Em 1964, Janis Joplin e Jorma Kaukonen eram apenas dois jovens músicos batalhando por um lugar ao sol no competitivo mercado musical estadunidense. No dia 25 de junho daquele ano de triste memória para o povo brasileiro, eles resolveram fazer uma gravação despojada na casa do guitarrista. Nascia ali um registro lendário, que, acredite se quiser, apenas agora ganhará um lançamento oficial e autorizado, nos formatos LP de vinil e CD, com o título The Legendary Typewriter Tape, pela gravadora Omnivore Records (saiba mais sobre este selo aqui).
Jorma e Janis se conheceram em 1962 em San Jose, Califórnia (EUA), e com o tempo começaram a fazer apresentações eventuais, com ela no vocal e ele no violão. Ou seja, a dupla já tinha um certo entrosamento quando fez essa histórica gravação. O clima era tão informal que você pode ouvir ao fundo o barulho de Margareta, esposa de Jorma, digitando em uma máquina de escrever, o que gerou o nome para esse registro (typewriter, em inglês).
O repertório traz seis composições, entre elas clássicos do blues, além de dois pequenos trechos de diálogos entre eles. Apenas duas dessas gravações, Trouble In Mind e Hesitation Blues, já haviam sido lançadas de forma oficial, ambas na caixa de 3 CDs intitulada Janis (1993).
Desta vez, temos o material na sua íntegra, com direito a restauração de áudio e masterização feitas pelo especialista Michael Graves. O lançamento contou com a autorização de Jorma (que de quebra escreveu as liner notes incluídas no encarte do CD e LP) e do Janis Joplin State, que cuida do acervo da saudosa cantora que nos deixou em 1970 com apenas 27 anos.
Muito legal ter a chance de conferir em seus estágios iniciais de carreiras uma das maiores cantoras da história do rock e um músico que depois se tornaria integrante de duas bandas seminais, Jefferson Airplane e Hot Tuna, como excelente guitarrista e violonista do nosso amado rock and roll. Este álbum sairá no exterior entre o final de novembro e o início de dezembro, e também será disponibilizado nas gloriosas plataformas digitais.
As faixas de The Legendary Typewriter Tape:
Are We Taping Now?(dialogue)
Trouble In Mind
Long Black Train
Kansas City Blues
Hesitation Blues
Nobody Knows When You’re Down and Out
“How ‘Bout This?” (dialogue)
Daddy, Daddy, Daddy
No finalzinho de 1966, uma jovem adolescente americana ficou fascinada com For What It’s Worth, canção do grupo Buffalo Springfield que registrava de forma instantânea e direta o clima de beligerância entre a polícia de então e os integrantes da contracultura, na Sunset Strip, Hollywood. Essa linda e talentosa garota, que ficaria mundialmente conhecida como a cantora e compositora Stevie Nicks, do Fleetwood Mac e artista-solo de sucesso também, resolveu agora regravá-la, em uma versão sensacional já disponível nas plataformas digitais.
Escrita no calor daquele momento conturbado por um dos integrantes da banda, que se incumbiu do vocal principal e guitarra, o grande Stephen Stills (ouça aqui), For What It’s Worth atingiu o 7º lugar na parada pop americana e se tornou o maior hit da carreira do Buffalo Springfield, que também trazia em sua formação Neil Young. Ambos continuariam a tocar essa canção na sua banda posterior, a Crosby, Stills, Nash & Young.
Em comunicado publicado em suas redes sociais, a cantora afirma que a canção a marcou na época, e que continua fazendo todo o sentido nos dias atuais. “Sempre quis interpretar essa canção sob o olhar de uma mulher, e sinto que nos dias de hoje essa música ainda tem muito o que dizer”.
A produção da gravação ficou a cargo do premiado Greg Kurstin, conhecido por seus trabalhos como Beck, Foo Fighters, Adele e Paul McCartney. Ele se incumbiu também de tocar bateria, órgão, percussão, violão e guitarra, tendo o auxílio do guitarrista Waddy Wachtel e da vocalista Sharon Celani.
Em maio de 2012, tive um dos momentos mais sublimes da minha vida. Vi, na extinta Via Funchal, o show dos meus amados Crosby, Stills & Nash (leia a resenha aqui). Dos três ícones do rock, o que parecia estar mais em forma era Graham Nash, então com 70 anos. Ele completa 80 nesta quarta (2) e mostra que continua firme e forte (veja entrevista dele em dezembro de 2021 aqui). Ele acabou de lançar no exterior um livro com fotos feitas por ele, A Life In Focus: The Photography Of Graham Nash.
Uma forma simples de definir a trajetória musical de Graham Nash é chamá-lo de um roqueiro elegante. Sim, ele é cria da primeira geração que cresceu tendo o rock and roll como a principal influência musical e comportamental. Foi inspirado por esse estilo musical que este cantor, compositor, músico e fotógrafo britânico resolveu se dedicar à música. Inicialmente, foi integrante de um dos mais bem-sucedidos grupos da chamada British Invasion, The Hollies, com suas canções melódicas, bem arranjadas e fortemente próximas da música pop.
Depois de aproximadamente cinco anos com a banda, Nash começou a ambicionar voos mais ambiciosos em termos musicais, que refletiram em faixas dos Hollies como King Midas In Reverse, por exemplo. Durante uma viagem aos EUA em 1968, mais precisamente na casa da cantora Mama Cass (dos The Mammas And The Papas) teve a oportunidade de fazer uma jam session com David Crosby (dos Byrds) e Stephen Stills (do Buffalo Springfield). O entrosamento das vozes foi tão imediato que nenhum dos três teve dúvidas: uma parceria importante nascia ali.
E a ideia era a da liberdade, sem amarras. Tanto que o supergrupo foi intitulado Crosby, Stills & Nash. Seu álbum de estreia, de 1969, é um dos melhores de todos os tempos, com canções maravilhosas e icônicas. Marrakesh Express, de Nash, foi um dos grandes sucessos. No ano seguinte, o trio viraria quarteto com a entrada de Neil Young (outro ex-Buffalo Springfield), e lançaria Dèja Vu (1970), cujo maior hit foi a doce Our House, dedicada por Nash a Joni Mitchell, com quem teve um breve, porém marcante relacionamento afetivo.
Vale lembrar que em agosto de 1969 Crosby, Stills & Nash, em sua segunda apresentação ao vivo (já com Young no time), tiveram grande destaque no mitológico festival de Woodstock, ganhando fama mundial após o lançamento do documentário que imortalizou o evento. Livre para voar musicalmente, Graham Nash passou, a partir da saída dos Hollies, a alternar parcerias com os amigos com trabalhos individuais, com direito a canções românticas e também brados de inspiração política como Military Madness e Chicago.
Além de grande cantor e compositor, o astro britânico sempre encontrou tempo para defender causas ecológicas e políticas das mais justas, mas sem perder a ternura jamais. Dos integrantes do Crosby, Stills & Nash (com ou sem o Young), sempre se mostrou o mais simpático, acessível e tranquilo. Em 1983, até teve um breve retorno com os Hollies, que gerou um álbum de estúdio e alguns shows.
Graham Nash é a prova de que um artista de rock pode ser romântico, doce e delicado, sem no entanto deixar o lado vigoroso e contestador do rock de lado. No momento, dedica-se a lançar livros com fotografias que tirou desde que era criança, uma paixão paralela à da música. Ele promete mais uma publicação para breve. Pena que sua briga com David Crosby há não muito tempo parece ter encerrado para sempre o Crosby, Stills & Nash. Mas, com esses caras, nunca se sabe… Bem, pelo menos pude ver um de seus shows, pena que sem uma companhia essencial a meu lado. Parabéns a ele, com votos de muitos anos mais de vida com saúde, paz e produtividade.
Nota de última hora: em solidariedade ao velho amigo e parceiro Neil Young, Graham Nash também vai tirar as suas músicas da plataforma digital Spotify.
Mais um desdobramento do mergulho do diretor neozelandês Peter Jackson no material gravado pelos Beatles para o filme Let It Be em 1969 está em vias de ser disponibilizado. Depois da série Get Back, com aproximadamente 7 horas de duração e disponível na plataforma de streaming Disney+, temos agora Get Back- The Rooftop Concert, filme com 60 minutos de duração que apresenta o célebre show, o último dos lendários Fab Four, realizado no teto da sede da Apple em Saville Row, Londres, em 30 de janeiro de 1969. Quando poderei ver, pergunta você?
Pois essa é a parte ruim da história. Por enquanto, os felizardos serão os americanos e europeus, que irão conferir o filme precisamente no dia 30 deste mês exclusivamente nas salas IMAX, aquela tecnologia que dá ao espectador qualidades de áudio e vídeo impressionantes. A apresentação aparece remasterizada digitalmente no padrão The IMAX Experience e com tecnologia proprietária IMAX DMR (digital remastering).
Ainda não foram divulgadas informações sobre quando Get Back The Rooftop Concert será exibido no Brasil, nem sobre a sua exibição em TV ou mesmo disponibilização em plataformas de streaming, o que imagino que ocorrerá em um futuro não muito distante. Seja como for, legal poder ver esse show assim, na íntegra, fora do documentário original.
Em 1965, o cantor, compositor, ator e músico americano Michael Nesmith fez parte de um processo seletivo para uma série de TV americana que contou com 437 concorrentes. Ele foi um dos quatro escolhidos, e ganhou fama mundial sendo um dos integrantes do The Monkees, que além de seriado televisivo também virou um grupo de rock de muito sucesso. O mais rebelde e de personalidade mais forte da turma, ele infelizmente nos deixou nessa última sexta-feira (10), aos 78 anos, vítima de uma insuficiência cardíaca.
Nascido em Houston, Texas (EUA) em 30 de dezembro de 1942, Nesmith começou a carreira musical participando do circuito folk de Los Angeles, Califórnia, e gravou singles para o selo Colpix valendo-se do pseudônimo Michael Blessing. Em outubro de 1965, foi escolhido para integrar o elenco de The Monkees ao lado do inglês Davy Jones (1945-2012) e dos também americanos Peter Tork (1944-2019) e Micky Dolenz (1945). A química entre eles se mostrou perfeita desde o início.
A partir da estreia da série na TV americana, em setembro de 1966, The Monkees se tornou um imenso sucesso não só por sua divertida trama, a de um grupo fictício de rock talentoso, divertido e escancaradamente inspirado nos Beatles das fases A Hard Day’s Night e Help!, mas também pelas ótimas músicas gravadas para os episódios e lançadas em singles e álbuns, de autores como Boyce & Hart, Carole King, Neil Diamond e outros.
No inicio, os quatro atores participavam pouco ou quase nada dos discos, mas Nesmith desde o começo se sobressaiu como compositor e também como o rebelde da turma. Foi ele quem atiçou o quarteto a tentar se impor como um grupo de verdade, tocando e cantando em seus discos. Várias de suas composições foram gravadas pelos Monkees, entre as quais Listen To The Band, The Girl I Knew Somewhere, Tapioca Tundra, Mary Mary e Good Clean Fun.
Após o sucesso meteórico em 1966 e 1967, o seriado saiu de cena em meados de 1968 e o quarteto viu a sua popularidade ir caindo rapidamente. Peter Tork foi o primeiro a sair do time. Michael Nesmith pegou o gorrinho de lã (sua marca registrada) e deu o fora em 1970. Um pouco antes, já havia lançado seu primeiro disco solo, The Wichita Train Whistle Sings (1968). Uma de suas composições, Different Drum, fez muito sucesso em 1967 com o Stone Poneys, grupo que tinha como vocalista Linda Ronstadt, que depois viraria uma estrela do country rock.
Fora dos Monkees, Nesmith mergulhou em uma carreira no country rock, lançando vários LPs solo e também investindo em bandas como a First National Band. Alguns de seus singles viraram hits, entre os quais Joanne e Silver Moon . Foi provavelmente o mais estável e respeitado dos ex-integrantes do grupo em sua jornada individual, destacando-se como cantor, músico e compositor.
A mãe de Michael Nesmith, Bette, foi a criadora do célebre liquid paper, e vendeu em 1979 a sua parte na empresa correspondente para a Gillete Corporation pelo então enorme valor de 47 milhões de dólares. Ela faleceu no ano seguinte, e toda essa herança ficou para o filho único, que por sinal vivia naquele momento uma fase de vacas magras em termos financeiros. A partir dali, ele também passou a produzir filmes e atuar em projetos beneficentes.
Dessa forma, Nesmith se manteve afastado do bem-sucedido retorno dos Monkees em 1986, fato ocorrido graças ao relançamento de todos os álbuns do quarteto pelo selo Rhino e também pela reexibição do seriado na TV. Ele só marcou presença em dois dos shows da turnê, e só para participações breves.
No entanto, em 1996, a surpresa: os Monkees não só voltavam com a sua formação original, como também lançavam Justus, o primeiro álbum feito totalmente por eles, que não só compuseram todas as canções (sendo duas de autoria de Nesmith) como também se incumbiram de todos os vocais e instrumentos. O CD não foi um estouro de vendas, mas recebeu elogios por parte da crítica e dos fãs. O título é um trocadilho (just us, apenas nós, em tradução livre).
Após a morte de Davy Jones, os Monkees fizeram shows em formato de trio em 2012, 2013 e 2014. O grupo também lançou dois novos álbuns, Good Times! (2016) e Christmas Party (2018), ambos com participação de Nesmith, que também participou de alguns shows. Ele também escreveu alguns livros durante sua trajetória. Infelizmente, agora só temos Micky Dolenz entre nós desse grupo que poderia ter sido apenas uma piada televisiva, mas que marcou a vida de muita gente com suas canções divertidas e deliciosamente pegajosas.
The Beatles continuam em pauta como de praxe, mas de forma ainda mais intensa nas últimas semanas. Além do filme Get Back, temos também um outro documentário em cena. Trata-se de The Beatles and India, produzido pelo empresário britânico-indiano Reynold D’Silva e dirigido em parceria por Ajoy Bose e Pete Compton. O filme ganhou os prêmios de melhor filme pelo público e melhor música no UK Usian Film Festival, e está sendo exibido com sucesso em festivais de cinema na Grécia, Bélgica e Espanha.
Baseado no livro Across The Universe- The Beatles in India, de Ajoy Bose, o doc conta a relação de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr com a cultura indiana, com ênfase em sua histórica passagem pela India em Rishikesh, no ashram do polêmico guru indiano Maharishi Mahesh Yogi. Temos cenas de arquivo e fotos, algumas raras e/ou inéditas, e também depoimentos de pessoas que presenciaram essa viagem histórica em 1968.
Como produto derivado do filme, está previsto para ser lançado no próximo dia 29 de outubro o álbum Songs Inspired By The Film The Beatles and India, que traz releituras de canções dos Beatles inspiradas e/ou escritas na Índia e interpretadas por artistas indianos contemporâneos como Karsh Kale, Benny Dayal, Kiss Nuka e Anoushka Shankar, esta última filha do grande músico Ravi Shankar (1920-2012), a rigor quem introduziu George Harrison no mundo da cultura da Índia e um de seus melhores amigos.
Eis as faixas de Songs Inspired By The Film The Beatles And India:
1. Tomorrow Never Knows (ouça aqui ) – Kiss Nuka
2. Mother Nature’s Son – Karsh Kale / Benny Dayal (ouça aqui)
3. Gimme Some Truth – Soulmate
4. Across The Universe – Tejas / Maalavika Manoj
5. Everybody’s Got Something To Hide (Except Me And My Monkey) – Rohan Rajadhyaksha / Warren Mendonsa
6. I Will – Shibani Dandekar / Neil Mukherjee
7. Julia – Dhruv Ghanekar
8. Child Of Nature – Anupam Roy
9. The Inner Light – Anoushka Shankar / Karsh Kale
10. The Continuing Story Of Bungalow Bill – Raaga Trippin
11. Back In The USSR – Karsh Kale / Farhan Ahktar
12. I’m So Tired – Lisa Mishra / Warren Mendonsa
13. Sexy Sadie – Siddharth Basrur / Neil Mukherjee
14. Martha My Dear – Nikhil D’Souza
15. Norwegian Wood (This Bird Has Flown) – Parekh & Singh
16. Revolution – Vishal Dadlani / Warren Mendonsa
17. Love You To – Dhruv Ghanekar
18. Dear Prudence – Karsh Kale / Monica Dogra
19. India, India (ouça aqui) – Nikhil D’Souza
Sairá no próximo dia dia 15 de outubro via BMG o novo álbum de Carlos Santana. Como forma de atiçar a curiosidade dos fãs, o grande mestre da guitarra acaba de disponibilizar nas plataformas digitais uma das faixas desse trabalho. E escolheu bem. Trata-se da releitura de A Whiter Shade Of Pale, grande clássico nos anos 1960 com o grupo Procol Harum. Com um delicioso arranjo saleroso e latino no melhor estilo do astro, ainda tem de quebra os vocais a cargo do mitológico Steve Winwood. O músico mexicano explica como rolou a parceria:
“Eu disse:‘ Você e eu temos que fazer isso, mas temos que fazer muito sexy, como um Hare Krishna, mas com congas. E foi isso que fizemos. Tem Cuba, Porto Rico, África e tem sensualidade na voz incrível de Steve”.
Gravado nos últimos dois anos, boa parte pela via remota, o novo trabalho de Santana traz diversas participações especiais além de Winwood, entre as quais as de Rob Thomas (do Matchbox Twenty), Chick Corea, American Authors, Corey Glover (do Living Colour), Chris Stapleton e Kirk Hammett (do Metallica).
Sempre que o tema “artistas mais influentes da história da música pop” vem à tona, um nome que não pode ficar de fora é o dos Everly Brothers. O trabalho desse incrível duo norte-americano faz parte do dna de trabalhos como os dos Beatles, Simon & Garfunkel, The Hollies e por aí vai, e vai longe. Já havíamos perdido Phil Everly em 3 de janeiro de 2014. Neste sábado (21), infelizmente foi a vez de seu irmão, Don, que nos deixou aos 84 anos. A morte foi anunciada por seus parentes, sem detalhes sobre qual teria sido a causa.
Don e Phil começaram a gravar em 1956, e seus primeiros hits vieram logo no ano seguinte, as marcantes Bye Bye Love (nº2 na parada pop) e Wake Up Litle Susie (nº1 na parada pop). Interpretando especialmente composições alheias, mas também com algumas próprias no meio, os irmãos misturaram com muita habilidade a música country com o então emergente rock, criando vocalizações com assinatura própria e muito jogo de cintura.
Até 1962, emplacariam diversos hits, gravando pelos selos Cadence e Warner, maravilhas do naipe de All I Have To Do Is Dream, Claudette, Bird Dog, Gone Gone Gone, Cathy’s Clown e Cryin’ In The Rain, só para citar os mais populares. A partir dali e até 1973, o duo viu sua popularidade nos EUA cair bastante, embora se mantivessem bem cotados no exterior, especialmente no Reino Unido.
Após uma década de separação, período no qual investiram em carreiras-solo sem grande repercussão, eles fizeram um show de retorno em 1983 e lançaram no ano seguinte o álbum EB 84, nº 38 nos EUA (o maior sucesso deles por lá desde 1962), produzido pelo guitarrista britânico Dave Edmunds e com músicas inéditas de Paul McCartney (On The Wings Of a Nightingale, a faixa de maior sucesso do LP) e Jeff Lynne (The Story Of Me), além de uma releitura de Bob Dylan (Lay Lady Lay) e três composições do próprio Don- Following The Sun, You Make It Seen So Easy e Asleep.
A partir dali, os irmãos lançaram mais dois álbuns de estúdio, alguns trabalhos ao vivo e fizeram shows de tempos em tempos. Em 1986, participaram dos vocais da faixa-título do álbum Graceland, de Paul Simon. Em 2003/2004, marcaram presença na turnê Old Friends, de Simon & Garfunkel, com direito às duas duplas aparecendo juntas em um momento marcante dos shows. Vale lembrar que S&G regravaram com sucesso Wake Up Little Susie em seu histórico álbum ao vivo The Concert At Central Park (1982).
Além de vender milhões de discos, os irmãos também integram o Rock And Roll Hall Of Fame (1986) e o Country Music Hall Of Fame (2001). Entre inúmeras homenagens nesses anos todos, Billie Joe Armstrong (vocalista e guitarrista do Green Day) e Norah Jones lançaram em 2013 o álbum Foreverly, no qual regravaram todo o repertório do álbum Songs Our Daddy Taught Us (1958), no qual Don e Phil gravaram músicas tradicionais que aprenderam com o seu pai. George Harrison também regravou Bye Bye Love, em seu álbum Dark Horse (1974), e o A-ha, Crying In The Rain, em seu álbum East of the Sun, West of the Moon (1990).
O intervalo entre os lançamentos de If I Could Only Remember My Name (1971) e Oh Yes I Can (1989), respectivamente o 1º e o 2º álbum-solo de David Crosby é de longos 18 anos. De uns tempos para cá, no entanto, o cantor, compositor e músico americano engatou uma terceira no seu ritmo de gravações. No dia 23 de julho, ele lançará pela gravadora BMG For Free, que será o seu 5º álbum em apenas sete aninhos. E olha que ele completará 80 anos no dia 14 de agosto!
Com produção a cargo de seu filho, o tecladista James Raymond, o álbum traz algumas colaborações bacanas logo a partir de sua capa, um retrato do astro do rock pintado por ninguém menos do que Joan Baez. A faixa-título é um cover de composição lançada pela autora, Joni Mitchell, em 1970, e também registrada em 1973 por um dos grupos de Crosby, os Byrds. Aqui, a canção foi relida em dueto com a cantora e compositora Sara Jarosz (ouça aqui).
Para quem ouvir a deliciosa Rodriguez For a Night e sentir um forte clima do Steely Dan, banda que Crosby considera uma de suas favoritas, não é por acaso. A canção leva a assinatura de Donald Fagen, um dos líderes do icônico grupo americano. Outra participação bacana é de Michael McDonald (ex-The Doobie Brothers) no ótimo country-rock balançado River Rise (ouça aqui). Pela amostra até agora divulgada, o álbum promete.
No dia 19 de novembro de 1995, Bob Dylan participou de um show que celebrou os 80 anos de vida de Frank Sinatra. Ele interpretou a canção Restless Farewell no palco do The Shrine Auditorium, de Los Angeles. Posteriormente, regravaria algumas das canções que consagraram The Voice no álbum Shadows In The Night (2015). Agora, chega a vez dele, autor de clássicos como Blowin’ In the Wind, comemorar oito décadas de vida nesta segunda-feira (24) ainda se mantendo bastante relevante e produtivo.
O termo lenda vida (living legend, em inglês) de certa forma se banalizou nas últimas décadas, mas cabe feito luva se nos referirmos a Bob Dylan. Afinal de contas, não faltam elementos para se justificar chamá-lo dessa forma. Para começo de conversa, trata-se da única pessoa a ter em sua estante de troféus ao menos um exemplar de Grammy, Oscar, Globo de Ouro, Pulitzer e Nobel. E isso não ocorreu por acaso ou protecionismo.
Nascido em 24 de maio de 1941, Robert Allen Zimmerman tinha como ídolos Little Richard e Woody Guthrie, dois artistas teoricamente incompatíveis em termos de estilos musicais. Coube a ele ser um dos pioneiros na mistura desses dois caminhos musicais, e ajudou de forma decisiva o rock a ganhar respeitabilidade cultural, graças a letras profundas e com forte conteúdo social.
Inicialmente, Dylan tornou-se conhecido graças a canções folk de temática social como Blowin’ In The Wind e The Times They Are-a-Changing. Em seu 5º álbum, Bringing It All Back Home, surpreendeu os fãs ao injetar fortes doses de rock and roll naquela sonoridade, caminho aprofundado no seminal álbum seguinte, Highway 61 Revisited, lançado naquele mesmo 1965 e incluindo um dos hinos máximos da música popular, a fantástica Like a Rolling Stone.
Nos shows que realizou entre o final de 1965 e a primeira metade de 1966, explicitou essa adesão ao rock, embora sem abandonar sua veia folk. Parte dos fãs, especialmente os seguidores xiitas do folk, passaram a vaiá-lo, com alguns o chamando de Judas, como se estivesse traindo um movimento. Radicalismo purista. Na verdade, Dylan nunca traiu seus princípios, e nem a si mesmo.
Nesses shows, foi acompanhado por um time de músicos que, oriundos do Canadá, ficariam conhecido mundialmente a partir de 1968 como The Band, um dos melhores e mais importantes grupos de rock de todos os tempos. Em 1967, quando o músico americano se recuperava de um grave acidente de moto sofrido no ano anterior, ele gravaria com os amigos um repertório de músicas que só seria lançado em 1975 com o título The Basement Tapes.
A partir deste momento, a trajetória de Bob Dylan se mostra sempre repleta de elementos imprevisíveis. Lançou discos com pegada country. Investiu em sonoridade próxima do gospel. Quando era tido como decadente, voltou em 1974 com Planet Waves, álbum que o colocou no 1º lugar da parada americana pela primeira vez. A turnê que realizou para divulgá-lo, novamente acompanhado pelo The Band, rendeu um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos, o sublime Before The Flood, lançado naquele mesmo 1974 e atingindo o 3º lugar nos charts.
Daí pra frente, o autor de Like a Rolling Stone sempre surpreendeu. Lançou uma polêmica trilogia de discos para celebrar sua adesão ao cristianismo. Voltou às paradas de sucesso com mais força com Infidels (1983). Nos anos 1980, fez concorridos shows ao lado do Grateful Dead e também com Tom Petty And The Heartbreakers.
Em 1988, integrou um verdadeiro super grupo, The Traveling Wilburys, ao lado de Roy Orbison, George Harrison, Tom Petty e Jeff Lynne, com o qual lançou dois festejados álbuns. Nos anos 1990, foi um dos vários artistas a lançar um álbum Unplugged em parceria com a MTV. O público brasileiro teve, enfim, a chance de vê-lo em shows, que ocorreram no Hollywood Rock em 1990 e abrindo para os Rolling Stones em 1998, entre outras ocasiões, sempre festejadas pelo público e crítica especializada.
Em 2006, mais uma façanha para seu currículo: conseguiu novamente atingir o primeiro lugar na parada americana, desta vez com o álbum Modern Times, 30 anos após ter obtido tal posicionamento com Desire (1976). E seus discos continuam atraindo ótimas vendagens, vide o mais recente, Rough And Rowdy Days (2020), que atingiu o 2º posto nos charts americanos.
E vale lembrar que, nesses anos todos, Dylan se manteve permanentemente na estrada, cantando pelos quatro cantos do mundo. Um artista que nunca se dobrou ao comercialismo, que sempre impôs o seu modo de cantar, tocar e compor às gravadoras e aos contratantes de shows, e que permanece um modelo a ser seguido por quem pensa em fazer um trabalho que possa ser relevante. Ah, ele também celebra neste ano 60 anos do lançamento de seu primeiro álbum. Ou seja, há muito a se comemorar, por ele e por seus milhões de fãs.
Ouça Highway 61 Revisited na íntegra em streaming:
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