Por Fabian Chacur

As Runaways foram um desses grupos que, infelizmente, fizeram muito mais barulho após a sua dissolução do que durante seus anos na ativa. Foram menos de quatro anos de existência, entre o final de 1975 e o início de 1979.

Nesse período, Joan Jett (guitarra e vocal), Cherrie Currie (vocal), Lita Ford (guitarra solo), Jackie Fost (baixo) e Sandy West (bateria) gravaram três álbuns de estúdio e um ao vivo. Vicki Blue assumiu o baixo na parte final da história da banda, quando Currie também já havia saído.

A banda é um dos marcos do rock feminino, pois pela primeira vez um time só de garotas mostrava a garra, a pegada e a vibração típica do rock and roll.

Sua inspiração foi obviamente a então no auge Suzi Quatro, com ecos de outras roqueiras que atuaram em carreira solo ou como vocalistas de bandas predominantemente masculinas.

Como forma de mostrar a história dessa banda pioneira, o filme The Runaways As Garotas do Rock (The Runaways, 2010), que acabou de entrar em cartaz em São Paulo e está sendo exibido atualmente em apenas duas salas, equivale a uma boa surpresa. Boa mesmo.

Com coprodução a cargo de Joan Jett, a primeira desconfiança residia nas atrizes escolhidas para protagonizá-lo: Kristen Stewart, a estrela da saga vampiresca/água com açúcar Crepúsculo, como Joan Jett, e Dakota Fanning, outra estrelinha juvenil, como Cherrie Currie.

E não é que deu certo? Se não dão um show de interpretação, a dupla dá conta da missão de retratar duas garotas muito jovens e ingênuas que, no entanto, queriam ser estrelas do rock and roll.

A melhor atuação fica por conta de Michael Shannon no papel do produtor Kim Fowley, que foi o responsável por dar às gatas o direcionamento correto rumo ao rock and roll básico, atrevido e voraz a la Suzi Quatro.

O filme não doura a pílula, mostrando a banda vivendo seus altos e baixos, com direito a consumo exagerado de drogas e a uma crise de identidade de Cherrie, que acaba saindo fora do time.

O grupo fez menos sucesso do que gostaria nos Estados Unidos, só estourando mesmo no Japão.

Os figurinos e cenários do filme reproduzem com grande fidelidade a época em que a história se desenvolve, momento em que o glam rock começava a entrar em decadência e o punk rock aparecia logo na esquina.

Isso explica um pouco o porque as Runaways acabaram não emplacando, pois surgiram como possível banda glam, mas tinham mais a ver com o punk rock, que no entanto ainda não tinha potencial comercial.

A trilha sonora do filme é excepcional, o que não é de se estranhar, pelo fato de a seleção de músicas ter ficado a cargo do produtor George Drakoulias, o cara que descobriu os Black Crowes, entre outros.

Além das músicas das próprias garotas, entre as quais Cherry Bomb (seu maior sucesso), I Love Playin’ With Fire e Queens Of Noise, temos petardos de craques como David Bowie (Lady Grining Soul), Gary Glitter (Do You Wanna Touch Me? Oh! Yeah) e Suzi Quatro (The Wild One).

Uma música é particularmente elogiável na trilha: Fujiyama Mama, gravada em 1957 por Wanda Jackson, a primeira grande cantora de rock and roll, que com sua agressividade e virulência influenciaria gerações e gerações de outras rockers.

Com direção ágil a cargo de Floria Sigismondi, conhecida por trabalhos anteriores com videoclipes, The Runaways As Garotas do Rock tem tudo para virar cult no decorrer dos anos.

Um veneninho: Joan Jett ainda deve odiar Lita Ford, pois dá à ex-colega de Runaways quase nenhum destaque, além de, no final do filme, quando se fala sobre o que ocorreu posteriormente com os envolvidos na trama, o nome dela nem sequer é citado.

Uma injustiça, pois nos anos 80 Lita tornou-se uma estrela do hard rock, lançando bons discos, emplacando hits como Kiss Me Deadly e gravando até um dueto com Ozzy Osbourne (Close My Eyes Forever). Enquanto isso, Joan Jett estourou com I Love Rock ‘N’ Roll.

Enfim, coisas da vida, o que não ofusca o brilho desse filme delicioso.