Por Fabian Chacur
João do Amor Divino é a faixa de abertura de um dos melhores álbuns da carreira do saudoso Gonzaguinha, o brilhante Gonzaguinha da Vida (1979). Sua letra permanece infelizmente mais atual do que nunca, e faz todo sentido do mundo termos uma regravação deste clássico neste tempo doido em que vivemos na atualidade. Quem se incumbiu da tarefa foi o grupo Overdrive Saravá, com participação especial do cantor e compositor André Prando. Trata-se do 1º single do novo álbum da banda de Niterói (RJ), previsto para sair ainda este ano.
O quarteto fluminense está na estrada desde 2012, e traz em suas fileiras Gregory Combat (vocal e percussão), Thiago Henud (guitarra), Matheus Freire (baixo) e Caio Dalmacio (bateria). Seu arranjo para a canção de Gonzaguinha preserva o esqueleto da gravação original, mas enfatiza elementos que tem a ver com o rock psicodélico dos anos 1960 de bandas como Jefferson Airplane, por exemplo. O resultado ficou intenso e bastante elogiável.
A inspiração para essa música é no mínimo curiosa. O tecladista paulista Jota Moraes tinha acabado de entrar na banda de Gonzaguinha. Quando seu novo músico se apresentou como Jota, o autor de Explode Coração quis saber qual era seu nome de batismo, e ficou surpreso com a resposta: João do Amor Divino! Foi a partir desse nome que ele imaginou o roteiro do que viria a ser essa canção icônica da vertente social de sua obra.
Eis a letra de João do Amor Divino (Gonzaguinha):
39 anos de batalha
Sem descanso
Na vida
19 anos
Trapos juntos
Com a mesma rapariga
9 bocas de criança para encher de comida
Mais de mil pingentes na família para dar
Guarida
Muita noite sem dormir na fila do INPS
Muita xepa sobre a mesa
Coisa que já não estarrece
Todo dia um palhaço dizendo que Deus dos pobres nunca esquece
E um bilhete mal escrito
Que causou um certo interesse
É que meu nome é
João
Do Amor Divino de Santana e Jesus
Já carreguei
Num guento mais
O peso dessa minha cruz
Sentado lá no alto do edifício
Ele lembrou do seu menor
Chorou
E mesmo assim achou
Que o suicídio ainda era o melhor
E o povo lá embaixo olhando o seu relógio
Exigia e cobrava a sua decisão
Saltou sem se benzer por entre aplausos e emoção
Desceu os 7 andares num silêncio de quem já morreu
Bateu no calçadão e de repente
Ele se mexeu
Sorriu e o aplauso em volta muito mais cresceu
João se levantou e recolheu a grana que a platéia deu
Agora ri da multidão executiva quando grita:
“Pula e morre, seu otário”
Pois como tantos outros brasileiros
É profissional de suicídio
E defende muito bem o seu salário!
João do Amor Divino– Overdrive Saravá:
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