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David Crosby, 81 anos, um dos grandes gênios do rock and roll

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Por Fabian Chacur

Pelo menos desde os anos 1980 David Crosby se deparou com diversos problemas de saúde, alguns bem sérios. Ele, no entanto, não só lutou bravamente contra eles, como também se manteve ativo, fazendo shows e lançando novos trabalhos como artista solo e com grupos como CPR e Crosby, Stills & Nash (com ou sem Young). Este guerreiro se manteve ativo até o final. Que, infelizmente, chegou nesta quinta-feira (19), notícia confirmada pela sua esposa em comunicado nas redes sociais. Ele nos deixa com 81 anos.

Um de meus grandes ídolos, David Crosby foi alvo de diversas matérias de Mondo Pop (vasculhe nossos arquivo aqui ). Seu mais recente álbum, For Free, saiu em 2021. Leia a seguir um dos textos que fiz em homenagem a ele, flores que ofereci a esse gênio do rock ainda em vida, graças a Deus.

A carreira de David Van Cortland Crosby, nascido em 14 de agosto de 1941, equivale a uma inacreditável viagem, repleta de surpresas. Ele passou seus anos de formação nos Byrds, banda na qual ele era um coadjuvante de luxo para o líder Roger McGuinn (vocal, composições e guitarra) e também para Gene Clark (vocal). Com o tempo, percebeu que não conseguiria ter no grupo o espaço suficiente para dar vasão a seu talento, e no processo acabou sendo expulso do time, no final de 1967.

A partir daí, ele abriu as portas da sua carreira para novas experiências. Conheceu Stephen Stills (ex-Buffalo Springfield) e Graham Nash (ex-The Hollies) e criou o Crosby, Stills & Nash, grupo seminal para a história do rock no qual as individualidades eram respeitadas, e que volta e meia virava Crosby, Stills, Nash & Young com a eventual participação de Neil Young (também ex-Buffalo Springfield).

Paralelamente ao CSN/CNSY e a trabalhos em dupla com Graham Nash, Crosby também desenvolveu uma carreira solo que iniciou de forma brilhante, com If I Could Only Remember My Name (1971). Teríamos de esperar 18 longos anos para poder ouvir um segundo trabalho solo do artista, com o irônico título Oh Yes I Can (1989). “Se eu ao menos pudesse me lembrar do meu nome”, dizia o título da estreia solo. “Oh, sim, eu posso”, afirma sem sombra de dúvidas o segundo.

Nos anos 1990, foram três trabalhos solo, um de estúdio com composições alheias e duas de sua autoria, o belíssimo Thousand Roads (1991) e dois ao vivo, It’s All Coming Back To Me Now (1994) e King Biscuit Flower Hour (1996). Aí, surge o trio CPR com Raymond e Jeff Pevar, que lançou quatro álbuns (dois de estúdio e dois ao vivo) entre 1998 e 2001) com uma bela mistura de rock, jazz, folk e country.

Filho do premiado cineasta Floyd Crosby (1899-1985), David Crosby tem como marcas um forte lado intelectual, além de ouvinte atento de jazz, preferência audível nos acordes de violão que usa em suas composições. De temperamento difícil e rebelde, ele teve de superar problemas como prisão por consumo de drogas na metade dos anos 1980, um transplante de fígado nos anos 1990 e um problema cardíaco em 2014, percalços que venceu tal qual um highlander do rock.

Em 2014, após alguns anos se dedicando a trabalhos com o Crosby, Stills & Nash, Crosby volta à carreira solo com o excelente Croz. Ele lançaria mais quatro álbuns de estúdio, além de alguns ao vivo e um documentário sobre sua brilhante carreira, David Crosby: Remember My Name (2019), dirigido pelo consagrado Cameron Crowe.

David Crosby se apresentou ao vivo no Brasil em maio de 2012 como integrante do Crosby, Stills & Nash, e eu tive a honra de ver um desses shows, no hoje extinto Via Funchal, em São Paulo. Um dos melhores que já vi na minha vida, no qual ele teve uma performance simplesmente impecável. Leia mais sobre esse memorável show aqui.

Laughing– David Crosby:

Brian Wilson, 80 anos, a prova de que milagres são possíveis

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Por Fabian Chacur

No dia 20 de junho deste ano, Brian Wilson completou 80 anos de idade. Uma bela efeméride, sem sombra de dúvidas. A beleza de tal celebração se torna muito maior se levarmos em conta a trajetória deste genial cantor, compositor, músico, arranjador e produtor norte-americano. Se há alguém que merece ser colocado entre os exemplos de que, sim, milagres são possíveis, é o fundador dos lendários The Beach Boys.

Desde muito jovem Brian viu seus dons musicais virem à tona. Fã do grupo vocal The Four Freshmen, do compositor George Gershwin e do rock de Chuck Berry, entre outras influências bacanas, ele soube como poucos mesclar esses elementos e criar uma sonoridade própria.

Ao lado dos irmãos Carl (1946-1998) e Dennis Wilson (1944-1983), do primo Mike Love e do amigo Alan Jardine, criou os Beach Boys em 1961, grupo que rapidamente se tornou um marco da história do rock.

Com vocalizações intrincadas, e deliciosas, aliadas a melodias caprichadas e letras evocando o surf, o mar, o amor, os carros e a diversão, o grupo invadiu as paradas de sucesso com hits marcantes como Help Me Rhonda, California Girls, I Get Around e inúmeros outros, que continuam até hoje soando deliciosos, ingênuos e extremamente cativantes.

Em dezembro de 1964, Brian começou a sofrer com problemas emocionais, e deixou os shows dos Beach Boys, concentrando-se na função de compositor e músico de estúdio do grupo. Inicialmente, foi substituído nos shows pelo então ainda desconhecido Glenn Campbell (que depois se tornaria um astro) e a seguir por Bruce Johnston, que se incorporaria à banda de forma efetiva.

Ao ouvir o álbum Rubber Soul (1965), dos Beatles, Brian Wilson ficou apaixonado pelo que ouviu, e se sentiu impelido a buscar caminhos ainda mais ousados para a já ousada música que fazia. Esse processo desembocaria em Pet Sounds (1966), um dos trabalhos mais elogiados e influentes da história do rock e sempre nas listas dos melhores LPs de todos os tempos.

Ao lançar o single Good Vibrations naquele mesmo 1966, Wilson entusiasmou público e crítica, com uma verdadeira sinfonia pop com menos de 4 minutos. A canção saiu como uma espécie de prévia do que seria o próximo álbum dos Beach Boys, cujo título seria Smile. Começava ali um dos momentos mais inacreditáveis da história da música pop, ainda mais se levarmos em conta o seu final.

Durante aproximadamente 10 meses, até a metade de 1967, Brian levou seus colegas de grupo e a diretoria da gravadora Capitol à loucura, com suas ousadias estéticas, pirações completas e excentricidades do tipo colocar um piano em uma grande caixa de areia para que pudesse compor se sentindo na praia. Chegou um momento em que o álbum parecia que não iria ser concretizado. E, de fato, infelizmente não foi.

Quando os Beatles lançaram Sgt Peppers, em junho de 1967, aparentemente Brian se sentiu incapaz de encarar tal poderosa concorrência, e o projeto Smile foi engavetado, com suas músicas aparecendo aqui e ali em outros álbuns da banda, inicialmente em Smiley Smile (1967). E as drogas foram tornando o estado mental do artista cada vez pior e sua produção cada vez mais esparsa.

Quando as mortes prematuras de grandes nomes do rock tiveram início em 1969, com a perda de Brian Jones, dos Rolling Stones, as macabras listas de quem seria o próximo a seguir Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison sempre traziam Brian Wilson entre os primeiros colocados. Vídeos dos anos 1970 mostravam ele preso a uma cama, engordando e parecendo cada vez mais fora de sintonia com o mundo. Pouco trabalho criativo e muito desperdício de tempo e de saúde.

As coisas começaram a tomar uma feição diferente, após muitas idas e vindas que geraram internações e diversos problemas para ele e seus entes queridos, a partir dos anos 1980. Sua parceria com o psicólogo Eugene Landy a princípio se mostrou positiva, e o direcionou rumo à criação do seu primeiro álbum solo, Brian Wilson, lançado em 1988 e muito elogiado. Mas, em 1991, ele se afastaria de Landy, que tentava controlá-lo e se aproveitar do músico de forma abominável.

A partir deste momento, sua vida começou a tomar rumos surpreendentes. Casou-se novamente, desta vez com Melinda Ledbetter, adotou cinco filhos e voltou a se dedicar à música de forma mais efetiva. Gravou com as filhas Wendy e Carnie, de seu primeiro casamento e conhecidas como integrantes do grupo pop Wilson Phillips. Lógico que nada aconteceu em um clima de mar de rosas. Ele teve, por exemplo, de lidar com a perda dos irmãos, Dennis em um acidente em 1983 e Carl por problemas de saúde, em 1998.

Sua relação com os remanescentes dos Beach Boys, especialmente o primo Mike Love, que se tornou o líder da banda, foi recheada de altos e baixos, de reuniões eventuais e de brigas judiciais. E Brian sempre teve de se cuidar para dar conta de seus problemas emocionais. No entanto, mesmo assim, ele deu uma linda volta por cima.

A partir de 1999, voltou com tudo aos shows. Passou a lançar álbuns solo com canções inéditas e também relendo material dos filmes da Disney e de seu ídolo George Gershwin. Em 2002, surpreendeu o mundo ao tocar na íntegra o repertório de Pet Sounds, gerando o sublime álbum Brian Wilson Presents Pet Sounds Live. Mas uma surpresa maior chegaria logo a seguir.

Novamente reunido com o letrista Van Dyke Parks, Brian Wilson se debruçou nas composições de Smile e finalizou o repertório e a respectiva ordem das músicas. Acompanhado por músicos de orquestra e por integrantes da banda de rock alternativo The Wondermints, apresentou ao vivo em 2004 em Londres a sua obra enfim finalizada. Em seguida, o registrou em estúdio. Sim, Smile saiu em 2004, 37 anos após ter sido iniciado, agora como obra-solo dele. E que trabalho maravilhoso!

Ainda ativo e lutando bravamente contra os seus demônios, Brian Wilson celebra 80 anos de idade como um dos grandes criadores da história da música popular. Tive a honra de cumprimentá-lo e ter o seu autógrafo em meu exemplar de Brian Wilson Presents Smile em 2004, na extinta e saudosa FNAC Paulista. Ele também fez shows no Brasil. Que Deus abençoe esse incrível sobrevivente, um exemplo de como é possível realizar os sonhos mais improváveis e tidos como impossíveis.

Ouça Smile, de Brian Wilson, em streaming:

Michael Nesmith, 78 anos, dos Monkees, rebelde compositor

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Por Fabian Chacur

Em 1965, o cantor, compositor, ator e músico americano Michael Nesmith fez parte de um processo seletivo para uma série de TV americana que contou com 437 concorrentes. Ele foi um dos quatro escolhidos, e ganhou fama mundial sendo um dos integrantes do The Monkees, que além de seriado televisivo também virou um grupo de rock de muito sucesso. O mais rebelde e de personalidade mais forte da turma, ele infelizmente nos deixou nessa última sexta-feira (10), aos 78 anos, vítima de uma insuficiência cardíaca.

Nascido em Houston, Texas (EUA) em 30 de dezembro de 1942, Nesmith começou a carreira musical participando do circuito folk de Los Angeles, Califórnia, e gravou singles para o selo Colpix valendo-se do pseudônimo Michael Blessing. Em outubro de 1965, foi escolhido para integrar o elenco de The Monkees ao lado do inglês Davy Jones (1945-2012) e dos também americanos Peter Tork (1944-2019) e Micky Dolenz (1945). A química entre eles se mostrou perfeita desde o início.

A partir da estreia da série na TV americana, em setembro de 1966, The Monkees se tornou um imenso sucesso não só por sua divertida trama, a de um grupo fictício de rock talentoso, divertido e escancaradamente inspirado nos Beatles das fases A Hard Day’s Night e Help!, mas também pelas ótimas músicas gravadas para os episódios e lançadas em singles e álbuns, de autores como Boyce & Hart, Carole King, Neil Diamond e outros.

No inicio, os quatro atores participavam pouco ou quase nada dos discos, mas Nesmith desde o começo se sobressaiu como compositor e também como o rebelde da turma. Foi ele quem atiçou o quarteto a tentar se impor como um grupo de verdade, tocando e cantando em seus discos. Várias de suas composições foram gravadas pelos Monkees, entre as quais Listen To The Band, The Girl I Knew Somewhere, Tapioca Tundra, Mary Mary e Good Clean Fun.

Após o sucesso meteórico em 1966 e 1967, o seriado saiu de cena em meados de 1968 e o quarteto viu a sua popularidade ir caindo rapidamente. Peter Tork foi o primeiro a sair do time. Michael Nesmith pegou o gorrinho de lã (sua marca registrada) e deu o fora em 1970. Um pouco antes, já havia lançado seu primeiro disco solo, The Wichita Train Whistle Sings (1968). Uma de suas composições, Different Drum, fez muito sucesso em 1967 com o Stone Poneys, grupo que tinha como vocalista Linda Ronstadt, que depois viraria uma estrela do country rock.

Fora dos Monkees, Nesmith mergulhou em uma carreira no country rock, lançando vários LPs solo e também investindo em bandas como a First National Band. Alguns de seus singles viraram hits, entre os quais Joanne e Silver Moon . Foi provavelmente o mais estável e respeitado dos ex-integrantes do grupo em sua jornada individual, destacando-se como cantor, músico e compositor.

A mãe de Michael Nesmith, Bette, foi a criadora do célebre liquid paper, e vendeu em 1979 a sua parte na empresa correspondente para a Gillete Corporation pelo então enorme valor de 47 milhões de dólares. Ela faleceu no ano seguinte, e toda essa herança ficou para o filho único, que por sinal vivia naquele momento uma fase de vacas magras em termos financeiros. A partir dali, ele também passou a produzir filmes e atuar em projetos beneficentes.

Dessa forma, Nesmith se manteve afastado do bem-sucedido retorno dos Monkees em 1986, fato ocorrido graças ao relançamento de todos os álbuns do quarteto pelo selo Rhino e também pela reexibição do seriado na TV. Ele só marcou presença em dois dos shows da turnê, e só para participações breves.

No entanto, em 1996, a surpresa: os Monkees não só voltavam com a sua formação original, como também lançavam Justus, o primeiro álbum feito totalmente por eles, que não só compuseram todas as canções (sendo duas de autoria de Nesmith) como também se incumbiram de todos os vocais e instrumentos. O CD não foi um estouro de vendas, mas recebeu elogios por parte da crítica e dos fãs. O título é um trocadilho (just us, apenas nós, em tradução livre).

Após a morte de Davy Jones, os Monkees fizeram shows em formato de trio em 2012, 2013 e 2014. O grupo também lançou dois novos álbuns, Good Times! (2016) e Christmas Party (2018), ambos com participação de Nesmith, que também participou de alguns shows. Ele também escreveu alguns livros durante sua trajetória. Infelizmente, agora só temos Micky Dolenz entre nós desse grupo que poderia ter sido apenas uma piada televisiva, mas que marcou a vida de muita gente com suas canções divertidas e deliciosamente pegajosas.

Listen To The Band– The Monkees:

Dion, lenda viva, lançará álbum com convidados do 1º escalão

Dion Stomping Ground

Dion Stomping Ground

Por Fabian Chacur

Em meio a tantas notícias ruins e a tantos artistas maravilhosos nos deixando, é fantástico poder divulgar novidades positivas de um dos grandes nomes do rock and roll. Trata-se do grande Dion, que aos 82 anos continua ativo e produtivo. Ele acaba de divulgar o clipe de Take It Back, e anuncia o lançamento de um novo álbum, Stomping Ground, que será lançado em 5 de novembro em CD simples, LP duplo de vinil e nas plataformas digitais. Outra faixa já havia sido divulgada com clipe, I’ve Got To Get To You (veja aqui).

Com 14 faixas, sendo apenas uma não inédita, o clássico Red House (de Jimi Hendrix), e na sua maioria composições do próprio Dion DiMucci em parceria com Mike Aquilina, Stomping Ground flagra o artista ao lado de grandes nomes de várias gerações do rock e do blues, entre os quais Bruce Springsteen, Patti Scialfa, Boz Scaggs, Rickie Lee Jones, G.E. Smith, Joe Bonamassa e Keb’ Mo, com o texto incluído no encarte (liner notes) escrito por ninguém menos do que Pete Townshend, um dos inúmeros fãs célebres do artista americano.

As duas faixas já disponibilizadas, ambas excelentes, são blues elétricos e sacudidos, e não é surpresa o fato de o lançamento ser feito pela KTBA Records, selo ligado à fundação Keep The Blues Alive, criada por Joe Bonamassa para manter o blues mais firme e forte do que nunca. Por sinal, esta gravadora teve como primeiro lançamento o disco anterior de Dion, Blues With My Friends (2020), com participações de Paul Simon, Jeff Beck e Bruce Springsteen.

Na ativa desde 1957, Dion fez sua fama inicialmente com o grupo vocal Dion And The Belmonts, embarcando posteriormente em uma brilhante carreira-solo. Sua mistura do rock inicial com o doo-wop mostrou-se original e impactante, gerando hits como A Teenager In Love, I Wonder Why, Runaround Sue, The Wanderer e Abraham Martin And John, só para citar alguns, até o fim dos anos 1960.

Desde então, se não visitou mais as paradas de sucesso, manteve-se ativo e gravando ótimos álbuns (alguns de música cristã), entre os quais o excelente Yo Frankie (1989), com participações de Bryan Adams, Lou Reed, Paul Simon, k.d. Lang e Patty Smith. Em 24 de março de 2022, estreará em Millburn, New Jersey (EUA) o musical The Wanderer, inspirado em sua bela trajetória musical.

Eis as faixas de Stomping Ground:

Take It Back– with Joe Bonamassa
Hey Diddle Diddle– with G.E. Smith
Dancing Girl– with Mark Knopfler
If You Wanna Rock ‘n’ Roll– with Eric Clapton
There Was A Time– with Peter Frampton
Cryin’ Shame– with Sonny Landreth
The Night Is Young– with Joe Menza and Wayne Hood
That’s What The Doctor Said– with Steve Conn
My Stomping Ground– with Billy F Gibbons
Angel In the Alleyways– with Patti Scialfa and Bruce Springsteen
I’ve Got To Get To You– with Boz Scaggs, Joe Menza and Mike Menza
Red House– with Keb’ Mo’
I Got My Eyes On You Baby– with Marcia Ball and Jimmy Vivino
I’ve Been Watching– with Rickie Lee Jones and Wayne Hood

Take It Back (clipe)- Dion e Joe Bonamassa:

Jim Morrison: o brilho eterno de uma chama que nunca se apaga

jim morrison

Por Fabian Chacur

Jim Morrison foi uma das figuras mais enigmáticas da história do rock. Mistura de cantor, poeta, cineasta, performer e guru, durou apenas 27 anos. Ele se foi em 3 de julho de 1971, mesma data em que, dois anos antes (1969), nos deixava outra figura marcante da história do rock, Brian Jones, dos Rolling Stones. E com os mesmos 27 anos que Jones, Janis Joplin e Jimi Hendrix (estes dois em 1970) saíram de cena. Uma partida prematura, mas não inesperada, pois ele era mesmo uma vela ao vento, sempre prestes a se apagar.

Mas antes que se fosse, vítima de um até hoje suspeito ataque do coração em Paris, para onde havia se mudado nos primeiros meses de 1971, deixou-nos uma obra repleta de grandes momentos, criação artística e intensidade poucas vezes vistas em uma obra desse universo tão rico e diversificado que chamamos de rock and roll. Sua banda, The Doors, nunca foi e nunca será unanimidade, embora seja uma das mais influentes de todos os tempos.

Fui cativado pela banda dez anos após a morte de seu cantor, em um dos vários revivals em relação à sua obra, no início dos anos 1980, em função da utilização da música The End em uma cena emblemática do filme Apocalypse Now (1979), do cineasta Francis Ford Coppola. Comecei logo com o álbum de estreia, autointitulado e de 1967, que encontrei em uma rara e fora de catálogo edição nacional em vinil.

Trata-se de um dos melhores discos de estreia de uma banda de rock. Nunca vou me esquecer da primeira vez em que o ouvi. Logo de cara, veio aquele turbilhão intitulado Break On Through (To The Other Side), aquela improvável mistura de bossa nova, teclado eletrônico e rock pesado. E aquilo era só o começo! Também com bossa nova no meio, mesclada com pop, rock pesado e algo que ainda nem existia em termos de rótulo, o rock progressivo, Light My Fire foi a porta de entrada do grupo nas paradas de música pop.

E vale o registro, antes de continuar a falar sobre aquela estreia espetacular: embora experimental, ousado, elevando o sarrafo do rock enquanto arte lá para o alto, The Doors sempre foi uma banda de muito sucesso comercial, tanto que os seis álbuns de estúdio que lançou entre 1967 e 1971 atingiram o top 10 da parada americana, além de venderem muito em diversos outros países.

Quando Morrison se encontrou com o tecladista e também compositor Ray Manzarek (1939-2013) nos arredores da escola de cinema que ambos frequentavam, bastou recitar alguns versos do que viria a ser a música Moonlight Drive para que o novo amigo imediatamente vaticinasse que eles criariam uma banda de rock e ganhariam um milhão de dólares. “Penso a mesma coisa”, disse ele. E não deu outra.

Uma das razões pelas quais os Doors foram o que foram reside na soma de seus talentos. Morrison com sua voz ora agressiva, ora doce, mas sempre potente, e com seus versos viajantes e incisivos. Manzarek com seus teclados com elementos eruditos e jazzísticos. Robby Krieger e sua guitarra com elementos de música flamenca, e John Densmore e o espírito de um baterista de jazz. Uma fusão que os levou ao topo da cena roqueira de então.

Aquele incrível disco de estreia, que também trazia entre outros destaques a mitológica e extensa The End, a envolvente The Crystal Ship e a potente Soul Kitchen, além de uma inesperada releitura de Alabama Song (Whisky Bar) de Bertold Brecht e Kurt Weil, foi seguido no mesmo ano por uma espécie de continuação natural, Strange Days, com pérolas do porte de People Are Strange, Moonlight Drive, My Eyes Have Seen You e When The Music’s Over.

O sucesso levou os Doors aos grandes palcos, a excursões e a shows polêmicos nos quais Jim Morrison podia tanto dar uma aula de como se cativar uma plateia como eventualmente descambar para a pura baixaria provocativa, o que lhe valeu boas dores de cabeça com as autoridades e “com a política em particular.

A música criada por Jim e seus parceiros tem forte teor cinematográfico, pois inevitavelmente leva o seu ouvinte a associá-la a imagens, como se fosse a trilha sonora de relatos envolvendo sonhos, relações afetivas e profundas reflexões sobre a vida. Na verdade, os Doors foram provavelmente uma das bandas mais outsiders da sua geração, pois não se encaixava em nenhum rótulo ou turminha. Progressivo antes da hora? Hard rock? Blues turbinado? Pop apimentado? Eles eram isso e muito mais.

Morrison obviamente não deu conta de ser um símbolo sexual e estrela cintilante do rock, e mergulhou nos excessos típicos do rock- sexo, drogas, noites em claro, inconsequência. Pagou um preço caro, mas ele provavelmente não se importou em nenhum momento com aquilo. Viveu cada minuto, criou grandes canções, lançou elogiados e bem recomentáveis livros de poesia e nunca teve medo de defender suas ideias libertárias.

Além dos dois álbuns já citados, os Doors lançaram até 1971 os medianos (mas com alguns momentos fantásticos) Waiting For The Sun (1968) e The Soft Parade (1969) e os excelentes Morrison Hotel (1970) e L.A. Woman (1971), além do ao vivo Absolutely Live (1970). De forma póstuma, em 1978, saiu An American Prayer, com poemas previamente gravados por Morrison e com acompanhamentos instrumentais criados posteriormente por seus ex-colegas, incluindo a envolvente The Ghost Song.

Após a morte de seu cantor, o trio remanescente dos Doors tentou seguir em frente, lançando dois álbuns em 1972, Other Voices e Full Circle, mas ficou claro que, sem Morrison, não existiam os Doors, que se separaram pouco depois. Melhor ideia ocorreu nos anos 2000, quando Manzarek e Krieger se uniram ao cantor do The Cult, Ian Astbury, e foram para a estrada com o show The Doors Of The 21st Century, que tive a a chance de ver em 2004 em São Paulo, em um Credicard Hall lotadíssimo. Em uma palavra: maravilhoso.

50 anos após a sua morte, Jim Morrison continua sendo um dos grandes ícones do rock, e suas canções permanecem necessárias, sempre prontas a serem descobertas por novas gerações de rebeldes que não se contentem com trabalhos inconsistentes ou sem alma. Eles continuam e continuarão sempre sendo as portas para muitas descobertas.

The Doors- The Doors (1967)- ouça em streaming:

If I Could Only Remember My Name…- David Crosby (1971)

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Por Fabian Chacur

Quando o álbum If I Could Only Remember My Name… chegou às lojas de discos, mais precisamente no dia 22 de fevereiro de 1971, David Crosby já era um nome consagrado no cenário do rock. Primeiro, integrando de 1965 a 1968 os Byrds, banda que não só consolidou o folk rock como foi muito além, psicodelia e country rock afora. Em seguida, fazendo parte do supergrupo Crosby, Stills & Nash, que ganharia um Young adicional pouco após lançar o seu disco de estreia, em 1969.

A semente deste trabalho surgiu em julho de 1970, após o fim da turnê que o Crosby, Stills, Nash & Young realizou para divulgar seu álbum Déja Vú. O clima beligerante entre ele, Stephen Stills, Graham Nash e Neil Young colocou a banda no freezer por tempo indeterminado, com cada um deles tentando capitalizar para si próprios o imenso sucesso que a banda havia feito naqueles poucos, porém intensos e produtivos meses de existência.

Se o sucesso de sua banda certamente alimentava seu ego e sua alma, Crosby também administrava a imensa tristeza de ter perdido, no dia 30 de setembro de 1969, sua namorada, Christine Gail Hinton (1948-1969), em um fatal acidente automobilístico. Essa dor o levou a intensificar seu contato com o mar, a ponto de morar em seu barco, ancorado no porto de Sausalito, em Marin County.

Uma forma informal de definir o DNA do primeiro álbum individual do cantor, compositor e músico norte-americano nascido em 14 de agosto de 1941 é “solo, porém bem acompanhado”. E a explicação para tal definição vem do local onde o trabalho foi gravado e o clima reinante por aquelas plagas. Estamos falando do Wally Heider Studios, situado em San Francisco, Califórnia, um dos grandes polos do rock americano naquele período.

Com três salas de gravação disponíveis, o local era frequentado pelos mais badalados roqueiros da época. Naquele mesmo período, além do disco de Crosby, estavam sendo registrados outros dois trabalhos, o 1º disco solo de Paul Kantner, do Jefferson Airplane (Blows Against The Empire-1970), e um LP da genial banda psicodélica Grateful Dead (American Beauty-1970).

A informalidade e o bom relacionamento entre os músicos geravam colaborações espontâneas. Quando uma das sessões de gravação era interrompida para algum procedimento técnico, por exemplo, os músicos envolvidos nela de repente se viam no estúdio ao lado, e sem que nada fosse previamente combinado, surgia uma vocalização ali, uma slide guitar acolá, e, pronto, uma faixa clássica tomava forma de um jeito imprevisível.

Stephen Barncard, que se incumbiu da gravação e da mixagem de If I Could Only Remember My Name…, conta que vinha para cada dia de trabalho preparado para tudo o que pudesse rolar, pois os formatos variavam desde Crosby sozinho até um time com dez craques do rock ali, do nada, lado a lado. O legal é que, mesmo com esse clima de improviso constante, o resultado final conseguiu concisão suficiente para gerar um resultado antológico.

O braço direito de Crosby acabou sendo Jerry Garcia, o líder do Grateful Dead, que deu a várias faixas do LP um tempero todo especial com sua guitarra e especialmente com sua slide guitar. Além de integrantes do Dead, do Airplane, do Santana e do Quicksilver Messenger Service, o disco também trouxe os parceiros Graham Nash e Neil Young. Apenas Stephen Stills não marcou presença, dos craques do CSN&Y.

O repertório, selecionado entre canções compostas de 1968 a 1970, vai do clima hard rock da potente Cowboy Movie e da ardida What Are Their Names até a espiritualidade envolvente de Song With No Words (Tree With No Leaves). O álbum conseguiu bom resultado comercial, atingindo o posto de nº 12 na parada americana e vendendo mais de 500 mil cópias por lá, e a mesma posição na parada britânica.

As canções são tão boas que merecem serem detalhadas uma a uma, incluindo a escalação de músicos e cada uma delas, algo que você não encontra nos créditos do álbum, por sinal. Essas informações foram garimpadas de várias fontes, entre as quais os livretos das caixas Voyage– David Crosby (2006) e CSN– Crosby Stills & Nash (1991) e do livro Crosby Stills & Nash- The Biography (2000- Dave Zinner e Henry Diltz).

Music Is Love (David Crosby)- Vocais: David Crosby, Graham Nash e Neil Young. Violões: David Crosby e Neil Young. Congas: Graham Nash.
Esta foi a única faixa do disco gravada no A&M Studios em Los Angeles, California, e também a única produzida por Nash e Young. A gravação foi feita de improviso, e Crosby não pensava em incluí-la no disco, mas seus amigos gostaram tanto do resultado que levaram a fita, acrescentaram outros elementos e a devolveram a Crosby, que, ao conferir o resultado, viu que não poderia deixá-la de fora. O clima é de mantra, envolvendo o ouvinte logo nos primeiros acordes. Um belo pontapé inicial para o LP.

Cowboy Movie (David Crosby)-David Crosby (vocal, guitarra e palmas)- Jerry Garcia (guitarra)- Neil Young (guitarra), Phil Lesh (baixo)- Mickey Hart (bateria, percussão, palmas).
Neste rockão, belo sucessor de Almost Cut My Hair (do álbum Dèja Vú), Crosby conta de forma bem humorada, como se fosse o enredo de um faroeste, a história da separação do CSN&Y. Cada integrante mereceu um codinome. Crosby é o Old Weird Harold, Neil Young, o Young Billy, Stephen Stills, o Eli, Graham Nash, The Dynamiter, e a cantora Rita Coolidge, que gerou uma briga amorosa entre Stills e Nash (ganha por este último) é a Indian Girl. O clima de bangue-bangue também remete à capa de Dèja Vú, na qual os integrantes do CSN&Y aparecem trajados com roupas daquela época. O vocal vibrante de Crosby e o duelo de guitarras entre Young e Garcia são marcantes.

Tamalpais Hight (At About 3) (David Crosby)- David Crosby (guitarra, vocal)- Jerry Garcia (guitarra)- Jorma Kaukonen (guitarra)- Phil Lesh (baixo)- Bill Kreutzmann (bateria).
Sem letra, esta faixa se vale das envolventes vocalizações de Crosby para te levar a um clima contemplativo. A guitarra de timbre e inspiração jazzística é de Kaukonen, do Jefferson Airplane, em uma combinação de músicos que poderíamos apelidar de Jefferson Dead ou Grateful Airplane.

Laughing (David Crosby)- David Crosby (vocal, violão 12 cordas e guitarra)- Jerry Garcia (guitarra e pedal steel)- Phil Lesh (baixo)- Bill Kreutzmann (bateria)- Joni Mitchell (vocais).
Foi Crosby quem apresentou George Harrison ao trabalho de Ravi Shankar, e por tabela, à cultura oriental. Ele de certa forma se preocupava com a obcessão do amigo em descobrir a “verdade sobre a vida”, o que levou o músico britânico a se envolver com o célebre Maharishi. Daí surgiu a inspiração para a letra desta belíssima balada swingada, na qual podemos ouvir uma das grandes performances de steel guitar da história, pilotada pelo saudoso Jerry Garcia. Nos versos, Crosby diz ao amigo que, na verdade, a resposta que ele tanto procurava podia estar no sorriso inocente de uma criança tomando sol.

What Are Their Names (David Crosby-Neil Young-Jerry Garcia-Phil Lesh-Michael Shrieve)- David Crosby (violão e guitarra, vocais)- Jerry Garcia (guitarra)- Neil Young (guitarra)- Michael Shrieve (bateria)- David Frieberg, Jerry Garcia, Paul Kantner, Phil Lesh, Joni Mitchell, Graham Nash, Grace Slick (vocais).
Uma espécie de “quem é quem” no universo do rock americano de então, especialmente o de San Francisco. Balada climática, ardida, com letra cutucando a hipocrisia dos políticos, sempre tentando ocultar seus nomes na execução de fatos escusos e com objetivos corruptos e asquerosos.

Traction In The Rain (David Crosby)- David Crosby (vocal e violão)- Laura Allen (autoharp). Graham Nash (violão e vocais).
Canção acústica e doce, nas quais os acordes jazzísticos típicos da obra de Crosby prevalecem de forma cristalina, além da sutileza das intervenções de Laura Allen. Encantadora é pouco!

Song With No Words (Tree With No Leaves) (David Crosby)- David Crosby (guitarra, violão de 12 cordas e vocal)- Jerry Garcia (guitarra)- Jorma Kaukonen (guitarra)- Gregg Rolie (piano)- Jack Casady (baixo)- Michael Shrieve (bateria).
Em uma combinação que poderia ser apelidada de Jefferson Santana por mesclar músicos de duas bandas seminais do rock americano, Crosby nos encanta com outra faixa sem palavras, na qual a melodia melancólica e introspectiva é ressaltada por vocalizações simplesmente arrepiantes por parte do dono da festa.

Orleans (tradicional, adaptação David Crosby)- David Crosby (violões e vocais).
Doce canção folclórica bem adaptada pelo ex-integrante dos Byrds, na qual ele mais uma vez mostra sua incrível capacidade de fazer arranjos vocais com assinatura própria.

I’d Swear There Was Somebody Here (David Crosby)- David Crosby (vocais).
O título que esta peça com seis partes vocais, todas executadas pelo próprio artista, acabou ganhando (eu juro que tinha alguém aqui, em tradução livre) tem a ver com a impressão que Crosby afirma ter tido na hora em que a gravação estava sendo feita de que o espírito da amada Christine estava no estúdio. O resultado final reflete essa descrição, arrancando arrepios do ouvinte.

Obs.: em 2006, uma edição especial deste álbum trouxe uma faixa-bônus inédita, feita durante as gravações do álbum.
Kids And Dogs (David Crosby)- David Crosby (violão e voz)
Outro desses momentos maravilhosos de que Crosby é capaz se valendo apenas de violão e vocais.

A capa do álbum é uma foto de Robert Hammer registrando um frame de um filme de 16 mm que mescla de forma mágica o rosto de David Crosby e um pôr do sol em pleno mar, captando de forma lírica o espírito de navegador do roqueiro americano. Vale lembrar que David é filho de um cineasta premiado, Floyd Crosby, que ganhou o Oscar de melhor direção de fotografia em 1931 pelo filme Tabu: A History Of The South Seas.

Ouça If I Could Only Remember My Name em streaming:

John Cale lança seu primeiro single inédito em quatro anos

john cale 400x

Por Fabian Chacur

Em meio a tantos obituários e notícias ruins, é de se comemorar o fato de John Cale, ex-Velvet Underground e um dos nomes mais importantes da história do rock, lançar o seu primeiro single em quatro anos. Aos 78 anos, o cantor, compositor e músico galês radicado desde os anos 1960 nos EUA nos oferece a densa Lazy Day, uma canção hipnótica divulgada por um envolvente videoclipe dirigido por Abby Portner.

Como muitos outros artistas, Cale foi pego de surpresa quando estava finalizando um novo álbum, ainda sem previsão de lançamento. Em comunicado enviado à imprensa, o artista explica a situação e fala sobre sua nova canção, desde já um dos lançamentos mais interessantes desse sombrio 2020:

“Eu estava tão pronto para finalmente lançar meu novo álbum; trancos e barrancos e então o maldito 2020 aconteceu! Muito a dizer nestes tempos ”, diz Cale. “O contexto é tudo e 140 caracteres não vão bastar! Como compositor, minha verdade está toda ligada a essas canções que devem esperar um pouco mais. E então me ocorreu que eu tenho algo para o momento, uma música que eu terminei recentemente… Com o mundo saindo de sua órbita, eu queria parar a guinada e desfrutar de um período em que podemos tomar nosso tempo e respirar nosso caminho de volta para um mundo mais calmo.”

Lazy Day (clipe)- John Cale:

Jimi Hendrix, o cara que ajudou o rock a expandir seus horizontes

jimi hendrix

Por Fabian Chacur

Durante seus primeiros anos de existência, nos anos 1950, o rock and roll era tido pelos “críticos” como nada além de mais uma modinha que, em pouco tempo, daria lugar a outra. Nem mesmo a existência de vários gênios na chamada primeira geração roqueira levava tais analistas a admitirem uma possível vida longa para tal estilo musical. Pois foi o saudoso Jimi Hendrix, que nos deixou há exatos 50 anos, um dos maiores responsáveis pelo rock ganhar um merecido reconhecimento e respeito por parte de mídia e público.

A trajetória desse cantor, compositor e guitarrista norte-americano nascido em Seattle, Washington em 27 de novembro de 1942 é surpreendente por quaisquer ângulos que você as analise. Fruto do relacionamento de uma índia com um negro, teve na miscigenação sonora sua marca registrada. Barreiras nunca lhe interessaram. A música que criou traz elementos de rock, blues, jazz, soul, pop, latinidade e o que mais pintasse à sua frente. A forma como misturava isso tudo era simplesmente única e original.

Ele esteve em estúdios de gravação de 1964 a 1970, inicialmente participando de gravações dos Isley Brothers e Little Richard e a partir de 1966 se dedicando à própria carreira. Portanto, um curto período de tempo. No entanto, sua produção durante esse período foi suficiente não só para firmá-lo como um dos maiores nomes do rock do seu tempo, como também para gerar inúmeros lançamentos póstumos, possivelmente o artista como maior números de álbuns post mortem de todos os tempos. E material de alta qualidade, vale ressaltar.

A predisposição de Hendrix a novas experiências pode ser medida por vários detalhes em sua carreira. Americano, só se tornou um nome conhecido mundialmente ao se mudar para a Inglaterra no final de 1966, levado para lá pelo ex-baixista dos Animals, Chass Chandler, que resolveu se tornar seu produtor, manager e o que mais pintasse. Os EUA a rigor só deram a ele o devido valor após sua avassaladora performance no Festival de Monterey, em 1967.

Ao chegar em Londres, nosso herói se mostrou ousado ao convidar dois músicos brancos e ingleses, o baixista Noel Redding (1945-2003) e o baterista Mitch Mitchell (1946-2008) para integrarem o seu grupo, o The Jimi Hendrix Experience. Se até hoje há quem se espante (sabe-se lá porque…) ao ver negros tocando rock, imaginem um músico com essa cor liderando uma banda ao lado de dois branquelos. Mas ele encarou esse desafio sem medo, e se deu bem.

Depois, de certa forma pressionado pelo crescimento do movimento negro nos EUA, e também por problemas de relacionamento com Noel Redding, ele montou um grupo só de negros, a Band Of Gypsys, ao lado do colega de exército Billy Cox (baixo) e de Buddy Miles (bateria), com quem gravou um disco ao vivo em 1969. Mas Mitchell voltaria a ser seu baterista, miscigenando tudo de novo.

Hendrix pode ser considerado o cara que tornou o formato de trio guitarra-baixo-bateria como clássica opção na cena do rock, ao lado do contemporâneo Cream. Desde então, não foram poucos os que abraçaram esse conceito, uns investindo no virtuosismo, outros no minimalismo básico. The Police, Rush, Motorhead, Stray Cats, a lista vai longe.

Sempre inquieto, Hendrix buscou expandir os limites da guitarra enquanto instrumento musical, valendo-se de pedais de efeito e amplificadores que ajudou a aperfeiçoar e e levar a Fender Stratocaster a se tornar um dos modelos mais icônicos de guitarra de todos os tempos. Ele literalmente vestia o instrumento, fazia amor com ele no palco e, sem dó nem piedade, ateou fogo nele em diversas ocasiões. No palco, o sujeito era um monstro.

Sua versatilidade também se mostrou importante em relação ao material que gravava e tocava nos shows. Ele se mostrava brilhante tanto ao interpretar composições próprias fantásticas como Little Wing, Wait Until Tomorrow, Purple Haze e Voodo Child (Slight Return) como ao reler com assinatura absolutamente original material alheio como All Along The Watchtower (Bob Dylan), Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (The Beatles) e Hey Joe (Billy Roberts).

Mesmo a voz, que alguns colocam em segundo plano diante de sua imensa qualidade como guitarrista e compositor, sempre se mostrou outro ponto forte a seu favor. Hendrix sabia encarar cada canção com um timbre vocal poderoso, próprio e original, sem nunca se deixar levar por virtuosismos.

Enquanto esteve entre nós, o astro americano só lançou três álbuns de estúdio- Are You Experienced(1967), Axis: Bold As Love (1967) e o álbum-duplo Electric Ladyland (1968), além do ao vivo com composições inéditas Band Of Gypsys (1969) e a coletânea Smash Hits (1967, reunindo algumas músicas só lançadas antes em compactos simples de vinil).

São trabalhos excelentes, e é melhor optar por eles em um primeiro momento. Se quiser escolher um para começar sua imersão em Jimi Hendrix, minha dica é o maravilhoso Axis: Bold As Love, que traz sua canção mais icônica, Little Wing e muito mais. Do material póstumo de estúdio, muita coisa foi lançada em vinil e posteriormente em CD, com diversas sequências de faixas. Nunca saberemos como ele teria as agrupado ou mesmo quais teriam sido lançadas ou não, mas vale a curiosidade, pois tem muita coisa boa nesse meio.

Das gravações ao vivo, as mais recomendáveis são as que registram suas performances avassaladoras nos festivais de Monterey e Woodstock, sendo que você encontra esses shows registrados em álbuns de áudio e também em DVDs.

Há pessoas que parecem saber que não irão viver por muito tempo, e, por isso, vivem de forma intensa. Hendrix se encaixa feito luva nessa definição. Se nos deixou com apenas 27 anos de idade, produziu nesse curtíssimo período de vida um legado artístico que continuará relevante enquanto houver vida inteligente.

Hendrix morreu de forma acidental, tendo sido, como certa vez definiu para mim o amigo Ayrton Mugnaini Jr., “um artista profissional e um ser humano amador”. Ele não deu conta de tanta badalação, tanto sucesso, tantas tentações que não soube controlar. Uma pena.

Ouça alguns dos grandes clássicos de Jimi Hendrix:

Trini Lopez, 83 anos, um dos grandes pioneiros do rock latino

trini lopez 400x

Por Fabian Chacur

Desde o seu surgimento, o rock teve várias vertentes, e uma delas foi aquela com elementos latinos. Pode-se dizer que o pioneiro dessa história foi Ritchie Valens (1941-1959) com uma bela releitura da canção de origem folclórica La Bamba. Com sua morte prematura, a vaga de latin rocker ficou em aberto, e coube a Trini Lopez dar sequência a essa linha roqueira com grande sucesso, especialmente nos anos 1960. Este cantor, guitarrista, compositor americano nos deixou nesta terça-feira (11) aos 83 anos de idade em Palm Springs, Califórnia, mais uma vítima da Covid-19.

Trinidad Lopez III nasceu em 15 de maio de 1937 em Dallas, Texas, filho de um mexicano com raízes no mundo da música e do entretenimento. Com 15 anos de idade, montou sua primeira banda. Em 1957, tentou a sorte com o produtor Normam Petty, o responsável pelo estouro de Buddy Holly, e através dele conseguiu seu primeiro contrato com uma gravadora, já como artista solo. Era o início de anos de muita batalha, vários singles lançados e pouco ou nenhum sucesso em termos de vendas. Mas ele não baixou a guarda.

No final de 1962, uma nova conexão com o saudoso Holly ocorreu, ao ser convidado pelo produtor Snuff Garrett (que trabalhou com Bobby Vee, Johnny Burnette e Del Shannon) para fazer um teste como vocalista da antiga banda do autor de Peggy Sue, os Crickets. Infelizmente, não rolou química entre eles.

Sem desanimar, Trini aceitou o convite de um night club de Los Angeles, o PJ’s, e ficou por lá como músico residente. Aos poucos, criou um público cativo e não demorou para atrair peixes graúdos para vê-lo ao vivo, com suas releituras de clássicos do folk, pop e música latina com uma batida de guitarra sacudida e única. Um desses famosos foi Frank Sinatra, que resolveu oferecer a ele um contrato com sua gravadora, a Reprise.

Pelo novo selo, ele gravou o seu primeiro álbum, Trini Lopez At PJ’s, lançado em 1963 e gravado ao vivo no local que o projetou. A seu lado, apenas dois músicos, o baixista Dick Brant e o baterista Mickey Jones, este último posteriormente famoso por tocar com Bob Dylan em sua histórica turnê pela Inglaterra em 1966 e ao lado de Kenny Rogers no grupo First Edition.

A faixa If I Had a Hammer, clássico folk de Peter Seeger lançado originalmente em 1949, tornou-se um hit instantâneo, atingindo o terceiro lugar na parada americana de singles. A versão de Lopez incentivaria uma versão em italiano, Datemi Un Martello, que em 1964 estouraria na voz da cantora Rita Pavone.

O álbum, no qual se destaca a voz deliciosa e a guitarra rítmica de Lopez, trazia muitos outras gravações que se tornariam clássicas, como A-Me-Ri-Ca (do musical West Side Story e incluída, em 1976, na trilha sonora da novela global Estúpido Cupido), Cielito Lindo, La Bamba e Bye Bye Blackbird.

Resultado: Trini Lopez At PJ’s vendeu mais de um milhão de cópias nos EUA, onde atingiu o segundo lugar entre os álbuns mais vendidos em 1963, e invadiu as paradas de sucesso de quase 40 países. O sucesso foi tanto que, no Brasil, surgiu até mesmo um clone, Prini Lorez, que se aproveitou da demora do lançamento das gravações originais para faturar bastante com seus covers caprichados das músicas do repertório do cantor americano.

Nos anos seguintes, o artista emplacou mais alguns álbuns de sucesso, entre os quais podem ser destacados More Trini Lopez At PJ’s (1963- nª 11 nos EUA), On The Move (1964- nº 32 nos EUA), The Latin Album (1964- nº 18 nos EUA) e The Folk Album (1965- nº 18 nos EUA).

Em 1969, fez um especial para a rede americana de TV ABC acompanhado pelo seminal grupo de rock instrumental ianque The Ventures, e um álbum, The Trini Lopez Show, foi gerado dessa parceria histórica.

A partir dos anos 1970, o sucesso de Trini Lopez em discos se reduziu de forma significativa, mas seus shows pelos EUA, América Latina e Europa continuaram concorridos, incluindo temporadas milionárias em Las Vegas. Ele também atuou como ator em filmes, boa parte deles de pouca repercussão, e em 1978 tentou acenar às novas gerações adaptando os seus hits para a batida da disco music no fracassado álbum Transformed By Time.

Uma parceria marcante o reuniu em 2013 ao maestro holandês Andre Rieu. O seu álbum mais recente, Into The Future, saiu em 2011. Um dos episódios da série A História Secreta do Pop Brasileiro, lançada em 2019, mostra uma entrevista com Trini Lopez na qual ele ouve um disco de Prini Lorez, e elogia a performance do artista brasileiro. Seus discos foram presença indispensável nos bailinhos dos jovens dos anos 1960, e certamente influenciaram artistas como Carlos Santana e tantos outros, com seu convite saleroso e roqueiro à dança.

Ouça Live At PJ’s, deTrini Lopez, na íntegra:

Grateful Dead lança versões inéditas de Workingman’s Dead

grateful dead the angels share 400x

Por Fabian Chacur

Entre os mais importantes grupos da história do rock, o Grateful Dead é certamente um dos com a mais extensa discografia. São mais de 200 itens, que incluem trabalhos de estúdio, outtakes e gravações ao vivo registradas durante seus 30 anos de existência. E o arquivo ainda traz coisas inéditas. A Warner Music acaba de disponibilizar nas plataformas digitais The Angel’s Share, com material nunca antes lançado referente às sessões de gravações do álbum Workingman’s Dead.

Lançado em 14 de junho de 1970, Workingman’s Dead é o quarto álbum de estúdio da banda americana, e marca uma investida em canções no estilo country-folk-rock e em vocalizações, saindo um pouco da sonoridade psicodélica que os marcou em sua fase inicial. O resultado agradou ao público, e atingiu o 27º posto na parada ianque, conseguindo ótimas vendagens e rendendo a eles discos de ouro e platina referentes a mais de um milhão de cópias comercializadas.

The Angel’s Share mostra exemplos da progressão de cada uma das oito faixas originais do álbum, desde suas fases iniciais até a formatação definitiva, com direito a conversas entre os integrantes da banda e seus produtores neste trabalho, Bob Matthews e Betty Cantor-Jackson. São mais de duas horas de gravações, garimpadas por Brian Kehew (engenheiro de som) e Mike Johnson (arquivista) em meio a dezenas de fitas recém descobertas no acervo da banda liderada pelo saudoso Jerry Garcia (1942-1995).

Para quem curte essa fase da banda, vale lembrar que também está sendo lançada no exterior, no formato CD triplo, a 50th Anniversary Edition de Workingman’s Dead, que traz uma versão remasterizada do álbum e mais o registro de um show no Capitol Theater, Port Chester, Nova York, em 1971, com canções deste LP e também do posterior, American Beauty, que saiu em novembro de 1970 e segue a mesma sonoridade de Workingman’s Dead.

Eis as faixas de Workingman’s Dead: The Angel’s Share:

Uncle John’s Band (Session) – total playing time 10:15
1. False Start 1 (Not Slated)
2. Breakdown (Not Slated)
3. False Start 2 (Not Slated)
4. Complete Track (Not Slated)
5. Take 6 Breakdown (Slated)
6. Take 7 Breakdown (Slated)

High Time (Session) – total playing time 16:00
7. Breakdown 1 (Not Slated)
8. Breakdown 2 (Not Slated)
9. Take 3 Breakdown (Slated)
10. Complete Track 1 (Not Slated)
11. Studio Chatter
12. Complete Track 2 (Not Slated)
13. Take 6 Breakdown (Slated)
14. Take 7 Breakdown (Slated)

Dire Wolf (Session) – total playing time 26:54
15. Breakdown 1 (Not Slated)
16. Complete Track 1 (Not Slated)
17. Complete Track 2 (Not Slated)
18. Take 2 Breakdown (Slated)
19. Take 3 False Start & Breakdown (Slated)
20. Breakdown 2 (Not Slated)
21. Take 6 Breakdown (Slated)
22. Breakdown 3 (Not Slated)
23. False Starts 1 (Not Slated)
24. Breakdown 4 (Not Slated)
25. False Starts 2 (Not Slated)
26. Complete Track 3 (Not Slated)
27. Complete Track With Vocals (Not Slated)
28. False Start 3 (Not Slated)

New Speedway Boogie (Session) – total playing time 29:12
29. Demo With Acoustic Guitar, Drums & Vocals (Not Slated)
30. Complete Track With Vocals 1 (Not Slated)
31. Take 2 Breakdown With Vocals (Slated)
32. Take 3 Breakdown With Vocals (Slated) 33. Slated Take 3 breakdown with vocals
33. Mis-named As Take 3 False Start With Vocals (Slated)
34. Take 4 Complete With Vocals & Lead Guitar (Slated)
35. Arranging Take With Vocals (Not Slated)
36. Breakdown With Vocals 1 (Not Slated)
37. Breakdown With Vocals 2 (Not Slated)
38. Complete Track With Vocals 2 (Not Slated)
39. Take 8 Complete With Vocals (Slated)

Cumberland Blues (Session) – total playing time 3:26
40. Various Breakdowns & Take 9 (Slated)

Black Peter (Session) – total playing time 20:17
41. Breakdown 1 (Not Slated)
42. Breakdown 2 (Not Slated)
43. Studio Chatter
44. Breakdown 3 (Not Slated)
45. Breakdown 4 (Not Slated)
46. Complete Track With Vocals (Not Slated)

Easy Wind (Session) – total playing time 35:29
47. Complete Track With Vocals 1 (Not Slated)
48. Breakdown With Vocals 1 (Not Slated)
49. Breakdown With Vocals 2 (Not Slated)
50. Breakdown With Vocals 3 (Not Slated)
51. Breakdown With Vocals 4 (Not Slated)
52. Complete Track With Vocals 2 (Not Slated)
53. False Starts & Breakdowns With Vocals (Not Slated)
54. Incomplete Track With Vocals (Not Slated)
55. Take 17 With Vocals (Slated)
56. Take 18 Breakdown With Vocals (Slated)
57. Take 19 Breakdown With Vocals (Slated)
58. Take 20 With Vocals (Slated)
59. Take 21 False Start With Vocals (Slated)
60. Take 22 Breakdown With Vocals (Slated)
61. Take 23 Breakdown With Vocals (Slated)

Casey Jones (Session) – total playing time 10:37
62. Breakdown 1 (Not Slated)
63. Breakdown 2 (Not Slated)
64. Complete Track With Vocals (Not Slated)

Ouça Workingman’s Dead na íntegra em streaming:

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