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The Beatles 1962-66 e The Beatles 1967-70 (Apple-1973)

the beatles 1962-66-400x

Por Fabian Chacur

Em abril de 1973, quando as coletâneas duplas The Beatles 1962-1966 (ouça aqui) e The Beatles 1967-1970 foram lançadas, vivíamos tempos muito diferentes dos atuais. Portanto, para falar dessas compilações e de sua importância na história da banda mais bem-sucedida de todos os tempos em termos comerciais e criativos, é inevitável uma boa análise do cenário da época em termos de indústria fonográfica e do próprio Fab Four.

A traumática separação dos Beatles havia ocorrido há apenas três anos, mas muita coisa ocorreu naquele curto período de tempo.

Para começo de conversa, tivemos o início da conscientização por parte do público e crítica de que aqueles menos de dez anos de trajetória da banda tinham sido absolutamente sensacionais, com direito a um legado incrível em termos musicais e comportamentais.

A força daqueles quatro filhos de Liverpool, Inglaterra, que viraram cidadãos do mundo, repetiu-se em suas performances nas carreiras individuais. Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e até mesmo o subestimado por alguns Ringo Starr logo emplacaram grandes sucessos sem a banda, algo extremamente incomum no universo da música pop. Único, até.

Nesse curto período entre 1970 e 1973, hits como Maybe I’m Amazed, My Sweet Lord, Another Day, Mother, Imagine, It Don’t Come Easy, Uncle Albert/Admiral Halsey, Back Off Boogaloo e Give Me Love (Give Me Peace on Earth), só para citar alguns dos gravados pelos quatro em suas vidas musicais pós-separação, os mantiveram no topo do universo pop.

Tal fato criou uma situação curiosa. Para fãs mais jovens, era difícil acreditar que aqueles caras já tinham um extenso currículo de sucessos prévios, antes de lançarem as músicas que os conquistaram. E surgiu a frase que era atribuída a fãs de McCartney e de seu grupo dos anos 1970: “você quer me dizer que o Paul McCartney fez parte de outra banda antes dos Wings?”.

E a explicação para esse aparente desconhecimento era relativamente simples. Até aquele momento, não existiam coletâneas de sucessos que dessem uma geral na carreira dos Beatles.

As coisas mais parecidas com isso tinham sido a compilação britânica (saiu no Brasil) A Collection Of Beatles Oldies But Goldies (1966), e a americana (também saiu por aqui) Hey Jude (1970), interessantes, mas incompletas e sem muito critério em suas seleções de faixas.

Como os álbuns dos Beatles foram lançados em versões muito diferentes pelos quatro cantos do mundo até 1967, quando Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band iniciou os lançamentos unificados em termos globais, também era difícil encontrar esses discos nas lojas, naquele período pós-separação da banda. Isso, mesmo com suas canções ainda tocando muito nas rádios.

A gravadora Apple só caiu na real de que estava perdendo dinheiro quando um selo pirata lançou em 1972 nos EUA Alpha Ômega, box com 4 LPs e 60 músicas dos Beatles (com direito a algumas das carreiras solo) que, acredite se quiser, era divulgada em comerciais na TV. Naquele momento, ficou claro que algo precisava ser feito para atender essa demanda.

E o projeto não poderia ter sido melhor desenvolvido. Ao invés de lançar um único álbum, eles se renderam ao fato de que o ideal seria fazer algo o mais abrangente possível, que pudesse ser uma boa porta de entrada no universo da obra dos Beatles. Separar as coletâneas em duas fases foi brilhante, a inicial, de 1962 a 1966, e a pós-fim das turnês, de 1967 a 1970.

The Beatles 1962-1966 traz 26 faixas, enquanto The Beatles 1967-1970 ofereceu ao público 28 canções. Os dois álbuns, lançados no formato de LPs duplos, traziam como atrativo adicional envelopes protegendo os discos com as letras de todas as canções, algo que os discos dos Beatles só passaram a ter também a partir do Sgt. Pepper’s (e nem todos!).

Para as capas, outra tirada brilhante. Eles aproveitaram uma ideia surgida para o que seria o álbum Get Back (que acabou virando Let It Be). Na capa do 1962-66, usaram um outro take da sessão de fotos da capa do LP Please Please Me (1963), e na do 1967-70, um registro feito em 1969 pelo mesmo fotógrafo, Angus McBean, no mesmo local, a sacada do prédio onde ficava a sede da EMI em Londres, com os novos visuais deles.

Diante de tantas canções de sucesso a serem escolhidas, alguns critérios aparentemente foram usados. No álbum vermelho (1962-66), ficaram de fora os covers que os Fab Four gravaram até 1965, como Twist and Shout e Roll Over Beethoven, e as canções compostas e/ou interpretadas por George Harrison como solista. As 26 musicas levam a assinatura Lennon-McCartney.

Se no álbum vermelho só uma música (Yellow Submarine) tem Ringo como vocal principal, o álbum azul (1967-70) inclui mais uma com o baterista (Octopus’s Garden, de autoria dele, por sinal) e quatro compostas e interpretadas por George Harrison- While My Guitar Gently Weeps, Here Comes The Sun, Old Brown Shoe e Something.

Outra provável diretriz seguida é o fato de que todas as canções, com as possíveis exceções de The Ballad of John & Yoko e Old Brown Shoe, são grandes sucessos em paradas de sucesso e em execução nas rádios.

Com tudo perfeito- embalagem, escolha de repertório e mesmo a divulgação, que ressaltava o fato de serem as primeiras coletâneas abrangentes e oficiais da banda- criou-se uma grande expectativa em torno do desempenho comercial das mesmas. Que foi amplamente premiada.

The Beatles 1962-1966 chegou ao 3º lugar na parada americana, enquanto The Beatles 1967-1970 foi ainda além, liderando a parada ianque em 26 de maio de 1973. Os Fab Four voltavam ao topo após três anos.

Foi a partir dali que o acervo de gravações dos Beatles começou a ser reaproveitado e a render ainda mais do que nos tempos da Beatlemania.

Se no período entre 1973 e 1992 isso ainda ocorreu de uma forma um pouco mais tímida, os relançamentos e novidades referentes à banda renderam e ainda rendem milhões à gravadora Universal Music (atual detentora dos direitos desses fonogramas) e aos músicos e seus herdeiros.

Curiosidade: The Beatles 1967-1970 ficou uma semana no 1º lugar na parada dos EUA, e foi sucedido por Red Rose Speedway, de ninguém menos do que Paul McCartney & Wings, que manteve a posição de liderança por três semanas. Adivinhem quem o destronou? O ex-colega de banda George Harrison, que com seu Living In The Material World assegurou a primeira posição por cinco semanas.

Essas coletâneas marcaram tanto que foram reeditadas no formato CD, a primeira vez em 1993, no formato caixinha e reproduzindo o conteúdo da embalagem original, e em 2010, desta vez no modo digipack e com o acréscimo de um encarte trazendo um bom texto com informações (algumas incorretas)e fotos adicionais.

The Beatles 1962-1966 foi o primeiro álbum duplo que comprei na vida, quando tinha apenas 12 aninhos de idade, e me lembro de que as rádios de São Paulo tocavam as músicas dos Beatles naquele período como se fossem lançamentos, às vezes seguidas por faixas de John, Paul, George e Ringo em suas carreiras individuais. Como não virar um fã também?

The Beatles 1967-1970- The Beatles (ouça em streaming):

Beck mostra lirismo e tom folk no single Thinking About You

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Por Fabian Chacur

Beck não lançava uma faixa inédita autoral desde 2019, quando saiu seu mais recente álbum de estúdio, o elogiado Hyperspace. Nesse período, o cantor, compositor e músico estadunidense teve duas colaborações bem bacanas, uma com Paul McCartney- Find My Way (ouça aqui) e outra com o Gorillaz- The Valley of The Pagans (ouça aqui), ambas em 2019. E agora, ele nos oferece Thinking About You.

Embora em gravação creditada apenas a ele, Beck tem ao seu lado músicos de invejável pedigree. O tecladista Roger Manning, por exemplo, integrou a banda Jellyfish e gravou com artistas como Ringo Starr, Jay-Z e Johnny Cash.

O guitarrista Blake Mills prestou serviços para Pink, Lana Del Rey, Weezer e Dixie Chicks, enquanto o baixista Justin Meldal Johnsen marcou presença em trabalhos de Garbage, Tori Amos, Dido e Marianne Faithfull.

Thinking About You mostra o lado mais folk, intimista e sensível do sempre imprevisível astro do rock, com ênfase em seu violão de cordas de aço e uma melodia delicada e evocativa.

Não se sabe ainda se se trata da amostra de um novo álbum a caminho, mas, se for, é um bom indicativo de que teremos mais um trabalho de peso desse artista que nos oferece grandes gravações há três décadas.

Thinking About You– Beck:

Paul McCartney, 80 anos, a façanha de se tornar eterno

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Por Fabian Chacur

Fazer sucesso não é fácil. Manter esse sucesso, mais difícil ainda. Tornar-se eterno, no entanto, é coisa para os muito fortes e muito talentosos. E é nesse panteão que se colocou um certo James Paul McCartney, que neste sábado (18) completa 80 anos mais ativo e relevante do que nunca. Tudo bem que o cidadão que está escrevendo este texto não é suspeito, é culpado, pois fala aqui sobre o seu maior ídolo. Mas tem horas que o melhor é mandar a isenção pra longe. Viva Paul McCartney!

Não faltam argumentos para sustentar a minha teoria, de que Paul McCartney é eterno. Logo de cara: quem conseguiria sobreviver ao fim da maior banda de todos os tempos e permanecer nas paradas de sucesso e lotando estádios, agora sozinho? Macca já começa goleando logo aqui. Coube a ele carregar o estandarte dos Beatles mundo afora sem seus companheiros, e essa missão está sendo cumprida com galhardia.

Lógico que este brilhante cantor, compositor e músico britânico continua cantando músicas de sua célebre ex-banda em seus shows, sempre arrancando aplausos, emoções e singalongs por parte dos milhões de fãs. Mas não custa lembrar que, nos anos 1970, ele tocava um número bem pequeno de hits dos Fab Four nos shows de sua banda de então, os Wings, e mesmo assim vendeu milhões de cópias de seus discos e atraiu multidões enormes nas turnês que fez então.

Eis uma frase polêmica que irei escrever, mas lá vai: mesmo se não tivesse sido um beatle, McCartney teria seu lugar garantido como megastar, levando-se em conta apenas a sua produção com os Wings nos anos 1970 e na carreira-solo posterior. Os hits desse período são vários e enormes: Another Day, My Love, Band on the Run, Silly Love Songs, Mull Of Kintyre, Ebony And Ivory, The World Tonight… A lista é longa e vai longe.

O talento deste Sir é imenso, e em várias frentes. Excelente cantor, baixista tido como um dos melhores do rock em todos os tempos, bom também com outros instrumentos musicais (guitarra, violão, teclados, bateria etc), compositor de mão cheia, absurdamente carismático nos shows… Teve um parceiro máximo nas composições, o saudoso John Lennon, mas soube se virar muito bem sozinho e também escrevendo com Elvis Costello, Eric Stewart, Denny Layne e sua também saudosa Linda, entre outros.

Durante muito tempo, alguns críticos ridículos rotulavam o Macca como um “baladeiro incorrigível”, como se ele só fizesse canções românticas. Faixas como Helen Wheels, Let Me Roll It, Old Siam Sir, Jet, Give Ireland Back To The Irish, Angry e Girls School são apenas algumas belas provas de o quanto tal teoria é ridícula. Paul rock and rolla como poucos!

Outro ponto nem sempre muito fácil para um artista é conseguir ir além da sua própria geração, e eis outra grande virtude do autor de Yesterday. Mr. McCartney tem fãs das mais diversas faixas etárias, desde gente com idade acima da sua até a molecada da era Tik Tok. Cada um curtindo facetas específicas, ou o todo de sua obra, mas todos felizes ao ouvir suas canções.

Tive a honra de ver quatro shows de meu ídolo. Dois em 1990, no Maracanã, quando de sua primeira visita ao Brasl. Um em 1993 no estádio do Pacaembu, em São Paulo (o meu favorito), e o quarto em 2010, no estádio do Morumbi. Todos maravilhosos. E participei de duas entrevistas coletivas, a de 1990 e a de 1993, sendo que nesta última tive a honra de fazer a última pergunta. Um dos momentos mais incríveis da minha vida, com o meu ídolo respondendo e olhando para mim! Sonhos podem se concretizar!

E o legal é que em momento algum de sua trajetória Paul McCartney se acomodou. Sempre se manteve atento às novidades, trocando figurinhas com outros artistas e lançando álbuns bacanas e muito relevantes, como os recentes e ótimos Egypt Station (2018) e McCartney III (2020). E o cidadão está em meio a mais uma turnê. Que Deus o abençoe e o mantenha entre nós por muitos e muitos anos mais.

E vale lembrar que, em 1967, quando tinha meros 25 anos de idade, ele imaginava como seria quando tivesse 64 anos (When I’m 64), em faixa do mitológico Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Mal sabia ele… Que chegue aos 100 com saúde e lúcido é o meu desejo!

Good Times Coming/ Feel The Sun– Paul McCartney:

Michael Bublé relê My Valentine produzido por Paul McCartney

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Por Fabian Chacur

Será lançado no dia 25 de março Higher, novo álbum do consagrado cantor canadense Michael Bublé (leia mais sobre esse trabalho aqui ). Como forma de proporcionar uma saborosa amostra de como será o seu conteúdo, a gravadora Warner Music acaba de disponibilizar nas plataformas digitais uma de suas faixas mais destacadas. Trata-se de My Valentine, que também conta com um classudo e delicado lyric video de animação que ilustra muito bem o clima romântico desta envolvente canção.

My Valentine contou com a produção de ninguém menos do que Paul McCartney, seu autor, por sinal. O arranjo orquestral ficou belíssimo. Essa canção foi lançada originalmente em 2012, no álbum Kisses On The Bottom, uma rara inédita em um trabalho no qual o ex-beatle visitou standards românticos do jazz com uma classe simplesmente absurda.

My Valentine (lyric video)- Michael Bublé:

Michael Bublé anuncia Higher e trabalha com Paul McCartney

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Por Fabian Chacur

O cantor e compositor canadense Michael Bublé anunciou que lançará um novo álbum no dia 25 de março pela gravadora Warner. Trata-se de Higher, trabalho que terá entre seus destaques uma releitura de My Valentine, canção de Paul McCartney lançada há 10 anos em seu álbum Kisses On The Bottom. O ex-beatle participou da produção dessa faixa em parceria com Bublé. Outro nome ilustre no álbum é o astro country Willie Nelson, que marca presença na releitura de Make You Feel My Love, de Bob Dylan. gravada pelo autor em 1997 no álbum Time Out Of Mind.

O primeiro single divulgado do novo trabalho, a bela e pop I’ll Never Not Love You, já está disponível nas plataformas digitais e também com lyric video. O trabalho mistura releituras e composições do próprio cantor, e conta com produção geral dele em parceria com Greg Wells e Bob Rock. Um dos destaques é um novo arranjo para Smile, clássico de Charles Chaplin que aparece aqui com um coral gospel. Bublé fala sobre o foco deste trabalho:

“Desta vez eu me abri totalmente para tentar coisas novas. Eu mergulhei fundo durante o trabalho e me cerquei dos melhores e mais imaginativos profissionais da música do planeta. Quando eu estava compondo com Ryan Tedder e Greg Wells, gravando três músicas num único dia acompanhado do meu parceiro Bob Rock e mais 40 músicos incríveis no estúdio em que eu não pisei por 15 meses, dançando, rindo e chorando quando uma música saia simplesmente perfeita, foi mágico. E parecia que o universo estava conspirando para me oferecer esse momento depois de 20 anos de carreira. Eu nunca fiquei tão empolgado em finalizar um álbum”.

I’ll Never Not Love You– lyric video- Michael Bublé:

The Beatles and India, doc e álbum, para encantar os fãs

George & Patti with garlands 2 - Colin Harrison Avico Ltd

Por Fabian Chacur

The Beatles continuam em pauta como de praxe, mas de forma ainda mais intensa nas últimas semanas. Além do filme Get Back, temos também um outro documentário em cena. Trata-se de The Beatles and India, produzido pelo empresário britânico-indiano Reynold D’Silva e dirigido em parceria por Ajoy Bose e Pete Compton. O filme ganhou os prêmios de melhor filme pelo público e melhor música no UK Usian Film Festival, e está sendo exibido com sucesso em festivais de cinema na Grécia, Bélgica e Espanha.

Baseado no livro Across The Universe- The Beatles in India, de Ajoy Bose, o doc conta a relação de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr com a cultura indiana, com ênfase em sua histórica passagem pela India em Rishikesh, no ashram do polêmico guru indiano Maharishi Mahesh Yogi. Temos cenas de arquivo e fotos, algumas raras e/ou inéditas, e também depoimentos de pessoas que presenciaram essa viagem histórica em 1968.

Como produto derivado do filme, está previsto para ser lançado no próximo dia 29 de outubro o álbum Songs Inspired By The Film The Beatles and India, que traz releituras de canções dos Beatles inspiradas e/ou escritas na Índia e interpretadas por artistas indianos contemporâneos como Karsh Kale, Benny Dayal, Kiss Nuka e Anoushka Shankar, esta última filha do grande músico Ravi Shankar (1920-2012), a rigor quem introduziu George Harrison no mundo da cultura da Índia e um de seus melhores amigos.

Eis as faixas de Songs Inspired By The Film The Beatles And India:

1. Tomorrow Never Knows (ouça aqui ) – Kiss Nuka
2. Mother Nature’s Son – Karsh Kale / Benny Dayal (ouça aqui)
3. Gimme Some Truth – Soulmate
4. Across The Universe – Tejas / Maalavika Manoj
5. Everybody’s Got Something To Hide (Except Me And My Monkey) – Rohan Rajadhyaksha / Warren Mendonsa
6. I Will – Shibani Dandekar / Neil Mukherjee
7. Julia – Dhruv Ghanekar
8. Child Of Nature – Anupam Roy
9. The Inner Light – Anoushka Shankar / Karsh Kale
10. The Continuing Story Of Bungalow Bill – Raaga Trippin
11. Back In The USSR – Karsh Kale / Farhan Ahktar
12. I’m So Tired – Lisa Mishra / Warren Mendonsa
13. Sexy Sadie – Siddharth Basrur / Neil Mukherjee
14. Martha My Dear – Nikhil D’Souza
15. Norwegian Wood (This Bird Has Flown) – Parekh & Singh
16. Revolution – Vishal Dadlani / Warren Mendonsa
17. Love You To – Dhruv Ghanekar
18. Dear Prudence – Karsh Kale / Monica Dogra
19. India, India (ouça aqui) – Nikhil D’Souza

Veja o trailer de The Beatles and India:

Lizzie Bravo, 70 anos, cantou com os Beatles e outros fenômenos

lizzie bravo

Por Fabian Chacur

Pode uma garota brasileira de 15 anos de idade desembarcar sozinha em fevereiro de 1967 na efervescente Londres daqueles anos psicodélicos e em alguns meses se tornar uma verdadeira testemunha ocular de um dos momento mais importantes da carreira de ninguém menos do que os Beatles? Mais: participar de uma gravação dos Fab Four? Essa foi a cereja no bolo da trajetória de Lizzie Bravo, que, no entanto, fez muitas outras coisas relevantes, como ser musa de um grande clássico da nossa música. Ela infelizmente nos deixou nesta segunda (4) aos 70 anos, vítima de problemas cardíacos.

Elizabeth Villas Boas Bravo nasceu em 29 de maio de 1951, e foi uma das primeiras brasileiras a mergulhar de cabeça no som dos Beatles, ao ouvir o álbum Meet The Beatles (1964) que seu pai trouxe dos EUA. Nascia ali uma paixão pelo grupo e, em particular, por John Lennon. E a amiga Denise Werneck teve uma ideia, logo encampada por Lizzie (cujo apelido ela tirou da música Dizzy Miss Lizzy, clássico do rock de autoria de Larry Williams e regravada pelo grupo no seu álbum Help!, de 1965): pedir aos pais de presente uma viagem a Londres.

Lizzie desembarcou em Londres em fevereiro de 1967, e logo se tornou uma frequentadora da porta dos estúdios Abbey Road, onde os Beatles gravavam seus discos, e também da casa de alguns deles. Naquela época, especialmente em Londres, os astros do rock eram muito mais acessíveis do que se tornariam não muito tempo depois, e a adolescente carioca conseguiu aos poucos se tornar uma quase amiga de John, Paul, George e Ringo.

No seu excelente livro Do Rio a Abbey Road (2015), ela relata como foi esse período no qual, afora trabalhos para conseguir se manter melhor na capital inglesa, suas tarefas básicas eram se manter atualizada sobre os lançamentos e novos rumos do grupo e também conseguir autógrafos, fotos e algumas conversas com os músicos. Na base da simpatia e da paciência, foi absolutamente vitoriosa no seu intuito, como provam as belas fotos contidas no livro.

Vale registrar que, nesse período, os Beatles viviam uma fase particularmente iluminada de sua brilhante trajetória, gravando Sgt. Peppers, Magical Mystery Tour e Abbey Road e consolidando de uma vez por todas a sua presença no panteão da música popular.

Lizzie permaneceu em Londres em dois períodos: de fevereiro de 1967 a abril de 1968, e de outubro de 1968 a outubro de 1969. Por lá, fez amizades com outros fãs e tirou a sorte grande em 4 de fevereiro de 1968, um domingo, quando Paul McCartney perguntou às garotas que estavam próximas ao estúdio Abbey Road se alguma delas conseguiria sustentar notas agudas. A nossa conterrânea afirmou positivamente, e depois levou outra amiga, a inglesa Gayleen Pease, para auxiliá-la. Dessa forma, participaram da versão original de Across The Universe.

A belíssima canção, assinada por Lennon e McCartney mas na verdade de total autoria do primeiro, acabou deixada de lado como um possível single do grupo. Em dezembro de 1969, no entanto, foi lançada como parte da coletânea inglesa No One’s Gonna Change Our World- The Stars Sing For The World Wide Fund, ao lado de gravações de dez outros artistas de ponta, entre os quais Bee Gees, The Hollies e Cilla Black.

Across The Universe entrou no repertório do álbum Let It Be (1970), mas em uma versão alterada que retirou os vocais de Bravo e Pease. Rara durante uns bons anos, a única gravação dos Beatles a incluir alguém do Brasil só voltaria a ser acessível ao entrar no repertório das duas versões do álbum Rarities (1980) e no volume 2 da coletânea Past Masters (1988).

Nem é preciso dizer que essa gravação tornou Lizzie Bravo uma figura sempre relembrada pelos fãs-clubes dos Beatles nas décadas seguintes, algo que se ampliou ainda mais com o advento da internet. Posteriormente, ela teve a oportunidade de rever Paul McCartney (em uma entrevista coletiva, em 1990, na qual o ex-beatle a reconheceu), George Harrison e Ringo Starr. Lennon, o seu favorito, infelizmente nos deixou antes de que ela pudesse reencontrá-lo.

Para quem acha que a história de Elizabeth parou por aqui, recupere o fôlego, pois vem mais coisas boas por aí. Em 1970, ao voltar ao Brasil, conheceu o cantor, compositor e músico Zé Rodrix, com o qual foi casada por dois anos. Em parceria com Tavito, ele compôs, inspirado nela, o clássico da MPB Casa no Campo, cuja gravação definitiva é a de Elis Regina. Em sua letra, a música fala de uma “esperança de óculos” (Lizzie) e o sonho de ter um “filho de cuca legal”, que veio na forma de Marya, nascida em outubro de 1971 e hoje cantora e atriz.

No decorrer de sua trajetória profissional, Lizzie foi vocalista de apoio de artistas do gabarito de Milton Nascimento, Joyce Moreno, Zé Ramalho, Ivan Lins, Djavan, Egberto Gismonti, Toninho Horta e Geraldo Azevedo, entre outros, participando de discos e shows deles. Também atuou como fotógrafa para artistas e gravadoras, e morou em Nova York de 1984 a 1994, atuando na área cultural.

O projeto de seu livro teve início em 1980, mas foi interrompido devido à trágica morte de John Lennon. Ela o retomou em 1984, novamente sem o levar adiante. Só em 2015 essa belíssima obra se concretizou, com uma tiragem inicial que se esgotou em 2017 (comprei um dos últimos exemplares, em julho de 2017. Ela preparava uma nova fornada de livros, assim como uma edição em inglês, que provavelmente serão viabilizadas por Marya.

Across The Universe (original version)- The Beatles:

Ringo Starr divulga nova faixa e lançará novo EP nesta sexta (19)

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Por Fabian Chacur

Ringo Starr lançará Zoom In, um novo EP com cinco gravações inéditas, nesta sexta-feira (19). Como forma de saciar a curiosidade de seus milhões de fãs, ele acaba de divulgar previamente mais uma faixa. Trata-se de Zoom In Zoom Out (ouça aqui), um blues rock com tempero pop que conta com as participações especiais do guitarrista Robbie Krieger (ex-The Doors) e o pianista Benmont Tench (ex-Tom Petty And The Heartbreakers). Aliás, o que não falta nesse trabalho é gente famosa marcando presença ao lado do ex-beatle.

A primeira faixa a ser divulgada de Zoom In chegou às plataformas digitais em dezembro, e com direito a um clipe no qual podemos ver Paul McCartney, Joe Walsh (The Eagles), Sheryl Crow e outros. Trata-se de Here’s To The Nights, uma espécie de power ballad com o típico estilo de sua autora, a compositora americana Diane Warren, responsável por megahits gravados por astros como Céline Dion (Because You Loved Me), Aerosmith (I Don’t Want To Miss a Thing) e Nothing’s Gonna Stop Us Now (Starship), entre dezenas de outros.

RINGO STARR ZOOM IN – Créditos

Produzido por: Ringo Starr

Co Produzido, Gravado e Mixado por: Bruce Sugar

Gravado em: Roccabella West Beverly Hills, CA.

Masterizado por: Chris Bellman em Bernie Grundman Mastering

Faixas:

Zoom in Zoom Out (Jeff Zobar)

Ringo Starr: Bateria, Percussão e Vocal

Robby Krieger: Guitarra

Jeff Silbar: Baixo e Guitarra

Benmont Tench: Piano e Orgão

Amy Keys: backing vocals

Windy Wagner: backing vocals

Here’s to the Nights (Diane Warren)

Ringo Starr: Bateria e Vocal

Steve Lukather: Guitarra

Nathan East: Baixo

Benmont Tench: Piano

Bruce Sugar: Synth Guitar

Jim Cox: Arranjo de Corda e Synth Strings

Charlie Bisharat: Violino

Jacob Braun: Cello

Vocais Convidados: Paul McCartney, Joe Walsh bem como Corinne Bailey Rae, Eric Burton (Black Pumas), Sheryl Crow, FINNEAS, Dave Grohl, Ben Harper, Lenny Kravitz, Jenny Lewis, Steve Lukather, Chris Stapleton and Yola.

Waiting For The Tide To Turn (Ringo Starr- Bruce Sugar)

Ringo Starr: Bateria e Vocal

Nathan East: Baixo

Bruce Sugar: Teclado

Tony Chen: Guitarra

Ed Roth: Hammond B3

Zelma Davis: BGV

Not Enough Love in the World (Steve Lukather- Joseph Williams)

Ringo Starr: Bateria, Percussão e Vocal

Steve Lukather: Guitarras, backing vocals

Joseph Williams: Teclados, backing vocals

Arranjo por Joseph Williams

Teach Me To Tango (Sam Hollander)

Ringo Starr – Percussão, Vocal, 1 drum fill

Grant Michaels – Teclado

Josh Edmondson- Guitarra

Sean Gould – Guitarra

Kavah Rastegar – Baixo

Candace Devine – backing vocals

Zelma Davis – backing vocals

Charity Daw – backing vocals

James King – metais

Blair Scinta – Bateria

Hal Rosenfeld – Percussão

Sam Hollander –backing vocals

Produzido por Sam Hollander

Co Produzido por Grant Michaels

Mixado por Chris Dugan

Here’s To The Nights (clipe)- Ringo Starr & Friends:

Paul McCartney relançará álbum Flaming Pie em diversos formatos

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Por Fabian Chacur

Se há um artista sempre disposto a oferecer material inédito aos fãs mais endinheirados, ele atende pelo nome de Paul McCartney. Ele já fazia isso desde o início de sua carreira-solo, com o lançamento de singles com faixas não incluídas em álbuns, mas radicalizou esse procedimento a partir de Flowers In The Dirt (1989), que virou um álbum duplo em sua edição japonesa, algo que também ocorreu com Off The Ground (1993). De lá para cá, a coisa só se expandiu, especialmente com a série Archive Collection.

O novo álbum a ser incluído nesse projeto, para ser mais preciso o 13º a receber tal tratamento, é Flaming Pie (1997). A versão mais luxuosa, intitulada Collection’s Edition e limitada a 3 mil cópias numeradas, traz 5 CDs, 4 LPs de vinil e 2 DVDs, além de um livro com 128 páginas, seis fotos em tamanho grande, reprodução das letras escritas a mão pelo ex-beatle e outros atrativos, acomodados em uma caixa. Veja vídeo apresentando essa edição luxuosa aqui.

Além dessa, temos também a Deluxe Edition, trazendo 5 CDs e 2 DVDs, e outras com 3 LPs de vinil, 2 LPs de vinil e 2 CDs. O álbum original aparece em versão remasterizada, e as faixas-bônus se dividem entre lados B de singles lançados na época, demo-tapes das músicas incluídas no álbum, versões alternativas e as seis partes do programa de rádio Oobu Joobu gravado pelo artista naquela época.

Nem é preciso dizer que os preços não são exatamente acessíveis, o que torna hoje praticamente impossível para um colecionador com renda média se meter a completar o seu acervo. Saiba mais sobre as novas versões de Flaming Pie aqui, com direito a comentários de fãs bravos com os “precinhos camaradas”.

Flaming Pie foi o primeiro álbum-solo lançado por Paul após o projeto Anthology, dos Beatles, e de certa forma pegou uma bela carona no mega-sucesso deste fantástico documentário sobre a carreira dos Beatles. O CD atingiu o 2º lugar nas paradas dos EUA e Reino Unido, algo que o astro do rock não conseguia desde a década de 1980 em sua trajetória individual.

O trabalho foi coproduzido por Jeff Lynne e George Martin e traz participações especiais de Ringo Starr, Steve Miller, Lynne e também da esposa Linda e do filho James. No entanto, ele se incumbiu da maior parte dos instrumentos e vocais. As faixas mais legais são Young Boy, The World Toninght e Calico Skies.

Young Boy (clipe dirigido por Alistair Donald):

Young Boy (clipe dirigido por Geoff Wondor)- veja aqui.

McCartney (1970) e McCartney II (1980), discos iguais e diferentes

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Por Fabian Chacur

Neste ano, dois álbuns de Paul McCartney celebram datas redondas. McCartney (1970) é agora um cinquentão, enquanto McCartney II (1980) festeja 40 velinhas de seu lançamento. Pode parecer paradoxal (e é mesmo), mas são trabalhos ao mesmo tempo iguais e diferentes. Muito iguais e muito diferentes, só para reforçar o conceito. E é essa ideia que será desenvolvida durante esse longo texto.

Primeiro, apresentaremos as semelhanças, para depois nos atermos às peculiaridades de cada lançamento. Para início de conversa, são discos-solo radicais, no sentido de que temos Paul McCartney se incumbindo de todos os instrumentos musicais, produção e tudo o mais, exceto alguns vocais proporcionados por Linda McCartney. Ambos se originaram de gravações feitas em estúdios caseiros, algo ainda incipiente naqueles tempos.

Os dois tiveram como origem o ponto final de duas bandas. No caso do primeiro, os Beatles, cujo marco da separação é exatamente o dia 10 de abril de 1970, quando McCartney foi distribuído à imprensa. Junto com ele, veio um questionário respondido pelo artista no qual, se não de forma escancarada, ficava claro que os Fab Four eram passado para seu baixista e cantor. A repercussão na mídia apenas apressou os acontecimentos.

McCartney II foi o primeiro álbum de Paul após a dissolução dos Wings, que de certa forma estava no ar desde o final de 1979, mas que acabou impulsionada pelo desastrado e inesperado cancelamento da turnê japonesa do artista, com direito a uns bons dias de prisão naquele país por posse de maconha. Traumatizado, o roqueiro só voltaria às tours em 1989, e preferiu assumir novamente o caminho individual, ladeado por músicos de apoio.

A partir daqui, vamos para as histórias de cada um deles. Em setembro de 1969, mesmo mês em que Abbey Road chegava às lojas, John Lennon, em meio a uma tensa reunião, anunciou que desejava sair dos Beatles. O então contador e manager do grupo, Allen Klein, pediu para que ele ao menos segurasse a decisão por algum tempo, por razões estratégicas e comerciais. E foi o que ocorreu.

Canções, temas instrumentais e muito sucesso

Ciente de que a banda estava com os dias contados, Macca comprou um gravador e instalou um estúdio caseiro de quatro canais em Londres com o intuito de fazer gravações despretensiosas. Esse processo gerou o LP. O repertório mesclava músicas como Junk, composta durante a viagem à Índia com os Beatles em 1968, e Teddy Boy, gravada com o grupo mas que só entraria em um disco deles em 1996 (Anthology 3), com outras novíssimas.

O resultado é um disco básico, no qual o artista se mostra bastante versátil, conseguindo boa qualidade de execução até mesmo como baterista. Outra semelhança entre ele e o futuro McCartney II é o fato de ambos incluírem diversos temas instrumentais. Aqui, são eles a deliciosa Hot As Sun/Glasses e as simpáticas Valentine Day, Singalong Junk e Momma Miss America.

Outra instrumental, Kreen-Akrore, é de longe o momento mais experimental do álbum, e não por acaso foi incluída para encerrá-lo. Trata-se de uma faixa com vocalizações hipnóticas e solos de bateria, cuja inspiração veio de um documentário que Paul viu na TV sobre os indígenas brasileiros. Ou seja, a primeira ligação direta do genial músico inglês com o nosso país.

Iniciado com a sucinta The Lovely Linda, com meros 42 segundos, o álbum nos traz diversas daquelas canções melódicas e delicadas que são uma das marcas registradas do Macca. Entre elas, a iluminada Every Night, a deliciosa Man We Was Lonely e a quase valsa Junk. Teddy Boy soa como uma canção nostálgica, enquanto That Would Be Something tem pitadas de blues.

Os momentos mais roqueiros são a ardida Oo You, que abre o lado B do vinil, e a visceral balada rock Maybe I’m Amazed, com direito a um conciso e incandescente solo de guitarra. Curiosamente, esta música, um dos pontos altos do songbook do astro de Liverpool, só sairia no formato single em 1976, e numa versão ao vivo extraída do álbum Wings Over America.

A repercussão do álbum em termos comerciais não poderia ter sido melhor, com direito a atingir o topo da parada americana em 23 de maio de 1970, permanecendo lá durante três semanas. Um começo auspicioso para uma carreira pós-beatles que se mostraria no decorrer das décadas seguintes uma das mais consistentes da história da música pop.

Macca no mundo da música eletrônica dançante

Em janeiro de 1980, antes de chegar ao Japão para alguns shows com os Wings, Paul McCartney passou pelos EUA, e ganhou de um amigo uma quantidade significativa de maconha. Não se sabe onde ele estava com a cabeça quando resolveu colocar o pacote com o presente inusitado e valioso (para ele) em sua mala. Afinal, se a legislação antidrogas é rigorosa em toda a parte, vai ainda mais longe em território japonês. E não deu outra.

Ao ter sua bagagem revistada, Macca foi pego com a mão na massa, digo, na erva, e ficou durante dez dias detido em uma prisão japonesa, correndo o risco até de ter de cumprir uma longa pena por lá. Felizmente, a punição ficou por aí. Ao voltar para sua terra natal, o artista provavelmente ficou traumatizado, e resolveu dar prosseguimento a uma série de gravações caseiras que havia iniciado ainda em 1979, desta vez com um gravador de 16 canais.

Dez anos haviam se passado desde o primeiro álbum ‘exército de um homem só’ do astro britânico. Desde então, ganhou adeptos um estilo musical pontuado por sintetizadores e outros tipos de teclados, e Paul não se mostrou alheio a isso. Ao se ver sozinho novamente, resolveu investir nesses novos recursos para criar o repertório do que viria a ser McCartney II.

A primeira música a emergir da nova safra foi Coming Up, que entrou no repertório dos shows que o músico britânico fez no final de 1979. Ao vivo, mostrava uma pegada um pouco mais roqueira, mas na versão de estúdio, tornou-se totalmente dançante, com um leve tempero de disco music. E foi graças à essa música, disponibilizada previamente em single, que McCartney II teve uma ótima largada em termos comerciais.

Lançada em abril de 1980, Coming Up trazia em seu lado B uma versão ao vivo desta música gravada em Glasgow, Escócia com os Wings em 17 de dezembro de 1979 e também Luchbox/Odd Sox, out-take das gravações do álbum Venus And Mars (1975). Graças à forte execução da versão ao vivo, o single atingiu o topo da parada americana em 28 de junho de 1980, mantendo-se lá por três semanas.

Quando o álbum completo chegou às lojas de todo o mundo, teve vendagens iniciais muito boas, mas logo viu esse desempenho despencar ladeira abaixo. E a razão era simples: o conteúdo era muito diferente do que o ex-beatle habitualmente oferecia ao seu público, exceto por algumas faixas estrategicamente colocadas aqui e ali.

Após a abertura com Coming Up, o álbum traz Temporary Secretary, canção totalmente eletrônica com ecos de Kraftwerk e Devo com um refrão de sotaque irritante. On The Way é provavelmente a incursão pelo blues menos inspirada da carreira do músico. A coisa melhora a seguir com a balada Waterfalls, com ambiência erudita na melhor tradição de She’s Leaving Home e Winter Roses. Maravilhosa, chegou ao 9ª lugar na parada britânica, mas fracassou nos EUA.

Nobody Knows tenta adicionar uma pegada roqueira ao álbum, mas é muito abaixo do que o artista fez de melhor nessa praia. Front Parlour inicia a safra instrumental com elementos do som de Giorgio Moroder, e é passável. O clima etéreo volta em Summer Day Song, com sua letra concisa.

Frozen Jap, mais agitada, é provavelmente o momento mais legal da ala instrumental do álbum. Bogey Music, inspirada no livro Fungus The Bogeyman (1977), de Hamish Hamilton, que fala de um fantasioso povo que vive no subterrâneo, é quase tão constrangedora como Temporary Secretary.

Dark Room passa meio batida, sem deixar grande impressão no ouvinte. O álbum se encerra com One Of These Days, uma bela balada violonística que caberia em McCartney, com sua bela melodia, embora tenha sido gravada de uma forma meio fria e com muito eco, quem sabe.

Curiosamente, faixas gravadas durante as sessões de McCartney II e ou deixadas de lado, ou lançadas como meros lados B de singles, se mostram bem melhores do que várias do álbum, entre as quais podemos citar Secret Friend e Check My Machine (sobre a qual falaremos mais em breve).

No fim das contas, apesar dos pesares, McCartney II liderou a parada britânica e chegou ao terceiro lugar da americana, mesmo tendo vendido bem menos do que trabalhos mais recentes do ex-beatle. Esse álbum ganhou muitos fãs no meio musical com o decorrer dos anos, e é citado como influência por alguns deles, tornando-se possivelmente um dos trabalhos mais cult da carreira do artista.

Curiosidades sobre McCartney e McCartney II

*** A capa de McCartney traz cerejas registradas em cima de uma bancada preparada para pássaros se alimentarem. Na contracapa, temos o ex-beatle vestindo uma jaqueta e exibindo, dentro dela, a cabecinha de sua primeira filha com Linda, Mary. Curiosidade: Mary, nascida em 1969, é quem entrevista o pai no maravilhoso documentário Wingspam (2001), que conta a história dos Wings, a segunda banda de sucesso do Macca.

*** Linda Eastman McCartney foi fotógrafa profissional antes de se casar com Paul, tendo feito registros históricos de artistas como Jimi Hendrix. São delas as diversas fotos incluídas na capa, contracapa e encarte do álbum, que flagram o casal, Heather (filha do casamento anterior dela) e a célebre e encantadora cachorra sheepdog Martha, que inspirou a maravilhosa canção Martha My Dear, do álbum The Beatles (1968- o álbum branco).

*** A sequência harmônica que inicia Man We Was Lonely (ouça aqui) apareceu novamente em outra canção de McCartney, No Words (1973, faixa do álbum Band On The Run, ouça aqui). Confira as duas em seguida e perceba a semelhança. Seria intencional? O curioso é que a segunda é uma parceria de Macca com Denny Layne, dos Wings.

*** Logo após o final da faixa Hot As Sun/Glasses e pouco antes da faixa Junk, é possível ouvir um pequeno trecho do que parece ser outra canção. Só em 2011 essa música foi lançada na íntegra. Trata-se de Suicide, com direito a piano e estilo anos 1920.

*** Em 2011 foi lançada no Brasil uma reedição de McCartney no formato CD duplo. O segundo disco traz sete faixas. São elas Suicide (já comentada anteriormente), Don’t Cry Baby (na verdade, uma versão instrumental de Oo You) e Women Kind, todas deixadas de lado do álbum original, mais versões gravadas ao vivo em Glasgow em 1979 de Every Night, Hot As Sun e Maybe I’m Amazed. O encarte traz as letras das músicas e belas fotos feitas por Linda.

*** Ironia das ironias: após permanecer por três semanas na liderança da parada americana, McCartney perdeu a ponta para ele mesmo. Lançado pouco tempo depois da estreia solo de seu baixista, Let It Be, dos Beatles, assumiu a liderança no dia 13 de junho de 1970, ficando por lá por quatro semanas, ou seja, uma a mais do que o LP do Macca.

*** A edição de McCartney II lançada nos EUA no formato LP de vinil pela gravadora Columbia (que então distribuía os discos do ex-beatle por lá) trouxe como brinde um compacto simples com um único lado registrado trazendo a versão ao vivo de Coming Up gravada em Glasgow.

*** Uma das faixas mais legais de McCartney II é uma instrumental de nome pitoresco: Frozen Jap (japonês congelado, em tradução livre). Seria uma alfinetada em relação à sua prisão no Japão em janeiro de 1980? Ele nunca se estendeu nesse tema…

*** Se na contracapa do primeiro álbum solo Paul incluiu uma foto dele com Mary, em McCartney II, no encarte, a estrela da vez é seu filho James Louis, então com três anos, que aparece puxando a camiseta do pai no estúdio caseiro onde foi gravado o álbum.

*** Check My Machine, lançada originalmente como lado B do compacto cujo lado A é Waterfalls, foi descoberta na época pelas equipes de bailes black de São Paulo e Rio de Janeiro e se tornou um grande hit das pistas de dança. O sucesso foi tanto que a EMI lançou no Brasil essa música em dois formatos, o compacto simples tradicional e um maxi-single (no tamanho de um LP), este último mais utilizado pelos DJs. O DJ Cuca gravou uma versão, Check My Mix, no histórico LP O Som Das Ruas (1988), um dos primeiros do rap nacional (ouça aqui).

*** Em 2011, saiu por aqui uma versão remasterizada de McCartney II no formato CD duplo. O segundo CD traz as faixas inéditas Blue Sway (with Richard Niles Orchestration), Bogey Wobble, Mr. H Atom/You Know I’ll Get You Baby e All You Horse Riders/Blue Sway. Temos também as já lançadas anteriormente e raras no formato CD e em vinil Coming Up (Live At Glasgow 1979), Check My Machine, Wonderful Christmastime e Secret Friend.

*** McCartney atingiu o topo da parada americana e emplacou o 2º lugar no Reino Unido. Por sua vez, McCartney II se deu melhor no Reino Unido, liderando a parada de lá, enquanto nos EUA chegou ao 3º lugar.

Ouça McCartney II aqui .

Ouça McCartney (1970) em streaming:

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