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn) em duas faixas e Marcelo Martins (sax tenor e flauta) em uma.
A capacidade de Antonio Adolfo como músico e arranjador é espetacular. Sempre elegante, ele sabe como poucos dar a cada músico o seu espaço, gerando dessa forma diálogos sonoros extremamente bem concatenados e bons de se ouvir. Ele aproveita bem as melodias originais e as envolve com harmonias criativas, dando a elas uma roupagem que soa atual, sem perder o espírito original de cada música.
O lado jazzístico surge ao permitir improvisações de cada músico envolvido, sempre na medida certa, mas sem abrir mão da criatividade e ousadia. Isso explica o porque os vários lançamentos recentes do altamente produtivo Antonio Adolfo andam frequentando as paradas de sucesso, playlists e programações de rádios dedicadas ao jazz nos EUA, tornando-o um dos craques do que atualmente rotulam como latin jazz.
Carlos Lyra completou 90 anos de idade no último dia 11, e não poderia ter ganho um presente melhor, assim como Roberto Menescal, também muito produtivo aos 85 anos. Bossa 65- Celebrating Carlos Lyra and Roberto Menescal mostra como fazer uma homenagem à bossa nova sem cair em repetições ou clichês cheirando a naftalina. Bossa com sabor de 2023.
Após 37 anos do lançamento de seu primeiro álbum solo, Bebel Gilberto anuncia para o dia 25 de agosto a chegada de um novo trabalho. E se trata de algo muito, mas muito especial mesmo. Trata-se de João, no qual a cantora e compositora irá reler, pela primeira vez, 11 canções do repertório de seu ilustre pai, ninguém menos do que João Gilberto (1931-2019). Para iniciar a divulgação deste projeto, ela acaba de divulgar a faixa É Preciso Perdoar.
Em texto enviado à imprensa, Bebel explica o que a levou a gravar João:
“João é uma carta de amor ao meu pai. Desde o meu primeiro álbum, eu nunca tinha tocado nenhuma música do meu pai. Agora é hora de apresentar ao público as músicas de João Gilberto que me influenciaram desde que nasci – e até mesmo antes.”
O álbum será lançado pelo selo (PIAS) Recordings, com produção de Thomas Bartlett e mixagem a cargo de Patrick Dillett. Ela explica a escolha da primeira música a ser divulgada deste projeto:
“É Preciso Perdoar é uma das minhas músicas favoritas e, quando decidi fazer o cover, fiquei inicialmente com o coração partido, Enquanto gravava minha versão, fiquei tentando entender como é importante perdoar uma pessoa, em vez de deixar esses sentimentos para trás e nunca resolvê-los, especialmente quando você ainda ama essa pessoa e quer honrar o que vocês construíram juntos. Essa música fala sobre tudo isso e acabou me inspirando tanto que a escolhi para ser o 1º single desse disco tão especial.”
Eis as faixas do álbum João:
1. Adeus América
2. Eu Vim Da Bahia
3. É Preciso Perdoar
4. Undiú
5. Ela E Carioca
6. O Pato
7. Caminhos Cruzados
8. Desafinado
9. Valsa
10. Eclipse
11. Você e Eu
Em março de 1963, foram realizadas em Nova York as sessões de gravação que deram origem a um dos álbuns mais icônicos da música popular mundial, Getz/Gilberto, que seria lançado em 1964. Este disco faturou cinco Grammys, o Oscar da música, e levou de vez a bossa nova para o topo das paradas de sucesso do mundo inteiro.
Como forma de celebrar essa efeméride bacana, a cantora Ithamara Koorax apresenta nesta sexta (5) às 19h30 no Sesc Avenida Paulista (Avenida Paulista, nº 119- fone 11-3170-0800) um show no qual mostrará na íntegra o repertório deste trabalho, com ingressos de R$10,00 a R$ 30,00.
Para encarar uma missão tão árdua, não poderia ter sido escolhida alguém com mais atributos e currículo do que Ithamara. Além de ter lançado em 2013 o CD The Girl From Ipanema- Ithamara Koorax Sings Getz/Gilberto, com as suas releituras do repertório deste LP, ela também teve relação próxima com os músicos envolvidos, como explica a seguir:
“Por uma incrível coincidência, que prefiro chamar de sincronicidade, além de conviver com João e estudar profundamente a obra dele, trabalhei com Jobim, Tião Neto (que foi meu namorado e quem me apresentou a Tom Jobim) e Milton Banana. Inclusive, a última gravação de Jobim foi em meu disco Rio Vermelho. Ou seja, trabalhei com todos os músicos brasileiros que gravaram o icônico Getz/Gilberto. Fui a única cantora no mundo a trabalhar com todos eles. Um privilégio gigante”!
Ithamara Koorax terá a seu lado uma banda composta pelos experientes músicos Hector Costita (sax tenor), Paula Faour (piano), Jorge Pescara (baixo), Cesar Machado (bateria), Arnaldo DeSouteiro (percussão e direção musical) e Rodrigo Lima (violão).
DeSouteiro, extremamente bem-sucedido produtor musical e jornalista, também fará as vezes de mestre de cerimônias, falando sobre o álbum Getz/Gilberto e todo o contexto em torno da reunião do ícone da bossa nova com o saxofonista norte-americano Stan Getz.
Além do álbum na íntegra, ithamara também interpretará algumas composições de João Gilberto, ela que há 10 anos lançou o álbum Bim Bom- The Complete João Gilberto Songbook, que há pouco foi enfim disponibilizado nas plataformas digitais.
O show também será apresentado neste sábado (6) na cidade de Araraquara (SP), mais precisamente no Sesc Araraquara.
Ao receber a triste notícia da morte de Gal Costa em 9 de novembro deste ano, Marcos Valle reagiu criando uma delicada melodia no piano, inspirado pela chuva que caía e que rememorou Chuva de Prata (Ed Wilson-Ronaldo Bastos), de 1984, um dos grandes hits da cantora. Logo, surgiu a ideia de mandar a nova criação para que Joyce Moreno, grande amiga da cantora, se incumbisse da letra. Nascia A Chuva Sem Gal, canção lançada nesta terça-feira (20) nas plataformas digitais pela Biscoito Fino.
Em depoimento enviado à imprensa, Joyce Moreno explica como foi escrever esses lindos versos:
“Eu estava mexidíssima. Foi como se um pedaço do coração do Brasil tivesse parado de bater, naquele momento. Aí, eu recebi essa melodia linda do Marcos. Escrevi a letra chorando muito: achei que não conseguiria, mas ela saiu, na emoção da hora. No dia seguinte eu fiz os últimos ajustes e mandei pra ele, que imediatamente me disse que tinha adorado”.
A Chuva Sem Gal nasce já clássica, com um sentimento genuíno que a faz ficar muito longe de um possível oportunismo que alguns poderiam encarar nesse tipo de homenagem. Aqui, tudo soa genuíno. Além de Joyce no vocal e Marcos Valle no vocal e piano, temos Tutty Moreno (bateria), Jorge Helder (baixo) e Jessé Sadoc (flugelhorn). Onde estiver, Gal deve ter amado.
A Chuva Sem Gal (clipe)- Joyce Moreno e Marcos Valle:
O Barquinho é um dos grandes clássicos do repertório da bossa nova. Com aproximadamente três mil regravações pelo mundo afora, a canção de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli volta em uma releitura de seu autor, parte integrante do álbum dirigido ao público infantil Bossinha Legal, lançado pela gravadora Deck. O registro reúne Menescal, sua nora, a cantora Georgeana Bonow (também conhecida como Tia Gê) e a netinha Maria Júlia, e está sendo divulgada por uma animação fofa.
O clipe, no melhor estilo desenho animado das antigas, leva a assinatura das irmãs gêmeas Bruna e Erika Carvalho, radicadas há quatro anos no Canadá e filhas de Giselle Kfuri, produtora de Roberto Menescal há mais de 20 anos. O grande cantor, compositor e violonista explica a motivação em torno deste clipe:
“O clipe ficou uma delícia, emocionante estarmos em família nesse trabalho, a família da arte, da música, do desenho, tudo isso é muito bom de ver e sentir. Eu nunca imaginei que na minha idade iria ver essa renovação da minha música. Espero poder levar muitas outras crianças nesse passeio!”
No início de 2020, Marcos Valle se preparava para fazer a turnê de lançamento de seu novo álbum, Cinzento, quando a pandemia do novo coronavírus adiou os shows presenciais pelo mundo afora. Mesmo com a situação ainda não totalmente normalizada, as apresentações ao vivo estão voltando, e enfim o lendário cantor, compositor e músico mostrará o novo trabalho com shows em São Paulo nesta sexta e sábado (3 e 4), às 21h, no teatro do Sesc Pompeia (rua Clélia, nº 93- Pompeia- mais informações aqui).
Cantando e tocando teclados, o incrível músico com fãs nos quatro cantos do mundo irá apresentar na íntegra o repertório do novo álbum, acompanhado por uma banda afiadíssima composta por Patricia Alvi (vocal), Jessé Sadoc (trompete, flugel e teclado), Jefferson Lescowich (baixo), Guilherme Lirio (guitarra) Renato Massa Calmon (bateria) e Dudu Viana (teclados).
Dois de seus parceiros nas canções de Cinzento marcarão presença nos dois shows. São eles Bem Gil (filho de Gilberto Gil), que escreveu com ele Se Proteja, e Moreno Veloso (filho de Caetano Veloso), coautor de Redescobrir. Como não poderia ser diferente, o show também incluirá alguns dos inúmeros clássicos do repertório de Marcos Valle, entre eles Estrelar e Parabéns.
Antonio Adolfo teve o privilégio de iniciar a sua brilhante carreira como músico nos anos 1960, quando o Brasil vivia uma efervescência musical acompanhada com muito prazer por seu próprio povo e também no exterior. Nesse contexto, a bossa nova era um dos principais caminhos, e nele, havia um Maestro Soberano, um certo Tom Jobim. Que não só o inspirou como também se tornou um amigo querido. E agora chega a vez de homenagear esse grande craque. Aliás, caso típico de um craque homenageando o outro: Jobim Forever (AAM Music), já disponível nas plataformas digitais e em CD.
Antes de iniciar a análise do trabalho em si, valem algumas palavrinhas introdutórias. Já li e ouvi por aí muitas restrições em relação a novas releituras da obra de Tom Jobim, especialmente quando engloba momentos mais conhecidos de seu maravilhoso songbook. Sim, muita gente já bebeu nessa fonte. E daí? Cada novo trabalho lançado com este repertório merece ser analisado de forma individual, deixando de lado preconceitos. E, neste caso aqui, estamos a anos luz de uma abordagem conservadora, diluída ou mesmo conformista-comercial. O sarrafo é bem alto.
Aos bem vividos 74 anos de idade (vale lembrar que Jobim nos deixou em 1994, aos 67 anos), Antonio Adolfo esbanja vitalidade, criatividade e produtividade, lançando novos trabalhos em períodos relativamente curtos e sempre buscando oferecer ao seu ouvinte um produto artístico de primeiríssima qualidade. E não seria justo com músicas de um dos artistas que mais o influenciaram que ele deixaria essa peteca ir ao chão.
Novamente acompanhado por uma banda integrada por craques do gabarito de Lula Galvão (guitarra), Jorge Helder (contrabaixo), Paulo Braga (bateria), Rafael Barata (bateria), Jessé Sadoc (trumpete e flugelhorn), Danilo Sinna (sax alto), Marcelo Martins (sax tenor e soprano e flauta), Rafael Rocha (trombone), Dada Costa (percussão) e Zé Renato (vocais em A Felicidade), Antonio pilota seu piano com a fluência habitual, com direito àqueles timbres maravilhosos que o caracterizam e um swing que só quem tem muito talento e ama o que faz pode nos oferecer com tanta categoria.
Os arranjos são de uma inspiração ímpar, e seguem um padrão com cara jazzística, pois nos apresentam as melodias originais com muita categoria e depois abrem espaços para que os diversos instrumentos envolvidos deem seus recados, em uma coesão perfeita e explorando elementos presentes nas composições e os expandido com uma fluência simplesmente impressionante. Toda essa criatividade, vale registrar, a serviço dos nossos ouvidos, pois Jobim Forever é daqueles discos que fluem deliciosamente a cada nova audição.
O repertório traz nove faixas, sendo oito delas composições lançadas dos anos 1960 e uma nos 1950. Certamente Antonio Adolfo mergulha nos seus anos formativos, relendo músicas que provavelmente tocou nos bares da vida e com suas bandas daqueles mágicos anos 1960 e 1970. Entre outras, temos aqui The Girl From Ipanema, Wave, A Felicidade e Estrada do Sol, tocadas com uma excelência e inspiração incomparáveis.
Tom Jobim foi certamente um dos grandes nomes da história da música brasileira e mundial, e uma das suas marcas era uma generosidade e humildade impressionantes. Consigo imaginar o sorriso que ele abriria ao ouvir esse álbum, uma obra-prima que está liderando há semanas a parada da revista americana JazzWeek. Certamente iria render um bom papo entre esses dois gênios, regado a belas reminiscências, uisquinho e chopes. O título deste álbum é simples, e diz tudo. Mas vou além: Antonio Adolfo Forever!
Coincidência triste o fato de Casa Que Era Minha ser lançada nesta sexta (7), um dia após o terrível morticínio ocorrido no Rio de Janeiro, vitimando 25 pessoas. A composição, que marca a primeira parceria entre Ivan Lins, Joyce Moreno e Marcos Valle, está disponível nas plataformas digitais pela gravadora Deck. Um clipe gravado de forma remota também pode ser curtido, como forma de ilustrar um “sambossa” de tom agridoce que ao mesmo tempo homenageia e lamenta o atual estado de coisas na outrora Cidade Maravilhosa.
Essa canção já nasceu clássica, e conta com uma letra repleta de sutileza e lirismo escrita por Joyce Moreno, que canta e toca seu violão envolvente. Ivan Lins e Marcos Valle, que se incumbiram dos teclados, também se alternam com a cantora nos vocais. Completam o time de músicos Alberto Continentino (baixo), Renato Massa Calmon (bateria) e Jessé Sadoc (flugelhorn). O resultado é um banho de delicadeza e melancolia, que no entanto injeta esperança em que a ouvir de que tempos melhores possam invadir o nosso querido Rio de Janeiro.
Eis a letra de Casa Que Era Minha:
Minha bem amada
Casa que era minha
Quem te maltratou
Te fez tão sozinha
Diga
Musa abandonada
Por tudo que tinha
Quem vai te salvar
Das aves daninhas
Diga
Quem me dera te proteger
Desses tantos perigos
Aquela que é mãe pra nós
E que nos criou
Com sua voz
Ó cidade amada
Minha patriazinha
Deixa eu te abraçar
Sonhar que ainda és minha
Minha
Casa Que Era Minha (videoclipe)- Ivan Lins, Joyce Moreno e Marcos Valle:
Já tem data para chegar às plataformas digitais, com distribuição da gravadora Lab 344, o álbum de estreia do duo Parde2. Autointitulado, o trabalho estará disponibilizado no dia 25 de setembro. Como forma de antecipar a sua divulgação, três de suas faixas já estão sendo divulgadas. A primeira, A Estrela e o Astronauta, parceria da dupla com o músico e produtor Mu Chebabi, deu início à estratégia há algumas semanas, uma bela balada pop swingada com direito a um estiloso clipe de animação.
Se a dupla ainda dá seus primeiros passos, seus integrantes possuem um belíssimo currículo. A cantora Cris Delano é bastante conhecida no Brasil e exterior por seu trabalho em cima de uma sonoridade bossa lounge com toques eletrônicos, em álbuns solo e também em parceria com o grande mestre Roberto Menescal. Por sua vez, o produtor e músico Alex Moreira tornou-se conhecido ao integrar o inovador trio Bossacucanova, com vários álbuns e shows realizados.
As duas novas faixas recém-divulgadas são amostras de rumos seguidos por eles em seu trabalho de estreia. Dispositivos Móveis, assinada pelos dois, é um pop-rock com elementos eletrônicos que poderia estar em um dos discos lançados por Rita Lee e Roberto de Carvalho na primeira metade dos anos 1980. Tipo Lua de Mel (escrita por eles com o hitmaker Gabriel Moura) já segue uma levada mais bossa latina eletrônica.
Com um total de 10 faixas, Parde2 (o álbum) traz colaborações com nomes seminais da nossa música, como Marcos Valle (Deixa a Noite Nos Levar), Hyldon (Sábado Passado) e Carlos Lyra+Bossacucanova (Só Quero Amor). Tomara que também tenhamos formato (s) físico (s) deste promissor trabalho.
Eis as faixas do álbum Parde2:
1 – Happiness in the Sugar Loaf (Cris Delanno / Alex Moreira)
2- Parde Dois (Cris Delanno / Alex Moreira)
3- Calçadão (Cris Delanno / Alex Moreira / DJ Meme)
4- A Estrela e o Astronauta (Cris Delanno / Alex Moreira / Mu Chebabi)
5- Tipo Lua de Mel (Cris Delanno / Alex Moreira / Gabriel Moura)
6- De Boa (Cris Delanno / Alex Moreira / Julia Bosco)
7- Só Quero Amor (Cris Delanno / Bossacucanova / Carlos Lyra)
8- Sábado Passado (Cris Delanno / Alex Moreira / Hyldon)
9- Deixa A Noite Nos Levar (Cris Delanno / Alex Moreira / Marcos Valle)
10- Dispositivos Móveis (Cris Delanno / Alex Moreira)
A cantora Alexia Bomtempo nasceu em Washington D.C. (EUA), filha de pai brasileiro e mãe americana. Foi criada no Brasil, mas com várias passagens por seu país de origem. Isso criou uma espécie de dualidade cultural em sua formação pessoal que se refletiu em uma trajetória musical com mais de 10 anos.
Há quase oito anos radicada em Nova York, Alexia está lançando Suspiro (que saiu no Brasil pela Lab344, ouça aqui), seu quarto álbum, no qual mergulha em uma visão própria da bossa nova, com direito a canções autorais, inéditas de outros compositores e clássicos nada óbvios daquele movimento musical, de autores como Jorge Ben Jor, João Donato e Edu Lobo.
Em entrevista feita por email a MONDO POP, ela conta tudo sobre o novo trabalho e também nos dá uma geral em sua interessante e bastante consistente trajetória como cantora e compositora.
MONDO POP- Suspiro, seu novo álbum, é um trabalho bem diferente do seu álbum anterior, mais voltado para o pop-rock. Este novo tem um espírito bem de bossa moderna. Como surgiu a ideia de fazer um CD com essa sonoridade?
ALEXIA BOMTEMPO– Eu passei uns meses em Tokyo fazendo uma residência de jazz e tive uma espécie de “reencontro” com a bossa nova. Fiz um mergulho naqueles discos que foram a base da minha formação musical, comecei a compor músicas novas e convivi muito com amigos e fãs japoneses completamente apaixonados por bossa nova. Voltei pra Nova York com a ideia de fazer um album que explorasse esse universo.
MONDO POP – O repertório de Suspiro mescla faixas inéditas e releituras nada óbvias. Que critérios você seguiu para fazer a seleção? Desde o início a ideia era mesclar idiomas (português, francês e inglês)?
ALEXIA BOMTEMPO– A gente já tinha o conceito do álbum, que era saudar esse movimento samba-bossa-jazz dos anos 60 e 70, mas com um pensamento moderno. Apesar de fazer minhas próprias músicas, sempre gostei de cantar canções de outros compositores. Adoro pesquisar repertório e encontrar pérolas, relembrar músicas que foram lançadas lá atrás com roupagem diferente. Eu, o Jake e o Stéphane fomos trocando ideias e selecionando o repertório de forma colaborativa. Sou naturalmente bilíngue, sempre cantei em inglês e português e com esse álbum não poderia ser diferente. A bossa nova tem ligação forte com a cultura francesa e achamos bacana explorar esse idioma também.
MONDO POP- Como ocorreu a seleção das faixas inéditas? O objetivo era misturar canções de sua autoria com as de outros compositores ou isso acabou ocorrendo naturalmente?
ALEXIA BOMTEMPO– O objetivo era esse, mas tudo aconteceu naturalmente. Eu já tinha algumas músicas prontas, depois fiz outras com o Jake pensando mais no conceito do álbum. O Stéphane estava passando uns dias no Rio nessa fase de pré-produção do disco e pediu canções inéditas ao Alberto Continentino e ao Domenico Lancellotti – dois compositores que eu adoro.
MONDO POP- A sonoridade do álbum é muito coesa, delicada e elegante, e soa como um trabalho de banda. Essa era a sua ideia inicial? Escolheu os músicos pensando nisso?
ALEXIA BOMTEMPO– Sim, a ideia era fazer um disco com essa sonoridade de banda. Chamamos o pianista Vitor Gonçalves e o baixista Eduardo Belo (ambos brasileiros radicados em Nova York), que já vinham tocando com o Stéphane num outro projeto de samba-jazz. Foi bacana, porque já existia todo um entrosamento. O Jake, apesar de ter muita experiência com música brasileira, vem de uma formação mais jazz e blues que somou muito pra chegarmos nesse lugar delicado, elegante e internacional.
MONDO POP- Qual a importância dos produtores Jake Owen e Stéphane San Juan na concretização do álbum Suspiro, e como rolou o dueto com Stéphane em Les Chansons D’Amour?
ALEXIA BOMTEMPO– O Jake e o Stéphane foram fundamentais. Eles são produtores fantásticos, pessoas lindas e profissionais incríveis. Todo o processo de feitura do disco se deu de uma forma muito leve, divertida e colaborativa – desde a escolha do repertório. Achamos que seria interessante ter uma música em francês, pela bossa nova ter um elo tão vivo com a cultura francesa e o Stéphane fez a letra pra música do Alberto Continentino, que resultou em Les Chansons D’Amour. O dueto também é uma referência aos duetos clássicos de bossa nova. A voz grave do Stéphane combinou muito com a minha e acho que a gravação transporta o ouvinte para outra atmosfera. Ah, e o Stéphane é francês!
MONDO POP- Fale um pouco sobre o clima das gravações, se você gravou com os músicos ao mesmo tempo ou naquele esquema de ir criando aos poucos a base instrumental para depois colocar a voz.
ALEXIA BOMTEMPO– Gravamos no SuperLegal Studio (do Jake e do percussionista Mauro Refosco) que fica no Brooklyn, tudo ao vivo, com os músicos tocando ao mesmo tempo, “como se fazia antigamente” – inclusive a voz. Os arranjos foram feitos na hora, sem muito ensaio. Eu, o Jake e o Stéphane já tínhamos escolhido o repertório e conhecíamos as músicas, mas o Eduardo e o Vitor foram ouvindo as ideias na hora, deixando a criatividade fluir, e contribuíram imensamente na elaboração de cada faixa. Foi muito leve e divertido, gravamos as bases em dois dias e depois convidamos o trompetista Michael Leonhart para participar. Ele é um músico fantástico e apaixonado por bossa nova. Também chamamos o guitarrista Guilherme Monteiro para participar da faixa “Les Chansons D’Amour” e ele fez o arranjo no violão rapidamente, de uma forma muito natural. Eu amei fazer um disco assim, livre (e em pouco tempo).
MONDO POP- Gostaria de que você me lembrasse um pouco de suas origens, sendo filha de um brasileiro e de uma americana e tendo nascido em Washington. Foi criada lá ou aqui? E como foi essa criação em termos musicais, o que seus pais ouviam, o que você ouvia na infância e adolescência?
ALEXIA BOMTEMPO– Eu fui criada nos Estados Unidos e no Brasil. Minha vida foi meio partida entre os dois países, foram muitas idas e vindas ao longo dos anos. Sempre me senti dividida, e as influências das duas culturas se misturam muito dentro de mim. A minha formação musical também foi assim, misturada. Em casa a gente ouvia os clássicos do Brasil (Caetano, Gil, Djavan, Tom Jobim, Gal, Rita Lee, João Gilberto) e da América do Norte (Bob Dylan, Billie Holiday, Joni Mitchell, Janis Joplin, Leonard Cohen). Meu pai era produtor cultural em Petrópolis, então tive a sorte de crescer na coxia, assistindo de perto os shows dos grandes nomes da música brasileira. Foi uma infância muito estimulante e eu sempre soube que queria fazer parte daquele mundo algum dia.
MONDO POP- Relembre um pouco suas primeiras experiências musicais, e em que momento você decidiu que esse seria o seu projeto profissional, ser uma cantora e compositora.
ALEXIA BOMTEMPO– Durante a minha infância e pré-adolescência no Brasil, estudei teatro no Tablado. Já gostava de cantar, mas comecei no teatro. Já com 17 anos e morando nos Estados Unidos, entrei para o coral da escola e comecei a me destacar. E então resolvi abraçar a música de vez. Voltei pro Brasil, montei uma banda e toquei na noite durante um tempo. Depois, resolvi estudar canto lírico nos Estados Unidos e fiquei na faculdade por dois anos antes de voltar novamente ao Brasil. Conheci o produtor Sérgio Carvalho, que produziu minha primeira demo e depois me apresentou seu irmão Dadi – que se tornou um grande amigo, um padrinho musical e produziu meu primeiro disco, Astrolábio.
MONDO POP- O que te levou a se mudar para Nova York há quase oito anos?
ALEXIA BOMTEMPO– Eu estava lançando o meu segundo disco I Just Happen to Be Here com canções em inglês do Caetano Veloso que me abriu algumas portas fora do Brasil. Já vinha passando umas temporadas em Nova York, sempre fui fascinada pela energia da cidade, pelo aspecto internacional da arte feita aqui e estava cultivando colaborações musicais – queria fazer parte disso. Fui convidada para tocar no Brasil Summerfest e resolvi vir com uma passagem só de ida – se a coisa fluísse, eu ficava. E assim fiquei de vez.
MONDO POP- Astrolábio foi o seu álbum de estreia, como você o encara com os olhos e ouvidos de hoje?
ALEXIA BOMTEMPO– Acho que o Astrolábio (n.da r.: lançado em 2008 pela EMI) é um disco de descobrimento, que representa o meu encontro musical com o Dadi, um retrato da minha vida naquela época. É um disco carioca, “feito à mão”, sem pressa, com amizade e doçura.
MONDO POP- I Just Happen To Be Here foi uma bela ideia, um recorte provavelmente inédito da produção do Caetano Veloso de 1969 a 1972 em inglês em um período conturbado e criativo da vida dele. Fale um pouco sobre esse projeto e como encara a sua repercussão.
ALEXIA BOMTEMPO– A ideia foi do Felipe Abreu, um dos produtores do disco, junto com o Dé Palmeira. O Felipe foi meu preparador vocal e se tornou um grande amigo e conselheiro. Um dia, durante uma aula, cantei London, London e ele teve a ideia de fazermos um disco com o repertório em inglês do Caetano. O conceito era buscar “despir” as canções da carga política e emocional da época em que foram feitas e trazê-las pra perto de mim, da minha história partida entre dois países, duas culturas, duas línguas. Foi um desafio muito interessante, tenho muito orgulho desse disco. E Caetano gostou da homenagem.
MONDO POP- Suspiro saiu primeiro no Japão, país que tem um público muito grande para a bossa nova. Você já tocou lá, tem bons contatos lá? E como foi a reação do público japonês para este álbum?
ALEXIA BOMTEMPO– Tenho muito amor pelo Japão. O público me acompanha desde o início, já fiz várias turnês e residências e tenho muitos amigos queridos por lá. A ideia do Suspiro surgiu justamente quando eu estava passando uma temporada no Japão e achei muito significativo o fato de o disco ter sido lançado lá primeiro. Eles adoraram.
MONDO POP- O lançamento de Suspiro será só no formato digital ou teremos versões físicas (CD, vinil etc)?
ALEXIA BOMTEMPO– Temos o CD nos Estados Unidos e no Japão. A ideia é fazer vinil também, mas agora as fábricas estão paradas por causa da pandemia. Então futuramente, espero que sim.
MONDO POP- Como tem sido para você esse período da quarentena? Muitos artistas tem feito lives, você pensa em fazer algo assim (se é que já não fez…)?
ALEXIA BOMTEMPO– Tem dias que são melhores do que outros. Eu gosto de ficar em casa e tenho aproveitado o tempo pra descansar, compor, ouvir discos, cozinhar, ler… Mas a sensação de não saber como serão os próximos meses é desconcertante e causa muita ansiedade. Estar lançando um álbum novo nesse período tem sido interessante. Muita gente tem me falado que o disco acalma e traz paz de espírito, que é a trilha sonora ideal para esses tempos difíceis – isso é muito gratificante. Tenho feito lives, sim, mas aos poucos e com cuidado, pois também acho que a internet está ficando saturada de conteúdo superficial. É uma maneira bacana de se manter conectado com o público, mas sinto muita saudade da troca que acontece ao vivo, no palco.
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