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The Rolling Stones anunciam Angry e Hackney Diamonds

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Por Fabian Chacur

Esta véspera de feriado no Brasil veio com uma ótima surpresa para os fãs de classic rock. Já está disponível nas plataformas digitais Angry, o 1º single a ser divulgado do aguardadíssimo álbum Hackney Diamonds, que marca o retorno dos Rolling Stones ao universo dos trabalhos só de composições inéditas após 18 anos de A Bigger Bang (de 2005).

Hackney Diamonds está programado para sair em diversos formatos no dia 20 de outubro via Universal Music. Serão 12 novas composições, gravadas em diversos estúdios localizados nos EUA, Londres e Nassau (nas Bahamas). O trabalho terá provavelmente a participação especial de ninguém menos do que Paul McCartney e Ringo Starr, o que será confirmado em breve.

O álbum também marca a primeira colaboração da agora sessentona banda com o produtor e músico Andrew Watt, conhecido por seus trabalhos ao lado de Pearl Jam, Iggy Pop e Elton John, e ganhador de um Grammy como melhor produtor do ano em 2021

Angry, o single, é o que se poderia esperar de uma música para abrir a divulgação de um álbum dessa banda icônica. Trata-se de um rock básico, com riffs certeiros e andamento compassado na melhor tradição de Mick Jagger e Keith Richards. Na segunda audição você já está cantando o refrão junto com eles. Tipo da canção feita para ninguém ficar bravo…

O clipe é muito divertido. Dirigido por François Rousselet, tem como estrela a bela atriz norte-americana Sydney Sweeney, conhecida por seus trabalhos em séries como The White Lotus, Euphoria e The Handmaid’s Tale. Ela incorpora uma roqueira vestida a caráter e passeando pelas ruas em um carrão conversível olhando versões animadas de antigos outdoors com imagens dos Stones dos anos 1960 pra cá.

Angry (clipe)- The Rolling Stones:

Mick Jagger: 80 anos dos lábios mais famosos do rock and roll

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Por Fabian Chacur

Em 1970, o designer britânico John Pasche criou um símbolo que se tornou um dos ícones mais famosos e facilmente identificáveis de todos os tempos. Esse logo surgiu para representar uma então já mundialmente famosa banda de rock, baseando-se em uma das marcas registradas de seu integrante mais destacado. E esse cidadão, um certo Mick Jagger, completou 80 anos de idade nesta quarta-feira (26) com símbolo da eterna juventude.

O cantor, músico e compositor que criou os Rolling Stones junto com o também icônico Keith Richards em 1962 equivale a uma verdadeira façanha ambulante. Afinal de contas, não são muitos os profissionais que podem se gabar de se manter relevantes e cultuado por milhões de pessoas durante seis longas décadas, onde milhares de artistas e grupos surgiram e sumiram de cena como que por passe de mágica.

Jagger se tornou o template do vocalista de banda de rock, com sua presença de palco energética, carismática e repleta de cumplicidade com as plateias. Tive a honra de ver os três shows dos Stones em janeiro de 1995 no Hollywood Rock em São Paulo, no estádio do Pacaembu, e fiquei impressionado com a capacidade do cidadão em verdadeiramente reger as plateias. Poder que ele mantém até os dias de hoje.

Grande cantor e performer, ele também possui no currículo a coautoria de alguns dos maiores clássicos do rock and roll, maravilhas do porte de (I Can’t Get No) Satisfaction, Jumpin’ Jack Flash, Start Me Up, Brown Sugar, Miss You, The Last Time e Street Fighting Man, entre dezenas de outros.

Como todos sabem (ou deveriam saber), só talento artístico não possibilita uma permanência tão grande, e Mick Jagger soube usar seu tino para os negócios como forma de se manter firme na cena cultural, além de multiplicar sua fortuna. E sua sacada de gênio ocorreu quando ele e Richards resolveram criar a Rolling Stones Records (RS Records) em 1970.

De forma inteligente, a RS Records criou como padrão assinar contratos de parceria com grandes gravadoras que se incumbiriam da prensagem, divulgação e distribuição dos discos que lançariam. Mas o pulo do gato era sempre realizar compromissos com prazo pré-determinado, sendo que, quando encerrados, Jagger e Richards levavam consigo todo o acervo que tivessem criado em cada período.

Dessa forma, e também graças ao sucesso dos álbuns e singles que lançaram, os Stones enriqueceram ainda mais a cada novo contrato de distribuição, tendo passado por Atlantic, EMI, Sony/CBS, Virgin e Universal Music. Sempre com direito a relançamentos e reaproveitamento de material antigo de modo inteligente e lucrativo. Mick virou o real Tio Patinhas do rock.

Jagger também soube manter a sua forma física, o que lhe permite até hoje esbanjar energia nos palcos, com poucos e raros momentos de problemas de saúde. Até as marcas do tempo aparentes em seu corpo se mostram verdadeiras provas de um vencedor que soube enfrentar os inúmeros desafios apresentados aos artistas para se manterem na crista das ondas.

O cantor dos Rolling Stones também desenvolve uma carreira solo que, se não teve tanto sucesso como a de sua banda, ainda assim mostrou que ele poderia sobreviver dignamente dessa forma, se quisesse. Mas é fato que Jagger e Richards amam esse tal de rock and roll e amam fazer isso juntos, tanto que vem aí um novo álbum da banda, mesmo após a perda do baterista Charlie Watts. E novos shows. Yeah, yeah, yeah, wow!

Brown Sugar– The Rolling Stones:

The Rolling Stones lançam mais um trabalho gravado ao vivo

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Por Fabian Chacur

Nos últimos anos, os Rolling Stones estão lançando uma extensa série de registros ao vivo da banda em várias fases de sua longa carreira. Agora, chegou a vez de Grrr Live!, disponível nas plataformas digitais e também em vários formatos físicos: LP triplo em vinil preto, LP triplo em vinil branco (exclusivo Indies), LP triplo em vinil vermelho (exclusivo d2c), CD duplo, DVD + CD duplo, BluRay + CD duplo (saiba mais aqui). As versões Blu-ray e digital têm som com Dolby Atmos.

Grrr Live! foi gravado durante a turnê 50 & Counting Tour, que entre 2012 e 2013 celebrou os 50 anos de estrada do grupo liderado por Mick Jagger e Keith Richards. O registro predominante neste lançamento ocorreu em 15 de dezembro de 2012 nos EUA em Newark, New Jersey. Essa apresentação teve transmissão na época em pay-per-view, mas agora temos uma nova versão reeditada e com áudio remixado.

Um dos principais atrativos fica por conta das participações especiais de estrelas da música como Bruce Springsteen, The Black Keys, Gary Clarke, John Mayer, Lady Gaga e o ex-guitarrista dos Stones, Mick Taylor.

Eis as faixas de GRR Live!:

CD 1

Get Off Of My Cloud
The Last Time
It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It)
Paint It Black
Gimme Shelter (with Lady Gaga)
Wild Horses
Going Down (with John Mayer and Gary Clark Jr)
Dead Flowers
Who Do You Love? (with The Black Keys)
Doom And Gloom
One More Shot
Miss You
Honky Tonk Women
Band Introductions

CD2

Before They Make Me Run
Happy
Midnight Rambler (with Mick Taylor)
Start Me Up
Tumbling Dice (with Bruce Springsteen)
Brown Sugar
Sympathy For the Devil
You Can’t Always Get What You Want
Jumpin’ Jack Flash
(I Can’t Get No) Satisfaction

Wild Horses (live)- The Rolling Stones:

The Rolling Stones lança álbum ao vivo gravado no ano de 2012

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Por Fabian Chacur

Nos últimos anos, os Rolling Stones estão oferecendo à sua imensa legião de fãs um número enorme de lançamentos extraídos de seus arquivos de áudio e vídeo. Desta vez, eles acabam de divulgar que sairá no dia 10 de fevereiro de 2023 Grrrr Live!, que será disponibilizado nas plataformas digitais e também sairá em CD duplo, LP triplo de vinil e pacotes DVD+CD duplo e Blu-Ray+CD duplo, com algumas variações atraentes para os colecionadores.

Para quem acha que já ouviu esse título antes, você está certo. Grrr! é o nome de uma coletânea dupla de hits da banda lançada em 2012. E o novo material lançado por Mick Jagger e seus asseclas foi gravado ao vivo naquele mesmo ano, mais precisamente em dezembro, em show realizado no Previdential Centre de Newark, New Jersey, durante a turnê 50’s & Counting, que celebrou os 50 anos de estrada do grupo.

Dando uma bela geral nos seus maiores hits, os Stones também contaram com participações mais do que especiais no show, entre elas as de Bruce Springsteen, Lady Gaga, The Black Keys e John Mayer.

Eis as faixas incluídas em GRR Live!:

CD1

Get Off Of My Cloud
The Last Time
It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It)
Paint It Black
Gimme Shelter (with Lady Gaga)
Wild Horses
Going Down (with John Mayer and Gary Clark Jr)
Dead Flowers
Who Do You Love? (with The Black Keys)
Doom And Gloom
One More Shot
Miss You
Honky Tonk Women
Band Introductions

CD2

Before They Make Me Run
Happy
Midnight Rambler (with Mick Taylor)
Start Me Up
Tumbling Dice (with Bruce Springsteen)
Brown Sugar
Sympathy For the Devil
You Can’t Always Get What You Want
Jumpin’ Jack Flash
(I Can’t Get No) Satisfaction

Veja o trailler do DVD/Blu-Ray de Grrr Live!:

Mick Jagger lança a canção-tema de série da Apple TV+

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Por Fabian Chacur

Enquanto prepara novidades com os Rolling Stones para breve, Mick Jagger nos oferece um novo single solo. Trata-se de Strange Game, canção com ecos dos anos 1960 e também do hit setentista The Passenger, de Iggy Pop. A música é o tema principal da série televisiva Slow Horses, que estreou esta semana exclusivamente no canal de streaming Apple TV+, estrelada pelo consagrado ator britânico Gary Oldman.

O vocalista dos Rolling Stones escreveu essa música (que também lembra a fase inicial do grupo nos anos 1960) em parceria com o compositor e músico Daniel Pemberton, conhecido por criar trilhas para filmes como The Counselor (de Ridley Scott), Steve Jobs (de Danny Boyle) e The Man From UNCLE (de Guy Ritchie), entre muitos outros, e também para séries e filmes concebidos para TV. Saiba mais sobre a série aqui.

Strange Game (clipe)- Mick Jagger:

Keith Richards lança edição super deluxe do álbum Main Offender

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Por Fabian Chacur

Main Offender (1992), segundo álbum-solo de estúdio de Keith Richards, será relançado em vários formatos físicos e também nas plataformas digitais no dia 18 de março pela gravadora BMG. Entre as opções físicas, teremos CD simples, LP de vinil simples, CD duplo e uma caixa super deluxe incluindo três LPs de vinil e dois CDs (além de encartes e vários elementos colecionáveis). No Brasil, provavelmente só teremos a versão digital, mas ainda não há uma confirmação oficial.

O material proporciona aos fãs uma versão remasterizada do álbum original, com 10 faixas, e também um disco ao vivo gravado na época do lançamento original, intitulado Winos Live In London ’92 e no qual o guitarrista dos Rolling Stones é acompanhado por sua banda X-Pensive Winos, que traz em sua formação músicos fantásticos como Waddy Wachtel e Steve Jordan. O show foi gravado no Town & Country Club, Kentish Town, em Londres.

How I Wish (Live In London ’92)- Keith Richards & X-Pensive Winos:

Cat Power divulga mais duas músicas de seu álbum Covers

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Por Fabian Chacur

Chan Marshall, cantora, compositora e produtora americana mais conhecida pelo nome artístico Cat Power, lança seu novo álbum no dia 22 de janeiro pelo selo Domino. Ela acaba de antecipar mais duas faixas desse trabalho. Uma é I’ll Be Seeing You, composição de Fain Sammy e Kahal Irving que ficou famosa na gravação feita por Billie Holiday em 1944. A outra é Unhate (ouça aqui), versão repaginada de uma canção da própria artista, Hate, lançada por ela em seu álbum The Greatest (2006).

O clipe de I’ll Be Seeing You, dirigido por Greg Hunt, flagra Cat Power em um night club intimista estilo anos 1940. Ela explica o que a motivou a reler essa canção: “Quando pessoas que você ama foram tiradas de você, sempre há uma música que guarda a memória delas em sua mente. É uma conversa com aqueles do outro lado e é muito importante para mim alcançar as pessoas dessa forma.”

Covers traz basicamente releituras de músicas dos repertórios de Billie Holiday, Frank Ocean, The Pogues, Dead Man’s Bones e The Rolling Stones, entre outros. O disco será disponibilizado em CD, LP de vinil e também nas plataformas digitais. Também teremos uma versão limitada em vinil prateado que trará como brinde um compacto simples com You Got The Silver, cover dos Rolling Stones.

I’ll Be Seeing You (clipe)- Cat Power:

Sarah Dash, 76 anos, do grupo Labelle e uma ativista social

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Por Fabian Chacur

Durante mais de um mês, pesquisei e ouvi inúmeras vezes o álbum Gonna Take a Miracle, da saudosa Laura Nyro (1947-1997) em parceria com o trio vocal feminino Labelle, com o intuito de fazer um texto celebrando os 50 anos de seu lançamento (leia aqui), que enfim foi publicado no último domingo (19). Pois, para minha imensa tristeza, uma das integrantes do grupo, Sarah Dash, nos deixou nesta segunda (20), aos 76 anos de idade.

Sem causa mortis revelada, embora alguns amigos tenham afirmado que a cantora havia se queixado de desconfortos físicos nos últimos dias, Dash recebeu homenagens nas redes sociais de várias pessoas, incluindo sua parceira de grupo, Pati LaBelle, que afirmou ter cantado com ela em um evento no último sábado (18). Ela também recebeu recentemente uma premiação de sua cidade natal, Trenton (Nova Jersey-EUA) por seu trabalho artístico e também social, pois apoiou várias causas humanitárias, incluindo auxílio a mães solteiras sem lar.

Sarah Dash nasceu em 18 de agosto de 1945 e deu seus primeiros passos como cantora profissional a partir de 1961, quando se uniu a Patti LaBelle e Nona Hendryx no grupo Patti Labelle And The Blue Belles. O grupo passou a década de 1960 inteira lançando trabalhos com menos repercussão do que mereciam, mas sem esmorecer. A partir de 1971, mudaram o nome do trio para Labelle, e gravaram o álbum ao lado de Laura Nyro.

Entre 1971 e 1977, o Labelle lançou seis álbuns próprios, e estourou com o quarto deles, Nightbirds (1974), que atingiu o 7º lugar na parada de álbuns americana e traz como grande atrativo o explosivo single Lady Marmalade (ouça aqui), 1º lugar nos EUA e rendendo ao grupo a capa da revista Rolling Stone.

Após a separação do Labelle, que ocorreu em 1977, Sarah estreou na carreira solo em 1978, com um hit nas discotecas americanas, Sinner Man. Até 1988, ela lançaria quatro álbuns individuais que não obtiveram o mesmo sucesso comercial dos tempos de seu grupo, mas a mantiveram na ativa.

Em 1988, Sarah foi convidada por Keith Richards, que a conhecia desde os tempos em que Patty LaBelle And The Blue Belles abriu shows para os Rolling Stones nos anos 1960, para integrar sua banda Xpensive Winos. Ela não só participou de dois álbuns do cantor e guitarrista britânico, Live At The Hollywood Palladium (1991) e Main Offender (1992), como de quebra ainda marcou presença em Steel Wheels (1989), dos Stones.

A cantora também deu brilho ao trabalho de outros artistas, entre os quais Nile Rodgers (em seu disco solo Adventures in the Land of the Good Groove, de 1983), The O’Jays, David Johansen (do grupo New York Dolls) e The Marshall Tucker Band.

O Labelle teve dois retornos em termos de gravações. Um em 1995, quando gravaram a faixa Turn It Out para a trilha do filme To Wong Foo Thanks For Everything! Julie Newmar e um em 2008, mais robusto, que rendeu o álbum Back To Now, com boa repercussão e atingindo o 45º lugar na parada americana.

Sinner Man– Sarah Dash:

Marku Ribas em entrevista histórica feita em 2009

marku ribas

Por Fabian Chacur.

Há entrevistas que marcam a vida de quem a realizou. E esta, feita por mim em 2009 para o site do projeto Conexão Vivo, certamente foi uma delas. Entrevista que tinha tudo para ter dado errado. Para começo de conversa, eu conhecia quase nada sobre o artista em questão, o grande Marku Ribas. Lógico que, antes da conversa que tive com ele, ocorrida onde ele morava na época, no bairro de Pinheiros, eu havia feito minha lição de casa e tinha a precisa noção do tamanho artístico do cara. Mas, ainda assim, não foi fácil.

Ele me recebeu com gentileza, mas mantendo uma certa distância, digamos assim. Como habitualmente faço nessas circunstâncias, fui cauteloso, tentando aos poucos conquistar a confiança do meu entrevistado. Ele acendeu um cigarro da erva preferida de Bob Marley (eu declinei, mas aceitei democraticamente que ele o consumisse) e foi aos poucos falando. E falando. E falando. Resultado: fiquei horas ao lado desse mestre. E aprendi muita coisa.

Como pesquisei e não encontrei esse texto na internet, resolvi republicá-lo aqui em Mondo Pop, até como homenagem a esse grande cantor, compositor e multi-instrumentista mineiro. E vale o registro: fiquei muito feliz ao perceber que, no fim desse longo papo, eu o havia conquistado. Que ele esteja em um lugar bem melhor do que esse aqui!

Entrevista Marku Ribas (1947-2013)

Um barranqueiro da gota

Conexão Vivo, por Fabian Chacur

Marku Ribas lança novo DVD e continua inquieto e criativo, aos 61 anos de idade e 47 de carreira, como você poderá conferir em entrevista exclusiva.

Após mais de três horas passadas em seu apartamento em São Paulo, período no qual tive a oportunidade de fazer uma entrevista e também de conferir momentos importantes e raros de sua obra em DVD, fiz uma última pergunta ao cantor, compositor, músico e ator Marku Ribas: o que é música, para você? A resposta veio de bate pronto, com uma única palavra: “vida!” E viver é algo que esse artista mineiro sabe fazer como poucos.

Nascido em 19 de maio de 1947 na cidade de Pirapora (MG), próximo às barrancas do rio São Francisco, ele se desdobrou em uma carreira das mais prolíficas. Em termos musicais, gravou o primeiro disco ainda em 1967, e desde então, tornou-se referência e influência para artistas do naipe de João Bosco, Tunai, Ed Motta e inúmeros outros. Suas composições foram gravadas por Alcione, Paula Lima, João Donato, Elza Soares, Jair Rodrigues etc. Morou em Paris e no Caribe, e tem sempre grande público em seus shows pelo Brasil e exterior.

No cinema, estreou em 1970 logo em um filme do influente cineasta francês Robert Bresson, Quatre Nuits D’um Reveur, e encarnou papéis como os de Luis Carlos Prestes e Carlos Marighella. Recentemente, fez sucesso como crooner da banda que toca no delicioso filme Chega de Saudade, de Laís Bodanski, ao lado de Elza Soares. Ele acaba de lançar o DVD Toca Brasil, gravado ao vivo em São Paulo, e se desdobra para realizar diversos outros projetos. Em extensa e reveladora entrevista exclusiva a Conexão Vivo, Marku fala do DVD, da carreira, dos planos, projetos……

CONEXÃO VIVO- Para começar, fale um pouco sobre o DVD Toca Brasil, como esse trabalho foi concebido, e a importância dele em sua trajetória artística. O mesmo está saindo pela via independente, não é isso? O que te fez buscar esse caminho?
MARKU RIBAS
– Quando percebi, no tempo em que gravei na Philips (hoje, Universal Music), que de 100% gerado pelo disco ficavam apenas 14% no país para gerenciar tudo que eles queriam fazer aqui, ganhavam um dinheirão, desperdiçavam até um certo ponto e o resto ia para as matrizes, vi que não poderia continuar nessa. O que ocorre? É preciso equacionar bem, como se faz na música, na arte, onde você escolhe acordes, divide os tempos, tira verso, põe verso. Teu companheiro dá palpites, troca um acorde e outro, até gravar. É uma elaboração, como se faz uma correção de texto. E na parte financeira para uma produção de disco, cinema ou teatro, é a mesma coisa que se tem de levar em conta, para se fazer isso de forma mais justa. Com esse evento do Itaú Cultural, que tem na sua iniciativa social e artística fenomenalmente uma posição de cidadã, porque usa recursos do sistema financeiro que não são poucos, objetivando a evolução da arte, eles propiciam realizar um evento que vale dinheiro, porque quando você coloca cinco câmeras, uma grua com câmera elevada que capta imagens especiais, cenografia, pessoal do som muito competente, isso tudo engrandece o espetáculo. E num ambiente calmo, gentil, tranqüilo. Tinham até um adesivo fluorescente verde colocado no chão do palco para me guiar quando eu precisava entrar em cena no escuro para colocar um instrumento. O som saiu muito bom, dividimos muito as opiniões de timbre e volumes.

CONEXÃO VIVO- E como ocorreu a parte comercial do produto DVD, como ele está sendo comercializado, e como funcionam as porcentagens para cada um dos envolvidos?
MARKU RIBAS
– Proporcionando toda essa infraestrutura, o banco quase te obriga a encontrar um selo para sair com o DVD, pois é a grande oportunidade de lançar músicas, no meu caso quase todas inéditas. Aí, me associei à Mais Brasil, de Belo Horizonte, são os companheiros da Cria Cultura, que tem uma estrutura muito boa e criaram a editora para edições musicais e o selo Mais Brasil para o lançamento de DVDs e CDs. E temos a distribuição feita pela Tratore. Estamos atualmente no Top 20 de vendagens de DVDs, na internet. Agora estamos entrando na fase de divulgar o produto nos programas de tevê, na mídia em geral. Tocam nele o maestro Tiquinho, no trombone, o Bruninho Buarque (que toca com a Céu e o grupo Barbatuques) na percussão e o gaúcho Xandelle na guitarra. O DVD é muito autêntico, cara-a-cara, assino tudo embaixo. As músicas traduzem tudo. Eu tive de assumir 50% para mim como autor, músico, minha personalidade, meu nome, sou autor das músicas, arranjador etc. Dei 20% para o Eduardo BID, que é o produtor, e 30% para a Cria, para conseguir viabilizar o projeto.

CONEXÃO VIVO- Recentemente saiu uma coletânea intitulada Zamba Ben, com uma seleção de suas músicas. Como você a avalia? Encara como uma boa iniciação para quem não conhece a sua obra?
MARKU RIBAS
– Essa compilação foi lançada pelo selo Dubas Música, que é do Ronaldo Bastos, um grande letrista que fez coisas com o Milton Nascimento, Beto Guedes. O Ed Motta, admirável músico e meu amigo, bolou essa coletânea, escolheu as músicas, fizeram a remasterização, pagaram os direitos às editoras direitinho, valorizaram na nossa negociação. Ed é humilde, diz que se surpreendeu comigo ao me ver tocar ao vivo em Londres e Nova York. Aí, foi atrás do meu trabalho. Eles pegaram músicas boas que soam atuais. Escrevi para o encarte do CD informações sobre cada faixa, e também sobre a minha vida e carreira. Se eu fosse você, iria procurar essa coletânea, mesmo, pois é muito boa!

CONEXÃO VIVO- Você teve algumas experiências ao lado do Mick Jagger, dos Rolling Stones, inclusive gravando com essa banda. Como rolou essa história toda? É verdade que você não recebeu um tostão por ter gravado com eles?
MARKU RIBAS
– Conheci o Mick Jagger em 1968, quando ele foi jantar em um restaurante no Rio de Janeiro onde eu estava, e conversamos. Anos depois, em 1984, eu trabalhava em um musical do Oscar Castro Neves, e me avisaram que estavam fazendo no hotel Copacabana Palace a seleção para participar de um videoclipe do Mick Jagger para a música Just Another Night, do disco solo dele She’s The Boss (1985). Acabei sendo escolhido para viver o baterista no clipe, dirigido pelo cineasta Julien Temple. O percussionista Café, que tocou com o Djavan, também participa. Aí, o Mick perguntou se eu estaria na Europa no ano seguinte, e por coincidência, eu iria para Paris naquele período. Ele me convidou para gravar com os Rolling Stones. Fui para Paris com a peça do Oscar, com 62 integrantes. Aí, ele mandou um carro de luxo me buscar, e fui com o Mário, um amigo meu que tocou comigo no grupo Batuki, gravar. Participei da faixa Back To Zero, do CD Dirty Work (1986), toquei tambor marroquino de pele de peixe e cerâmica e uma cuíca de boca. A gravação ocorreu no estúdio da EMI em Paris. Não cobrei dinheiro, não, pois tinha um monte de burocracia para poder receber. Foi uma cortesia que fiz para eles. Hoje, teria cobrado, e até mais caro. (risos) Não tem o crédito no disco, o que me deixou magoado, acho que isso é pior do que não ter recebido.

CONEXÃO VIVO- Seus shows são sempre muito elogiados, e não se restringem a um único formato. Como você os planeja?
MARKU RIBAS
– Procuro adequar o meu show aos espaços onde toco, e é a partir daí que escolho como será a formação. O violão você precisa tocar sentado, já a guitarra é em pé. Quando toco de pé, posso me dedicar mais à parte de coreografia, de dança. Tenho o show que você pode pagar, desde um trio, quarteto, eu sozinho, tenho versatilidade para me adaptar aos mais diversos tipos de situação.

CONEXÃO VIVO- Você tem um projeto musical envolvendo músicos muito conhecidos e em vias de ser concretizado. Fale um pouco sobre ele, e quando o mesmo será viabilizado.
MARKU RIBAS
– Esse projeto é gravar um CD com João Donato no piano, Maurício Einhorn na gaita e o Raul de Souza no trombone. O projeto chama-se Croas e Loas e em função dele visitaremos oito cidades. A utilização de lei de incentivo já está aprovada, e o patrocinador para viabilizar tudo também está a caminho, acho que isso será concretizado em breve.

CONEXÃO VIVO- Você tem participado do Conexão Vivo. Como avalia esse projeto, e qual a importância do mesmo os artistas?
MARKU RIBAS
– O intercâmbio promovido pelo Conexão Vivo entre artistas novos e veteranos renova todo o contexto, não só o conhecimento, a oportunidade de fazer novos amigos, como o lado cênico e artístico de cada um sendo explicitado, a contextualização de cada um, pois não dá para comparar artistas, cada um tem o seu caminho, suas características próprias. E você ainda ganha um novo público com esse tipo de evento.

CONEXÃO VIVO- Sua participação no filme Chega de Saudade, da Lais Bodanski, foi muito elogiada. Qual a importância do mesmo em sua trajetória como músico e ator, e como foi trabalhar ao lado de Elza Soares, que já gravou músicas suas?
MARKU RIBAS
– A Elza é uma entidade, uma mulher brasileira que deve ser muito respeitada por toda a sua história, o seu favelismo. Uma mãe solteira na favela, negra, com um marido bêbado que lhe batia todos os dias, e aí ela se rebela contra tudo isso, até conhecer Garrincha, a quem ela ajudou muito financeiramente e como mulher, ao contrário das críticas injustas que recebeu na época. É uma cantora de personalidade forte, como o foram Monsueto, Noite Ilustrada, aqueles negões que cantam de um jeito diferente, que não dá para ser igual, cantam de forma rascante e que trazia toda aquela revolta natural do sofrimento que vivenciaram. Quando o Ary Barrozo perguntou em um programa de rádio de que planeta a Elza vinha, ela respondeu que era do planeta fome! (risos). Respeito muito ela, admiro-a como artista, suas posições e atitudes. Esse filme nos aproximou mais ainda. A Laís sempre foi muito gentil conosco, nos dirigiu muito bem. Gostei de fazer o filme, cuja trilha sonora ganhou como a melhor do cinema brasileiro em 2008.

CONEXÃO VIVO- Sua primeira experiência em cinema foi em Paris, e logo com um diretor famoso, o Robert Bresson. Como isso ocorreu?
MARKU RIBAS
– Morei em Paris entre 1970 e 1971. O Bresson tem uma importância fundamental, inovou para que uma indústria de cinema, sendo mais autêntica, pudesse ser mais barata, mais objetivamente construída, tirou aquelas câmeras pesadíssimas de Hollywood, aquela estrutura enorme, e fez a câmera na mão, o cinema mais objetivo, caminhando com o ator pelas ruas, sentindo a sensibilidade cara-a-cara, entrando nos becos. Esse filme analisa quatro noites de sofrimento sobre o amor, uma senhorita linda que se apaixona por alguém que irá voltar dali a um ano no mesmo lugar, na mesma praça e no mesmo horário. Durante quatro noites, ela está lá, mas ele não vem. Ocorre algo surpreendente na quarta noite, e ela, sozinha, é percebida por um pintor sensível, francês, estudante de pintura, que vê nela uma musa, se aproxima, a vê melancólica e conversa com ela. Aí, entra a cena de eu e o meu grupo na época, o Batuki, do qual fazia parte o Mário (o mesmo que foi comigo na gravação com os Rolling Stones em 1985), tocando dentro de um barco que descia o rio Sena. O casal fica absorvido pela música, vem em direção ao cais, e a música virou uma protagonista no roteiro. No mesmo ano, fiz outro filme por lá com o cineasta Jean-Mark Tibaut, Revolucion, no qual representei o Luis Carlos Prestes.

CONEXÃO VIVO- Aliás, é verdade que a trilha sonora desse filme nunca foi lançada, e que você tem as fitas masters da mesma?
MARKU RIBAS
– É verdade. As músicas foram gravadas em 1970 no estúdio do Michel Magne, que ficava a 19 quilômetros de Paris, na estrada de Lyon, chamava Chateau de Rouville. Está na minha mão, estou esperando negociações para poder lançá-lo com prensagem, remasterização, capa nova, divulgação, isso tudo.

CONEXÃO VIVO- Você teve outras experiências interessantes em termos de cinema. Fale sobre elas, e também qual é a importância para você de atuar como ator.
MARKU RIBAS
– Vivi o papel do Carlos Marighella no filme Batismo de Sangue, do Helvécio Ratton, ao lado de Caio Blatt, Ângelo Antonio, Cássio Gabus Mendes, Daniel de Oliveira, uma turma boa. Gosto muito de cinema. No momento, gravo participação no filme do Fábio Barreto, Lula, O Filho do Brasil, vivendo um sindicalista aposentado que era uma espécie de consciência do movimento. Será uma participação curta, mas contextualizada, ele vigiava e pegava no pé dos caras, para manter a coisa longe do peleguismo. A cena é gravada na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Acho fundamental a documentação da história do Brasil, dessa coisa da Ditadura, da “Redentora”, para que nunca mais ocorra algo assim neste País, e esses filmes sobre nossa história tem esse papel.

CONEXÃO VIVO- Por sinal, uma das razões pelas quais você saiu do país no final dos anos 60 foi a Ditadura Militar, não é isso?
MARKU RIBAS
– É verdade. Fui preso no dia 27 de outubro de 1968 no Leblon, no Rio de Janeiro, pelo Exército Brasileiro. Uma experiência injusta. Eu fazia críticas em músicas como Alerta Geral, que na época chamava-se Canto Certo e que foi gravada pela Alcione em 1978, no seu LP Alerta Geral, que depois virou também nome do programa de televisão que ela apresentou na Rede Globo. Eles proibiram de forma absurda porque não havia conteúdo para ser proibido, era apenas uma sátira musical, uma crítica inteligente e bem-humorada. Outra música que me causou problemas foi a Nunca Vi, com os versos “nunca vi país democrata ter tanto rei, tanto rei, tanto rei, rei do rock, do samba, da bola, enquanto isso, outra criança chora, e o palácio anuncia outro rei”. Vivi na França e também quatro anos no Caribe.

CONEXÃO VIVO- Fale um pouco sobre a sua forma de atuar, como ator.
MARKU RIBAS
– Procuro incorporar o personagem que faço, sair da pessoa que você conhece, e aí, você não me vê mais, você vê o personagem lá. Tenho feito vários projetos, como um ditador de república das bananas em Uma Nova Bandeira Para a Nação, do jovem cineasta Paulo Marcelo Tavares do Valle, da Faap. A escola do cinema no Brasil é muito boa, temos um cabedal desde Humberto Mauro, aproveitamos bem as lições dos irmãos Lumiére e desenvolveu-se o Brasil do cinema competente, porque em outras áreas não somos, mesmo.

CONEXÃO VIVO- A sua formação como músico é riquíssima em termos culturais e de intercâmbios. Dá para fazer um pequeno resumo de tudo isso?
MARKU RIBAS
– A surpresa do chamado original, atávico, autóctone, que são sinônimos do mesmo sentimento, as pessoas que tem cultura própria onde nasceram, já ali. As manifestações folclóricas, a música erudita, eu tive a sorte de presenciar tudo isso com o meu pai, meu avô, meu bisavô, que era mouro. Meu pai, como médico, tinha muito interesse pela vida. Ele gostava de cantar coisas de Caruso, Carlos Gardel, Vicente Celestino, Orlando Silva, fazia serenatas nas horas vagas. Captei a diversidade das coisas, até do cantochão, da música nas igrejas, a confluência indígena, com influência negras e com o meu avô materno português. Sou barranqueiro da gota, como existem os cariocas da gema, os paulistanos etc. Represento uma cultura do rio São Francisco que tem semelhanças de espectro com o Rio Vermelho da China, o Rio Nilo da África, o Mississipi americano, são sentimentos iguais em lugares díspares, mas com uma vivência muito igual de depender da pescaria, da chuva, do sol, da enchente.

CONEXÃO VIVO- E como isso tudo foi se desenvolvendo? Você sente influências de outros artistas no seu trabalho e do seu trabalho no dos outros?
MARKU RIBAS
– Faço sons com as mãos, no rosto, na testa, na bochecha, desde que era criança, alguma coisa eu aprendi com a minha mãe. Uma verdadeira sinfonia corporal. Aí, descobri o gutural, os sons onomatopaicos que traduzem não palavras ou línguas, mas sentimentos. Fui incorporando isso tudo enquanto ouvia grandes violonistas como Dilermando Reis, Manoel da Conceição, Baden Powell, Manoel da Conceição Mão de Vaca, Rosinha de Valença, Paulinho Nogueira, e um gênio da minha região, o Deoclécio, que morreu cedo tragicamente e que fazia cada “aranha” nos acordes que a gente não tinha a menor noção do que era, grande guitarrista e violonista. Sou parceiro de Erasmo Carlos, Walter Queiróz, João Donato, Djalma Correa. Tenho essa noção do violão cheio, violão magnífico, que se toca em todas as regiões do instrumento. Sou ainda um aprendiz de tudo, sim, mas tenho o bom senso e a sensibilidade de ter colocado alguns craques no jogo, como o baixista Artur Maia, o violonista Romero Lubambo, o tecladista Jotinha Moraes, que começaram tocando e gravando comigo. Vejo influências minhas em Eduardo Dussek, João Bosco, Tunai, Ed Motta e João Donato, entre outros.

CONEXÃO VIVO- Marku, sua história de vida é riquíssima. Já pensou em escrever uma biografia contando tudo isso?
MARKU RIBAS
– Boa pergunta. Já estou fazendo isso, uma autobiografia que intitulei Marku Por Marco Antonio, e para a qual vou procurar patrocínio, editora etc. Para quem não sabe, meu nome de batismo é Marco Antonio Ribas. Criei o personagem Marku para homenagear a tribo Cariri Macu, da minha região, onde tem um sítio arqueológico de 2.500 anos com resquícios históricos da vivência dessa tribo indígena na barranca do Rio São Francisco, no Norte de Minas Gerais, entre Pirapora e Buritizeiros. Já escrevi contando coisas que ocorreram comigo entre o meu nascimento em 1947 até 1977. Acho que depois farei um segundo volume, contando todo o resto. Nasci em um 19 de maio com eclipse total do sol, que tem toda uma influência cósmica, elétrica, na espiritualidade, também. Vou contar histórias nesse livro que farão muita gente cair de costas (risos). Por exemplo, como era quando eu cheguei em São Paulo em 1967 e gravei logo de cara um LP pela Continental. Eu namorava a passadeira e lavadeira para livrar a passagem e a lavagem de roupa. (risos) Ia às cinco da manhã às rádios para fazer a divulgação do disco, que na época era chamada de “caitituagem”. Também estou escrevendo outro livro, Moemas e Moemas, que será de poemas sobre amor, a vida etc.

CONEXÃO VIVO- Você tem um problema com o Marcelo D2 em relação a direitos autorais e conexos. A quantas vai essa história?
MARKU RIBAS
– O Marcelo D2 está usando a minha gravação de Zamba Ben não como um sampler, simplesmente, como ele declara no disco A Procura da Batida Perfeita, mas como um plágio. Ele usa a minha música o tempo todo na dele. A Maldição do Samba é o Zamba Ben lá dentro, o meu violão, o baixo do Cláudio Bertrami, o som dos músicos que participaram dessa minha gravação. Todo mundo está lá, e não recebem direitos conexos, e nem eu, como autor. Ele não me pediu autorização, a editora Arlequim comeu mosca, também. Está em litígio na justiça, mas está demorando, três anos já se passaram. Ele gostou tanto que já colocou essa música em três discos dele, virou o carro-chefe dele. Zamba Ben é um avanço, uma porrada, música criativamente brasileira para dançar, com contexto internacional que não fosse batuque ou samba, somente.

Zamba Ben– Marku Ribas:

Charlie Watts, 80 anos, lendário baterista dos Rolling Stones

charlie watts

Por Fabian Chacur

Classe. Eis um termo perfeito para definir a postura, o jeito de ser e especialmente a forma como um certo Charlie Watts tocava o instrumento musical que lhe deu fama mundial, a bateria. O sujeito definitivamente tinha classe, e muita! Esse incrível músico infelizmente nos deixou nesta terça-feira (24) aos 80 anos, conforme informação divulgada por seu assessor de imprensa. A causa não foi divulgada. Ele havia sofrido uma operação de emergência no início deste mês. Com ele, certamente vai junto uma era do rock and roll.

Nunca me esquecerei dos três shows que tive a oportunidade de ver dos Rolling Stones em janeiro de 1995, no estádio do Pacaembu (SP), durante uma edição do festival Hollywood Rock. Em meio a dias chuvosos, tivemos três shows sensacionais, nos quais um dos momentos marcantes ocorria quando Mick Jagger apresentava Charlie, fato que era seguido por uma verdadeira avalancha de aplausos, aos quais o músico agradecia de forma contida e discreta. Ele era assim. Elegante no trato, elegante no vestir, elegante ao utilizar as baquetas.

Nascido em 2 de junho de 1941, Charlie começou a tocar ainda molequinho. Enquanto se formava e começava a trabalhar como designer gráfico, ele paralelamente se desenvolvia como músico. Após tocar com a banda do influente músico de blues Alex Korner, a Blues Incorporated, ele recebeu o convite para tocar com um outro time emergente, uns tais de Rolling Stones. Em janeiro de 1963, ele aceitou o convite, mal sabendo que mudaria a sua vida para sempre.

O resto da história, todos sabem. O grupo de Mick Jagger e Keith Richards se tornou o principal rival dos Beatles, emplacou hits como (I Can’t Get No) Satisfaction, Get Off Of My Cloud, The Last Time, Jumping Jack Flash, Honky Tonk Women, Start Me Up e dezenas de outros e virou lenda viva. Neles, a marca registrada de Charlie Watts sempre se fez presente.

Watts era ao mesmo tempo um dínamo e um porto seguro e sólido para a banda. Nunca perdia o ritmo e sempre sabia se valer de sutilezas rítmicas que aprendeu como fã incondicional de jazz. Deixava o exibicionismo de lado e dava à banda uma batida sólida, contagiante, que permitiu a Jagger e sua turma invadirem o mundo com shows e gravações sempre espetaculares. Com ele lá atrás, discreto, quieto, mas cativando a todos. E sempre esbanjando elegância.

Paralelamente ao trabalho com os Stones, Watts se dedicava ao desenho (alguns apareceram nos discos da banda) e também ao jazz, lançando mais de dez álbuns com um quinteto, uma orquestra e um em parceria com outro grande baterista, Jim Keltner. Um desses discos foi dedicado a um de seus grandes ídolos, o grande e saudoso músico de jazz Charlie Bird Parker.

Os Rolling Stones estavam iniciando a preparação para uma nova turnê pós-pandêmica. Agora sem Watts, acho bem provável que seus agora ex-colegas deem uma balançada, mas considero quase inevitável que escalem alguém para segurar a onda e permitir à banda seguir em frente. Seja como for, desta vez vai ser difícil encarar esse grupo do mesmo jeito, por melhor que seja seu eventual substituto. Descanse em paz. Uma salva de palmas eterna para Charlie Watts!

Get Off Of My Cloud (clipe)- The Rolling Stones:

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